Acordei naquela manhã com um aperto no peito, uma mistura de ansiedade e esperança. Vitor e eu tínhamos passado a noite anterior em claro, trocando palavras de conforto e carinho, tentando encontrar forças um no outro para enfrentar o dia que se iniciava. A cirurgia de Clara e Estela estava marcada para às oito da manhã, e cada minuto que passava parecia aumentar a tensão que nos envolvia.
Chegamos ao hospital cedo, ainda com o céu escuro da madrugada, as luzes fluorescentes do hospital contrastando com a penumbra lá fora. Clara estava sonolenta em meus braços, enquanto Estela caminhava ao nosso lado, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso encorajador.
— Vocês chegaram cedo, isso é ótimo — disse a enfermeira ao nos receber, com um sorriso reconfortante. — Vamos começar a preparar a Clara e a Estela para a cirurgia.
Enquanto Clara era
A vida tinha se estabilizado em uma rotina de felicidade e diversão. Depois da cirurgia bem-sucedida de Clara, tudo parecia estar caminhando para um futuro mais leve e cheio de possibilidades. Vitor e eu aproveitávamos cada momento, cada toque, cada olhar compartilhado. Clara estava se recuperando bem, e Estela, também parecia estar encontrando seu caminho, tendo assumido meu lugar como secretária de Vitor na Oeri. O sorriso dela, que antes estava perdido em um mar de tristeza, agora era mais frequente, mais verdadeiro.Vitor estava me fazendo tirar os mais variados tipos de fotografias. Fosse sozinha, fosse em família. Das mais bregas e divertidas até as feitas por fotógrafos profissionais. Minha preferia era uma em que ele beijava minha testa enquanto Clara beijava minha barriga. Mas não era só isso, ele não queria só registrar, ele queria participar também. Ia comigo em todas as consultas,
Deitada na cama, sentia uma mistura de tédio e inquietação. O repouso forçado parecia uma sentença de prisão, e cada minuto se arrastava interminavelmente. Eu sabia que era necessário, mas isso não tornava a situação menos frustrante. Olhei para o teto, tentando encontrar algum alívio nos desenhos das sombras, mas minha mente voltava sempre ao mesmo ponto: a ansiedade pela saúde do bebê e pela minha própria. Sentia falta de estar ativa, de poder cuidar de Clara e ajudar Vitor nas pequenas coisas do dia a dia. Agora, tudo o que podia fazer era esperar e torcer para que tudo ficasse bem.Nas semanas que se seguiram, Vitor provou ser um apoio inestimável. Não que ele já não fosse antes, é claro. Mas ele estava tão dedicado! Cada dia, ele trazia uma pequena surpresa para mim, seja um buquê de flores frescas ou uma caixa de chocolates fin
Nos dias que se seguiram, Vitor e eu planejamos uma festa íntima para comemorar os dois meses da cirurgia de Estela e Clara. Queríamos celebrar a vida e a recuperação das pessoas que amávamos, e uma reunião na cobertura do nosso apartamento parecia perfeita. A decoração foi simples, mas aconchegante, refletindo a atmosfera de amor e gratidão que permeava nosso lar. Convidamos apenas amigos próximos e alguns amiguinhos de Clara para brincar na piscina.No dia da festa, o céu estava claro e ensolarado, criando o cenário perfeito para nossa celebração. Clara estava radiante, correndo pela cobertura e brincando com seus amigos, a energia contagiante das crianças enchendo o ambiente de alegria. Eu estava deitada na espreguiçadeira, observando tudo com um sorriso no rosto. Embora minha condição exigisse repouso, ver a felicidade de Clara e de nossos amigos fazia tudo valer a pena.Vitor estava ao meu lado, atento a cada necessidade minha. Ele trazia petiscos e bebidas (não alcoólicas, claro
~VITOR~A sala de espera do hospital estava preenchida com dor e sofrimento. Cada segundo se arrastava como uma eternidade. Sentei-me numa cadeira dura e desconfortável, tentando manter a calma enquanto aguardava notícias de Luna e Lucas. O som dos meus próprios pensamentos era ensurdecedor, uma mistura de medo e esperança.Cada minuto que passava era uma tortura. As memórias de Luna e eu juntos invadiam minha mente, desde o nosso primeiro encontro até os momentos mais recentes de felicidade e amor. A imagem de Clara, nossa pequena menina, brincando feliz em casa, misturava-se com a visão do futuro incerto. Eu precisava ser forte, por ela, por Luna e por Lucas.A sala de espera estava quase vazia, apenas algumas pessoas sentadas em silêncio, provavelmente passando por suas próprias provações. Olhei ao redor, tentando encontrar algum consolo, mas tudo parecia frio e distante. Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a mente turbulenta. Era quase impossível.O médico finalmente
