Eu achava que Nadir havia sido eliminado da minha vida por Alexander há muito tempo. Felizmente, eu estava enganada. Ou, talvez, nem tão feliz assim.Por um breve momento, acreditei que poderia confiar cegamente em Alexander, entregar a ele qualquer problema para resolver sem questionar. Mas agora percebo que essa foi minha ingenuidade falando. Porque ao delegar a questão urgente de Nadir para ele, quase perdi a oportunidade de descobrir verdades que haviam sido escondidas de mim por anos. Por isso, envio minhas devidas menções: a Nadir, o cavaleiro inconveniente, e a Alexander, o escória metódico. Era uma terça-feira comum, até que meu colega de trabalho enfiou a cabeça pela porta e anunciou, hesitante: — Charlotte, tem uma chamada pra você na recepção. As linhas estão ocupadas. A expressão dele já dizia tudo: a recepção era território proibido. Qualquer interação com Sarah, a recepcionista, era garantia de uma aula de paciência. Eu revirei os olhos antes de me levantar. Sa
— Senhor Dubois — Alexander disse com um aceno de cabeça que exalava controle, mas havia uma tensão latente em sua postura. Ele me lançou um olhar rápido, impenetrável como sempre, antes de voltar sua atenção para Nadir. — Sua presença é uma provocação deliberada?Nadir soltou uma risada baixa, claramente se divertindo com a pergunta. Ele se ajeitou na cadeira, cruzando as pernas com uma elegância estudada, e respondeu:— Senhor Speredo, sou um homem educado e tenho me comportado de acordo com os costumes do seu país. — A voz dele estava carregada de sarcasmo. — Pelo que sei, o seu “longo” casamento com a senhorita Charlotte Viradia ainda não foi divulgado ao público. O que significa que, aos olhos do mundo, ela ainda é publicamente solteira. Parei de respirar por um segundo. Nadir não parou. — E, considerando que o próprio senhor disse no passado que nunca a viu como uma prima, isso faz de você um mero estranho. Eu precisava discutir um assunto pessoal com ela. Não vejo razão pa
Alexander segurava meu rosto entre as mãos, seus olhos presos aos meus, enquanto sua respiração pesada ainda aquecia minha pele. — Você é minha, Charlotte. Só minha! — sussurrou, as palavras carregadas de uma intensidade que parecia capaz de me despedaçar. Eu já tinha ouvido essas palavras antes. E, por mais que sua voz rouca agora tivesse um peso diferente, elas ainda me transportavam para outro momento — um em que Alexander também havia cruzado a linha entre o frio e o possessivo. Foi quando ele me beijou depois de conhecer Mattia Tommazo. Mattia. O nome ainda tinha um peso estranho para mim, como um livro que você leu e amou, mas que nunca quis reler. Ele foi o meu primeiro amor, o tipo que você acha que vai durar para sempre, até perceber que contos de fadas são apenas histórias mal contadas de finais complicados. Conheci Mattia na faculdade, quando fui estudar jornalismo na cidade A. Sugestão de Sr. Jackson Speredo de me enviar para lá, pois os alunos têm mais futuro.
