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Capítulo Dois - Ana

Parte 1...

Eu não queria ter que ficar lendo um monte de papel e e-mail agora, minha cabeça ainda está cheia do que os dois me falaram sobre a abertura do testamento. Eu tenho que fazer algo, mas o que?

Passei pela recepção que nem prestei atenção se havia alguém esperando para falar comigo, como muitas vezes acontece. E nem estou com vontade de conversar com ninguém agora. Preciso colocar meu cérebro para pensar.

Entrei no escritório tão rápido que nem prestei atenção se a songa monga da minha secretária estava em sua mesa. Até minha respiração está acelerada depois de sair do restaurante. Acho que talvez eu tenha passado por algum sinal vermelho pelo caminho até aqui, o que talvez em breve me faça receber uma multa.

Me joguei na cadeira e virei para a grande parede de vidro que me permite ter uma vista muito bonita da cidade lá embaixo. Aqui não é tão alto quanto minha cobertura, mas ainda assim é bonito. Eu gosto de ficar olhando o movimento lá embaixo, os carros passando, as pessoas caminhando pela calçada. Todo mundo vivendo sua vida.

Infelizmente, eu não poderia ficar sentado o tempo todo olhando lá para baixo. Isso não iria me ajudar em nada. Ansioso e aborrecido, levantei e abri a porta de vez.

— Ana! - gritei.

Vi quando minha secretária lerda vinha chegando com algumas pastas na mão e meu grito a assustou, fazendo com derrubasse tudo que trazia. A garota é um desastre, vive derrubando coisas, é lenta para sair de um ponto a outro, sem falar que parece um ratinho assustado, com aqueles óculos feios que ela insiste em usar.

Olhei impaciente para ela. Gostaria de já ter trocado de secretária, mas o pior que ela até que era eficiente, apesar de sua aparente lerdeza. Tudo o que eu mandava ela fazer, a garota me entregava no tempo certo. Às vezes até antes do prazo.

Ela tinha vindo para substituir minha secretária anterior que saiu para ter bebê, mas que depois de dois meses, me avisou que não voltaria mais para o trabalho.

Aparentemente eu era o problema. Segundo ela, eu gritava muito, exigia demais e sempre lhe dava broncas sem necessidades. Ou seja, eu era o chefe chato e arrogante que não sabia valorizar seu trabalho. Mas não era bem assim.

Por mais de duas vezes ela atrasou a entrega de documentos importantes, trocou a correspondência de duas filiais, esqueceu de me dar recados e ainda deletou e-mails que eu nem tinha chegado a ler. E essas coisas me irritavam porque eu tinha prejuízo. Tinha que correr para reajustar tudo novamente.

— Nossa... Eu não sabia que o senhor já tinha voltado.

— Bom, agora você já sabe - balancei a cabeça fazendo um bico — Preciso de você aqui. Venha!

Ana...

Meu Deus, esse homem ainda vai me fazer ter um enfarto ou então um derrame. Parece que está sempre ligado na tomada e faz tudo com pressa. Credo!

Eu nem vi quando ele voltou para o escritório. Tive que sair para entregar umas pastas e aproveitei que ele estava fora e fui até a cantina, tomar um suco. Meu coração até disparou com o grito dele. Levei o maior susto. Será que essa criatura tem sempre que ser assim?

Ele entra e deixa a porta aberta para que eu o siga.

— Eu não estava esperando pelo senhor agora - entrei e fechei a porta.

— E eu agora tenho que lhe dar satisfações? Tenho que avisar quando vou voltar para o meu próprio escritório? - ele me olhou com uma cara feia de crítica.

— Hã... Não, claro que não, mas é que o...

— Ah, está bem - ele faz uma careta e abana a mão de modo agitado — Tenho que fazer um encontro com dois clientes e vou te passar os contatos para que acerte tudo com eles.

Ele vai para a mesa e abre a gaveta, pegando o celular. Para e olha pra mim, franzindo as sobrancelhas.

— Não vai anotar? Espera que eu anote para você?

Eu seguro um suspiro e a vontade de mandar esse homem tomar naquele lugar, mas se eu fizer isso, quem vai pra rua sou eu e de modo algum posso perder esse emprego.

— Me desculpe, senhor Firenze. Achei que me daria os números - engoli em seco encarado aquele olhar frio.

— Não ache nada, você não é paga para isso.

Jesus! O que foi que mordeu esse homem hoje? Ele já é um pouco rude comigo e também muitas vezes me trata de um modo frio, mas parece que voltou com o diabo no corpo.

Corri e peguei um papel no bloco dele em cima da mesa e anotei os números de quem deveria ligar e também as informações para marcar um encontro.

— Eu posso trazer agora os documentos para o senhor assinar?

— São para que eu assine? - eu fiz que sim — Então é óbvio que deve trazer - falou de modo irônico — Você está mais lerda do que o normal hoje?

Eu sei que não, mas acredito que esse homem está com algum encosto, para voltar tão grosseiro assim. Isso é até um abuso de poder, mas como preciso demais desse emprego, que me paga um bom salário, vou ficar calada.

Aliás, como eu sempre fico.

Saí rápido da sala dele. Pelo menos o mais rápido que eu posso andar. Peguei a pasta que continha os documentos e levei de volta para ele. Até fiquei suada do susto para cá, só de ter que prestar muita atenção a ele.

Não sei como pode, um homem ser bonito por fora e feio por dentro. Realmente, as aparências enganam muito.

Antes de me sentar, o interfone toca na mesa. Meu Deus, eu acabei de sair de lá de dentro. O que ele quer agora? Respiro fundo e atendo mantendo a calma.

— Pois não, senhor Firenze?

— Traga um café para mim... Agora... Um capuccino.

Antes que eu pergunte se deseja algo mais, ele desliga na minha cara. Suspiro. Fazer o que, tenho que tolerar o mau humor dele.

Eu sei que ele se irrita comigo, mas realmente não entendo bem o motivo por trás disso. Eu sei que tenho algumas dificuldades, mas tento fazer o melhor que posso aqui na empresa e pelo que outros colegas já me falaram, ele só é mau humorado mesmo.

Me disseram que se ele realmente não gostasse do meu trabalho, ele já teria mandado alguém me substituir ou então me demitido de vez.

Autora Ninha Cardoso.

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