Quando o alarme tocou, às sete da manhã, senti como se tivesse sido atropelada por um trem em alta velocidade. Cada músculo do meu corpo gritava em protesto, um lembrete claro de que Alexander tinha se esforçado muito para me deixar exausta. Aquele homem, responsável pelo meu estado lastimável, também foi acordado pelo som insistente do despertador.— Você está acordada? — ele murmurou, a voz rouca, cheia de sono. — Infelizmente, sim. — Resmunguei, desejando com todas as forças que pudesse ignorar todas as responsabilidades do dia. Sem cerimônia, ele me puxou pela cintura, envolvendo-me nos lençóis enquanto me apertava contra seu peito. O calor de seu corpo era confortável, convidativo até, mas eu sabia que ceder ao convite significaria atrasos e, talvez, uma completa falta de compromisso com o resto do mundo.Depois de alguns momentos de silêncio agradável, ele finalmente quebrou a tranquilidade, com aquele tom descaradamente divertido: — No futuro, tente não dizer coisas como
Os dias seguintes não foram exatamente um mar de rosas. Se a mansão já era um campo de batalha antes, com meus sogros lançando olhares venenosos e Lily constantemente buscando um novo motivo para ser dramática, agora a guerra tinha proporções épicas. Para começar, ninguém ficou feliz com o fato de Alexander ter reduzido Mattia a cinzas metafóricas — e, considerando o ritmo em que as coisas estavam indo, logo seriam cinzas literais. “Anetty Magazine”, o grande orgulho de Mattia, que ele tinha construído com tanto esforço, agora era só um amontoado de problemas legais e um nome manchado na mídia.Claro, eu não estava acompanhando as tendências da mídia escrita há algum tempo. Mas, aparentemente, a revista estava se tornando popular entre os universitários e começando a ganhar atenção internacional. Isso até Alexander decidir que Mattia precisava de uma lição. Quando perguntei sobre os processos contra Mattia, descobri que meu marido havia garantido que nenhum advogado respeitável toc
Os dias em que Alexander descobriu sobre meus relacionamentos passados são, sem dúvida, exemplos claros de que, para ele, eu sempre fui uma fonte de frustração — e talvez, masoquismo disfarçado de amor. Falar sobre Samir foi uma lição de insensibilidade minha. Revelar Mattia? Ah, isso foi um desastre em várias camadas.Lembro-me vividamente do dia em que mencionei Samir pela primeira vez. Alexander e eu estávamos sentados no telhado da casa dos meus pais, algo que parecia mais normal na minha cidade natal do que deveria enquanto devorava um saco de doces.— Notei que tem um garoto andando próximo de casa com frequência — ele disse, casualmente, enquanto observava o horizonte. — Ele disse que se chama Samir. Eu pausei por um momento, o suficiente para escolher o maior e mais bonito doce no saco antes de enfiá-lo na boca. — Ah, ele é meu ex — respondi com a maior naturalidade do mundo. E foi isso. Nenhuma consideração, nenhum pensamento sobre o impacto que essa revelação poderia t
Apesar de todo o caos que estávamos vivendo, Alexander ainda conseguiu surpreender com sua capacidade única de ser desconcertante. Como naquele dia em que, sem nenhum aviso, perguntou: — Devemos ir consultar um ginecologista? Agora, veja bem, a pergunta em si não era o problema. Era o momento, a circunstância e, claro, o contexto. Estávamos no final de março, aquela época do ano em que minha cidade natal finalmente decidia nos recompensar pela paciência com o inverno cruel, oferecendo dias quentes e ensolarados. Sempre amei essa transição, não apenas pelo clima agradável, mas também porque era a temporada em que os campos ficavam verdes e as flores de narciso e espinheiro eram vendidas a preços acessíveis. Fazia anos que eu não visitava minha cidade natal, então, claro, inventei uma desculpa para convencê-lo: — Alexander, que tal irmos para a cidade N nesta primavera? É uma chance para relaxarmos um pouco. Ele estava no jardim comigo, mas, enquanto eu aproveitava o sol, el
