Parte 1...
Eu não sei dizer o nível de minha frustração e raiva, agora que tive que ouvir calado tudo o que meus amigos e também advogados tinham a me dizer.
Olhei em volta. O restaurante é muito conhecido, então está lotado a essa hora, o que me impede de soltar os cachorros em cima dos dois. Não acredito que estou ouvindo uma merda dessa.
Eu não me importo com a opinião dos outros e menos ainda quando nem mesmo os conheço, mas tenho educação suficiente para não fazer uma cena, mesmo que a vontade seja essa. Só não faço isso realmente porque preciso manter meu nome em um bom nível, mas a língua está coçando.
— Não é possível que isso seja real - me inclinei pra frente, falando com os dentes cerrados.
— Sinto dizer, amigo, mas é bem real - Otávio me respondeu — Infelizmente, você vai ter que aceitar.
— Aceitar... - diminuí a voz — Porra nenhuma.
— Matteo, não tem muito o que fazer nesse caso. Você está de mãos atadas - Sandro me disse, gesticulando.
— Sandro, isso é um erro, tenho certeza - apertei a mão em cima da mesa — Eu não acredito que meu avô tenha feito uma sacanagem dessa comigo - respirei fundo.
Sandro torceu a boca e olhou para Otávio. Eu sei que eles são muito competentes no que fazem e agora estão falando comigo como meus advogados e não apenas como amigos de longa data. Eu os entendo, mas é um absurdo.
— Eu sei que você está muito surpreso - eu dei uma risadinha irônica — Mas como seu advogado, tenho que te dizer que não há outra coisa a fazer, a não ser se conformar com isso. Foi um desejo de seu avô e ele deixou isso no testamento.
— E ele tem testemunhas, Matteo. Foi tudo feito dentro da lei e seu avô estava muito bem de saúde quando redigiu o documento - Sandro comentou.
Esperei que uma garçonete passasse por nossa mesa para que ela não ouvisse minha conversa com eles. A garota parecia bem interessada em nós. Não sei em qual de nós, na verdade. Eu me considero um homem bonito, mas acho que Sandro e Otávio também atraem muito as mulheres.
Na verdade, somos um trio conhecido no meio em que vivemos. De ricos e muito ricos. Celebridades também. É um meio que nem todo mundo consegue entrar e os que estão nele fazem de tudo para não perder a posição.
A garota deu uma olhada em nós três, mas errou o momento. Não estamos interessados. Estou resolvendo algo muito mais importante do que uma mulher bonita. O que aliás, nunca me faltou.
A menos de um mês eu terminei um relacionamento com uma modelo linda, mas que teve a péssima ideia de querer me prender em um casamento.
Eu detesto que tenham ideias sobre o que eu devo ou não fazer, sem me consultarem antes. E parece que meu avô fez exatamente isso, me deixando em uma situação difícil.
— Vocês precisam rever isso - balancei a cabeça em negação — Eu tenho todo o direito de ter a herança para mim. Fui eu quem sempre fez por onde, eu que cuidei daquele lugar - disse irritado.
— Nós sabemos disso, Matteo, mas infelizmente existem cosias que a lei cobre - Otávio encolheu os ombros — E você sabe que eu sou um excelente advogado - olhou para Sandro — Nós somos, na verdade. O documento está certo.
— Se quiser, pode pedir uma cópia para consulta privada - Sandro me informou — O escritório não poderá lhe fornecer o original, mas como você é parente e um dos interessados, poderá pegar uma cópia.
Eu apertei os lábios, batendo o pé rápido no chão. Minha irritação começa a aumentar. Isso pra mim é mais uma sacanagem de minha família, entre outras que já tive que suportar no passado.
— Vocês sabem de minha história, eu estou certo, não estou? - abri as mãos.
— Bem... Como amigos achamos que sim - Otávio fez uma cara de consolação — Porém, como advogados, temos que seguir a lei e isso quer dizer que você é um dos herdeiros e está certo em exigir toda a herança... Caso faça o que seu avô estipulou - ele mexeu a cabeça.
— Caramba... Isso é tão ridículo que eu nem sei se devo rir ou quebrar tudo de raiva.
— Calma - Sandro tocou meu braço — Não é o fim do mundo ainda.
Ouvir isso me deu um sopro de esperança.
— Então pode ter uma saída para essa loucura?
— Sandro... Não dê esperança a ele - Otávio fez uma cara de crítica — Sabe como esse aí é.
— Cala a boca, Otávio - eu comandei — Se tiver algo que possa ser feito, eu quero saber, merda!
— Eu não sei - Sandro ergueu as sobrancelhas e encolheu os ombros — Só estou falando para que você não fique tão fora de si. Tudo tem uma solução.
— Tá, então me dê a solução, caramba!
Bati o pé de novo com força no chão. Estou mantendo minha voz em um tom aceitável para o local onde estamos, mas é um inferno. Queria mesmo era estar gritando para todo mundo ouvir, isso sim.
Se eles tivessem ido até minha cobertura para falar sobre isso, acho que eu teria quebrado muita coisa de raiva. Talvez uns copos contra as paredes.
