Parte 1...
— Mas você acha que isso vai adiantar?
Eu ando pela sala, pensando no que Sandro veio me falar. Seria ótimo porque me daria mais um pouco de tempo.
— Eu posso tentar - ele abriu os braços — Que outra alternativa você tem?
— Até agora? - fiz uma cara irônica — Nenhuma, é claro. Ainda não tive tempo de pensar em algo que se encaixe.
— Eu dei uma olhada na agenda do Tim e ele tem uma viagem para fazer, então talvez eu consiga falar com ele para adiar a leitura do testamento.
— E quanto tempo eu ganho com isso?
— No mínimo quatro dias além do que já tem.
Eu puxo o ar, coço o queixo. Não é lá grande coisa, mas pelo são uns dias a mais. O problema é que eu não tenho a menor ideia do que fazer.
Sandro explicou como ele poderia convencer Tim a adiar a leitura dos documentos e se ele falasse com Lucas seria até melhor porque iria parecer que realmente não tinha nada demais nessa leitura. Lucas não sabia do conteúdo do testamento e na certa esperava apenas o básico.
Até me sinto um pouco sacana com isso, mas sei que tenho razão. Eu sou muito mais adequado a receber o que meu avô deixou para nós e não é como se ele fosse ficar sem nada. Pietro também deixou muito dinheiro e outras posses para Lucas, mas essa em especial eu quero e meu avô fez isso de propósito.
— Tudo bem, tente e se der certo eu vou queimar o cérebro para conseguir um jeito de contornar essa imposição de Pietro - puxei o ar fundo, me sentindo enganado.
— Bom eu tenho que ir agora - Sandro levantou — Se tiver uma ideia nova eu te ligo ou então o Otávio. Estamos mesmo querendo te ajudar, mas vai ser complicado.
— Sim, eu sei. Se surgir algo eu ligo pra vocês também.
Quando abri a porta, vi minha secretária de cabeça baixa, lendo um papel, concentrada. Ela estava usando óculos e eu nunca tinha reparado que ficava parecida com uma nerd desses desenhos coloridos.
— Ana - a chamei e ela levantou a cabeça, tirando os óculos — Se não tiver mais nada de tão urgente para hoje, pode passar para amanhã. Eu tenho outro assunto particular para resolver e não quero mais ser interrompido.
— Sim, senhor, vou verificar na agenda e já aviso.
— Preste atenção para não cometer nenhuma besteira.
Sandro me olhou com uma cara de desaprovação.
— O que foi?
Ele ergueu os ombros e soltou o ar devagar. Foi até ela.
— Aproveite e depois vá para casa, assim você não tem que aguentar o mau humor desse aí - ele apontou para mim e fez uma careta.
— Ei! - apertei os lábios e a encarei.
— Matteo, você é um chefe bossal e agora está ficando irritante - Sandro reclamou — Deixe a garota ir para casa se você não vai mais trabalhar.
Eu olhei para ela que ficou vermelha. Achei interessante essa reação. Eu até poderia mesmo. Quero me trancar no escritório e pensar em alguma possibilidade.
— Está bem, que seja - abanei a mão — Se não tiver nada que precise ser feito hoje, depois você pode ir. Passe no recursos humanos e diga que a liberei.
— Ok... Obrigada! - ela falou timidamente.
— Não me agradeça - eu disse logo — Agradeça a esse aí que está com ponto positivo comigo.
Ela olhou para Sandro e sorriu. Franzi a testa. Eu nunca tinha reparado que ela tinha reações tão diretas e fáceis de ler. Acho que nunca parei para prestar atenção nela de verdade.
— Mas não se acostume com isso. Você é lenta para fazer o que peço - apontei para ela.
Ana aumentou os olhos me encarando. Deu pra sentir que ela não gostou do meu comentário. Tudo bem, soltei essa sem necesidade, mas estou elétrico hoje, depois do que descobri e realmente tenho que tirar isso de dentro.
Vi a cara do Sandro também, de desaprovação, mas já falei e pronto. Me despedi dele e entrei fechando a porta. Ouvi os dois conversando lá fora.
— Não ligue pra ele, meu amigo não está bem hoje - ouvi Sandro falar.
— Tudo bem, ele é o chefe, né!
A voz dela era um pouco melancólica. Certeza que ficou aborrecida com o que eu disse.
— Aproveite a chance. Não é sempre que Matteo dispensa você.
— Nunca dispensou, na verdade. Mas eu vou aproveitar sim, porque tenho um compromisso importante.
Que compromisso importante ela poderia ter? Nunca a vejo sem essa roupa horrorosa que ela fez de farda. É sempre a mesma calça e blusa sem graça. Espero que tenha mais de uma, porque senão deve ser nojento usar a mesma roupa a semana inteira.
