Apesar de todo o caos que estávamos vivendo, Alexander ainda conseguiu surpreender com sua capacidade única de ser desconcertante. Como naquele dia em que, sem nenhum aviso, perguntou: — Devemos ir consultar um ginecologista? Agora, veja bem, a pergunta em si não era o problema. Era o momento, a circunstância e, claro, o contexto. Estávamos no final de março, aquela época do ano em que minha cidade natal finalmente decidia nos recompensar pela paciência com o inverno cruel, oferecendo dias quentes e ensolarados. Sempre amei essa transição, não apenas pelo clima agradável, mas também porque era a temporada em que os campos ficavam verdes e as flores de narciso e espinheiro eram vendidas a preços acessíveis. Fazia anos que eu não visitava minha cidade natal, então, claro, inventei uma desculpa para convencê-lo: — Alexander, que tal irmos para a cidade N nesta primavera? É uma chance para relaxarmos um pouco. Ele estava no jardim comigo, mas, enquanto eu aproveitava o sol, el
Depois de alguns minutos em silêncio, o peito dele subiu em um suspiro profundo, e então ele finalmente quebrou o silêncio.— Ultimamente… eu tenho olhado para você mais do que o normal porque foi nessa época que você foi embora. Três anos atrás. Senti a voz dele vibrar contra meu braço enquanto minhas mãos circundavam suas costas. Aquela lembrança caiu sobre mim como uma nuvem pesada, e a primeira coisa que pensei foi no quanto estávamos distantes naquela época. Talvez, se fôssemos mais abertos, se nos abraçássemos mais e discutíssemos menos, não precisaríamos carregar o peso desse período como um fardo eterno.Beijei o ombro dele, incapaz de conter o impulso, e murmurei: — Você está olhando mais para mim porque tem medo de que eu vá embora de novo?Ele balançou a cabeça, negando, e sua resposta foi ainda mais surpreendente. — Não. Eu olho porque sou grato por você ter voltado. Eu realmente senti sua falta por tanto tempo… Antes que eu pudesse responder, ele me envolveu em um a
E como esse meu marido manipulador conseguiu me enganar? Bem, senta que lá vem história.Eu estava no meio de um relatório importante com um colega de trabalho quando o telefone começou a vibrar sobre a minha mesa. O som cortou o ambiente silencioso, e, quando olhei a tela, meu coração deu um salto digno de uma final olímpica de salto em altura. O nome dele piscava, em letras grandes e assustadoramente familiares: Alexander.Agora, antes que você ache que eu sou uma dramática sem motivo, deixe-me explicar algo importante: Alexander nunca me liga. Nunca. Para ele, o telefone é uma ferramenta para emergências, negócios ou, quem sabe, um apocalipse zumbi. “Oi, amor, só liguei para ouvir sua voz” simplesmente não faz parte do vocabulário dele. Eu sempre estou cercada por guarda-costas — ou como prefiro chamar, os olhos do Big Brother — então, se algo ruim acontecer, ele será informado antes mesmo de mim. Além disso, ele nunca, em toda a sua vida de CEO impecável, gastaria tempo ligando só
Quando saímos da sala, percebi que o corredor, antes vazio, agora estava tomado por uma multidão que incluía curiosos, funcionários e até alguns guarda-costas tentando abrir caminho em meio ao caos. Ao que tudo indicava, a notícia da presença de Alexander no hospital havia vazado. E, considerando que aquele meu marido era uma espécie de unicórnio corporativo — raro de se ver e impossível de ignorar —, a comoção era quase inevitável.Enquanto avançávamos, as pessoas tentavam tirar fotos, murmúrios preenchiam o ar e os flashes das câmeras me cegavam mais do que eu gostaria de admitir. Já estava sufocando naquele terno quando larguei o braço dele e, olhando diretamente para seu rosto impassível, implorei:— Alexander, por favor, dá um jeito de limpar esse lugar. Eu só quero ficar sozinha por um momento.Ele me observou com a paciência de um monge, mas seu tom frio não perdeu tempo em me contradizer: — É imoral esvaziar um hospital. As pessoas aqui estão doentes e precisam se movimentar
