A ideia de Pedro esmurrando Heejo sem parar depois do primeiro golpe me parecia digna de uma cena de filme. Talvez Pedro fosse um daqueles lutadores secretos, rápido demais para que alguém conseguisse reagir. Ou quem sabe ele tinha algum treinamento militar oculto que ninguém sabia, algo que o tornava invencível. Mas, se fosse isso, por que a equipe de segurança teria demorado tanto para intervir? Curiosa e um pouco incrédula, virei-me para Lily: — O que os seguranças estavam fazendo antes do Heejo perder a consciência? Estavam apenas assistindo? Ou chegaram atrasados? Lily me lançou um olhar sério, como se não tivesse tempo para o sarcasmo. — Claro que não! Eles chegaram à luta em segundos e tentaram separar o Pedro imediatamente. Minha expressão devia ser de pura confusão, porque ela continuou explicando: — Heejo ficou inconsciente no primeiro soco. Pedro continuou socando o rosto dele, sem parar. Quando os guardas conseguiram afastá-lo, o Heejo já estava… desfigurado.
Quando vi as fotos de Heejo, não pude evitar um leve estalo de surpresa. Ele parecia tão diferente daquele homem nervoso e descontrolado da noite anterior. Afinal, quem diria que o ex de Lily era, na verdade, um modelo famoso e recém-convertido a ator? Eu, que estive longe da mídia por tanto tempo, não tinha a menor ideia de sua identidade. Imagina! Até os famosos se escondem atrás de suas máscaras. E eu lá, completamente ignorante!Os artigos detalhavam seus supostos “ferimentos de acidente de carro”. Bem, pelo menos isso estava alinhado com o que ele tinha, mas… Como assim “dois braços quebrados”? Pelo que Lily contou, ele estava em perfeita forma, não havia nada tão sério. A sensação de arrepio foi inevitável, pois uma coisa era clara: o “acidente” tinha o toque de uma mão implacável e calculista. Ah, claro, essa mão tinha nome e sobrenome. Alexander, meu maravilhoso marido. Ele tinha seus próprios métodos, sem dúvida.Como eu, uma espectadora passiva dos acontecimentos, pensava so
Não sei se Alexander já havia notado os sentimentos de Pedro por Lily ou se ele simplesmente ignorava por completo. Meu marido, como sempre, era uma incógnita. Brilhante quando o assunto era negócios — capaz de decifrar cada intenção oculta de seus concorrentes como se lesse um livro aberto —, mas parecia absolutamente cego quando o tema era algo mais puro, óbvio e incrivelmente humano como o amor.Esse pensamento me ocorreu durante o café da manhã. A atmosfera na mesa estava tão carregada que eu poderia cortá-la com uma faca, e, ainda assim, Alexander, frio e inabalável, tomava seu café tranquilamente, discutindo negócios com Pedro como se o mundo ao nosso redor não estivesse desmoronando em tensão silenciosa.De um lado, Pedro olhava para Lily como um adolescente apaixonado que tenta disfarçar. Do outro, Lily, em uma tentativa igualmente desastrosa de esconder seus sentimentos, olhava para Pedro com a intensidade de quem quer, ao mesmo tempo, fugir e se aproximar. E, no meio de tudo
Durante o almoço, a atmosfera estava tão carregada que parecia que uma explosão iminente estava prestes a acontecer. E, para minha surpresa, não fui a única a notar a estranha proximidade entre Nadir e Alexander. Minha avó, como sempre, mostrou sua habilidade inigualável de transformar um momento tenso em algo desconfortável, compartilhando suas opiniões com uma franqueza que beirava o constrangimento.— Seu tio deve estar vivendo uma vida difícil, afinal, ele fez uma menina com mãe viver como órfã — disparou ela, enquanto servia mais uma porção de batatas no meu prato. — Seu tio está tratando bem a esposa? Deixou a filha por causa dele? Até os gatos são mães melhores do que algumas mulheres hoje em dia.Nadir, que até então parecia imperturbável, finalmente cedeu. Ele pousou os talheres, limpou a garganta e respondeu de forma seca:— Eles estão divorciados.O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu, que estava prestes a dar uma mordida no pão, congelei no lugar. Era como se o tem