E vai sair para um compromisso com essa roupa? Essa garota é meio esquisita. Nunca parei para reparar direito nela, mas às vezes tenho a impressão de que é uma dessas nerds estranhas quese escondem dentro de casa.
Ela até parece que nem pega sol, com aquela cara pálida. Até pode fazer um filme de zumbi. Anda lento e é quase sem cor. Iria se misturar bem com os outros zumbis do filme.
Ouvi Sandro se despedindo dela e depois o barulho das teclas no teclado. Ela deve ter voltado a trabalhar. Cocei a cabeça. Acho que estou ficando velho, isso sim. Minha paciência não anda a mesma de antes.
Volto para minha mesa e pego meu celular, olhando meus contatos mais recentes de muheres com quem saí e outras que cheguei mesmo a ter um casinho rápido. Preciso sair com alguém hoje para me aliviar da tensão.
Só resta saber se alguma delas vai querer, depois que eu parei de procurar por elas. Perdi o interesse, mas agora não tô a fim de ficar flertando com ninguém, dá trabalho, mesmo sendo mais fácil pra mim. Quero uma coisa rápida. Um motel por uma ou duas horas e pronto.
Parte 2...Ana...Nossa, fiquei até feliz em poder sair mais cedo, parece que ele estava adivinhando que eu precisava disso. Foi bom o Sandro ter falado com ele, não sei o que, mas me ajudou.Pegar o ônibus sempre é chato quando estou com dor na perna porque o degrau é alto e tenho que forçar a perna para alcançar, mas o remédio está ajudando agora porque dói menos do que pela manhã.Como sempre, o ônibus está cheio, mas não me demoro em pé. Logo um casal desce e eu fui pegar o lugar para me sentar antes que outra pessoa fosse mais rápida. Daqui até o hospital leva pouco mais de meia hora. Se o trânsito estiver mais limpo, um pouco menos.Terei tempo para ficar com Acácia hoje e isso pra mim é muito bom. Espero que ela hoje esteja em um bom dia porque poderemos intragir melhor.Alguns dias ela está longe ou então muito cansada e isso prejudica nossos momentos porque ela fica mais fora do ar do que na realidade. É uma pena.Eu sinto falta de nossas conversas, mas não dá para forçar, a
Parte 3...Matteo...Puta merda, parece que as coisas quando começam a dar errado vem uma sucessão de momentos ruins atrás para ajudar a complicar mais a situação.Acabei de receber uma mensagem de Lucas dizendo que quer falar comigo. E como a gente não se fala a quase seis meses, tenho certeza de que esse interesse agora é por conta da leitura do testamento.Ele deve ter recebido algum aviso do escritório de advocacia, mas não deve saber detalhes ainda, ou teria me dito algo. E também como ele é mais velho, eles devem ter enviado o aviso primeiro para ele e depois eu vou receber um.Sandro tinha me dito que eles estavam separando nossos endereços e contatos para nos chamar para a leitura. Espero que ele consiga adiar mesmo uns dias.A música do barzinho até que é agradável, sou eu que não estou com muito bom humor hoje para relaxar, mesmo bebendo um bom vinho e esperando por uma bela garota para um encontro. Nada sério, deixei claro para ela. Será apenas para uma diversão noturna e d
Parte 1...Eu até que acordei me sentindo um pouco melhor hoje. Fiquei até tarde pensando em algumas ideias, mas não senti firmeza em nenhuma e abandonei.Só que essa madrugada acordei mais cedo do que o habitual e fiquei deitado na cama, olhando para o teto e pensando. Se o que meu avô queria era que eu tivesse uma família, eu poderia conseguir isso, só não sabia ainda como e se haveria tempo para ficar dentro do prazo e não levantar desconfianças. Bem, não muitas, porque de qualquer forma iriam falar e meu irmão seria um deles.Peguei o celular e mandei uma mensagem para Otávio e para Sandro, para eles irem até meu escritório para a gente conversar. Quero passar para eles as ideias mais prováveis que eu tive e ver se alguma é interessante. Eles vão me dar conselhos, vendo de fora cada uma e a mente de advogado vai ajudar a não meter os pés pelas mãos.Engraçado que fiquei com a imagem de Ana dentro do ônibus. Ela parecia cansada. Só não sei porque essa imagem ficou comigo, eu a vejo
