Parte 1...
Eu não queria ter que ficar lendo um monte de papel e e-mail agora, minha cabeça ainda está cheia do que os dois me falaram sobre a abertura do testamento. Eu tenho que fazer algo, mas o que?
Passei pela recepção que nem prestei atenção se havia alguém esperando para falar comigo, como muitas vezes acontece. E nem estou com vontade de conversar com ninguém agora. Preciso colocar meu cérebro para pensar.
Entrei no escritório tão rápido que nem prestei atenção se a songa monga da minha secretária estava em sua mesa. Até minha respiração está acelerada depois de sair do restaurante. Acho que talvez eu tenha passado por algum sinal vermelho pelo caminho até aqui, o que talvez em breve me faça receber uma multa.
Me joguei na cadeira e virei para a grande parede de vidro que me permite ter uma vista muito bonita da cidade lá embaixo. Aqui não é tão alto quanto minha cobertura, mas ainda assim é bonito. Eu gosto de ficar olhando o movimento lá embaixo, os carros passando, as pessoas caminhando pela calçada. Todo mundo vivendo sua vida.
Infelizmente, eu não poderia ficar sentado o tempo todo olhando lá para baixo. Isso não iria me ajudar em nada. Ansioso e aborrecido, levantei e abri a porta de vez.
— Ana! - gritei.
Vi quando minha secretária lerda vinha chegando com algumas pastas na mão e meu grito a assustou, fazendo com derrubasse tudo que trazia. A garota é um desastre, vive derrubando coisas, é lenta para sair de um ponto a outro, sem falar que parece um ratinho assustado, com aqueles óculos feios que ela insiste em usar.
Olhei impaciente para ela. Gostaria de já ter trocado de secretária, mas o pior que ela até que era eficiente, apesar de sua aparente lerdeza. Tudo o que eu mandava ela fazer, a garota me entregava no tempo certo. Às vezes até antes do prazo.
Ela tinha vindo para substituir minha secretária anterior que saiu para ter bebê, mas que depois de dois meses, me avisou que não voltaria mais para o trabalho.
Aparentemente eu era o problema. Segundo ela, eu gritava muito, exigia demais e sempre lhe dava broncas sem necessidades. Ou seja, eu era o chefe chato e arrogante que não sabia valorizar seu trabalho. Mas não era bem assim.
Por mais de duas vezes ela atrasou a entrega de documentos importantes, trocou a correspondência de duas filiais, esqueceu de me dar recados e ainda deletou e-mails que eu nem tinha chegado a ler. E essas coisas me irritavam porque eu tinha prejuízo. Tinha que correr para reajustar tudo novamente.
— Nossa... Eu não sabia que o senhor já tinha voltado.
— Bom, agora você já sabe - balancei a cabeça fazendo um bico — Preciso de você aqui. Venha!
Ana...
Meu Deus, esse homem ainda vai me fazer ter um enfarto ou então um derrame. Parece que está sempre ligado na tomada e faz tudo com pressa. Credo!
Eu nem vi quando ele voltou para o escritório. Tive que sair para entregar umas pastas e aproveitei que ele estava fora e fui até a cantina, tomar um suco. Meu coração até disparou com o grito dele. Levei o maior susto. Será que essa criatura tem sempre que ser assim?
Ele entra e deixa a porta aberta para que eu o siga.
— Eu não estava esperando pelo senhor agora - entrei e fechei a porta.
— E eu agora tenho que lhe dar satisfações? Tenho que avisar quando vou voltar para o meu próprio escritório? - ele me olhou com uma cara feia de crítica.
— Hã... Não, claro que não, mas é que o...
— Ah, está bem - ele faz uma careta e abana a mão de modo agitado — Tenho que fazer um encontro com dois clientes e vou te passar os contatos para que acerte tudo com eles.
Ele vai para a mesa e abre a gaveta, pegando o celular. Para e olha pra mim, franzindo as sobrancelhas.
— Não vai anotar? Espera que eu anote para você?
Eu seguro um suspiro e a vontade de mandar esse homem tomar naquele lugar, mas se eu fizer isso, quem vai pra rua sou eu e de modo algum posso perder esse emprego.
— Me desculpe, senhor Firenze. Achei que me daria os números - engoli em seco encarado aquele olhar frio.
— Não ache nada, você não é paga para isso.
Jesus! O que foi que mordeu esse homem hoje? Ele já é um pouco rude comigo e também muitas vezes me trata de um modo frio, mas parece que voltou com o diabo no corpo.
Corri e peguei um papel no bloco dele em cima da mesa e anotei os números de quem deveria ligar e também as informações para marcar um encontro.
— Eu posso trazer agora os documentos para o senhor assinar?
— São para que eu assine? - eu fiz que sim — Então é óbvio que deve trazer - falou de modo irônico — Você está mais lerda do que o normal hoje?
Eu sei que não, mas acredito que esse homem está com algum encosto, para voltar tão grosseiro assim. Isso é até um abuso de poder, mas como preciso demais desse emprego, que me paga um bom salário, vou ficar calada.
