Um dia, enquanto descansava minha cabeça no ombro dele no sofá, assistindo a algum programa irrelevante, Alexander soltou:— Por que sinto que meu filho não gosta muito de mim? Pisquei, tentando entender se tinha ouvido certo. — O quê? Ele continuava olhando para a TV, mas sua expressão estava séria. — Quando estou por perto, ele nunca se mexe. Ou para de se mexer antes que eu tenha a chance de sentir. Meu coração apertou. Sabia o que isso significava para ele. Cada pequeno movimento era uma prova de que nosso filho estava aqui. Vivo. E, considerando que os médicos nos deram poucas chances de que ele nascesse com vida, aqueles chutes e reviravoltas dentro de mim eram, para Alexander, a única forma de se conectar com o bebê. Engoli em seco e tentei amenizar. — Na próxima vez que ele se mexer, eu te chamo. Mas… é claro que eu esqueci completamente. Na manhã seguinte, antes de sair para o trabalho, Alexander me lançou um olhar ameaçador. — É melhor me ligar quando o b
Aquele mesmo canal, que nunca conseguia entrevistar Alexander, de repente tinha ele como convidado. Estranhei a coincidência e, claro, fui direto ao ponto: — Você odeia dar entrevistas. Por que fez essa exceção? Sem nem olhar para mim, com os olhos pregados na tela, ele disse casualmente: — Eu tinha uma condição. Eles cancelaram uma certa categoria de anúncios. Minha boca abriu em choque. — Você pagou para que eles retirassem os comerciais? — E nossa equipe conseguiu reposicionamento promocional. Eles não podiam recusar. — Isso não te traz nenhum benefício. Você só perdeu dinheiro. Ele me olhou, finalmente desviando a atenção da tela, e disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo: — Você está assistindo, não é uma perda. O queixo caiu. Antes que meu coração pudesse derreter, ele continuou: — No futuro, você não precisa se preocupar. Pode assistir a esse canal quando quiser. Os anúncios não foram as únicas cláusulas que discutimos. Fiquei em silêncio por u
A vida tem um jeito estranho de nos dar tapas inesperados na cara. Alexander e eu fazíamos de tudo para lidar com a incerteza que nos rondava, mas a verdade é que algumas coisas simplesmente não podem ser evitadas. Como naquela noite. Fui dormir nos braços do meu marido, como sempre. E acordei em uma cama de hospital. Por um segundo, meu cérebro se recusou a processar a mudança drástica de ambiente. O soro conectado ao meu braço, as luzes fortes do quarto, a sensação de fraqueza invadindo meu corpo. O pânico se instalou antes que eu pudesse evitar. Meu bebê. Meu coração disparou, mas então… senti. Um leve movimento na minha barriga. Ainda estava ali. Ainda lutando. Soltei um suspiro trêmulo, aliviada. Mas não tive tempo para mais nada, porque Alexander se mexeu ao meu lado, despertando como se estivesse em alerta máximo. Assim que abriu os olhos e me viu acordada, descruzou os braços ao meu redor e se inclinou sobre mim, a tensão em seu rosto tão visível que me fez pren
Minha cirurgia foi… um borrão. Havia uma equipe de cirurgiões ao meu redor, e tudo o que eu conseguia ouvir era a promessa repetida de que fariam o melhor para salvar a mim e ao bebê. E, se possível, também salvar meu útero. E então Dominic nasceu. E ele chorou. O som mais lindo e impossível que já ouvi na vida. Porque, por meses, me disseram que isso não aconteceria. E, ainda assim, aconteceu. Eu chorei. Eu chorei tanto que nem conseguia me controlar. Quando me levaram para a UTI para me recuperar, continuei chorando sem motivo aparente. Alexander, minha família, os médicos… todos tentaram entender por que eu estava reagindo daquele jeito. Mas ninguém precisou de explicações quando foram autorizados a ver Dominic pela primeira vez. O corredor do hospital ficou cheio de gente chorando. Porque ele era minúsculo. Tão pequeno que até o menor tamanho de fralda parecia grande demais para ele. No início, achei que meu julgamento estava distorcido, já que não via bebês com tanta f
Alexander ainda é um homem difícil de ler. Por exemplo, achei que ele estivesse perfeitamente bem com meu sogro segurando Dominic. Mas, assim que chegamos à mansão, ele simplesmente decidiu que já era o suficiente. Nem me lançou um olhar antes de sair do carro e atravessar o pátio como se estivesse em uma missão de resgate. Normalmente, ele me deixaria uma ordem seca, como "Espere aqui", "Não saia do carro" ou qualquer outra de suas frases autoritárias. Mas, dessa vez? Nada. Ele simplesmente me esqueceu. Foi direto até o carro do pai, abriu a porta, pegou Dominic nos braços e, quando já estava virando as costas para ir embora, se lembrou de soltar um breve: — Obrigado. Ou seja, "Seu tempo acabou, estou levando meu filho de volta".O Sr. Jackson ficou com o rosto vermelho de indignação, e eu tive que morder a língua para não rir. No início, achei que ele tivesse sido dominado pelo ciúme paterno. Afinal, considerando seu histórico de ciúmes maritais, isso fazia todo sentido.