Parte 2...Eu não estou de mau humor, só estou ansioso. Cada hora que passa, eu fico mais perto de perder o que quero.— Vamos entrar - me virei e entrei no escritório.— A gente fala mais depois, Ana - Otávio apertou a mão dela — Foi bom saber de você.— Obrigada - ouvi a voz dela baixinho — Foi bom pra mim falar um pouco disso.Disso o que? Fiquei curioso agora. O que ela teria para contar aos meus dois amigos? E eles tinham interesses em comum? Desde quando?— Vocês vão entrar ou vão ficar perdendo tempo? Eu tenho coisas a resolver - reclamei.Tudo bem, estou sendo chato, eu sei disso, mas o tempo está correndo. O que ela pode ter de tão interessante para falar que eles querem ficar ouvindo?Os dois sentaram nas cadeiras na frente de minha mesa e eu fiquei esperando, batendo os dedos na perna.— E então, como vai ser? - abri as mãos — Alguma novidade? Meu irmão já me procurou para irmos juntos fazer a leitura do testamento - bati as mãos — Olha o tempo correndo.— Matteo, qual o se
Parte 3...Como se estivesse lendo meus pensamentos, Ana bate na porta e entra, trazendo uma bandeja pequena com xícaras para os dois. Ela evita me olhar, mas serve um café para mim também. Não vou reclamar, eu sempre peço café o dia todo.— Gostariam de algo mais? - ela questiona os dois.— Não, Ana, está ótimo - Sandro sorri educado — Era assim mesmo que eu queria - ergueu a xícara.É muita gentileza desses dois com minha secretária. Achei estranho. Ela olha pra mim e eu não falo nada, então ela se afasta e sai.— Percebeu algo diferente? - Otávio me pergunta.Dei de ombro. Não percebi nada.— Eu disse que ele era tonto - Sandro riu.— Matteo, a solução para o seu problema acabou de entrar e sair de seu escritório e você nem notou que ela tem muito a oferecer.— Essa ideia de eu me casar com minha secretária sem sal, magrela e que parece um bicho acuado, não me mostra que seja a solução - ergui a mão — Pelo contrário. Quem vai acreditar que eu tenha me casado com... - gesticulei apo
Parte 1...Eu finalmente entendi a ideia desses dois malucos e até que pode dar certo, mas ainda estou incerto sobre chamar a Ana para isso. Não vejo como ela pode me ajudar mesmo.— Ela é meio tonta, vocês não perceberam?— Você que está sendo tonto, Matteo. Ela é muito inteligente, educada e prestativa - Sandro reclamou — O problema é que você nunca parou para observar realmente como ela é.Eu achei estranho essa defesa.— Por que estão defendo tanto ela? Não me diga que estão interessados nela? - dei risada.— Ai, como você é besta, meu amigo - Otávio balançou a cabeça fazendo careta — De novo com isso... É birra sua? Ana tem qualidades que você nunca viu porque sua mente é voltada só para coisas fúteis.— Agora você quem está exagerando. Eu não presto atenção porque ela é só uma secretária.— Então aproveite que nós já prestamos atenção e já saímos na frente, para saber mais. E estou certo de que depois você irá nos agradecer por isso - Otávio apertou os olhos.Dei risada olhando
Parte 2...AnaAchei meio estranha a cara dos dois quando saíram da sala de Matteo. Pararam pra falar comigo e me fizeram algumas perguntas do nada, depois disseram que precisariam falar comigo um pouco mais.Eu gosto dos dois, mas achei que eles foram bem diretos e curiosos. Mas, tudo bem, eu respondi normal e também fiquei curiosa em saber o que eles podem querer comigo depois.Agora tenho que ir até a sala de registros para pegar algumas pastas que meu chefe estressadinho mandou. E já que ele está sozinho agora, é melhor que eu me vá rápido, antes que ele grite por mim.— Menina, nem te conto - uma outra funcionária apareceu enquanto espero o elevador — Parece que o todo poderoso está subindo pelas paredes de raiva - ela disse.Eu só franzi a testa e apertei o botão de novo.— Tem uma fofoca correndo lá no almoxarifado - ela falou mais perto de mim — Que nosso chefinho gostoso está falando em casamento - falou mais baixo com a mão na boca.— Hum... - foi tudo o que pronunciei e ent
Parte 1...Eu recebi uma mensagem do proprietário do apartamento em que estou morando agora. Vou aproveitar que meu chefe maluco deu uma saidinha e vou ao banheiro. Aproveito e já ligo para saber do que se trata.— Sim, eu recebi sua mensagem, Winderson, mas só pude ligar agora por causa do trabalho - expliquei porque ele parecia aborrecido por eu ter demorado a responder — Eu já lhe falei como é meu chefe e não dá pra ficar resolvendo coisas pessoais no horário de serviço.— Eu sei, mas é que eu preciso saber se você vai continuar com o aluguel - respondeu rápido — Se for ficar, eu tenho que aumentar em vinte por cento o valor.Vinte por cento? Aquele cubículo que eu moro? Jesus. O apartamento é um ovo de tão pequeno, o bairro nem é bom, vira e mexe tem vários problemas e ele quer aumentar tudo isso? Daqui a pouco eu vou morar embaixo da ponte.— Nossa, Winderson... Me desculpe, mas vinte por cento no aluguel é muito.— Olha, eu estou avisando porque é minha obrigação como dono do lu