Eu sei que o lobby da empresa não era o lugar ideal para discussões sérias ou para Alexander segurar minhas mãos daquela forma. Mas, quem eu estava enganando? A pergunta me escapou antes que eu conseguisse segurá-la.— Vamos pegar o carro — disse ele, sem sequer responder à minha pergunta. Claro. Ele apenas ignorou.Alexander soltou minhas mãos e começou a andar na minha frente, seu passo seguro, como se nunca tivesse sido interrompido por algo tão irrelevante quanto o meu questionamento. Suspirei e o segui. Se ele não ia dar bola, eu também não ia me importar… ou pelo menos eu tentava convencer a mim mesma disso.Assim que saímos da empresa, um dos seguranças entregou as chaves do carro a Alexander, que acenou para eu entrar. Ele dirigiu até meu prédio, o que já era inusitado. Normalmente, um “boa noite” seco encerraria nossa interação. Mas o que realmente me pegou de surpresa foi quando ele saiu do carro e abriu o porta-malas. Então, como se aquilo fosse a coisa mais lógica do mundo
Foi naquele dia, sob o pretexto de uma consulta médica, que resolvi fugir. Era a chance perfeita. Os guardas não tinham ideia dos procedimentos, e Alexander, é claro, estava ocupado demais para acompanhar “sua esposa” em qualquer consulta. Então, lá estava eu, uma Charlotte diferente refletida no espelho do banheiro feminino do hospital. Vestindo salto alto e um lenço cobrindo metade do rosto, nem eu mesma me reconhecia.Passei pelos seguranças como um vento discreto, atravessando a saída sem que nenhum deles levantasse a sobrancelha. Uma mulher qualquer. Ou talvez, invisível. Em poucos minutos, estava em um táxi, trocando para outro logo em seguida, deixando pistas confusas, um rastro impossível de rastrear. Ou assim achei.Finalmente, cheguei ao meu novo refúgio, um pequeno apartamento longe daquelas paredes geladas. Longe de Alexander. E pela primeira vez em tanto tempo, senti o gosto da liberdade. Eu havia planejado cada detalhe: na manhã seguinte, ele receberia os papéis do divór
O celular dele parou de vibrar, e tudo o que sobrou foi um silêncio opressor. Ele respirava fundo, recostado no sofá, como se estivesse a um passo de apagar. Eu sabia que deveria manter a distância, que ele provavelmente merecia, mas… algo na palidez daquele rosto me fez largar tudo e correr para a cozinha.Voltei com uma garrafa de água e me sentei ao lado dele no sofá, sacudindo seu ombro com delicadeza — que, claro, não teve o menor efeito. — Alexander, você está bem? — perguntei, enchendo a palma da mão com água e borrifando no rosto dele, sem nem esperar que ele respondesse. Ele abriu os olhos, com aquela expressão que dizia “pare de me molhar como um cachorro”. Franziu a testa.— Estou bem. — Ele disse isso daquele jeito dele, meio frio, meio orgulhoso, como se fosse de ferro e qualquer preocupação fosse um insulto.Claro que eu não estava convencida, então, ao invés de mais água, decidi enxugar o rosto dele com minha própria mão. Bem mais eficiente.— Vai, bebe um pouco. — En
Senti o rosto queimar na hora, mas ainda bem que a penumbra estava a meu favor: a única luz vinha do poste lá fora, e isso graças ao zelador preguiçoso que nunca trocava as lâmpadas que queimavam. Fechei a cara. Uma vez na vida, sou grata por essa escuridão toda, e até pelo tempo sem lua.Pelo menos, a cara vermelha ele não veria. Alexander soltou aquele “eu sinto sua falta” e virou como se nada fosse. Respiração já ritmada. Dormindo feito uma pedra, enquanto eu aqui, quieta e com o coração acelerado, lutando para não dar nem um sorrisinho no escuro. Porque eu também sinto falta dele. Ou melhor, sinto falta das coisas ridiculamente irritantes dele. Olha só que ironia. E, Deus me livre, se isso cair na categoria “amor”!Respirei fundo, encarando a silhueta dele, mesmo sem ver direito. Seria mentira dizer que não pensei nele esses anos todos. Claro que pensei, mas de um jeito… bom, vamos dizer, nada romântico. Por exemplo, toda vez que vejo ameixa no mercado, lembro que ele odeia. Até
