Passar os dias no hospital me deu tempo para pensar. E pensar demais nunca foi bom para mim. Claro, as enfermeiras estavam sempre por perto, e os médicos também. Mas o hospital sem Alexander era… vazio. A única visita inesperada foi minha sogra, que teve a audácia de me fazer um sermão assim que entrou no quarto: — Você tinha que brigar com seu marido e vir parar no hospital?! Eu entendo que seu temperamento é… difícil. Mas você precisa ter mais paciência! Se vocês não conseguem dividir um quarto sem explodir, deveriam dormir separados até o bebê nascer! Meu sogro, normalmente neutro, resolveu apoiar a esposa: — Emma tem razão. Sei que Alexander pode ser difícil, mas você precisa cuidar melhor de si mesma. Quando eles saíram, olhei para minha avó, que permanecia sentada calmamente bordando. — O que exatamente você disse para eles? Nunca vi os dois concordarem tanto, muito menos ficarem do meu lado contra o próprio filho. Ela levantou os olhos do bordado e bufou. — Não
POV: AlexanderCharlotte sempre foi uma distração para mim. Não qualquer distração. A maior, mais caótica e inevitável fonte de distração da minha vida. Desde a faculdade, esse fato era uma constante. Eu poderia estar focado no projeto mais importante da minha carreira, na decisão mais estratégica para os negócios ou em um momento crítico que exigia precisão absoluta, mas bastava Charlotte surgir para que tudo mais perdesse o sentido. E foi exatamente isso que aconteceu no meu quarto ano na faculdade de administração. Tive a rara oportunidade de fazer uma apresentação pública no grande teatro da universidade. Uma honra reservada apenas para os alunos do último ano, um evento que servia para exibir suas teses e, claro, ajudá-los a conseguir emprego. Exceto que eu não era um aluno do último ano. E definitivamente não precisava de um emprego. Herdeiro da Speredo Corp., com um caminho traçado desde o berço, não havia razão lógica para que eu fosse escolhido. Por isso, no mom
POV: CharlotteUm dia se passou. Depois dois. Uma semana… depois duas… Meses se seguiram… e meu filho ainda estava aqui. Vivo. Se eu tinha alguma dúvida de que essa criança herdaria os genes teimosos de Alexander, ela foi completamente pulverizada. Porque só isso explicaria como, contrariando qualquer lógica médica, ele ainda resistia. Juro que quando esse diabinho decidir nascer, vai ser do jeito dele. Vai simplesmente sair, sem aviso, sem alarde, e me olhar com aquela expressão fria e calculista que o pai dele já domina tão bem. E por falar nisso… É um menino. — O feto está se desenvolvendo dentro das normas. A médica parecia surpresa. Muito surpresa. — Ah, que bom — murmurei, tentando conter um sorriso. Mas ela não se deu por satisfeita e repetiu, como se eu não tivesse entendido. — Ele está normal. Crescimento normal. Sem anormalidades. — Graças a Deus!E então, como se seu cérebro recusasse essa informação, ela revisou tudo. Relatórios, cálculos, datas. Fez qu
Um dia, enquanto descansava minha cabeça no ombro dele no sofá, assistindo a algum programa irrelevante, Alexander soltou:— Por que sinto que meu filho não gosta muito de mim? Pisquei, tentando entender se tinha ouvido certo. — O quê? Ele continuava olhando para a TV, mas sua expressão estava séria. — Quando estou por perto, ele nunca se mexe. Ou para de se mexer antes que eu tenha a chance de sentir. Meu coração apertou. Sabia o que isso significava para ele. Cada pequeno movimento era uma prova de que nosso filho estava aqui. Vivo. E, considerando que os médicos nos deram poucas chances de que ele nascesse com vida, aqueles chutes e reviravoltas dentro de mim eram, para Alexander, a única forma de se conectar com o bebê. Engoli em seco e tentei amenizar. — Na próxima vez que ele se mexer, eu te chamo. Mas… é claro que eu esqueci completamente. Na manhã seguinte, antes de sair para o trabalho, Alexander me lançou um olhar ameaçador. — É melhor me ligar quando o b
