A respiração de Cecília estava descontrolada, o rosto contorcido em dor enquanto as contrações aumentavam em intensidade. Gael, amarrado à cadeira, lutava desesperadamente, tentando de alguma forma se soltar para ajudá-la. Seu corpo estava coberto de hematomas, e o cansaço era evidente, mas a visão de Cecília sofrendo à sua frente, em pleno trabalho de parto, despertava nele uma força que ele sequer sabia possuir. Tiago observava a cena com um sorriso frio, os braços cruzados, divertindo-se com o desespero de Cecília e a impotência de Gael. — Tito vai chamar uma tia aqui do Morro para ajudar a Cecília ter a criança ,apesar de tudo não quero que nem a criança e ela morra ,apesar de tudo eu ainda sou amarradão em tu ,Cecília e também não quero levar a morte de um inocente nas minhas costas e ... Mas, antes que pudesse continuar o que estava dizendo ,a atenção de Tiago foi atraída pelo som crescente de tiros vindos do lado de fora. A expressão de desprezo se transformou em alerta, e
Cecília, segurando a filha nos braços, olhava para o pequeno rosto que ainda chorava baixinho. As lágrimas escorriam pelo rosto dela, misturando-se à felicidade e alívio que sentia, como se todo o sofrimento e medo dos últimos meses finalmente tivessem dado lugar a um milagre em suas mãos. Ela ergueu os olhos para Gael, que, ajoelhado ao seu lado, a observava com um olhar que ela nunca havia visto antes — um olhar de ternura e adoração. — Você… você me chamou de “meu amor” — sussurrou ela, ainda ofegante, uma mistura de confusão e esperança em sua voz. — Você me chamou assim porque realmente me ama, Gael? Ou foi só a emoção do momento? Gael baixou os olhos, a respiração pesada, enquanto tentava encontrar as palavras certas. Finalmente, ele ergueu o olhar novamente, e Cecília viu algo inesperado. Pela primeira vez, Gael estava vulnerável, completamente desarmado, sem a máscara de autossuficiência e arrogância que sempre carregava. — Cecília… eu… — Ele hesitou, os olhos marejados. —
Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por uma pergunta mais incisiva: — Com Cecília, não é? Gael, você some sem dar uma explicação, e agora percebo que é por causa dela. Eu mereço pelo menos saber o que está acontecendo. Gael olhou para Cecília, que o observava em silêncio, percebendo o desconforto dele. — Mayra, eu sinto muito. Não queria que as coisas fossem assim, mas a situação realmente se complicou. Estou com Cecília e nossa filha… ela nasceu hoje. O silêncio que se seguiu parecia interminável, até que Mayra, com uma voz fria e resignada, respondeu: — Eu já disse para você que essa criança pode muito bem não ser sua filha,mas se quer fazer papel de idiota eu" lavo minhas mãos ".Mas no mínimo eu espero que me procure para resolvermos nossa situação. Ela desligou antes que ele pudesse responder, deixando-o parado por um momento, encarando a tela do celular em branco. Gael fechou os olhos, tomando um longo fôlego, e voltou-se para Cecília, que o observa
Gael dirigia pelas ruas do Rio de Janeiro em uma noite chuvosa, os faróis iluminando o asfalto molhado enquanto sua mente fervilhava com as dúvidas implantadas por Mayra. A foto de Cecília e Tiago se beijando martelava em sua cabeça, uma imagem que ele não conseguia esquecer. Cada quilômetro percorrido parecia pesar ainda mais em seu coração, e, embora soubesse que precisava de respostas, o medo de descobrir algo que pudesse destruir a confiança que tinha em Cecília o deixava em conflito. — Preciso resolver isso… — murmurou para si mesmo, apertando o volante com força. Ele decidiu ir ao hospital para confrontá-la, esclarecer o que se passava entre eles. Mas sua visão estava turva, a mente perturbada pelo ciúme e pela insegurança, e sua concentração aos poucos se esvaía. Em um momento de descuido, ao tentar se esquivar de um carro que vinha na direção oposta, ele perdeu o controle do veículo. O mundo ao seu redor girou em uma sucessão de luzes e sons confusos, até que o impacto acont
