O dia amanheceu com o sol característico, que eu estava começando a adorar, junto com a brisa suave e não deu outra, rapidamente combinamos o churrasco no jardim.Marcos e Emy tinham viajado em lua de mel, mas tínhamos arrumado outra pessoa para ficar na churrasqueira. Na verdade Miguel ia ajudar Fernando e garantir que nada saísse da cor de carvão, meu marido era bom na cozinha, já na grelha era um horror.— O bebê vai explodir sua barriga, tia Helen! — Fábio gritou paralisado encarando o movimento que Angel fazia na barriga deixando o pé marcado, o menino segurava a bola acima da cabeça com os olhinhos arregalados.— Ele está se espreguiçando. — Pedro chegou pegando o pequeno pelas pernas e o jogando sobre os ombros. — Como está hoje querida?— Bem. Não vejo a hora de ele nascer logo e ao mesmo tempo fico com medo quando penso. Faz sentido?— Amor, você deixou isso lá dentro. — Nando saiu de dentro de casa segurando nas mãos minha garrafa de água. — Viu minha bolsa de viagem preta?
— Angel? Quem é... Helen que Angel? — a voz de Miguel parado nas minhas costas me fez trincar os dentes, não sabia se por raiva das duas crianças a minha frente ou pela dor que estava se tornando cada vez mais forte.— Vocês dois formam o par perfeito, a língua maior que a boca! — soltei o ar e inspirei devagar tentando controlar o que com certeza era uma contração. — Era pra ser surpresa o nome do bebê e eu ainda não tinha contado da casa pra Fernando. Idiotas!— Angel? Um nome bem diferente.— Isso não quer dizer Anjo em inglês? — Sara se divertia com a cena enquanto eu queria jogar um balde de água em cima dos dois crianções.— Sim e também é a junção mais bonita que achei com os nomes Ana e Miguel!— Helen filha! — os braços dele me envolveram no mesmo instante em um abraço caloroso, mas era a última coisa que eu precisava agora. — Quer matar esse velho do coração, não é mesmo? — ele já estava com os olhos úmidos.— Ana adoraria estar aqui, é uma forma de homenagear ela por todo o
Abri meus olhos sentindo a claridade do quarto de hospital quase me cegar, mas foi só olhar para o lado que eu o vi. Fernando estava ao lado da cama, com uma mão segurando a minha e a outra segurando o celular, ele parecia tão concentrado que nem notou que eu o olhava até que abri a boca.— Como ele está? — seus olhos se viraram imediatamente para mim e o sorriso largo e doce se abriu.Foi a primeira coisa com que me preocupei, meu filho, eu tinha apagado depois que o levavam, estava cansada de mais para manter os olhos abertos enquanto aguardava os exames.— Ele está bem, já fizeram todos os exames e o colocaram no berçário, Pedro não saiu de lá nenhum segundo. Aparentemente Angel vai ter que usar óculos bem cedo, mas fora isso não tem nenhum problema. — e ali eu consegui respirar mais aliviada, meu medo sempre foi que ele nascesse com problemas cardiológicos ou até pior. Fernando se abaixou dando beijos em meu rosto. — Você tem que vê-lo, vou pedir para a enfermeira trazer.Não demo
— Você sabe que eu te amo, não sabe? — a voz de Fernando soava triste e pesarosa.Estávamos sentados no sofá em nossa sala, havia dias que não tínhamos uma conversa decente.— Claro que sei. E eu te amo do mesmo jeito. — aproveitei o momento de abertura daquela casca esquisita que se tinha criado entre nós nos últimos dias e o abracei, me aconchegando nele, sentindo a falta que fazia não ter o seu toque e calor sempre que eu quisesse.Desde que tínhamos assumido nosso relacionamento nunca ficamos sem nos falar desse jeito, nem mesmo deixamos qualquer que fosse o problema ficar entre nós. Sempre procurávamos conversar depois de uma briga e acertar tudo.Esse tinha sido o maior período desde que começamos a namorar que ficávamos sem nos falar e me doía ainda mais não saber o porque, o que tinha dado nele para se distanciar de mim daquela forma?— Então você vai me entender, vai compreender o meu pedido. — o peito dele se expandiu com a respiração profunda, seus olhos estavam sérios e pa
