Alexander desenvolveu um novo hábito: ser insuportável. Quer dizer, ele sempre foi. Mas agora está pior. Este homem já era uma das pessoas menos sociáveis que conheci. Mas, durante minha gravidez, ele refinou sua técnica de antissociabilidade a um nível quase artístico. Para colocar em perspectiva: Uma vez, fomos a uma fazenda da família dele, e, como era esperado, havia muitos convidados. A lógica dizia que deveríamos socializar. Mas Alexander? Falou apenas com duas categorias de pessoas: Seus parceiros de negócios. Conversas estritamente profissionais, sem um segundo sequer de cordialidade desnecessária. Outros seres antissociais como ele. Pessoas que estavam estrategicamente posicionadas nos cantos mais distantes, tentando evitar a interação humana. Quando percebi isso, entendi a estratégia do meu marido: ele simplesmente procurava as pessoas que odiavam eventos sociais mais do que ele. Mas agora, na minha gravidez, ele elevou isso para um nível superior. Ele
Durante todo o tempo em que Lily esteve no quarto, Alexander parecia um robô desconfigurado. Primeiro, sentou-se distante de nós. Depois, começou a limpar a garganta repetidamente. E, por repetidamente, quero dizer que ele fez isso tantas vezes que quase perguntei se ele estava engasgado e precisava de um copo d’água. Quando achei que ele finalmente se acalmaria, começou a andar em círculos, como um predador impaciente. Até que, por fim, soltou friamente: — Lily, tenho um assunto particular para tratar com minha esposa. Você nos dá licença? O homem simplesmente expulsou a própria irmã. Dizem que as mulheres sofrem mudanças de humor na gravidez, mas, aparentemente, meu marido decidiu assumir essa parte por mim. Lily, acostumada à falta de modos de Alexander, não pareceu nem um pouco ofendida. Apenas arqueou uma sobrancelha e, antes de sair, sugeriu casualmente: — Você devia chamar Maida para visitar a mansão em breve. Logo ficará impossível esconder sua gravidez dela.
O mundo ao meu redor pareceu parar. Meu corpo ficou tenso em seus braços. O choque percorreu minha pele como um arrepio. Eu me afastei devagar, olhando para ele como se tivesse acabado de ouvir algo absurdo. — O que você disse? Ele não hesitou. — Eu não quero essa criança, Charlotte. Foi a primeira vez que ele disse isso em voz alta. Olhava para ele, e só conseguia pensar em uma coisa: esse não é o Alexander que eu conheço.Ele suspirou e tentou explicar: — A médica me informou sobre a possibilidade de aborto antes de você saber. Pedi que ela não mencionasse nada até termos certeza de que as chances eram mínimas… Mas agora, Charlotte, não há mais margem para otimismo. Todos os médicos recomendam interromper a gravidez para a sua segurança. Eu me recuso a ficar parado e ver você sangrar até a morte quando podemos evitar isso agora, com muito menos riscos! Eu já quase te perdi uma vez, e não vou passar por isso de novo. Eu me recuso! Seu tom era desesperado, quase suplicant
Passar os dias no hospital me deu tempo para pensar. E pensar demais nunca foi bom para mim. Claro, as enfermeiras estavam sempre por perto, e os médicos também. Mas o hospital sem Alexander era… vazio. A única visita inesperada foi minha sogra, que teve a audácia de me fazer um sermão assim que entrou no quarto: — Você tinha que brigar com seu marido e vir parar no hospital?! Eu entendo que seu temperamento é… difícil. Mas você precisa ter mais paciência! Se vocês não conseguem dividir um quarto sem explodir, deveriam dormir separados até o bebê nascer! Meu sogro, normalmente neutro, resolveu apoiar a esposa: — Emma tem razão. Sei que Alexander pode ser difícil, mas você precisa cuidar melhor de si mesma. Quando eles saíram, olhei para minha avó, que permanecia sentada calmamente bordando. — O que exatamente você disse para eles? Nunca vi os dois concordarem tanto, muito menos ficarem do meu lado contra o próprio filho. Ela levantou os olhos do bordado e bufou. — Não