Aliás, como eu sempre fico.
Saí rápido da sala dele. Pelo menos o mais rápido que eu posso andar. Peguei a pasta que continha os documentos e levei de volta para ele. Até fiquei suada do susto para cá, só de ter que prestar muita atenção a ele.
Não sei como pode, um homem ser bonito por fora e feio por dentro. Realmente, as aparências enganam muito.
Antes de me sentar, o interfone toca na mesa. Meu Deus, eu acabei de sair de lá de dentro. O que ele quer agora? Respiro fundo e atendo mantendo a calma.
— Pois não, senhor Firenze?
— Traga um café para mim... Agora... Um capuccino.
Antes que eu pergunte se deseja algo mais, ele desliga na minha cara. Suspiro. Fazer o que, tenho que tolerar o mau humor dele.
Eu sei que ele se irrita comigo, mas realmente não entendo bem o motivo por trás disso. Eu sei que tenho algumas dificuldades, mas tento fazer o melhor que posso aqui na empresa e pelo que outros colegas já me falaram, ele só é mau humorado mesmo.
Me disseram que se ele realmente não gostasse do meu trabalho, ele já teria mandado alguém me substituir ou então me demitido de vez.
Autora Ninha Cardoso.
Parte 2...Ainda bem que não, porque eu até gosto de trabalhar aqui e o salário é muito bom, me ajuda bastante. Eu não sou uma pessoa que gasta demais ou que sai por aí desperdiçando dinheiro e até porque, eu nunca tive esse costume, não aprendi nem mesmo a ter dinheiro e dá um trabalho enorme para ganhar, juntar e usar direito. Pra gastar é um piscar de olhos, mas eu acho que até faço milagres com o que tenho.É melhor que eu vá logo comprar esse capuccino para ele. Uma vez eu caí na bobagem de comprar na cantina aqui da empresa e o homem reclamou três dias seguidos. Quando ele me pediu de novo, eu fui logo na cafeteria na rua de trás e comprei lá o café. Ele gostou e pensa que a cantina melhorou o capuccino. Nunca disse a verdade a ele. Pelo menos não reclama mais comigo sobre isso. Eu não posso ser responsável pelo trabalho dos outros, apenas do que eu faço.Peguei o cartão na gaveta. Esse cartão tem uma senha só para mim. Ele me deu esse cartão quando comecei a trabalhar no lugar
Parte 3...— Ok - ele pegou o café e provou um pouco — Dessa vez está mais encorpado. Prefiro assim. Parece que a cantina melhorou muito.Eu tive vontade de rir. Ele nem imagina que compro na cafeteria aqui perto. Pelo menos acertei em algo.— Precisa de alguma coisa agora?— Não - abanou a mão — Pode sair.Educado como sempre. Pelo menos posso voltar para minha mesa e me distrair com meu trabalho.— Espere!Merda! Pensei que iria conseguir me livrar por um tempinho. Parei e me virei devagar.— Quero que você cancele meus compromissos para amanhã de manhã.— Todos eles?Ele me olha fazendo uma cara impaciente.— Eu disse que cancele meus compromissos - levantou — Se eu não especifiquei, então são todos. Você tem problema de entendimento?— Não, senhor - apertei a unha na palma da mão.— Então faça o que eu disse e pronto, não fique me questionando - pegou o celular — Pode ir agora.Fiz um gesto com a cabeça e saí, fechando a porta devagar. Agora posso respirar melhor. Meu Deus, tem di
Parte 1...— Mas você acha que isso vai adiantar?Eu ando pela sala, pensando no que Sandro veio me falar. Seria ótimo porque me daria mais um pouco de tempo.— Eu posso tentar - ele abriu os braços — Que outra alternativa você tem?— Até agora? - fiz uma cara irônica — Nenhuma, é claro. Ainda não tive tempo de pensar em algo que se encaixe.— Eu dei uma olhada na agenda do Tim e ele tem uma viagem para fazer, então talvez eu consiga falar com ele para adiar a leitura do testamento. — E quanto tempo eu ganho com isso?— No mínimo quatro dias além do que já tem.Eu puxo o ar, coço o queixo. Não é lá grande coisa, mas pelo são uns dias a mais. O problema é que eu não tenho a menor ideia do que fazer.Sandro explicou como ele poderia convencer Tim a adiar a leitura dos documentos e se ele falasse com Lucas seria até melhor porque iria parecer que realmente não tinha nada demais nessa leitura. Lucas não sabia do conteúdo do testamento e na certa esperava apenas o básico.Até me sinto um