Sempre soube que na vida havia momentos únicos responsáveis por grandes mudanças no cenário geral, aquela virada de mesa, a girada do mundo e de repente tudo o que você planejou, toda sua vida que parecia perfeita desmorona bem diante de seus olhos e você não tem poder de fazer nada, tinha noção de que estava passando por um desses momentos nos últimos meses.Agora mesmo, por exemplo, pegar um ônibus sozinha para São Fernando, carregando uma mala na mão e meu bebê na barriga, não era o que eu esperava estar fazendo a essa altura da vida, mas era minha única opção no momento, na verdade não a única, mas a melhor.Eu sabia que precisava de apoio nesse momento, não aguentava mais ficar trancada dentro de casa, sufocando um pouco a cada dia com as palavras engasgadas dentro de mim. Por isso no momento em que Emily me ligou insistindo que eu fosse para São Fernando, "que eu fosse para casa", eu sabia que tinha que aceitar.Desde que Fernando tinha decidido me abandonar eu havia passado um
Eu sai cedo da casa do meu pai sabendo que hoje seria o dia que Helen ia chegar, não ia demorar para Emily acordar e ir encontrá-la na rodoviária e eu precisava manter distância dela.Esse tinha sido o motivo real de eu ter saído de São Paulo, peguei minhas férias atrasadas e decidi usar vindo para o mais longe dela, sabendo que se ficasse perto de Helen não responderia por mim, não ia suportar ficar tão perto dela e não a tocar, não querer cuidar dela e isso me faria ceder aos desejos dela como sempre fiz, então quando percebesse estaria apoiando a ideia de ter aquela criança.— O que está fazendo aqui tão cedo? — Vitor questionou ao me ver no bar da cidade pela manhã.— Você está de serviço? Porque não estou vendo nenhuma farda. — ele sorriu se jogando na banqueta ao meu lado. — Também não sabia que a polícia tinha virado fiscal de bar.— E não virei, só estou surpreso de vê-lo aqui advogado.Vitor era da idade da minha irmã, e como a maioria das pessoas em São Fernando ele não tinh
Segunda-feira, dia de loucura no trânsito, loucura no trabalho, na vida, o tempo louco de São Paulo não ajudava a melhorar meu humor de cão. A essa hora da manhã precisava estar chovendo? Ok, não estava caindo o mundo, mas a garoa fina irritante molhava o suficiente para o trânsito virar um caos.Tinha visto no jornal antes de sair de casa que em algum lugar da rodovia # dois carros haviam batido, o que deixava tudo mais e mais lento. Bati a cabeça no volante enquanto esperava que algum daqueles carros se mexessem mais do que um centímetro, respirei fundo tentando me acalmar, seria um longo dia no escritório.Sete horas, esse era meu horário normal, mas já era oito quando finalmente parei meu carro no estacionamento do prédio onde trabalho. A empresa era bem reconhecida e renomada, eu já trabalhava aqui há tantos anos que em dias como esse eu me perguntava por que eu não largava tudo e me mudava.O elevador estava cheio de pessoas se amassando, todos tão atrasados quanto eu e não que
Depois que toda a choradeira acabou passamos o resto da tarde conversando e compartilhando problemas e experiências. Fazia tanto tempo que eu não me sentava com amigas e simplesmente conversava como fizemos hoje, era libertador.O sol já tinha se posto quando deixamos a casa de Bete e o céu estava escuro, mas as luzes e estrelas iluminavam toda a extensão azul acima de nós, aqui em uma cidade sem prédios e arranha-céus era bem mais fácil de apreciar as estrelas em uma noite como aquela, parecia até uma daquelas imagens da NASA, onde o céu está perfeitamente limpo e iluminado, um cobertor azul escuro bordado com pontos de luz sobre nossas cabeças.Continuei com a cabeça para fora do carro aproveitando a brisa no rosto e a paisagem até que Emily estacionasse a caminhonete na entrada de casa. Tudo o que eu queria a essa altura era uma cama e colocar os pés para cima, por mais divertido que fosse passar o dia fora era cansativo somado a viagem e gravidez.Assim que abri a porta meus pensa