O frio do ambiente estéril do hospital me envolveu assim que fui levada para a sala de cirurgia. As luzes brilhantes do teto ofuscavam minha visão, projetando halos cintilantes que me deixavam momentaneamente desorientada. O som constante e ritmado dos monitores de batimentos cardíacos ecoava pelos meus ouvidos, amplificando a sensação de urgência que permeava o ar. Eu só conseguia pensar em Vitor segurando minha mão até o último momento permitido, seus dedos apertando os meus com uma mistura de preocupação e determinação. O medo que ele tentava disfarçar espelhava o meu, criando uma conexão silenciosa e intensa entre nós.— Vamos cuidar de você, Luna — disse uma das enfermeiras, tentando me tranquilizar enquanto ajustava os aparelhos ao meu redor. Sua voz era suave e reconfortante, mas não conseguia dissipar a sombra de pânico que pairava sobre mim.Eu apenas assenti, tentando manter a calma. O medo pela minha vida e pela de Lucas era avassalador, uma presença opressora que se instal
O topo da Torre Eiffel brilhava sob as luzes de Paris, uma visão deslumbrante que parecia saída de um daqueles contos de fadas que Clara ainda insistia que os pais lessem para ela antes de dormir. A cidade se estendia abaixo, e o céu noturno estava pontilhado de estrelas, criando o cenário perfeito para um momento tão especial. Vitor e Luna, cercados por amigos e familiares, estavam prestes a renovar seus votos de casamento, simbolizando um novo começo em suas vidas.Luna, usando um deslumbrante vestido branco, segurava a mão de Vitor com firmeza, seu coração batendo acelerado de emoção. Pouco mais de um ano havia se passado desde o dia em que Lucas nascera, e aquele dia marcava não apenas a renovação dos votos, mas também a celebração de um amor que havia superado tantos desafios.Clara, agora com sete anos, era a daminha de honra. Ela estava radiante em seu vestidinho florido, segurando um pequeno buquê de flores. Lucas, nos braços de Lorena, observava tudo com seus grandes olhos cur
Com o coração ainda agitado pelas contrações que parecem ecoar mesmo após o parto, volto à consciência na sala de cirurgia. Pisco confusa algumas vezes, tentando enxergar alguma coisa. A luz branca forte, vinda do teto sala fria, era quase cegante. Um silêncio pesado paira no ar, quebrado apenas pelo eco distante do choro de um bebê. Meu bebê. Minha filha. Meus olhos turvos se esforçam para focar, e meu corpo ainda trêmulo parece não querer obedecer aos meus comandos.– Deixe–me vê-la... – acho que digo, minha voz ainda completamente atordoada de dor.As mãos da equipe médica continuam a trabalhar ao meu redor, mas há uma tensão silenciosa no ar, uma sombra que paira sobre nós. Meus olhos buscam freneticamente o rosto da obstetra em busca de alguma resposta, mas seu olhar evita o meu, uma hesitação passageira que diz mais do que mil palavras.Então, as palavras que eu temia ouvir caem como uma sentença sobre mim.– Luna, sinto muito. Sua filha... ela não resistiu – a voz da obstetra s
Seis anos. Eu tinha passado seis anos comendo o pão que o diabo amassou, mas eu cheguei naquele momento: o dia de dar o primeiro passo em direção a minha vingança e recuperar minha filha.Quando sai do hospital, recebendo um atestado de óbito e tendo visto o corpinho morto de uma criança que em nada se parecia comigo, tentei voltar para a casa dos meus pais. Mas não fui bem recebida. Não eu, a garota que tinha machado a reputação da família ao perder a virgindade antes do casamento com um homem qualquer, engravidar e decidir ter aquela criança mesmo que o pai tenha me abandonado no instante em que soube da gravidez.– Mas... Você tem certeza de que é meu? – Lembro-me dele perguntar.– Como pode perguntar isso? – Respondi, indignada. – Você sabe que foi o primeiro!– Sei que fui o primeiro, mas não posso ter certeza de que fui o único.Lembro-me de ter virado a mão na cara dele. E foi a última vez que o vi.Então, quando tentei voltar para casa naquele dia, a única resposta que tive fo