Lily levantou-se abruptamente e saiu do jardim, deixando todos para trás. O som de seus passos ecoando no piso foi a única coisa que restou após sua partida. Finalmente, reuni coragem suficiente para olhar para Pedro. Ele estava sentado, encarando o chão como se o padrão do tapete fosse o mistério mais profundo que já encontrara. Para alguém desavisado, poderia parecer apenas distração. Mas eu sabia. Sabia o que ele sentia. E aquela calma aparente era quase insuportável de assistir. O silêncio dele gritava mais alto que qualquer coisa naquela sala. Talvez eu seja egoísta na maioria das vezes — admito isso sem problemas. Mas há momentos, como este, em que não consigo ignorar o sofrimento de outra pessoa. Não quando está tão evidente.Levantei-me rapidamente, decidida a intervir. Enquanto caminhava em direção à mansão para encontrar Lily, chamei um dos empregados. — Informe ao Pedro que o líder da equipe de segurança precisa falar com ele sobre um assunto urgente. — Minha voz foi
A porta da sala de jantar se abriu de repente, revelando Alexander entrando com passos firmes, seguido por Pedro. Eu quase deixei cair o garfo de tão surpresa. Ele havia insistido que voltaria tarde, alegando estar sobrecarregado de reuniões. — Já terminou suas reuniões? — perguntei, cruzando os braços enquanto ele se sentava ao meu lado com uma tranquilidade que só ele conseguia exibir em momentos de caos. Ele assentiu, verificando o relógio em seu celular antes de lançar um olhar crítico ao meu prato intocado. — As estradas estavam congestionadas. Caso contrário, teríamos chegado mais cedo. — Seus olhos voltaram ao meu prato. — Vejo que não estamos atrasados para o jantar. Você ainda nem começou a comer. Minha avó, com seu radar afiado para intervenções desnecessárias, não perdeu a oportunidade. — Não, você está atrasado, sim! Eu sou uma devoradora lenta e meu prato já está vazio! — Ela apontou o garfo como uma adaga. — As jovens de hoje em dia são fracas de coração. Basta
Alexander ama sua irmã? Bem, sim, claro. Naturalmente. Não sei dizer se ele ainda guarda algum espaço no coração para os pais, mas Lily? Ah, ela definitivamente ocupa um lugar de destaque.Imagino que crescer com pais egocêntricos e negligentes tenha criado esse vínculo forte entre os dois. Eles confiaram um no outro quando ninguém mais parecia importar-se. Não que eu admire particularmente a dinâmica deles — Alexander não é exatamente o irmão do ano —, mas há algo reconfortante em vê-lo demonstrar preocupação, mesmo que de forma… peculiar. Depois de ser deixada sozinha na sala de jantar, ainda tentando digerir (literalmente e figurativamente) a confissão de Pedro, percebi que precisava sair dali. Meu prato ainda estava pela metade, mas comer parecia impossível. Subi as escadas lentamente, ouvindo ao fundo o som de vozes elevadas. Alexander e Lily estavam discutindo no quarto dela, o que não era novidade. Eu poderia ter parado para ouvir, mas a verdade é que meu corpo clamava por d
Depois de muito tempo em silêncio, tentei quebrar a tensão, mesmo que minha voz soasse mais trêmula do que eu gostaria. — Estou bem, Alexander. É só uma febre, nem sinto nada de maisO olhar dele permaneceu fixo, carregado de preocupação, mas era difícil decifrar se ele estava pensando ou tentando decidir se acreditava em mim.— Você também teve uma febre inexplicável depois do acidente — disse ele de repente, sua voz baixa, quase distante.Alexander fechou a torneira, e o som da água parando ecoou no banheiro silencioso. Seus olhos, que antes me encaravam com a intensidade usual, agora pareciam carregados de algo mais… vulnerabilidade?— Os médicos estavam preocupados na época. Pensavam que podia ser sepse, mas todos os testes deram negativo. No fim, concluíram que era algo psicológico, relacionado ao trauma. — Ele respirou fundo antes de continuar: — Não estou dizendo que sua febre agora seja a mesma coisa, mas... é tão parecido.Seus olhos estavam pesados, e aquilo me incomodava m