POV: AlexanderCharlotte sempre foi uma distração para mim. Não qualquer distração. A maior, mais caótica e inevitável fonte de distração da minha vida. Desde a faculdade, esse fato era uma constante. Eu poderia estar focado no projeto mais importante da minha carreira, na decisão mais estratégica para os negócios ou em um momento crítico que exigia precisão absoluta, mas bastava Charlotte surgir para que tudo mais perdesse o sentido. E foi exatamente isso que aconteceu no meu quarto ano na faculdade de administração. Tive a rara oportunidade de fazer uma apresentação pública no grande teatro da universidade. Uma honra reservada apenas para os alunos do último ano, um evento que servia para exibir suas teses e, claro, ajudá-los a conseguir emprego. Exceto que eu não era um aluno do último ano. E definitivamente não precisava de um emprego. Herdeiro da Speredo Corp., com um caminho traçado desde o berço, não havia razão lógica para que eu fosse escolhido. Por isso, no mom
POV: CharlotteUm dia se passou. Depois dois. Uma semana… depois duas… Meses se seguiram… e meu filho ainda estava aqui. Vivo. Se eu tinha alguma dúvida de que essa criança herdaria os genes teimosos de Alexander, ela foi completamente pulverizada. Porque só isso explicaria como, contrariando qualquer lógica médica, ele ainda resistia. Juro que quando esse diabinho decidir nascer, vai ser do jeito dele. Vai simplesmente sair, sem aviso, sem alarde, e me olhar com aquela expressão fria e calculista que o pai dele já domina tão bem. E por falar nisso… É um menino. — O feto está se desenvolvendo dentro das normas. A médica parecia surpresa. Muito surpresa. — Ah, que bom — murmurei, tentando conter um sorriso. Mas ela não se deu por satisfeita e repetiu, como se eu não tivesse entendido. — Ele está normal. Crescimento normal. Sem anormalidades. — Graças a Deus!E então, como se seu cérebro recusasse essa informação, ela revisou tudo. Relatórios, cálculos, datas. Fez qu
Um dia, enquanto descansava minha cabeça no ombro dele no sofá, assistindo a algum programa irrelevante, Alexander soltou:— Por que sinto que meu filho não gosta muito de mim? Pisquei, tentando entender se tinha ouvido certo. — O quê? Ele continuava olhando para a TV, mas sua expressão estava séria. — Quando estou por perto, ele nunca se mexe. Ou para de se mexer antes que eu tenha a chance de sentir. Meu coração apertou. Sabia o que isso significava para ele. Cada pequeno movimento era uma prova de que nosso filho estava aqui. Vivo. E, considerando que os médicos nos deram poucas chances de que ele nascesse com vida, aqueles chutes e reviravoltas dentro de mim eram, para Alexander, a única forma de se conectar com o bebê. Engoli em seco e tentei amenizar. — Na próxima vez que ele se mexer, eu te chamo. Mas… é claro que eu esqueci completamente. Na manhã seguinte, antes de sair para o trabalho, Alexander me lançou um olhar ameaçador. — É melhor me ligar quando o b
Aquele mesmo canal, que nunca conseguia entrevistar Alexander, de repente tinha ele como convidado. Estranhei a coincidência e, claro, fui direto ao ponto: — Você odeia dar entrevistas. Por que fez essa exceção? Sem nem olhar para mim, com os olhos pregados na tela, ele disse casualmente: — Eu tinha uma condição. Eles cancelaram uma certa categoria de anúncios. Minha boca abriu em choque. — Você pagou para que eles retirassem os comerciais? — E nossa equipe conseguiu reposicionamento promocional. Eles não podiam recusar. — Isso não te traz nenhum benefício. Você só perdeu dinheiro. Ele me olhou, finalmente desviando a atenção da tela, e disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo: — Você está assistindo, não é uma perda. O queixo caiu. Antes que meu coração pudesse derreter, ele continuou: — No futuro, você não precisa se preocupar. Pode assistir a esse canal quando quiser. Os anúncios não foram as únicas cláusulas que discutimos. Fiquei em silêncio por u