Eu tinha tantas coisas passando pela cabeça durante o trajeto de volta para casa que era um milagre eu não explodir. O silêncio no carro era tão absoluto que parecia ter um peso próprio, sufocante. Cada pensamento que surgia se conectava, inevitavelmente, ao mesmo assunto: Alexander. Mattia, o projeto, o constrangimento, a raiva clara de Alexander. Meu marido, lindo como sempre, mas absolutamente impossível de decifrar. No final, percebi que 95% das minhas divagações tinham um único ponto em comum: ele.Quando chegamos à mansão, Alexander saiu do carro com passos firmes e rápidos, sem sequer esperar por mim. Ele estava visivelmente furioso, o que era raro. O clima em casa mudou assim que ele entrou. Lily, que vinha em nossa direção, percebeu imediatamente. Com sua curiosidade afiada, ela bloqueou meu caminho segundos depois. — Vocês dois brigaram? — perguntou ela, os olhos brilhando de expectativa. Pensei rápido. Não havia a menor chance de eu expor o que realmente estava acontec
Alexander era como uma tempestade prestes a desabar. Sua presença enchia a sala de tensão, e seus olhos pareciam querer perfurar minha alma. Mas mesmo assim, eu não recuei. Eu o encarei, com o coração apertado, tentando não tremer diante dele.— Não sei… — confessei, a voz saindo mais frágil do que eu gostaria. — Eu realmente não sei do que você é capaz. Você manipulou a lei quando quase me matou, e nunca sofreu qualquer punição.Suas feições endureceram em uma fração de segundo. O brilho dos olhos desapareceu, substituído por algo sombrio e devastador.— Você ultrapassou os limites! — Alexander vociferou, sua voz ressoando como um trovão. Ele parecia mais distante do que nunca, embora estivesse a poucos metros de mim. Seus ombros estavam tensos, e seu rosto… Nunca o vi tão sombrio. Era como se eu tivesse arrancado algo dele que ele nem sabia que ainda tinha: a paciência.Alexander não era um homem fácil de derrubar. Ele havia construído sua vida sobre um controle quase absoluto, el
O silêncio que se seguiu à nossa discussão parecia um abismo. Eu estava exausta, física e emocionalmente. Alexander estava do outro lado da sala, a cabeça inclinada, os ombros tensos. Nós dois estávamos devastados. Depois de muito tempo, finalmente quebrei o silêncio: — Eu não culpo ninguém pela morte do meu pai. — Minha voz era fria, mas firme. — Depois da sua explicação, ficou claro que foi um acidente. Vocês não precisavam esconder isso de mim. Levantei-me, ajustei meu casaco e olhei diretamente para ele, meu olhar gelado. — Estou indo embora. A cadeira de Alexander rangeu enquanto ele se levantava de repente. Sua voz ecoou pelo escritório como um trovão: — Eu juro que, se você sair agora, não vai me encontrar de novo, mesmo que tente! As palavras atingiram nós dois como um soco. A lembrança veio como uma onda. Era exatamente o que eu havia dito para ele antes do acidente. Eu me lembrei da minha voz, cheia de raiva e desespero, implorando para que ele ficasse. E me
No final, passamos muito mais tempo no escritório do que eu imaginava. Alexander, aparentemente inspirado por algum espírito discursivo, transformou nosso final de noite em uma maratona de decisões, planos e longas reflexões. Quando finalmente saímos, era uma da manhã. Enquanto ele discursava com entusiasmo, ignorando completamente as necessidades básicas de qualquer ser humano — comer, dormir, respirar —, eu não era a única vítima. Meus pensamentos se voltaram para os funcionários que, coitados, tiveram que acompanhá-lo nessa cruzada noturna. Mas ninguém sofreu mais do que o motorista, cuja única função parecia ser levar o carro do estacionamento à porta. Ele havia esperado desde as oito da manhã por um trabalho que duraria, no máximo, cinco minutos. E ainda tinha que, mais tarde, levar o carro até algum lugar seguro antes de trazê-lo de volta no dia seguinte.A diferença é que Alexander estava radiante, quase injustamente feliz, enquanto voltávamos para casa. Ele ligou o rádio casu
— Quando você vai começar a fazer as malas? — Alexander perguntou, quebrando o silêncio no carro. O rádio anunciava que era 1h30 da manhã, e eu me perguntava por que ele parecia tão casual ao jogar essa bomba. Entre as muitas decisões que ele tomou naquela noite (e que, claro, eu concordei sem muita escolha), estava a de voltarmos à mansão para uma espécie de “avaliação”. Como era conveniente para mim economizar com aluguel e outras despesas, não tive coragem de me opor, mas meu espírito gritava em protesto. Voltar a morar com os meus sogros? Eu preferia enfrentar uma horda de advogados corporativos.Olhei para as luzes da rua do lado de fora e respondi com a voz mais neutra que consegui: — Uns três ou quatro dias. Preciso encontrar um lugar para guardar os móveis. — Não precisa. Só arrume suas roupas e deixe o apartamento como está. O resto fica. A naturalidade na voz dele me irritou antes mesmo de eu processar o que ele estava dizendo. — Como assim, fica? — O apartamento