Estávamos ali, lado a lado no sofá, ele compenetrado no laptop e eu fingindo assistir à TV. O silêncio confortável, até que a pergunta escapou antes que eu pudesse evitar:— A sua mãe sabe que você está morando aqui?Ele mal ergueu os olhos, com aquela frieza costumeira.— Por que ela deveria saber?Revirei os olhos, sem me importar se ele visse.— Porque, se soubesse, já teria invadido meu apartamento com aquele clube de senhoras chiques dela. Ia me chamar de ladra do filho precioso, ou alguma outra bobagem.Alexander suspirou e respondeu com uma tranquilidade perturbadora:— Ela não ousaria falar mal de você de novo.O encarei, cética.— Como isso é possível? Ela cortou a língua?Dessa vez, ele levantou o olhar para mim com uma paciência fria, como se a explicação fosse óbvia demais para discutir.— Porque você está acima dela agora, Charlotte. É a esposa do CEO. Ela depende da minha… generosidade. — Ele sorriu, um sorriso quase imperceptível. — Nem um cachorro morde a mão que o ali
— Por que você está sorrindo? — perguntei, estreitando os olhos enquanto descíamos na escada rolante abarrotada de gente. — Está feliz com o desfile de olhares te admirando? Alexander me lançou aquele olhar indecifrável, misto de tédio e diversão, que sempre fazia meu estômago revirar de raiva. Ou outra coisa.— Só estava me lembrando de como você me arrastava por aí quando éramos mais jovens. Sempre dava um jeito de me enganar para comprar besteiras pra você.Fiz uma careta. Eu sabia exatamente do que ele estava falando, mas não iria admitir tão facilmente. — Não seja ridículo, Alexander. Você adorava aquelas "besteiras". Ele arqueou a sobrancelha, como se dissesse "sério?". E foi nesse momento que me veio à cabeça uma versão mais jovem de nós dois, uma que parecia tão distante que beirava a fantasia.Quando Alexander foi morar na minha cidadezinha, eu tinha apenas oito anos. Ele, com doze, parecia um príncipe deslocado, ainda que pálido, magrelo e assustadoramente frágil. O fi
Quando Alexander abriu a porta do restaurante, meu estômago deu uma cambalhota. Não porque eu estava faminta ou impressionada com o lugar — embora fosse o tipo de ambiente em que até as luzes pareciam mais caras que minha roupa inteira —, mas porque eu sabia o que estava por vir.Ele entrou com aquela postura calma e confiante que só ele sabia ter, e, como sempre, ajustou os passos aos meus, como se fosse uma espécie de dança ensaiada. Era irritante como ele parecia sempre saber o que eu precisava, mesmo que eu não admitisse. A garçonete nos levou a uma sala privada, decorada como se tivesse saído de uma revista de design. Havia algo reconfortante e opressor ao mesmo tempo naquele ambiente — ou talvez fosse só a presença dele ao meu lado. Alexander parou, fazendo um gesto sutil com a mão para que eu entrasse primeiro. Respirei fundo, enchi o peito de coragem e atravessei a porta, tentando não parecer tão nervosa quanto me sentia. Dentro da sala, duas pessoas estavam sentadas, olha
Quando o caos finalmente cedeu espaço ao silêncio, senti os braços de Alexander envolverem meus ombros. Não era um abraço qualquer; era firme, quase possessivo, como se ele quisesse me impedir de desmoronar ali mesmo. Encostei a cabeça em seu peito, incapaz de lutar contra o conforto inesperado daquele momento.Ele afagou meu cabelo com uma mão, enquanto a outra dava leves toques em minhas costas. Sua voz baixa e rouca soou no meu ouvido, causando uma reação involuntária que detestei admitir: — Você foi corajosa hoje. Termine o que começou e vamos para casa. Pisquei rapidamente, tentando segurar o que restava da minha dignidade. — Já terminei.Ele apenas assentiu, mas antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, virou-se para a mulher e o sobrinho que ainda estavam ali, observando a cena com olhares curiosos e, no caso dela, completamente desprovidos de emoção. — Pode ir agora — sua voz não era cruel, mas havia algo nela que não deixava espaço para objeções. — E se