Depois de alguns minutos em silêncio, o peito dele subiu em um suspiro profundo, e então ele finalmente quebrou o silêncio.— Ultimamente… eu tenho olhado para você mais do que o normal porque foi nessa época que você foi embora. Três anos atrás. Senti a voz dele vibrar contra meu braço enquanto minhas mãos circundavam suas costas. Aquela lembrança caiu sobre mim como uma nuvem pesada, e a primeira coisa que pensei foi no quanto estávamos distantes naquela época. Talvez, se fôssemos mais abertos, se nos abraçássemos mais e discutíssemos menos, não precisaríamos carregar o peso desse período como um fardo eterno.Beijei o ombro dele, incapaz de conter o impulso, e murmurei: — Você está olhando mais para mim porque tem medo de que eu vá embora de novo?Ele balançou a cabeça, negando, e sua resposta foi ainda mais surpreendente. — Não. Eu olho porque sou grato por você ter voltado. Eu realmente senti sua falta por tanto tempo… Antes que eu pudesse responder, ele me envolveu em um a
E como esse meu marido manipulador conseguiu me enganar? Bem, senta que lá vem história.Eu estava no meio de um relatório importante com um colega de trabalho quando o telefone começou a vibrar sobre a minha mesa. O som cortou o ambiente silencioso, e, quando olhei a tela, meu coração deu um salto digno de uma final olímpica de salto em altura. O nome dele piscava, em letras grandes e assustadoramente familiares: Alexander.Agora, antes que você ache que eu sou uma dramática sem motivo, deixe-me explicar algo importante: Alexander nunca me liga. Nunca. Para ele, o telefone é uma ferramenta para emergências, negócios ou, quem sabe, um apocalipse zumbi. “Oi, amor, só liguei para ouvir sua voz” simplesmente não faz parte do vocabulário dele. Eu sempre estou cercada por guarda-costas — ou como prefiro chamar, os olhos do Big Brother — então, se algo ruim acontecer, ele será informado antes mesmo de mim. Além disso, ele nunca, em toda a sua vida de CEO impecável, gastaria tempo ligando só
Quando saímos da sala, percebi que o corredor, antes vazio, agora estava tomado por uma multidão que incluía curiosos, funcionários e até alguns guarda-costas tentando abrir caminho em meio ao caos. Ao que tudo indicava, a notícia da presença de Alexander no hospital havia vazado. E, considerando que aquele meu marido era uma espécie de unicórnio corporativo — raro de se ver e impossível de ignorar —, a comoção era quase inevitável.Enquanto avançávamos, as pessoas tentavam tirar fotos, murmúrios preenchiam o ar e os flashes das câmeras me cegavam mais do que eu gostaria de admitir. Já estava sufocando naquele terno quando larguei o braço dele e, olhando diretamente para seu rosto impassível, implorei:— Alexander, por favor, dá um jeito de limpar esse lugar. Eu só quero ficar sozinha por um momento.Ele me observou com a paciência de um monge, mas seu tom frio não perdeu tempo em me contradizer: — É imoral esvaziar um hospital. As pessoas aqui estão doentes e precisam se movimentar
Alexander, sendo quem é, obviamente, não aceitou a resposta do primeiro médico. Ele me levou a tantos outros que, em um dado momento, eu perdi a conta. E, sem falhar, cada consulta terminava com as mesmas palavras esmagadoras: “Seu útero dificilmente pode conceber. Se uma gravidez acontecer — o que é improvável —, será de alto risco e exigirá monitoramento constante. Podemos tentar medicações para aumentar a probabilidade, mas os riscos são consideráveis.”Eu comecei a decorar o discurso. Alexander, por outro lado, parecia cada vez mais descontrolado. Ele questionava os médicos, exigia mais alternativas, perguntava sobre cirurgias experimentais, medicamentos mais fortes. Quando não estava ameaçando um médico que só fazia o próprio trabalho, ele estava enterrado em livros de medicina, tentando encontrar a solução milagrosa que ninguém parecia capaz de oferecer.Na mansão, ele começou a agir de forma diferente. Meu trabalho foi reduzido — menos relatórios, menos horas no escritório, bôn