As palavras de Mayra cravaram-se em Gael como farpas, alimentando uma dúvida que ele não queria ter. E se Mayra estivesse certa? E se Cecília realmente estivesse grávida de outro e usasse o bebê para manipulá-lo? Gael balançou a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas era impossível ignorar o peso da incerteza que agora se instalava em sua mente. — Você está dizendo isso porque está com ciúmes, ou por despeito, Mayra. -A voz de Gael saiu dura, mas ele evitou olhar diretamente para ela. Seu coração estava em conflito, tentando manter a razão no meio do caos que a conversa havia provocado. Mayra, com os olhos estreitados, deu um passo à frente, seu rosto sério e determinado. — Tudo bem, eu admito que sinto algo por você, Gael. E sim, isso me faz sentir ciúmes de você, mas não é por isso que estou te alertando sobre essa garota .-Mayra falou com frieza, controlando a raiva que a dominava. — Você acha mesmo que, se ela realmente te amasse e fosse fiel como pensa, teria fugido de v
Elisa lhe deu um abraço rápido, algo raro naquele momento de tensão, e saiu apressada, deixando Cecília sozinha por mais alguns minutos cruciais. O momento da fuga havia chegado. Ela olhou ao redor do pequeno barraco que fora seu lar por tanto tempo. Sabia que, depois daquele dia, não voltaria mais. Era um adeus ao seu passado, à vida que a prendia a Tiago e ao Morro. Com um último suspiro, Cecília pegou sua bolsa, jogou sobre o ombro e saiu pela porta. As ruas estreitas e íngremes do Morro estavam movimentadas, como sempre, mas ela manteve o olhar fixo à frente. Os soldados de Tiago, disfarçados em meio aos moradores, não suspeitaram de nada. Ela seguiu seu caminho até o ponto de encontro com o obstetra, com passos calmos e controlados. Quando finalmente se afastou o suficiente, sentiu o alívio começar a percorrer seu corpo. A primeira parte do plano estava funcionando. Agora, era questão de tempo. Chegar ao aeroporto, embarcar no avião, e deixar tudo para trás. Ela e sua fi
O táxi avançava pelas ruas da cidade enquanto Cecília observava a paisagem passar rapidamente pela janela, mas sua mente estava longe, perdida nos pensamentos que a faziam retornar ao Morro. Sentia o peito apertado e as mãos geladas, mas sabia que não tinha outra escolha. Havia algo que precisava resolver, algo urgente, que não podia esperar. O motorista a olhou pelo retrovisor, curioso, mas contido. — Está tudo bem, moça? — arriscou perguntar. Cecília forçou um sorriso breve, tentando esconder o turbilhão dentro de si. — Sim, só… só estou com pressa. O motorista acenou com a cabeça e acelerou, em silêncio, deixando-a sozinha com seus pensamentos. À medida que o táxi se aproximava do Morro Paraíso, ela sentia o peso das lembranças retornando. Aquela era sua chance de escapar, mas agora tudo parecia escorregar por entre seus dedos. Precisava estar ali. Não importava o quanto temia aquele lugar, algo muito maior a obrigava a voltar. Assim que o carro parou na praça próxima a
A respiração de Cecília estava descontrolada, o rosto contorcido em dor enquanto as contrações aumentavam em intensidade. Gael, amarrado à cadeira, lutava desesperadamente, tentando de alguma forma se soltar para ajudá-la. Seu corpo estava coberto de hematomas, e o cansaço era evidente, mas a visão de Cecília sofrendo à sua frente, em pleno trabalho de parto, despertava nele uma força que ele sequer sabia possuir. Tiago observava a cena com um sorriso frio, os braços cruzados, divertindo-se com o desespero de Cecília e a impotência de Gael. — Tito vai chamar uma tia aqui do Morro para ajudar a Cecília ter a criança ,apesar de tudo não quero que nem a criança e ela morra ,apesar de tudo eu ainda sou amarradão em tu ,Cecília e também não quero levar a morte de um inocente nas minhas costas e ... Mas, antes que pudesse continuar o que estava dizendo ,a atenção de Tiago foi atraída pelo som crescente de tiros vindos do lado de fora. A expressão de desprezo se transformou em alerta, e