A garçonete voltou toda cheia de sorrisos com os nossos pedidos e serviu com todo cuidado, encarando a cada um de nós. Está claro o que ela quer. Se eu não estivesse com raiva, talvez até lhe desse atenção. É uma garota bonita.
Não estou mais com fome e nem com paciência para ficar perdendo tempo com flertes sem sentido. Eu olhei sério para ela que ficou sem jeito e terminou de servir os pratos, pedindo licença e se retirando. Ainda bem, porque eu já estava quase para mandar que ela saísse e nos deixasse em paz. Detesto ser interrompido quando estou resolvendo alguma coisa séria.
Otávio continuou me explicando os termos absurdos do testamento de meu avô. Não sei de onde ele tirou tudo isso. É um abuso de autoridade familiar.
Ele como meu avô queria mandar e esperava que eu obedecesse sem reclamar?
— O que diabos ele estava pensando quando fez esse testamento - passei a mão pelo cabelo e me estiquei, segurando a nuca — Eu não entendo isso.
— Infelizmente, agora não teremos como questionar isso diretamente a ele - Sandro disse, começando a comer.
Sim, isso era verdade. Infelizmente eu não teria como questionar essa decisão do meu avô. Apesar de tudo, o homem que eu amava como se fosse meu pai. Foi ele quem me criou, junto com minha avô Felicia, uma mulher adorável.
Autora Ninha Cardoso
Fique comigo para mais um romance carinhoso. Livro será postado completo.
Parte 2...Tenho muitas recordações de minha vida ao lado deles e quase todas são perfeitas. Anos maravilhosos que eu não esqueço. E gostaria de poder repetir, mas sei que isso não é mais possível.— Você tem que pensar bem sobre tudo o que diz respeito a esse testamento - Otávio me aconselhou — Não vai ter volta depois que for tudo assinado.— É verdade - Sandro puxou o ar e limpou a garganta — E sendo bem claro, ninguém pode saber que já falamos com você sobre isso ou poderemos perder nosso registro na ordem e talvez, até mesmo responder um processo sério e acabar pegando um tempo em cana.— Realmente, Matteo. Nós te chamamos aqui porque somos seus amigos e sabemos que você tem um grande interesse pela herança.— Eu sei disso e agradeço muito aos dois.Eu na verdade não tenho necessidade de dinheiro. Eu já sou rico, muito rico mesmo. Claro que gostaria de aumentar esse montante, porém meu interesse maior é na propriedade. O que vivi ali me marcou demais e sempre tive planos para o l
Parte 3...Porém minha mãe não estava ouvindo a voz da razão e as brigas foram muitas, o que causou muita tristeza em minha avó. E isso piorou no dia em que minha mãe fugiu de casa para se encontrar com meu pai. Maxwell Smith Ferro.Meu pai era um homem que vivia de acordo como lhe desse vontade. Mudava de humor praticamente o dia todo e isso depois de um tempo começou a trazer problemas para o casamento deles.Lucas é mais velho do que eu cinco anos e isso talvez tenha marcado mais a vida dele do que a minha. Eu ainda cheguei a presenciar algumas brigas entre eles e até flagrei minha mãe chorando no quarto, mas ela dizia que não era nada demais. E eu aceitava porque era muito novo para entender.Quando eu estava com cinco anos e Lucas com dez, meus pais se separaram. Um dia meu pai estava em casa e no outro tinha saído para não voltar.Eu só fui entender certas coisas que aconteceram com eles, muito tempo depois, já adolescente. Mas isso já não me importava mais.Depois de uma semana
Parte 4...Comecei a comer, pensando nas palavras deles. Eu não tenho um problema, só acho que casamento é uma bobagem, uma instituição falida. Na verdade não passa de um acordo que deve ser muito bem feito para não ter nenhuma surpresa desagradável depois.— Seu irmão já está casado, Matteo.— Eu sei disso, Otávio, mas ele só se casou para esconder duas coisas - ergui os dedos — Que ele é gay e que a filha que a esposa falsa dele está esperando, na verdade é do amante dele - eu disse entre os lábios apertados.— Nossa, isso seria um escândalo gigante - Sandro balançou a cabeça — Será mesmo que o Pietro não sabia disso ou fazia de conta que não sabia?— Eu realmente nunca cheguei a falar com ele sobre isso, é muito pessoal e se o Lucas nunca quis se abrir com ele sobre seu modo de vida, não seria eu quem iria fazer isso.Lucas nunca se abriu comigo sobre ser gay. Eu descobri. Mas isso nunca fez diferença para mim, ele é meu irmão e vai continuar sendo, independente do modo de vida que
