Eu ainda me perguntava como alguém como Alexander havia crescido naquela casa. Era difícil imaginá-lo com birras infantis ou crises de raiva. Talvez sua frase de rebeldia aos cinco anos tenha sido algo como: “A incompetência aqui é alarmante. Prefiro educar-me com livros.” Porque, sinceramente, essa é a única explicação lógica para ele ter se desviado tão completamente da lógica distorcida da família Speredo.Quando a discussão finalmente morreu — mais por exaustão coletiva do que por resolução —, Alexander apertou minha mão com firmeza e me conduziu pela sala, como se nada tivesse acontecido. Não deu um único olhar para trás, ignorando os rostos carrancudos que nos seguiam até a porta.No carro, ele permaneceu em silêncio enquanto ligava o motor, mas seus olhos, por um momento, buscaram os meus. Algo estava por vir. Eu sabia.— Eu deveria encontrar um novo lugar para enviá-los — ele disse, com a calma glacial que só Alexander Speredo conseguia ter ao planejar algo tão drástico. Eu
O elevador demorava uma eternidade, e meu cérebro, claro, aproveitou o momento para criar cenários dignos de um filme de suspense barato. Algo tão sério que Alexander não conseguiu me ligar diretamente? Por que usar a recepcionista para me chamar? A resposta óbvia? Encontraria um cadáver. Provavelmente o dele. E, claro, a polícia teria me convocado para identificá-lo, como nos dramas mais bizarros da minha imaginação. Eu sabia que era um pensamento absurdo, mas diga isso para meu coração, que já havia entrado em pânico total, e para minhas pernas, que pareciam prestes a desabar. Quando as portas do elevador se abriram, precisei de todo o meu autocontrole para não desmaiar dramaticamente. Alexander estava lá, vivo e mais irritantemente charmoso do que qualquer homem deveria ter permissão de ser. Respirando. Inteiro. Sem marcas de tiro ou qualquer sinal de envenenamento. Mas meu corpo não acompanhava a lógica tão rápido quanto meu cérebro. — Alexander — murmurei, apoiando-me contr
Parada no corredor, encostei na parede e deixei o celular pesar na minha mão. Tentei me convencer de que estava tudo sob controle, mas meu cérebro já estava a mil, desenhando cenários catastróficos envolvendo Mattia, Alexander e, claro, meu inegável talento para atrair problemas. Respirei fundo e disquei o número de Alexander, com os olhos fixos na porta do quarto de Lily, como se ela fosse me ouvir do outro lado e sair para espiar minha conversa. Alexander estava no país G, que, graças a Deus, tinha apenas duas horas de diferença no fuso horário. Eram 17h aqui, então provavelmente ele estava jantando ou, mais provável, fechando um contrato com algum magnata. O telefone chamou uma, duas, três vezes… e foi para a caixa postal. Meu coração acelerou, mas era um clássico. Não era a primeira vez que minhas ligações eram ignoradas, e provavelmente não seria a última. “Não seja neurótica, Charlotte.” Tentei me convencer, mas minha mente já deslizava para pensamentos pouco construtivos.