Parte 2...Ana...Nossa, fiquei até feliz em poder sair mais cedo, parece que ele estava adivinhando que eu precisava disso. Foi bom o Sandro ter falado com ele, não sei o que, mas me ajudou.Pegar o ônibus sempre é chato quando estou com dor na perna porque o degrau é alto e tenho que forçar a perna para alcançar, mas o remédio está ajudando agora porque dói menos do que pela manhã.Como sempre, o ônibus está cheio, mas não me demoro em pé. Logo um casal desce e eu fui pegar o lugar para me sentar antes que outra pessoa fosse mais rápida. Daqui até o hospital leva pouco mais de meia hora. Se o trânsito estiver mais limpo, um pouco menos.Terei tempo para ficar com Acácia hoje e isso pra mim é muito bom. Espero que ela hoje esteja em um bom dia porque poderemos intragir melhor.Alguns dias ela está longe ou então muito cansada e isso prejudica nossos momentos porque ela fica mais fora do ar do que na realidade. É uma pena.Eu sinto falta de nossas conversas, mas não dá para forçar, a
Parte 3...Matteo...Puta merda, parece que as coisas quando começam a dar errado vem uma sucessão de momentos ruins atrás para ajudar a complicar mais a situação.Acabei de receber uma mensagem de Lucas dizendo que quer falar comigo. E como a gente não se fala a quase seis meses, tenho certeza de que esse interesse agora é por conta da leitura do testamento.Ele deve ter recebido algum aviso do escritório de advocacia, mas não deve saber detalhes ainda, ou teria me dito algo. E também como ele é mais velho, eles devem ter enviado o aviso primeiro para ele e depois eu vou receber um.Sandro tinha me dito que eles estavam separando nossos endereços e contatos para nos chamar para a leitura. Espero que ele consiga adiar mesmo uns dias.A música do barzinho até que é agradável, sou eu que não estou com muito bom humor hoje para relaxar, mesmo bebendo um bom vinho e esperando por uma bela garota para um encontro. Nada sério, deixei claro para ela. Será apenas para uma diversão noturna e d
Parte 1...Eu até que acordei me sentindo um pouco melhor hoje. Fiquei até tarde pensando em algumas ideias, mas não senti firmeza em nenhuma e abandonei.Só que essa madrugada acordei mais cedo do que o habitual e fiquei deitado na cama, olhando para o teto e pensando. Se o que meu avô queria era que eu tivesse uma família, eu poderia conseguir isso, só não sabia ainda como e se haveria tempo para ficar dentro do prazo e não levantar desconfianças. Bem, não muitas, porque de qualquer forma iriam falar e meu irmão seria um deles.Peguei o celular e mandei uma mensagem para Otávio e para Sandro, para eles irem até meu escritório para a gente conversar. Quero passar para eles as ideias mais prováveis que eu tive e ver se alguma é interessante. Eles vão me dar conselhos, vendo de fora cada uma e a mente de advogado vai ajudar a não meter os pés pelas mãos.Engraçado que fiquei com a imagem de Ana dentro do ônibus. Ela parecia cansada. Só não sei porque essa imagem ficou comigo, eu a vejo
Parte 2...Eu não estou de mau humor, só estou ansioso. Cada hora que passa, eu fico mais perto de perder o que quero.— Vamos entrar - me virei e entrei no escritório.— A gente fala mais depois, Ana - Otávio apertou a mão dela — Foi bom saber de você.— Obrigada - ouvi a voz dela baixinho — Foi bom pra mim falar um pouco disso.Disso o que? Fiquei curioso agora. O que ela teria para contar aos meus dois amigos? E eles tinham interesses em comum? Desde quando?— Vocês vão entrar ou vão ficar perdendo tempo? Eu tenho coisas a resolver - reclamei.Tudo bem, estou sendo chato, eu sei disso, mas o tempo está correndo. O que ela pode ter de tão interessante para falar que eles querem ficar ouvindo?Os dois sentaram nas cadeiras na frente de minha mesa e eu fiquei esperando, batendo os dedos na perna.— E então, como vai ser? - abri as mãos — Alguma novidade? Meu irmão já me procurou para irmos juntos fazer a leitura do testamento - bati as mãos — Olha o tempo correndo.— Matteo, qual o se
Parte 3...Como se estivesse lendo meus pensamentos, Ana bate na porta e entra, trazendo uma bandeja pequena com xícaras para os dois. Ela evita me olhar, mas serve um café para mim também. Não vou reclamar, eu sempre peço café o dia todo.— Gostariam de algo mais? - ela questiona os dois.— Não, Ana, está ótimo - Sandro sorri educado — Era assim mesmo que eu queria - ergueu a xícara.É muita gentileza desses dois com minha secretária. Achei estranho. Ela olha pra mim e eu não falo nada, então ela se afasta e sai.— Percebeu algo diferente? - Otávio me pergunta.Dei de ombro. Não percebi nada.— Eu disse que ele era tonto - Sandro riu.— Matteo, a solução para o seu problema acabou de entrar e sair de seu escritório e você nem notou que ela tem muito a oferecer.— Essa ideia de eu me casar com minha secretária sem sal, magrela e que parece um bicho acuado, não me mostra que seja a solução - ergui a mão — Pelo contrário. Quem vai acreditar que eu tenha me casado com... - gesticulei apo