Parte 2...
Ana...
Nossa, fiquei até feliz em poder sair mais cedo, parece que ele estava adivinhando que eu precisava disso. Foi bom o Sandro ter falado com ele, não sei o que, mas me ajudou.
Pegar o ônibus sempre é chato quando estou com dor na perna porque o degrau é alto e tenho que forçar a perna para alcançar, mas o remédio está ajudando agora porque dói menos do que pela manhã.
Como sempre, o ônibus está cheio, mas não me demoro em pé. Logo um casal desce e eu fui pegar o lugar para me sentar antes que outra pessoa fosse mais rápida. Daqui até o hospital leva pouco mais de meia hora. Se o trânsito estiver mais limpo, um pouco menos.
Terei tempo para ficar com Acácia hoje e isso pra mim é muito bom. Espero que ela hoje esteja em um bom dia porque poderemos intragir melhor.
Alguns dias ela está longe ou então muito cansada e isso prejudica nossos momentos porque ela fica mais fora do ar do que na realidade. É uma pena.
Eu sinto falta de nossas conversas, mas não dá para forçar, a médica já me disse. Tenho que dar tempo ao tempo. Isso vai de acordo com a melhora dela ou piora.
Seria tão bom se eu pudesse melhorar um pouco mais de vida, para poder levar Acácia para um lugar melhor. O hospital onde ela está é bom, mas infelizmente é mantido pelo estado e eles não podem dar uma atenção maior para ela porque tem muita gente necessitando de atenção também.
E foi até uma sorte eu ter conseguido essa vaga para ela porque tinha muita gente que estava precisando também e a fila de espera era grande.
Meu salário é bom, mas eu preciso pagar tanta coisa que ficou de dívida da clínica onde ela estava antes, que agora vou levar mais um ano ou um pouco mais para me livrar das dívidas deixadas. Aí depois disso é que posso pensar em buscar uma clínica particular para ela.
Também não posso levá-la direto para casa porque não tenho como cuidar dela. Não posso ficar sem trabalhar porque senão eu não vou ter como nos sustentar. É muito difícil.
Eu ainda sou feliz por poder cuidar dela, ainda que não da forma certa, porque queria fazer muito mais, só que por agora eu não posso e não quero ficar doida pensando demais nisso ou acabo ficando doente também, aí vai ser pior.
Quando chego no hospital, já vejo que hoje é um daqueles dias, está cheio. Até na calçada já tem gente esperando para ser atendida ou para visitar alguém.
Entro e vou falar com a enfermeira da ala dela. É uma pessoa boa, mas tem dias que está tão atarefada, coitada, que nem tem tempo de reponder as perguntas com calma.
Dessa vez ela me fala por uns minutos, mas logo foi chamada para outra coisa. Eu sigo para o quarto de Acácia, que na verdade ela divide com mais três pessoas. Não dá pra ter um quarto só dela como era antes na outra clínica. Aqui é um hospital público e eles precisam muito de leitos.
Eu entendo isso, mas gostaria que ela tivesse só um cantinho dela para ficar mais sossegada. Acácia sempre foi muito calma e às vezes ela fica agitada por não saber onde está, quando a doença a ataca mais forte. E ainda está apenas no início, mas ainda assim já faz uma diferença grande na personalidade dela.
Quando entrei no quarto, a televisão estava ligada. Ela estava assistindo uma novela da tarde, junto com mais duas pacientes que ficam com ela no quarto. A outra estava fora, fazendo exames.
Dessa vez a peguei um pouco lenta, mas pelo menos está lúcida. Sentei em uma cadeira ao lado dela e falei um pouco com as outras duas mulheres, que também gostam de receber visitas. Realmente ficar internada não é bom e quando se tem um problema sério, é ainda pior porque nunca se sabe quando pode voltar para casa.
Infelizmente, com a vida corrida e com o excesso de egoísmo das pessoas de hoje, muitas vezes os doentes e mais velhos são deixados de lado quando estão em uma situação mais delicada e que precisam de mais atenção. Logo alguém diz que não tem tempo. Ninguém nunca tem tempo.
Eu também sou ocupada, eu também tenho pouco tempo e me aborreço por não poder estar com Acácia e dar a ela o tratamento que precisa. Mas eu tenho esperança de que vou poder fazer isso no futuro. Eu sei que vou conseguir.
Fiquei passando o tempo com ela, conversando sobre a novela, que eu nem mesmo assisto porque estou trabalhando nesse horário, mas se ela gosta de falar disso, pra mim está bem. O importante é que ela fique ativa, converse, se interesse por algo. Isso exercita a mente dela.
O tempo foi passando e quando reparei, já era pouco mais de seis da tarde. Foi muito bom poder ter saído mais cedo hoje e assim vir até o hospital.
Me despedi delas quando a enfermeira chegou com a janta de cada uma. Agradeci a atenção dela porque é bom valorizar o trabalho e até o carinho que esses profissionais têm com as pessoas que estão internadas. Muitas vezes esquecemos de fazer algo tão simples como dizer um obrigada.
