Quando Alexander abriu a porta do restaurante, meu estômago deu uma cambalhota. Não porque eu estava faminta ou impressionada com o lugar — embora fosse o tipo de ambiente em que até as luzes pareciam mais caras que minha roupa inteira —, mas porque eu sabia o que estava por vir.Ele entrou com aquela postura calma e confiante que só ele sabia ter, e, como sempre, ajustou os passos aos meus, como se fosse uma espécie de dança ensaiada. Era irritante como ele parecia sempre saber o que eu precisava, mesmo que eu não admitisse. A garçonete nos levou a uma sala privada, decorada como se tivesse saído de uma revista de design. Havia algo reconfortante e opressor ao mesmo tempo naquele ambiente — ou talvez fosse só a presença dele ao meu lado. Alexander parou, fazendo um gesto sutil com a mão para que eu entrasse primeiro. Respirei fundo, enchi o peito de coragem e atravessei a porta, tentando não parecer tão nervosa quanto me sentia. Dentro da sala, duas pessoas estavam sentadas, olha
Quando o caos finalmente cedeu espaço ao silêncio, senti os braços de Alexander envolverem meus ombros. Não era um abraço qualquer; era firme, quase possessivo, como se ele quisesse me impedir de desmoronar ali mesmo. Encostei a cabeça em seu peito, incapaz de lutar contra o conforto inesperado daquele momento.Ele afagou meu cabelo com uma mão, enquanto a outra dava leves toques em minhas costas. Sua voz baixa e rouca soou no meu ouvido, causando uma reação involuntária que detestei admitir: — Você foi corajosa hoje. Termine o que começou e vamos para casa. Pisquei rapidamente, tentando segurar o que restava da minha dignidade. — Já terminei.Ele apenas assentiu, mas antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, virou-se para a mulher e o sobrinho que ainda estavam ali, observando a cena com olhares curiosos e, no caso dela, completamente desprovidos de emoção. — Pode ir agora — sua voz não era cruel, mas havia algo nela que não deixava espaço para objeções. — E se
Foi a pior ideia do mundo escolher aquele restaurante. Mas, no meu currículo de decisões catastróficas, já não era novidade. Mesmo que eu cancelasse a reunião, os abutres da imprensa iriam continuar farejando, especulando e, claro, infernizando Alexander por minha causa. Já tinha bagunçado tudo, então o mínimo que eu podia fazer era limpar a sujeira. Joguei meu crachá de jornalista em volta do pescoço, segurei meu gravador como se fosse uma arma e segui para o restaurante. Estava vestida casualmente, mas o acessório dava o toque de “estou trabalhando” que eu precisava para passar pela horda de jornalistas sem levantar suspeitas. Eles me ignoraram, provavelmente acreditando que eu era só mais uma jornalista desesperada atrás de um furo.Alexander, como sempre, estava impecável e inalcançável, sentado perto da janela, imerso no cardápio, como se o restaurante não estivesse explodindo de gente tentando capturar um vislumbre dele. Seus ombros relaxados e o olhar atento às letras no pape
Enquanto eu olhava para ele ali, sentado na beira da cama como uma estátua paciente, percebi que minha madrugada havia se tornado uma das coisas mais surreais que já experimentei. Primeiro, o pesadelo. Depois, Alexander, me observando como se estivesse em missão — não para me proteger de monstros sob a cama, mas talvez dos meus próprios. Quando chequei o relógio, já passava das três da manhã. A insônia não me incomodava tanto quanto o fato de Alexander ainda estar ali, imóvel, como uma estátua preocupada.— Parece que você não consegue dormir — ele disse, quebrando o silêncio. — Quer que eu traga um copo de leite morno?Eu franzi o cenho, confusa.— Espera… você está aqui esperando eu dormir?Ele assentiu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Sério, como funciona a mente desse homem? Ele não poderia simplesmente dizer: “Charlotte, vou ficar aqui até você adormecer. Quer que eu apague a luz?” Porque, convenhamos, ninguém dorme bem com a luz acesa, brilhando mais que o sol.Mas
Eu ainda estava na banheira, deixando a água quente aliviar minhas tensões, quando ouvi batidas leves na porta. Era claro que só poderia ser Alexander. Sua voz calma atravessou a madeira com precisão cirúrgica. — Charlotte, seu telefone não para de tocar. Acho que pode ser urgente. — Quem é? — perguntei, tentando soar indiferente. — Um número não registrado. Eu bufei, irritada com a interrupção, mas a curiosidade venceu. Enrolei-me na toalha e abri a porta. Alexander estava parado ali, com o celular na mão, impecável como sempre, mesmo àquela hora da manhã. Peguei o telefone com um aceno e olhei para ele. — Atende e põe no viva-voz, minhas mãos estão molhadas. — Fiz um gesto vago com a toalha, fingindo casualidade. Ele obedeceu, e a voz que emergiu do outro lado era masculina, educada e… familiar.— Alô? Charlotte? Meu nome ecoou, e uma pontada de surpresa percorreu meu corpo. — Sim, sou eu. — Minha resposta saiu mais ríspida do que eu pretendia. — Bonjour, aqui é Nadir Duboi
— O que está errado, Alexander? — perguntei de novo, mais preocupada do que gostaria de admitir. — Algum problema no trabalho?— Não. — Sua resposta foi rápida, mas a expressão dizia outra coisa.Cruzei os braços, insistente. — Então, o que é? Ele hesitou por um instante, mas depois, como se tivesse apertado um botão interno, começou a falar sem parar: — Me dói te ver tão afetada por pessoas que nem merecem sua atenção. Você não come, não dorme, e, quando dorme, só tem pesadelos sobre abandono. Eu fico pensando: devo te acordar ou deixar você dormir as poucas horas que consegue? Devo te forçar a falar ou esperar que melhore sozinha? Hoje, quando você sorriu e disse que ia cozinhar, achei que as coisas estavam mudando. Mas aí, depois daquela ligação, tudo desmoronou de novo. Eu não sei mais o que fazer.Eu fiquei olhando para ele, incrédula. Alexander Speredo, o homem que falava menos que um monge em voto de silêncio, agora parecia um rio transbordando.— Uau, você deveria falar mai
Parei de respirar por um segundo antes de agir. E, naquele momento, fiz. Eu tomei a iniciativa de novo. Eu, Charlotte, a rainha do sarcasmo e da lógica torta, dei um passo que só poderia ser chamado de impulsivo.Aproximei-me ainda mais, sentindo o calor de Alexander. Meu coração batia tão forte que era um milagre ele não ouvisse. Fiquei na ponta dos pés, circulei seu pescoço com os braços e pressionei meus lábios contra os dele.Diferente da primeira vez, não hesitei. Não recuei. E definitivamente não deixei que ele fugisse. Mantive meu rosto próximo ao dele, minha respiração se misturando à dele, até abrir um sorriso desafiador.— E agora? Está satisfeito? — perguntei, minha voz carregada de ironia.Ele me olhou, os olhos fixos nos meus, a expressão confusa suavizando-se em algo mais intenso. Então, sem aviso, ele sussurrou:— Não.Antes que eu pudesse processar, Alexander me ergueu como se eu fosse feita de papel. Senti o frio da bancada da cozinha contra minhas pernas enquanto ele
— Dê-me o divórcio!Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. — Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que