Assim que ouvi as batidas suaves na porta, meu coração deu um salto. Era como se todas as paranoias e preocupações do dia estivessem prontas para explodir de uma só vez. Virei-me, apertando os papéis contra o peito como se fossem um escudo. — Senhora, está tudo bem? — A voz calma do mordomo penetrou pela madeira da porta. Suspirei, tentando reunir um ar de compostura. Levantei-me e destranquei a porta com um movimento rápido. O mordomo estava lá, como sempre impecável, mas acompanhado por um grupo de guarda-costas que pareciam um pouco confusos sobre o motivo de estarem ali. — Estou bem — menti, minha voz mais firme do que eu esperava. Os olhos dele me analisaram com preocupação, mas ele se limitou a um aceno de cabeça antes de acrescentar: — Peço desculpas pela minha ausência anterior, senhora. Estava acompanhando o jovem mestre até o carro. — Entendo. Está tudo bem. — Fiz um gesto para aliviar sua tensão. — Só preciso que você garanta que ninguém informe Alexander sobre
Alexander parecia exausto demais para qualquer coisa quando me puxou para o quarto, então imaginei que ele queria se desculpar por me esquecer por horas. No entanto, vovó, com seus pensamentos peculiares, parecia conhecê-lo melhor do que eu. Mal ele fechou a porta, e já começou a “trabalhar”. — O que você está fazendo? — perguntei, tentando me desvencilhar enquanto ele me puxava contra si. Seus braços me apertaram ainda mais, e ele respondeu com um beijo suave na minha bochecha. Era inegável que algo o deixava genuinamente feliz. Mesmo sem ver seu rosto direito — afinal, alguém esqueceu de acender as luzes —, percebi sua satisfação. — Alexander, aconteceu alguma coisa? — insisti, segurando seu rosto com as mãos para interromper os beijos. Ele finalmente parou, embora eu sentisse seu sorriso largo debaixo das palmas das minhas mãos. Então, ele murmurou: — Obrigado. Foi quando entendi. Era raro vê-lo tão vulnerável, tão… humano. Meu sorriso veio sem que eu sequer percebesse.
Durante os dias seguintes, a mansão virou praticamente um ponto turístico. Minha sogra, num ato de drama que só ela poderia executar, espalhou pelos quatro cantos do país os detalhes da “experiência de quase morte” de Lily. A consequência? Uma fila de visitas inesperadas, composta pela nata da sociedade, todos ansiosos para demonstrar sua solidariedade — ou garantir que não fossem esquecidos na próxima festa de gala.No início, Alexander lidou com a situação de forma simples: negando acesso a todos. Onze visitantes milionários barrados em apenas três dias. Eu sabia que ele estava sendo fiel à sua essência calculista, mas até para ele isso era perigoso. Enfrentar desafetos era uma coisa; criar novos inimigos desnecessários era outra completamente diferente. Assim, reuni coragem para tocar no assunto: — Alexander, não acha melhor parar de mandar essas pessoas embora? — perguntei, tentando manter a calma. — É desrespeitoso e, para ser honesta, parece exatamente o tipo de coisa que su
Enquanto Lily despejava seu veneno na sala de jantar, eu só tinha um desejo: que o coração de Alexander permanecesse intacto. Não importava o quão forte ele parecesse, as palavras dela eram como facas afiadas, e eu sabia que ele as sentia mais do que demonstrava. Não podia aguentar mais aquela tortura emocional. Levantei-me e saí, respirando fundo enquanto caminhava até o jardim em busca de ar fresco. Ar fresco? Que piada. O calor era sufocante, como se eu tivesse acabado de entrar em um forno. Mas, mesmo assim, preferi encarar o clima abrasador a voltar para a mesa de jantar. Para minha surpresa, não era a única alma fugindo do caos. Sob a sombra de uma grande árvore, Pedro estava de pé, fumando como se sua vida dependesse disso. O chão ao redor dele estava salpicado de bitucas de cigarro, como evidências de uma batalha interna intensa. Nunca soube que ele fumava. Não era como se tivéssemos uma relação próxima o suficiente para eu saber dessas coisas, mas, naquele momento, h