Não sei o que deu no meu chefe hoje, mas de qualquer forma, no final foi bom pra mim, já que pude vir ver Acácia. Espero que amanhã ele esteja melhor de humor, porque trabalhar com alguém irritado é horrível.
Se eu puder evitar qualquer tipo de problema ou drama, faço o que for possível. Não tenho saúde emocional e nem física para ficar lidando com situações complicadas, ainda mais se forem criadas por outras pessoas.
Já passei por coisa muito ruim e se hoje eu puder evitar, troco ter razão para ter paz. E trabalhar para Matteo até que está me ajudando com isso. Tem dias que ele está calmo e o trabalho corre bem, mas em outros dias parece que ele me escolhe como vítima porque reclama de tudo, até do que eu não fiz. Parece que é um jeito dele relaxar ou então de se divertir, só que pra mim não é tão divertido assim.
Se ele fosse um amigo ou um colega, com certeza eu diria a ele que esse comportamento me desagrada, mas como é o meu chefe, não posso arriscar meu emprego sendo honesta. Deus me livre ficar sem o salário que ganho.
Vi que o ônibus virou a esquina, então tenho que correr para não perder esse ou vai demorar a passar o próximo. O problema é que hoje eu forcei a perna demais e mesmo tomando um remédio para aliviar a dor, sei que mais tarde vou estar dolorida. Suspiro. É o jeito. É o dia de hoje.
Parte 3...Matteo...Puta merda, parece que as coisas quando começam a dar errado vem uma sucessão de momentos ruins atrás para ajudar a complicar mais a situação.Acabei de receber uma mensagem de Lucas dizendo que quer falar comigo. E como a gente não se fala a quase seis meses, tenho certeza de que esse interesse agora é por conta da leitura do testamento.Ele deve ter recebido algum aviso do escritório de advocacia, mas não deve saber detalhes ainda, ou teria me dito algo. E também como ele é mais velho, eles devem ter enviado o aviso primeiro para ele e depois eu vou receber um.Sandro tinha me dito que eles estavam separando nossos endereços e contatos para nos chamar para a leitura. Espero que ele consiga adiar mesmo uns dias.A música do barzinho até que é agradável, sou eu que não estou com muito bom humor hoje para relaxar, mesmo bebendo um bom vinho e esperando por uma bela garota para um encontro. Nada sério, deixei claro para ela. Será apenas para uma diversão noturna e d
Parte 1...Eu até que acordei me sentindo um pouco melhor hoje. Fiquei até tarde pensando em algumas ideias, mas não senti firmeza em nenhuma e abandonei.Só que essa madrugada acordei mais cedo do que o habitual e fiquei deitado na cama, olhando para o teto e pensando. Se o que meu avô queria era que eu tivesse uma família, eu poderia conseguir isso, só não sabia ainda como e se haveria tempo para ficar dentro do prazo e não levantar desconfianças. Bem, não muitas, porque de qualquer forma iriam falar e meu irmão seria um deles.Peguei o celular e mandei uma mensagem para Otávio e para Sandro, para eles irem até meu escritório para a gente conversar. Quero passar para eles as ideias mais prováveis que eu tive e ver se alguma é interessante. Eles vão me dar conselhos, vendo de fora cada uma e a mente de advogado vai ajudar a não meter os pés pelas mãos.Engraçado que fiquei com a imagem de Ana dentro do ônibus. Ela parecia cansada. Só não sei porque essa imagem ficou comigo, eu a vejo
Parte 2...Eu não estou de mau humor, só estou ansioso. Cada hora que passa, eu fico mais perto de perder o que quero.— Vamos entrar - me virei e entrei no escritório.— A gente fala mais depois, Ana - Otávio apertou a mão dela — Foi bom saber de você.— Obrigada - ouvi a voz dela baixinho — Foi bom pra mim falar um pouco disso.Disso o que? Fiquei curioso agora. O que ela teria para contar aos meus dois amigos? E eles tinham interesses em comum? Desde quando?— Vocês vão entrar ou vão ficar perdendo tempo? Eu tenho coisas a resolver - reclamei.Tudo bem, estou sendo chato, eu sei disso, mas o tempo está correndo. O que ela pode ter de tão interessante para falar que eles querem ficar ouvindo?Os dois sentaram nas cadeiras na frente de minha mesa e eu fiquei esperando, batendo os dedos na perna.— E então, como vai ser? - abri as mãos — Alguma novidade? Meu irmão já me procurou para irmos juntos fazer a leitura do testamento - bati as mãos — Olha o tempo correndo.— Matteo, qual o se
