— O que está errado, Alexander? — perguntei de novo, mais preocupada do que gostaria de admitir. — Algum problema no trabalho?— Não. — Sua resposta foi rápida, mas a expressão dizia outra coisa.Cruzei os braços, insistente. — Então, o que é? Ele hesitou por um instante, mas depois, como se tivesse apertado um botão interno, começou a falar sem parar: — Me dói te ver tão afetada por pessoas que nem merecem sua atenção. Você não come, não dorme, e, quando dorme, só tem pesadelos sobre abandono. Eu fico pensando: devo te acordar ou deixar você dormir as poucas horas que consegue? Devo te forçar a falar ou esperar que melhore sozinha? Hoje, quando você sorriu e disse que ia cozinhar, achei que as coisas estavam mudando. Mas aí, depois daquela ligação, tudo desmoronou de novo. Eu não sei mais o que fazer.Eu fiquei olhando para ele, incrédula. Alexander Speredo, o homem que falava menos que um monge em voto de silêncio, agora parecia um rio transbordando.— Uau, você deveria falar mai
Parei de respirar por um segundo antes de agir. E, naquele momento, fiz. Eu tomei a iniciativa de novo. Eu, Charlotte, a rainha do sarcasmo e da lógica torta, dei um passo que só poderia ser chamado de impulsivo.Aproximei-me ainda mais, sentindo o calor de Alexander. Meu coração batia tão forte que era um milagre ele não ouvisse. Fiquei na ponta dos pés, circulei seu pescoço com os braços e pressionei meus lábios contra os dele.Diferente da primeira vez, não hesitei. Não recuei. E definitivamente não deixei que ele fugisse. Mantive meu rosto próximo ao dele, minha respiração se misturando à dele, até abrir um sorriso desafiador.— E agora? Está satisfeito? — perguntei, minha voz carregada de ironia.Ele me olhou, os olhos fixos nos meus, a expressão confusa suavizando-se em algo mais intenso. Então, sem aviso, ele sussurrou:— Não.Antes que eu pudesse processar, Alexander me ergueu como se eu fosse feita de papel. Senti o frio da bancada da cozinha contra minhas pernas enquanto ele
“Porque eu senti sua falta.”Aquilo saiu da boca dele com uma naturalidade que me pegou completamente desprevenida. Alexander, o homem que trata emoções como obstáculos para o sucesso, me dizendo que sentiu minha falta? Fiquei estática, olhando para o teto como se aquele momento fosse uma alucinação induzida por exaustão. Mas eu sabia que não era. Ele realmente tinha dito aquilo.Eu virei o rosto, encarando-o como quem observa algo impossível. Ele continuava olhando para mim, com uma expressão tão séria que era quase desconfortável. Não havia hesitação em seus olhos, mas algo que eu não conseguia identificar. Culpa? Vulnerabilidade? Não era como Alexander.— Depois que você foi embora… — ele começou, com a voz tão grave que parecia ecoar pelo quarto. — Eu me perguntei por que nunca disse isso antes. Achei que você soubesse. Que entendesse.Meu coração deu um salto, mas ele continuou, o tom firme, embora carregado de algo que quase parecia pesar.— Eu pensei que você confiaria em mim.