Alexander, sendo quem é, obviamente, não aceitou a resposta do primeiro médico. Ele me levou a tantos outros que, em um dado momento, eu perdi a conta. E, sem falhar, cada consulta terminava com as mesmas palavras esmagadoras: “Seu útero dificilmente pode conceber. Se uma gravidez acontecer — o que é improvável —, será de alto risco e exigirá monitoramento constante. Podemos tentar medicações para aumentar a probabilidade, mas os riscos são consideráveis.”Eu comecei a decorar o discurso. Alexander, por outro lado, parecia cada vez mais descontrolado. Ele questionava os médicos, exigia mais alternativas, perguntava sobre cirurgias experimentais, medicamentos mais fortes. Quando não estava ameaçando um médico que só fazia o próprio trabalho, ele estava enterrado em livros de medicina, tentando encontrar a solução milagrosa que ninguém parecia capaz de oferecer.Na mansão, ele começou a agir de forma diferente. Meu trabalho foi reduzido — menos relatórios, menos horas no escritório, bôn
Olhei para ele, sentindo o peso do vazio em meus olhos, e sussurrei: — Alexander, eu quero que você pense seriamente sobre nós. Eu me lembro de como você reagiu ao ouvir que não poderíamos ter um filho juntos. Se você está aqui por pena, então não posso aceitar isso. Precisamos ser lógicos. Ele não respondeu de imediato. Seus olhos estavam cravados em mim, sem nenhuma expressão clara. Eu sabia que ele estava me ouvindo, mas o silêncio dele me desconcertava. Parei de falar, porque, de algum modo, percebi que ele já sabia onde minhas palavras iam chegar. Finalmente, ele começou, a voz baixa, mas firme: — Pena? Se há alguém para ter pena aqui, Charlotte, não é você quem deveria ver isso? Pisquei, confusa, enquanto ele continuava, cada palavra mais carregada de emoção. — Eu sempre esperei que seus sentimentos em relação a mim mudassem. Tentei conquistar você de todas as maneiras, até a deixar ir. Se eu quisesse outra mulher, teria todas as chances. Se eu desejasse um filho, po
Ainda sobre o espetáculo cuidadosamente arquitetado por Alexander, o vídeo em que ele sorria casualmente e anunciava seu estado civil virou uma sensação viral em questão de minutos. Pela primeira vez, agradeci a Deus por não estar mais na redação de um jornal. Podia praticamente ouvir os gritos desesperados dos editores, exigindo que seus jornalistas encontrassem a identidade da “misteriosa esposa” antes de qualquer concorrente. Se tivesse que apostar, diria que a maioria suspeitava de Olivia como a felizarda, enquanto ninguém imaginava que a mulher em questão era uma ex-repórter exausta e colega de profissão.Quando Alexander voltou para a mansão naquela noite, ele entrou no quarto como se fosse o rei do mundo. Antes que eu pudesse sequer abrir a boca, ele me beijou com a intensidade de quem sabia que tinha vencido. Quando o beijo terminou, eu cruzei os braços, inclinei a cabeça para o lado e declarei:— Você é mesmo uma raposa.Ele riu irritantemente encantador. Apesar de tudo, não
Definitivamente, não é o dinheiro dele. Muito menos seu status, que me dá mais calafrios do que conforto. Quanto à aparência celestial… bom, não posso negar que o homem é uma obra-prima ambulante, mas isso, por si só, nunca foi suficiente. Se fosse, ele teria sido minha primeira paixão — e isso nunca aconteceu. Afinal, Alexander Speredo sempre foi insuportavelmente bonito. Passei os olhos por ele, analisando cada detalhe com uma intensidade quase clínica. Depois de um longo momento, ergui o rosto e lancei um olhar sério, quase grave. — Sabe o que realmente me tenta em você? Seu intelecto desonesto. Acho que amo mais o fato de você ser uma raposa sorrateira. Os olhos de Alexander brilharam com aquela mistura de surpresa e provocação que ele dominava tão bem. Ele deu um passo à frente, invadindo meu espaço de maneira desconcertante. — Isso é um elogio? — perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente, enquanto um sorriso ladeava sua boca. — Ou está tirando sarro de mim de novo? C