Parte 3...Como se estivesse lendo meus pensamentos, Ana bate na porta e entra, trazendo uma bandeja pequena com xícaras para os dois. Ela evita me olhar, mas serve um café para mim também. Não vou reclamar, eu sempre peço café o dia todo.— Gostariam de algo mais? - ela questiona os dois.— Não, Ana, está ótimo - Sandro sorri educado — Era assim mesmo que eu queria - ergueu a xícara.É muita gentileza desses dois com minha secretária. Achei estranho. Ela olha pra mim e eu não falo nada, então ela se afasta e sai.— Percebeu algo diferente? - Otávio me pergunta.Dei de ombro. Não percebi nada.— Eu disse que ele era tonto - Sandro riu.— Matteo, a solução para o seu problema acabou de entrar e sair de seu escritório e você nem notou que ela tem muito a oferecer.— Essa ideia de eu me casar com minha secretária sem sal, magrela e que parece um bicho acuado, não me mostra que seja a solução - ergui a mão — Pelo contrário. Quem vai acreditar que eu tenha me casado com... - gesticulei apo
Parte 1...Eu finalmente entendi a ideia desses dois malucos e até que pode dar certo, mas ainda estou incerto sobre chamar a Ana para isso. Não vejo como ela pode me ajudar mesmo.— Ela é meio tonta, vocês não perceberam?— Você que está sendo tonto, Matteo. Ela é muito inteligente, educada e prestativa - Sandro reclamou — O problema é que você nunca parou para observar realmente como ela é.Eu achei estranho essa defesa.— Por que estão defendo tanto ela? Não me diga que estão interessados nela? - dei risada.— Ai, como você é besta, meu amigo - Otávio balançou a cabeça fazendo careta — De novo com isso... É birra sua? Ana tem qualidades que você nunca viu porque sua mente é voltada só para coisas fúteis.— Agora você quem está exagerando. Eu não presto atenção porque ela é só uma secretária.— Então aproveite que nós já prestamos atenção e já saímos na frente, para saber mais. E estou certo de que depois você irá nos agradecer por isso - Otávio apertou os olhos.Dei risada olhando
Parte 2...AnaAchei meio estranha a cara dos dois quando saíram da sala de Matteo. Pararam pra falar comigo e me fizeram algumas perguntas do nada, depois disseram que precisariam falar comigo um pouco mais.Eu gosto dos dois, mas achei que eles foram bem diretos e curiosos. Mas, tudo bem, eu respondi normal e também fiquei curiosa em saber o que eles podem querer comigo depois.Agora tenho que ir até a sala de registros para pegar algumas pastas que meu chefe estressadinho mandou. E já que ele está sozinho agora, é melhor que eu me vá rápido, antes que ele grite por mim.— Menina, nem te conto - uma outra funcionária apareceu enquanto espero o elevador — Parece que o todo poderoso está subindo pelas paredes de raiva - ela disse.Eu só franzi a testa e apertei o botão de novo.— Tem uma fofoca correndo lá no almoxarifado - ela falou mais perto de mim — Que nosso chefinho gostoso está falando em casamento - falou mais baixo com a mão na boca.— Hum... - foi tudo o que pronunciei e ent
Parte 1...Eu recebi uma mensagem do proprietário do apartamento em que estou morando agora. Vou aproveitar que meu chefe maluco deu uma saidinha e vou ao banheiro. Aproveito e já ligo para saber do que se trata.— Sim, eu recebi sua mensagem, Winderson, mas só pude ligar agora por causa do trabalho - expliquei porque ele parecia aborrecido por eu ter demorado a responder — Eu já lhe falei como é meu chefe e não dá pra ficar resolvendo coisas pessoais no horário de serviço.— Eu sei, mas é que eu preciso saber se você vai continuar com o aluguel - respondeu rápido — Se for ficar, eu tenho que aumentar em vinte por cento o valor.Vinte por cento? Aquele cubículo que eu moro? Jesus. O apartamento é um ovo de tão pequeno, o bairro nem é bom, vira e mexe tem vários problemas e ele quer aumentar tudo isso? Daqui a pouco eu vou morar embaixo da ponte.— Nossa, Winderson... Me desculpe, mas vinte por cento no aluguel é muito.— Olha, eu estou avisando porque é minha obrigação como dono do lu
Parte 2...E lá está minha secretária de novo andando pela empresa. Fiquei curioso. Agora prestando mais atenção, percebi que ela manca de uma perna. Antes pensei que fosse impressão minha ou que talvez fosse um fato isolado.Me pareceu uma cena engraçada. Se estou certo, acho que pela cara dela, está fugindo da colega que a segurou pelo braço. Pensei que fosse mais inserida nas coisas da empresa. Vai ver que é por isso que nunca a vi saindo com um grupo depois do expediente. Ela deve gostar de se isolar.Ou seja, deve ser uma dessas esquisitas de hoje, que tudo é um problema na vida dela. Que ótimo! É com ela que os dois patetas querem que eu me prenda por um tempo.Soltei o ar de vez e saí. Ainda tenho que ir a outro setor e só falta chegar lá e encontrar o serviço mal feito também.AnaAinda bem que ele não está aqui ainda. Posso continuar meu trabalho de boa sem que ele me dê algum susto ou reclame de algo.O telefone da mesa toca. Atendi como sempre. Era atrás dele e pelo modo co