Conversamos por um tempo que eu nem consegui medir. Na maior parte, fui eu quem perguntou, e Alexander respondeu enquanto comia os doces que eu ofereci. Era uma troca estranhamente confortável, até que ele soltou algo digno de um policial em ação:— Notei um rapaz andando pela casa com frequência ultimamente. Vi você conversando com ele e parecendo bem descontente. Conheci-o hoje e... ameacei-o para que não voltasse. Não importa quem ele seja, ainda é inconveniente para um homem andar tanto pela casa de uma jovem. Ele disse que se chama Samim.Soltei um riso breve, inclinando-me para trás no banco.— Ah, ele é meu ex.Alexander travou. Seus ombros endureceram, e a expressão em seu rosto mudou de “policial investigador” para “professor de moral”. Foi automático. — Você já teve namorado? — ele disparou, incrédulo. — Quantos anos você acha que tem, Charlotte? Como conseguiu um namorado nessa idade? — Já sou adulta, Alexander. Tenho dezoito anos. Vou poder até me casar em breve. Ele fi
Eu achava que Nadir havia sido eliminado da minha vida por Alexander há muito tempo. Felizmente, eu estava enganada. Ou, talvez, nem tão feliz assim.Por um breve momento, acreditei que poderia confiar cegamente em Alexander, entregar a ele qualquer problema para resolver sem questionar. Mas agora percebo que essa foi minha ingenuidade falando. Porque ao delegar a questão urgente de Nadir para ele, quase perdi a oportunidade de descobrir verdades que haviam sido escondidas de mim por anos. Por isso, envio minhas devidas menções: a Nadir, o cavaleiro inconveniente, e a Alexander, o escória metódico. Era uma terça-feira comum, até que meu colega de trabalho enfiou a cabeça pela porta e anunciou, hesitante: — Charlotte, tem uma chamada pra você na recepção. As linhas estão ocupadas. A expressão dele já dizia tudo: a recepção era território proibido. Qualquer interação com Sarah, a recepcionista, era garantia de uma aula de paciência. Eu revirei os olhos antes de me levantar. Sa
— Senhor Dubois — Alexander disse com um aceno de cabeça que exalava controle, mas havia uma tensão latente em sua postura. Ele me lançou um olhar rápido, impenetrável como sempre, antes de voltar sua atenção para Nadir. — Sua presença é uma provocação deliberada?Nadir soltou uma risada baixa, claramente se divertindo com a pergunta. Ele se ajeitou na cadeira, cruzando as pernas com uma elegância estudada, e respondeu:— Senhor Speredo, sou um homem educado e tenho me comportado de acordo com os costumes do seu país. — A voz dele estava carregada de sarcasmo. — Pelo que sei, o seu “longo” casamento com a senhorita Charlotte Viradia ainda não foi divulgado ao público. O que significa que, aos olhos do mundo, ela ainda é publicamente solteira. Parei de respirar por um segundo. Nadir não parou. — E, considerando que o próprio senhor disse no passado que nunca a viu como uma prima, isso faz de você um mero estranho. Eu precisava discutir um assunto pessoal com ela. Não vejo razão pa
Alexander segurava meu rosto entre as mãos, seus olhos presos aos meus, enquanto sua respiração pesada ainda aquecia minha pele. — Você é minha, Charlotte. Só minha! — sussurrou, as palavras carregadas de uma intensidade que parecia capaz de me despedaçar. Eu já tinha ouvido essas palavras antes. E, por mais que sua voz rouca agora tivesse um peso diferente, elas ainda me transportavam para outro momento — um em que Alexander também havia cruzado a linha entre o frio e o possessivo. Foi quando ele me beijou depois de conhecer Mattia Tommazo. Mattia. O nome ainda tinha um peso estranho para mim, como um livro que você leu e amou, mas que nunca quis reler. Ele foi o meu primeiro amor, o tipo que você acha que vai durar para sempre, até perceber que contos de fadas são apenas histórias mal contadas de finais complicados. Conheci Mattia na faculdade, quando fui estudar jornalismo na cidade A. Sugestão de Sr. Jackson Speredo de me enviar para lá, pois os alunos têm mais futuro.
Eu tinha tantas coisas passando pela cabeça durante o trajeto de volta para casa que era um milagre eu não explodir. O silêncio no carro era tão absoluto que parecia ter um peso próprio, sufocante. Cada pensamento que surgia se conectava, inevitavelmente, ao mesmo assunto: Alexander. Mattia, o projeto, o constrangimento, a raiva clara de Alexander. Meu marido, lindo como sempre, mas absolutamente impossível de decifrar. No final, percebi que 95% das minhas divagações tinham um único ponto em comum: ele.Quando chegamos à mansão, Alexander saiu do carro com passos firmes e rápidos, sem sequer esperar por mim. Ele estava visivelmente furioso, o que era raro. O clima em casa mudou assim que ele entrou. Lily, que vinha em nossa direção, percebeu imediatamente. Com sua curiosidade afiada, ela bloqueou meu caminho segundos depois. — Vocês dois brigaram? — perguntou ela, os olhos brilhando de expectativa. Pensei rápido. Não havia a menor chance de eu expor o que realmente estava acontec