O Bebê do Advogado
O Bebê do Advogado
Por: Lili Marques
Prologo

— Você sabe que eu te amo, não sabe? — a voz de Fernando soava triste e pesarosa.

Estávamos sentados no sofá em nossa sala, havia dias que não tínhamos uma conversa decente.

— Claro que sei. E eu te amo do mesmo jeito. — aproveitei o momento de abertura daquela casca esquisita que se tinha criado entre nós nos últimos dias e o abracei, me aconchegando nele, sentindo a falta que fazia não ter o seu toque e calor sempre que eu quisesse.

Desde que tínhamos assumido nosso relacionamento nunca ficamos sem nos falar desse jeito, nem mesmo deixamos qualquer que fosse o problema ficar entre nós. Sempre procurávamos conversar depois de uma briga e acertar tudo.

Esse tinha sido o maior período desde que começamos a namorar que ficávamos sem nos falar e me doía ainda mais não saber o porque, o que tinha dado nele para se distanciar de mim daquela forma?

— Então você vai me entender, vai compreender o meu pedido. — o peito dele se expandiu com a respiração profunda, seus olhos estavam sérios e pareciam cansados. — Depois de pensar muito eu cheguei a conclusão de que o melhor a fazermos é um aborto, eu já procurei uma clínica e achei o lugar perfeito, vou estar do seu lado o tempo todo e depois se ainda quiser um filho podemos tentar de novo, talvez inseminação ou até adoção, não me importo de verdade.

Eu fiquei em choque por alguns minutos, desacreditando do que ele tinha acabado de dizer, só podia ser uma pegadinha de muito mau gosto, mas que ele se redimiria no minuto seguinte.

Mas a risada não veio, a frase que espantaria meu choque nunca apareceu. Fernando continuou ali me olhando sério em expectativa.

— Você está falando sério? — o questionei sentindo todo meu corpo se retesar quando processou cada palavra que ele disse. Fernando acenou afirmando o que eu temia. — Perdeu a cabeça? Eu não vou tirar meu filho, não vou fazer merda de aborto nenhum...

Sai dali me afastando dele e envolvendo as mãos na barriga, mesmo que mal desse para se notar, de forma protetora. Ele continuou sentado no sofá, sua expressão tentava me passar uma calma e confiança de que tudo daria certo, e com certeza se o assunto fosse qualquer outro eu teria confiado, como confiei tantas vezes antes, mas dessa vez não ia funcionar.

— É o melhor para todos você não vê? Uma criança assim requer cuidados especiais, é tudo bem mais complicado e... há tantas complicações Helen, tanta coisa pode acontecer com uma criança assim. — eu balançava a cabeça freneticamente negando todas as babaquices que ele estava dizendo. — É isso o que você quer? Trazer uma criança ao mundo para sofrer e para nos fazer sofrer? Tem ideia de com quantos problemas ele pode nascer? Pode nem mesmo chegar a viver por muitos anos!

Meus olhos estavam cheio de lágrimas a essa altura. Eu não podia acreditar que o homem doce e apaixonante, que sempre tinha tentado me mostrar o lado divertido e positivo da coisa, agora estava falando assim de seu próprio filho.

Mas não me permiti chorar, ele não merecia ver minhas lágrimas, se ele achava que podia me fazer desistir do bem mais precioso que eu havia ganhado ele estava muito enganado.

— Para o inferno você e suas ideias de merda!

— Eu não vou Helen... não vou conseguir ficar aqui e passar por tudo o que acabei de te falar. — Fernando respirou fundo e passou as mãos no cabelo de forma impaciente, estava claro o quanto aquilo o machucava, mas porque ele continuava a dizer? — Como te disse no começo da conversa, eu te amo de uma forma que você não pode imaginar, mas isso? — ele apontou com a mão em direção a minha barriga. — Isso eu não posso fazer com você! Não vou ficar aqui e assistir você se arrastar para esse sofrimento. Sou eu ou o bebê.

Uma risada histérica me escapou quando ouvi o ultimato. Aquilo não era real, Fernando não estava fazendo isso comigo. Ele achava mesmo que aquilo seria uma escolha? Fernando tinha realmente perdido o maldito juízo!

— Você pode pegar todas as suas coisas e ir se foder, vá para o mesmo lugar onde colocou a merda do seu juízo perfeito e o nosso casamento! — gritei deixando claro que não toleraria aquela loucura, não ia ouvir mais nada do que ele dissesse.

Fernando recuou assustado com minha reação, eu entendia já que ele nunca tinha me visto transtornada assim, não era do meu feitio falar palavrões ou gritar, não gostava de discussões já tinha tido o suficiente no meu primeiro casamento. Essa com certeza era a primeira vez que eu falava daquele jeito com ele, mas também era a primeira vez que ele agia como louco de pedra.

— Helen... — ele estendeu a mão encarando meu rosto e parecia querer dar um passo em minha direção, os olhos conturbados e cheios de lágrimas não derramadas me deram a certeza de que aquilo doía nele.

 Como não doeria, ele tinha se apegado ao filho, depois de meses tentando engravidar finalmente conseguíamos, Fernando só falava no nosso bebê, na nossa vida juntos, fazia planos para o futuro da criança, e a notícia foi um baque que o fez se fechar em um casulo me deixando para fora, agora eu sei que foi por culpa dos pensamentos negativos, ele se encheu de coisas ruins e agora estava colocando elas para fora da pior forma. Eu nem conseguia imaginar que tipo de coisas estavam se passando na cabeça dele nesse momento, quantas coisas leu ou quais informações erradas ele engoliu durante esses dias.

O homem na minha frente sofria com sua decisão, mas seu orgulho o segurou de dar mais um passo e acabar com a nossa distância. Ao invés disso ele se virou e se trancou no nosso quarto.

Parte de mim queria acreditar que ele tinha ido para lá a fim de guardar suas coisas e sumir, mas eu sabia que era porque suas opções se resumiam ao nosso quarto ou o quarto do bebê e ver as coisas do nosso filho era a última coisa que ele queria.

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