Ela era tão parecida com Alexander que era assustador. Os mesmos olhos intensos, escuros como um poço sem fundo, que pareciam enxergar até a alma de quem ousasse encará-los por muito tempo. Olhar para Lily era como ser atraída por um ímã poderoso e perigoso, um convite irresistível para o abismo. E, ainda assim, eu continuava olhando. Seu rosto era um paradoxo ambulante. O nariz reto, alto e imperioso parecia ter sido esculpido por um escultor invejoso. Os traços da família Speredo não eram apenas bonitos — eram imponentes, quase intimidadoras, como se cada linha dissesse: “Eu sou melhor do que você, aceite.” Até mesmo as sardas delicadas no rosto de Lily pareciam competir por atenção, suavizando o que, de outro modo, seria uma beleza implacável. Enquanto eu tentava disfarçar o fascínio desconfortável que sua aparência me causava, Lily, claro, não perdeu a oportunidade de quebrar o silêncio com sua usual falta de tato: — Não vamos perder o tempo uma da outra — disparou, com um
Seu olhar era intenso, quase hipnótico, tão diferente de todas às vezes que nossos olhos se cruzaram antes. Alexander, tão controlado, parecia ter decidido que não ia mais disfarçar. Ele me olhava como se quisesse me entender e me possuir ao mesmo tempo, e isso era insuportável.Eu não amava este homem. Nem sabia se algum dia seria capaz disso. Aos meus olhos, ele era um estranho, alguém que eu fui forçada a aceitar em minha vida sem sequer ter a chance de decidir por mim mesma. E enquanto seus olhos pareciam transbordar algo que poderia ser amor — ou pelo menos algo muito próximo disso —, os meus só refletiam frieza e medo.Ele ergueu as mãos, segurando delicadamente minhas bochechas entre as palmas. Meu corpo inteiro ficou tenso. Alexander se inclinou, a poucos centímetros de mim, e naquele momento eu soube o que ele pretendia fazer. Antes mesmo de nossos lábios se tocarem, estremeci e me afastei, recuando com uma frieza que nem sabia que tinha.— Vamos descer e acabar com esta fest
Lily estava sentada no banco da frente do carro de Pedro, com uma expressão que misturava raiva e frustração. Quando ela saiu do veículo, bateu a porta com tanta força que temi pelo pobre carro. O velho modelo parecia já ter passado por uma batalha e, honestamente, merecia uma aposentadoria digna. Ela deu a volta no carro, os saltos ecoando no piso como pequenas explosões de raiva, até parar perto da janela de Pedro. Sua voz cortou o ar: — Quem você pensa que é? Quem te deu permissão para bater no meu namorado?! O quê? Meus olhos se arregalaram, e eu quase engasguei com o ar que acabara de respirar. Pedro desligou o motor, saiu do carro e bateu a porta com a mesma intensidade que Lily, como se os dois estivessem competindo para ver quem destruiria o veículo primeiro. Pedro não respondeu de imediato. Na verdade, ele parecia decidido a ignorá-la e passou por ela como se ela fosse invisível. Mas é claro que Lily Speredo não aceitaria ser ignorada. Ela bloqueou o caminho dele, c
A ideia de Pedro esmurrando Heejo sem parar depois do primeiro golpe me parecia digna de uma cena de filme. Talvez Pedro fosse um daqueles lutadores secretos, rápido demais para que alguém conseguisse reagir. Ou quem sabe ele tinha algum treinamento militar oculto que ninguém sabia, algo que o tornava invencível. Mas, se fosse isso, por que a equipe de segurança teria demorado tanto para intervir? Curiosa e um pouco incrédula, virei-me para Lily: — O que os seguranças estavam fazendo antes do Heejo perder a consciência? Estavam apenas assistindo? Ou chegaram atrasados? Lily me lançou um olhar sério, como se não tivesse tempo para o sarcasmo. — Claro que não! Eles chegaram à luta em segundos e tentaram separar o Pedro imediatamente. Minha expressão devia ser de pura confusão, porque ela continuou explicando: — Heejo ficou inconsciente no primeiro soco. Pedro continuou socando o rosto dele, sem parar. Quando os guardas conseguiram afastá-lo, o Heejo já estava… desfigurado.