Eles estavam todos impecavelmente arrumados, como se uma equipe de produção tivesse invadido a casa com roupas de gala e uma tonelada de maquiagem. Minha sogra, em particular, parecia uma árvore de Natal fora de época, com cada centímetro do pescoço e dos pulsos cobertos de joias brilhantes. Quanto à Lily, ela optou por algo mais sutil — ou quase. O vestido branco com babados, a maquiagem carregada e a trança perfeitamente arrumada a deixavam deslumbrante, se você ignorasse as pulseiras douradas que pareciam pesar mais do que ela. Sentei-me ao lado da minha avó, que também parecia saída de uma vitrine de alta-costura. Não perdi tempo e sussurrei: — Por que você não me disse que Mattia vai se casar com a Lily? Minha avó, com a sutileza que lhe era peculiar, beliscou a parte de trás da minha mão com tanta força que quase gritei. — Sua pirralha! — ela sibilou, os dentes cerrados. — Só soube disso meia hora antes de você. Fui interrogada como se estivesse em um tribunal, até perde
De volta ao meu quarto, finalmente tive um momento de paz para fazer o que qualquer mulher racional faria: vasculhar as redes sociais. Fui direto ao Instagram de Lily, e, como esperado, encontrei uma coleção inteira de fotos dela com Mattia. Jantares em restaurantes sofisticados, viagens para destinos turísticos e até alguns cliques em países estrangeiros. Cada imagem parecia gritar que Lily estava genuinamente apaixonada. Eu sabia disso. É o instinto de uma mulher. Quanto a Mattia… eu o conhecia bem demais. Lily não era o tipo dele. Enquanto deslizava pelas fotos, meu desconforto crescia. Apesar de nunca ter sido fã da minha cunhada — que adorava se aliar à mãe em dramas contra mim —, eu não queria que seu coração fosse partido. Eu não sabia que jogo Mattia estava jogando, mas torcia para que ele não fosse longe o suficiente para machucar alguém inocente. A primeira foto dos dois juntos tinha sido postada quatro meses atrás. Segui as tags até a conta de Mattia, que tinha muitos
Ativar o "modo diabo" de alguém é sempre fascinante... desde que você esteja do lado seguro. Minha avó, por exemplo, tem seu próprio manual diabólico, que inclui ameaças dignas de novelas mexicanas. “Charlotte, se você não fizer isso agora, Deus sabe que morrerei de desgosto, e quando nos encontrarmos no julgamento final, não vou te perdoar!” Essas palavras eram como um passe direto para me transformar em uma neta obediente, mesmo no frio do inverno, limpando folhas inexistentes no quintal. Quanto a mim? Meu “modo diabo” é muito mais sofisticado: silêncio absoluto. Eu simplesmente me calo e deixo o desconforto fazer o trabalho por mim. Funciona melhor com pessoas próximas ou que realmente precisam que eu fale. Minha avó dizia que eu era assim desde criança, manipulando situações sem lágrimas ou gritos — apenas silêncio até vencer. Mas nada disso se compara ao "modo diabo" de Alexander. Quando meu marido ativa essa faceta, até o próprio inferno parece se encolher. Ele é uma máquina
Enquanto descia as escadas, minha mente tentava desesperadamente montar o quebra-cabeça daquela cena. Por que, afinal, Mattia ainda estava ali? E Lily, em sua pose dramática, gritava como se estivesse em um daqueles filmes trágicos que passam à tarde na TV.— Se você quer me ver morta, então continue fechando a revista do Mattia! — Lily chorava histericamente, caindo de joelhos. — O que fizemos com você? Por que você insiste em destruir minha vida?Minha sogra se lançou ao chão com ela, abraçando-a como se fossem protagonistas de uma tragédia shakespeariana. Ambas choravam tão desesperadamente que até um estranho sentiria pena. Mas eu? Estava mais preocupada tentando entender o que diabos estava acontecendo.Foi quando Alexander, que até então assistia à cena em silêncio gélido, finalmente quebrou sua postura. Ele gritou, firme e cortante:— Charlotte!O tom fez meu coração saltar. Me virei rápido, quase tropeçando nos degraus. Alexander estava parado, os olhos queimando como fogo e o
Quando Alexander finalmente saiu do banheiro, o vapor quente seguiu seus passos, embaçando ligeiramente o espelho da penteadeira. Ele parou perto do sofá onde eu tinha cuidadosamente colocado os travesseiros e a colcha. Seus olhos demoraram-se ali antes de se voltarem para mim, ainda deitada na cama, observando-o como uma presa avalia um predador. Nossos olhares se cruzaram. Ele me encarava com aquela intensidade gelada que costumava me deixar sem saber se era uma acusação ou um desafio. Eu, por outro lado, não recuaria. Mantive meus olhos fixos nele, transmitindo um claro “Sim, você foi chutado para o sofá. E daí?”O silêncio parecia esticar-se entre nós, carregado de coisas não ditas. Ele foi o primeiro a quebrá-lo, sua voz baixa, mas inconfundivelmente autoritária: — Charlotte, é melhor você levar meus travesseiros de volta para a cama. Minha resposta saiu fria, calculada: — Tudo bem. Levantei-me com uma calma exagerada, passei por ele e peguei os travesseiros. Coloquei-os