Cecília, segurando a filha nos braços, olhava para o pequeno rosto que ainda chorava baixinho. As lágrimas escorriam pelo rosto dela, misturando-se à felicidade e alívio que sentia, como se todo o sofrimento e medo dos últimos meses finalmente tivessem dado lugar a um milagre em suas mãos. Ela ergueu os olhos para Gael, que, ajoelhado ao seu lado, a observava com um olhar que ela nunca havia visto antes — um olhar de ternura e adoração. — Você… você me chamou de “meu amor” — sussurrou ela, ainda ofegante, uma mistura de confusão e esperança em sua voz. — Você me chamou assim porque realmente me ama, Gael? Ou foi só a emoção do momento? Gael baixou os olhos, a respiração pesada, enquanto tentava encontrar as palavras certas. Finalmente, ele ergueu o olhar novamente, e Cecília viu algo inesperado. Pela primeira vez, Gael estava vulnerável, completamente desarmado, sem a máscara de autossuficiência e arrogância que sempre carregava. — Cecília… eu… — Ele hesitou, os olhos marejados. —
Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por uma pergunta mais incisiva: — Com Cecília, não é? Gael, você some sem dar uma explicação, e agora percebo que é por causa dela. Eu mereço pelo menos saber o que está acontecendo. Gael olhou para Cecília, que o observava em silêncio, percebendo o desconforto dele. — Mayra, eu sinto muito. Não queria que as coisas fossem assim, mas a situação realmente se complicou. Estou com Cecília e nossa filha… ela nasceu hoje. O silêncio que se seguiu parecia interminável, até que Mayra, com uma voz fria e resignada, respondeu: — Eu já disse para você que essa criança pode muito bem não ser sua filha,mas se quer fazer papel de idiota eu" lavo minhas mãos ".Mas no mínimo eu espero que me procure para resolvermos nossa situação. Ela desligou antes que ele pudesse responder, deixando-o parado por um momento, encarando a tela do celular em branco. Gael fechou os olhos, tomando um longo fôlego, e voltou-se para Cecília, que o observa
Gael dirigia pelas ruas do Rio de Janeiro em uma noite chuvosa, os faróis iluminando o asfalto molhado enquanto sua mente fervilhava com as dúvidas implantadas por Mayra. A foto de Cecília e Tiago se beijando martelava em sua cabeça, uma imagem que ele não conseguia esquecer. Cada quilômetro percorrido parecia pesar ainda mais em seu coração, e, embora soubesse que precisava de respostas, o medo de descobrir algo que pudesse destruir a confiança que tinha em Cecília o deixava em conflito. — Preciso resolver isso… — murmurou para si mesmo, apertando o volante com força. Ele decidiu ir ao hospital para confrontá-la, esclarecer o que se passava entre eles. Mas sua visão estava turva, a mente perturbada pelo ciúme e pela insegurança, e sua concentração aos poucos se esvaía. Em um momento de descuido, ao tentar se esquivar de um carro que vinha na direção oposta, ele perdeu o controle do veículo. O mundo ao seu redor girou em uma sucessão de luzes e sons confusos, até que o impacto acont
Nos dias seguintes, no novo hospital, a avó de Gael visitava-o diariamente, sentando-se ao lado dele e falando em voz baixa, como se ele pudesse ouvir cada palavra. Toda a dureza que sempre mostrara fora substituída por uma ternura inédita, uma revelação de sentimentos que, até então, ela escondia até de si mesma. Finalmente, após semanas em coma, Gael começou a despertar. Seus olhos abriram-se lentamente, a luz do quarto o deixando momentaneamente desorientado. Ele piscou, tentando focar, e logo percebeu que estava em um lugar desconhecido. O corpo estava fraco, e sua mente vagava em uma confusão de lembranças e perguntas. Ele estava sentindo uma leve dor de cabeça, mas sua mente parecia se ajustar aos poucos à nova realidade. O quarto do hospital era silencioso e organizado, o ambiente sereno demais para o turbilhão que se passava em sua mente. Ele ainda tentava entender como tinha parado ali e por que sua memória parecia um quebra-cabeça incompleto. Mayra, ao seu lado,