POV: Lily SperedoEu sempre soube que nunca deveria me casar com um homem que eu amasse mais do que ele me amasse. E essa certeza veio diretamente do casamento fracassado do meu irmão. Um verdadeiro trauma que me assombra até hoje.Qualquer pessoa que convivesse com os Speredo sabia o quanto Alexander era obcecado por Charlotte. Se ela estava no mesmo ambiente, os olhos dele grudavam nela como se ela fosse o único ponto de interesse na Terra. Se alguém visse meu irmão olhando para o nada, perdido em pensamentos, nem precisava seguir seu olhar. Com certeza, Charlotte estaria lá, de pé, alheia ao fato de que era o centro do universo dele.E se até desconhecidos percebiam isso, como diabos Charlotte ainda não tinha notado? Como ela conseguia agir como se Alexander fosse um pedaço de mobília sem importância na vida dela? Para mim, havia apenas uma explicação: ela simplesmente não dava a mínima para ele. E Alexander? Bem, ele estava desperdiçando sua vida com uma mulher que não o mereci
Ouvindo aquilo, meu coração se partiu pelo meu irmão. Como ele podia amar tanto essa mulher que não merecia nem metade desse esforço? Mesmo depois de tudo, mesmo depois de toda a raiva, ele ainda se preocupava com ela de forma patética.Eu queria sacudi-lo até ele acordar para a realidade. Mas, antes que pudesse começar meu discurso, meu celular vibrou no bolso.Era meu namorado. Ou melhor, o cara que eu aceitava chamar de namorado na época. Alexander claramente não queria minha presença ali, então dei meia-volta, saí do escritório e atendi a ligação assim que estava longe o suficiente.— Onde diabos você estava?! Faz uma hora que estou te ligando! — ele gritou.Olhei para a tela. Primeira ligação cinco minutos atrás. Ótimo. Eu tinha um namorado neurótico e exagerado.— Eu estava ocupada — respondi, sem paciência.— Eu não me importo! Quando eu ligo, você atende na hora!Revirei os olhos.— O que você quer?— Estou no resort GH com uns amigos. Eles querem te conhecer. Vem agora.Ah,
Dois dias depois, eu estava no hospital, fazendo algo que nunca pensei que faria: rezando por Charlotte. Minha mãe me puxou pelo braço e me levou até a UTI. Nós não tínhamos permissão para entrar, mas, usando toda a influência que os Speredo possuíam, conseguimos ficar do lado de fora da porta e espiar pela pequena janela de vidro.E foi ali que vi Alexander. Charlotte estava deitada na cama, frágil, cercada por máquinas e tubos, parecendo mais morta do que viva. Meu irmão estava ao lado dela, imóvel, apenas olhando para o rosto dela, como se, no momento em que desviasse o olhar, ela desaparecesse. Ele parecia… destruído.Nunca imaginei que um homem como Alexander pudesse se despedaçar assim. Seu rosto estava abatido, sua expressão, vazia. Ele não se movia, não piscava, nem tentava esconder as lágrimas silenciosas que deslizavam pelo rosto. Minha mãe segurou meu braço com força e sussurrou:— Não é permitido visitantes na UTI. Mas como os médicos disseram que ela provavelmente não