Nos dias seguintes, no novo hospital, a avó de Gael visitava-o diariamente, sentando-se ao lado dele e falando em voz baixa, como se ele pudesse ouvir cada palavra. Toda a dureza que sempre mostrara fora substituída por uma ternura inédita, uma revelação de sentimentos que, até então, ela escondia até de si mesma. Finalmente, após semanas em coma, Gael começou a despertar. Seus olhos abriram-se lentamente, a luz do quarto o deixando momentaneamente desorientado. Ele piscou, tentando focar, e logo percebeu que estava em um lugar desconhecido. O corpo estava fraco, e sua mente vagava em uma confusão de lembranças e perguntas. Ele estava sentindo uma leve dor de cabeça, mas sua mente parecia se ajustar aos poucos à nova realidade. O quarto do hospital era silencioso e organizado, o ambiente sereno demais para o turbilhão que se passava em sua mente. Ele ainda tentava entender como tinha parado ali e por que sua memória parecia um quebra-cabeça incompleto. Mayra, ao seu lado,
As semanas se arrastavam para Cecília como um pesadelo silencioso. Desde o dia em que Gael prometera voltar ao hospital, o silêncio dele se tornara um fardo esmagador. Sem uma única resposta às mensagens e ligações, ela começou a temer o pior: que Gael tivesse mudado de ideia e, incapaz de enfrentar a situação, simplesmente desaparecido de sua vida. Cada tentativa frustrada de contato alimentava seu ressentimento e dor, e ela se via forçada a aceitar a ideia de que ele havia a abandonado. Enquanto isso, em um hospital público, longe do Morro, Gael estava internado, inconsciente e sem identificação. O acidente havia sido devastador: seu carro pegou fogo logo após a colisão, destruindo documentos e pertences, incluindo o celular que foi encontrado danificado e sem carga. Sem documentos, ele se tornou um "paciente desconhecido", sem que ninguém pudesse rastrear sua identidade. A Dra. Mariana segurava o celular, torcendo para que alguém atendesse do outro lado da linha. Ela consegui
Alguns dias após iniciar o novo trabalho, Cecília teve uma surpresa que a deixou muito abalada. Entrando em uma sala para realizar uma coleta de sangue, ela se deparou com Mayra, acompanhada de Gael. Seus olhos se arregalaram, e o mundo pareceu parar por um instante. Ela sentiu o sangue gelar nas veias, quase derrubando os materiais que segurava. Mayra lançou-lhe um olhar vitorioso, e Gael a cumprimentou com um aceno frio, sem qualquer sinal de reconhecimento. O coração de Cecília se despedaçou. Lá estava o homem que tanto amava, que prometera buscá-la, que prometera cuidar dela e da filha, tratando-a como uma estranha. Fingindo indiferença, ela forçou-se a seguir em frente e cumpriu o seu dever, agindo de maneira profissional, embora cada fibra do seu ser estivesse em agonia. Ao final da coleta, Mayra disparou, com um sorriso venenoso: — Só para constar, Cecília, estou fazendo este exame porque achamos que estou grávida. Nosso filho terá o sobrenome dele e, ao contrário C
Ao chegar em casa, Cecília sentia como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Seus passos eram lentos, e o coração ainda carregava a dor e a confusão do encontro com Gael. Ao abrir a porta, o cheiro familiar da comida de sua avó preencheu o ambiente, dando-lhe um breve conforto, como um abraço caloroso em meio à tempestade de sentimentos que a assolava. — Cecília, meu amor, está tudo bem? — perguntou sua avó, com o olhar preocupado. Ela conhecia cada expressão da neta e, ao ver o rosto pálido e os olhos tristes, sabia que algo estava errado. Cecília suspirou, desabando no sofá. Passou as mãos pelo rosto, tentando conter as lágrimas que insistiam em cair. — Vó... hoje eu vi o Gael — disse ela, com a voz quase um sussurro. — Ele estava lá no hospital, mas ele... ele não se lembra de mim. Nem de nossa filha. A avó se aproximou, sentando ao lado dela e segurando suas mãos com carinho. — Como assim, minha filha? — perguntou a avó, surpresa e com os olhos cheios de t