Ela era tão parecida com Alexander que era assustador. Os mesmos olhos intensos, escuros como um poço sem fundo, que pareciam enxergar até a alma de quem ousasse encará-los por muito tempo. Olhar para Lily era como ser atraída por um ímã poderoso e perigoso, um convite irresistível para o abismo. E, ainda assim, eu continuava olhando. Seu rosto era um paradoxo ambulante. O nariz reto, alto e imperioso parecia ter sido esculpido por um escultor invejoso. Os traços da família Speredo não eram apenas bonitos — eram imponentes, quase intimidadoras, como se cada linha dissesse: “Eu sou melhor do que você, aceite.” Até mesmo as sardas delicadas no rosto de Lily pareciam competir por atenção, suavizando o que, de outro modo, seria uma beleza implacável. Enquanto eu tentava disfarçar o fascínio desconfortável que sua aparência me causava, Lily, claro, não perdeu a oportunidade de quebrar o silêncio com sua usual falta de tato: — Não vamos perder o tempo uma da outra — disparou, com um
Seu olhar era intenso, quase hipnótico, tão diferente de todas às vezes que nossos olhos se cruzaram antes. Alexander, tão controlado, parecia ter decidido que não ia mais disfarçar. Ele me olhava como se quisesse me entender e me possuir ao mesmo tempo, e isso era insuportável.Eu não amava este homem. Nem sabia se algum dia seria capaz disso. Aos meus olhos, ele era um estranho, alguém que eu fui forçada a aceitar em minha vida sem sequer ter a chance de decidir por mim mesma. E enquanto seus olhos pareciam transbordar algo que poderia ser amor — ou pelo menos algo muito próximo disso —, os meus só refletiam frieza e medo.Ele ergueu as mãos, segurando delicadamente minhas bochechas entre as palmas. Meu corpo inteiro ficou tenso. Alexander se inclinou, a poucos centímetros de mim, e naquele momento eu soube o que ele pretendia fazer. Antes mesmo de nossos lábios se tocarem, estremeci e me afastei, recuando com uma frieza que nem sabia que tinha.— Vamos descer e acabar com esta fest
Lily estava sentada no banco da frente do carro de Pedro, com uma expressão que misturava raiva e frustração. Quando ela saiu do veículo, bateu a porta com tanta força que temi pelo pobre carro. O velho modelo parecia já ter passado por uma batalha e, honestamente, merecia uma aposentadoria digna. Ela deu a volta no carro, os saltos ecoando no piso como pequenas explosões de raiva, até parar perto da janela de Pedro. Sua voz cortou o ar: — Quem você pensa que é? Quem te deu permissão para bater no meu namorado?! O quê? Meus olhos se arregalaram, e eu quase engasguei com o ar que acabara de respirar. Pedro desligou o motor, saiu do carro e bateu a porta com a mesma intensidade que Lily, como se os dois estivessem competindo para ver quem destruiria o veículo primeiro. Pedro não respondeu de imediato. Na verdade, ele parecia decidido a ignorá-la e passou por ela como se ela fosse invisível. Mas é claro que Lily Speredo não aceitaria ser ignorada. Ela bloqueou o caminho dele, c
A ideia de Pedro esmurrando Heejo sem parar depois do primeiro golpe me parecia digna de uma cena de filme. Talvez Pedro fosse um daqueles lutadores secretos, rápido demais para que alguém conseguisse reagir. Ou quem sabe ele tinha algum treinamento militar oculto que ninguém sabia, algo que o tornava invencível. Mas, se fosse isso, por que a equipe de segurança teria demorado tanto para intervir? Curiosa e um pouco incrédula, virei-me para Lily: — O que os seguranças estavam fazendo antes do Heejo perder a consciência? Estavam apenas assistindo? Ou chegaram atrasados? Lily me lançou um olhar sério, como se não tivesse tempo para o sarcasmo. — Claro que não! Eles chegaram à luta em segundos e tentaram separar o Pedro imediatamente. Minha expressão devia ser de pura confusão, porque ela continuou explicando: — Heejo ficou inconsciente no primeiro soco. Pedro continuou socando o rosto dele, sem parar. Quando os guardas conseguiram afastá-lo, o Heejo já estava… desfigurado.