Parte 5...— Eu sei bem disso, Sandro, mas pra mim estava tudo bem, até que esse bendito testamento apareceu.— Pietro deixou claro que o testamento só seria aberto depois de um mês de sua morte. O escritório tinha que cumprir seu desejo - Otávio balançou a cabeça.— Eu sei disso - cocei a testa — Só não pensei que teria que passar por essa cláusula ridícula.— Vai ter que mudar algumas coisas, querendo ou não. A outra alternativa é abrir mão da propriedade para Lucas.Eu esqueci por um instante e soltei um palavrão. Vi as caras das pessoas por perto.— Matteo, assim fica difícil te ajudar, homem - Sandro abriu as mãos — Segura a língua e o gênio forte.— Pra você é fácil falar - fiz uma careta.— Não é fácil, sei disso, mas não dê mais motivos para que as pessoas falem sobre você.— E o que falam de mim?— Que você é mimado, egocêntrico, mulherengo, cínico... E outras coisinhas mais que prefiro não comentar.Eu fechei a cara e apertei as mãos. As pessoas falam sem saber a verdade. Ne
Parte 1...Eu não queria ter que ficar lendo um monte de papel e e-mail agora, minha cabeça ainda está cheia do que os dois me falaram sobre a abertura do testamento. Eu tenho que fazer algo, mas o que?Passei pela recepção que nem prestei atenção se havia alguém esperando para falar comigo, como muitas vezes acontece. E nem estou com vontade de conversar com ninguém agora. Preciso colocar meu cérebro para pensar.Entrei no escritório tão rápido que nem prestei atenção se a songa monga da minha secretária estava em sua mesa. Até minha respiração está acelerada depois de sair do restaurante. Acho que talvez eu tenha passado por algum sinal vermelho pelo caminho até aqui, o que talvez em breve me faça receber uma multa.Me joguei na cadeira e virei para a grande parede de vidro que me permite ter uma vista muito bonita da cidade lá embaixo. Aqui não é tão alto quanto minha cobertura, mas ainda assim é bonito. Eu gosto de ficar olhando o movimento lá embaixo, os carros passando, as pesso
Parte 2...Ainda bem que não, porque eu até gosto de trabalhar aqui e o salário é muito bom, me ajuda bastante. Eu não sou uma pessoa que gasta demais ou que sai por aí desperdiçando dinheiro e até porque, eu nunca tive esse costume, não aprendi nem mesmo a ter dinheiro e dá um trabalho enorme para ganhar, juntar e usar direito. Pra gastar é um piscar de olhos, mas eu acho que até faço milagres com o que tenho.É melhor que eu vá logo comprar esse capuccino para ele. Uma vez eu caí na bobagem de comprar na cantina aqui da empresa e o homem reclamou três dias seguidos. Quando ele me pediu de novo, eu fui logo na cafeteria na rua de trás e comprei lá o café. Ele gostou e pensa que a cantina melhorou o capuccino. Nunca disse a verdade a ele. Pelo menos não reclama mais comigo sobre isso. Eu não posso ser responsável pelo trabalho dos outros, apenas do que eu faço.Peguei o cartão na gaveta. Esse cartão tem uma senha só para mim. Ele me deu esse cartão quando comecei a trabalhar no lugar
Parte 3...— Ok - ele pegou o café e provou um pouco — Dessa vez está mais encorpado. Prefiro assim. Parece que a cantina melhorou muito.Eu tive vontade de rir. Ele nem imagina que compro na cafeteria aqui perto. Pelo menos acertei em algo.— Precisa de alguma coisa agora?— Não - abanou a mão — Pode sair.Educado como sempre. Pelo menos posso voltar para minha mesa e me distrair com meu trabalho.— Espere!Merda! Pensei que iria conseguir me livrar por um tempinho. Parei e me virei devagar.— Quero que você cancele meus compromissos para amanhã de manhã.— Todos eles?Ele me olha fazendo uma cara impaciente.— Eu disse que cancele meus compromissos - levantou — Se eu não especifiquei, então são todos. Você tem problema de entendimento?— Não, senhor - apertei a unha na palma da mão.— Então faça o que eu disse e pronto, não fique me questionando - pegou o celular — Pode ir agora.Fiz um gesto com a cabeça e saí, fechando a porta devagar. Agora posso respirar melhor. Meu Deus, tem di
Parte 1...— Mas você acha que isso vai adiantar?Eu ando pela sala, pensando no que Sandro veio me falar. Seria ótimo porque me daria mais um pouco de tempo.— Eu posso tentar - ele abriu os braços — Que outra alternativa você tem?— Até agora? - fiz uma cara irônica — Nenhuma, é claro. Ainda não tive tempo de pensar em algo que se encaixe.— Eu dei uma olhada na agenda do Tim e ele tem uma viagem para fazer, então talvez eu consiga falar com ele para adiar a leitura do testamento. — E quanto tempo eu ganho com isso?— No mínimo quatro dias além do que já tem.Eu puxo o ar, coço o queixo. Não é lá grande coisa, mas pelo são uns dias a mais. O problema é que eu não tenho a menor ideia do que fazer.Sandro explicou como ele poderia convencer Tim a adiar a leitura dos documentos e se ele falasse com Lucas seria até melhor porque iria parecer que realmente não tinha nada demais nessa leitura. Lucas não sabia do conteúdo do testamento e na certa esperava apenas o básico.Até me sinto um