Quando vi as fotos de Heejo, não pude evitar um leve estalo de surpresa. Ele parecia tão diferente daquele homem nervoso e descontrolado da noite anterior. Afinal, quem diria que o ex de Lily era, na verdade, um modelo famoso e recém-convertido a ator? Eu, que estive longe da mídia por tanto tempo, não tinha a menor ideia de sua identidade. Imagina! Até os famosos se escondem atrás de suas máscaras. E eu lá, completamente ignorante!Os artigos detalhavam seus supostos “ferimentos de acidente de carro”. Bem, pelo menos isso estava alinhado com o que ele tinha, mas… Como assim “dois braços quebrados”? Pelo que Lily contou, ele estava em perfeita forma, não havia nada tão sério. A sensação de arrepio foi inevitável, pois uma coisa era clara: o “acidente” tinha o toque de uma mão implacável e calculista. Ah, claro, essa mão tinha nome e sobrenome. Alexander, meu maravilhoso marido. Ele tinha seus próprios métodos, sem dúvida.Como eu, uma espectadora passiva dos acontecimentos, pensava so
Não sei se Alexander já havia notado os sentimentos de Pedro por Lily ou se ele simplesmente ignorava por completo. Meu marido, como sempre, era uma incógnita. Brilhante quando o assunto era negócios — capaz de decifrar cada intenção oculta de seus concorrentes como se lesse um livro aberto —, mas parecia absolutamente cego quando o tema era algo mais puro, óbvio e incrivelmente humano como o amor.Esse pensamento me ocorreu durante o café da manhã. A atmosfera na mesa estava tão carregada que eu poderia cortá-la com uma faca, e, ainda assim, Alexander, frio e inabalável, tomava seu café tranquilamente, discutindo negócios com Pedro como se o mundo ao nosso redor não estivesse desmoronando em tensão silenciosa.De um lado, Pedro olhava para Lily como um adolescente apaixonado que tenta disfarçar. Do outro, Lily, em uma tentativa igualmente desastrosa de esconder seus sentimentos, olhava para Pedro com a intensidade de quem quer, ao mesmo tempo, fugir e se aproximar. E, no meio de tudo
Durante o almoço, a atmosfera estava tão carregada que parecia que uma explosão iminente estava prestes a acontecer. E, para minha surpresa, não fui a única a notar a estranha proximidade entre Nadir e Alexander. Minha avó, como sempre, mostrou sua habilidade inigualável de transformar um momento tenso em algo desconfortável, compartilhando suas opiniões com uma franqueza que beirava o constrangimento.— Seu tio deve estar vivendo uma vida difícil, afinal, ele fez uma menina com mãe viver como órfã — disparou ela, enquanto servia mais uma porção de batatas no meu prato. — Seu tio está tratando bem a esposa? Deixou a filha por causa dele? Até os gatos são mães melhores do que algumas mulheres hoje em dia.Nadir, que até então parecia imperturbável, finalmente cedeu. Ele pousou os talheres, limpou a garganta e respondeu de forma seca:— Eles estão divorciados.O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu, que estava prestes a dar uma mordida no pão, congelei no lugar. Era como se o tem
Lily levantou-se abruptamente e saiu do jardim, deixando todos para trás. O som de seus passos ecoando no piso foi a única coisa que restou após sua partida. Finalmente, reuni coragem suficiente para olhar para Pedro. Ele estava sentado, encarando o chão como se o padrão do tapete fosse o mistério mais profundo que já encontrara. Para alguém desavisado, poderia parecer apenas distração. Mas eu sabia. Sabia o que ele sentia. E aquela calma aparente era quase insuportável de assistir. O silêncio dele gritava mais alto que qualquer coisa naquela sala. Talvez eu seja egoísta na maioria das vezes — admito isso sem problemas. Mas há momentos, como este, em que não consigo ignorar o sofrimento de outra pessoa. Não quando está tão evidente.Levantei-me rapidamente, decidida a intervir. Enquanto caminhava em direção à mansão para encontrar Lily, chamei um dos empregados. — Informe ao Pedro que o líder da equipe de segurança precisa falar com ele sobre um assunto urgente. — Minha voz foi