Aquele mesmo canal, que nunca conseguia entrevistar Alexander, de repente tinha ele como convidado. Estranhei a coincidência e, claro, fui direto ao ponto: — Você odeia dar entrevistas. Por que fez essa exceção? Sem nem olhar para mim, com os olhos pregados na tela, ele disse casualmente: — Eu tinha uma condição. Eles cancelaram uma certa categoria de anúncios. Minha boca abriu em choque. — Você pagou para que eles retirassem os comerciais? — E nossa equipe conseguiu reposicionamento promocional. Eles não podiam recusar. — Isso não te traz nenhum benefício. Você só perdeu dinheiro. Ele me olhou, finalmente desviando a atenção da tela, e disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo: — Você está assistindo, não é uma perda. O queixo caiu. Antes que meu coração pudesse derreter, ele continuou: — No futuro, você não precisa se preocupar. Pode assistir a esse canal quando quiser. Os anúncios não foram as únicas cláusulas que discutimos. Fiquei em silêncio por u
A vida tem um jeito estranho de nos dar tapas inesperados na cara. Alexander e eu fazíamos de tudo para lidar com a incerteza que nos rondava, mas a verdade é que algumas coisas simplesmente não podem ser evitadas. Como naquela noite. Fui dormir nos braços do meu marido, como sempre. E acordei em uma cama de hospital. Por um segundo, meu cérebro se recusou a processar a mudança drástica de ambiente. O soro conectado ao meu braço, as luzes fortes do quarto, a sensação de fraqueza invadindo meu corpo. O pânico se instalou antes que eu pudesse evitar. Meu bebê. Meu coração disparou, mas então… senti. Um leve movimento na minha barriga. Ainda estava ali. Ainda lutando. Soltei um suspiro trêmulo, aliviada. Mas não tive tempo para mais nada, porque Alexander se mexeu ao meu lado, despertando como se estivesse em alerta máximo. Assim que abriu os olhos e me viu acordada, descruzou os braços ao meu redor e se inclinou sobre mim, a tensão em seu rosto tão visível que me fez pren
Minha cirurgia foi… um borrão. Havia uma equipe de cirurgiões ao meu redor, e tudo o que eu conseguia ouvir era a promessa repetida de que fariam o melhor para salvar a mim e ao bebê. E, se possível, também salvar meu útero. E então Dominic nasceu. E ele chorou. O som mais lindo e impossível que já ouvi na vida. Porque, por meses, me disseram que isso não aconteceria. E, ainda assim, aconteceu. Eu chorei. Eu chorei tanto que nem conseguia me controlar. Quando me levaram para a UTI para me recuperar, continuei chorando sem motivo aparente. Alexander, minha família, os médicos… todos tentaram entender por que eu estava reagindo daquele jeito. Mas ninguém precisou de explicações quando foram autorizados a ver Dominic pela primeira vez. O corredor do hospital ficou cheio de gente chorando. Porque ele era minúsculo. Tão pequeno que até o menor tamanho de fralda parecia grande demais para ele. No início, achei que meu julgamento estava distorcido, já que não via bebês com tanta f
Alexander ainda é um homem difícil de ler. Por exemplo, achei que ele estivesse perfeitamente bem com meu sogro segurando Dominic. Mas, assim que chegamos à mansão, ele simplesmente decidiu que já era o suficiente. Nem me lançou um olhar antes de sair do carro e atravessar o pátio como se estivesse em uma missão de resgate. Normalmente, ele me deixaria uma ordem seca, como "Espere aqui", "Não saia do carro" ou qualquer outra de suas frases autoritárias. Mas, dessa vez? Nada. Ele simplesmente me esqueceu. Foi direto até o carro do pai, abriu a porta, pegou Dominic nos braços e, quando já estava virando as costas para ir embora, se lembrou de soltar um breve: — Obrigado. Ou seja, "Seu tempo acabou, estou levando meu filho de volta".O Sr. Jackson ficou com o rosto vermelho de indignação, e eu tive que morder a língua para não rir. No início, achei que ele tivesse sido dominado pelo ciúme paterno. Afinal, considerando seu histórico de ciúmes maritais, isso fazia todo sentido.