Mais uma manhã com o céu claro e desprovido de nuvens, tinha caído na cama e mal percebi o momento em que pegara no sono. Olhei em volta para o quarto bagunçado e vazio ao mesmo tempo. Desde que voltei tudo parecia cinza e vazio, estranhamente vazio. Hoje era mais um dia que todos usariam para se aproximar, era o meu aniversario. E como todos os outros eu tenho que fingir estar feliz e animado, não que eu esteja triste, ou tenha motivos para estar, e não que eu seja antipático, o problema é que não sou muito acostumado a sorrir, pois nunca tive um bom motivo para isso.
Mas como todos os dias em que acordo com disposição, me levanto e vou para a academia do condomínio. O que eu mais gosto de fazer em plena manhã é lutar, porém às cinco da manhã não se tem muitos oponentes. Por esse motivo optei pelo saco de areia mesmo. Cada soco que eu dava era um segundo de tristeza sendo descontado, meu lobo satisfaz suas alegrias de modo violento, é tudo que ele conhece, a violência, mas assim que essas coisas eram feitas não demorava muito para o vazio voltar. Um buraco na alma dele que se espelhava em meu peito, e por vezes eu apenas queria continuar matando para não sentir aquilo. Ele tentava preencher, em vão. Meu lobo é autoritário, possessivo, sanguinário, despreza a humanidade, e eu aprendi muito com ele, principalmente porque ele foi a minha única companhia desde que eu assumi o lugar de Genuíno. Meu pai morreu quando eu tinha dezesseis anos, e minha mãe logo após o meu parto, assim tive que assumir meu posto mais cedo, e fui moldado a imagem do meu lobo.
Depois de algum tempo batendo o saco, acabei o rasgando, rosnei em decepção. Peguei e joguei no chão fazendo de conta que não fui eu. Quando ia saindo da academia entra Rafael ofegante, ele coloca as duas mãos no joelho e tenta respirar, patético.
— I.. Ian...! – Ele exclamava, tentando falar, mas quanto mais ele tentava mais o folego lhe faltava.
— Isso que dá ser sedentário Rafael... – Falei tentando ir para casa, mas fui barrado por um lobo vigia.
— Genuino? – ele me chamou inquieto, parecia preocupado.
— O que quer? – Perguntei impaciente.
— Fomos atacados! – Aquilo era musica para os meus ouvidos. – Nós o capturamos, ele já está pronto para o interrogatório.
— Ótimo, estou indo para lá. – Olhei para trás vendo Rafael ainda puxando o ar com dificuldade, mas vindo em minha direção. – Creio que foi isso que você veio me avisar, não é?
Revirei os olhos quando ele estendeu seu polegar para mim, o puxei pela gola da blusa até o lado de fora e ele caiu sentado no chão.
— Eu já estou melhor obrigado. – Rosnei e me virei para ir embora, mas ele segurou meu braço.
— O que é? – perguntei o encarando sem humor.
— Ele não é um Zeta, é um enviado.
Meu lobo se encheu de ódio ao saber disso. Corremos até uma certa parte da floresta, em meio a pinheiros altos estava minha guarda e um homem ajoelhado com as mãos presas para tras, me aproximei devagar. Ele pareceu identificar meu cheiro, pois ergueu o olhar quase de imediato. Mesmo querendo mata-lo sem perguntar nada tive que levar em consideração a observação que Rafael havia feito, ele é um enviado, e um enviado vem atrás de alguma coisa, e não parecia ter sido de mim. Parei em sua frente, me controlando para não fazer nada imprudente, mas ele começou a rir o que me deixou irado.
— Do que você esta rindo? –Perguntei rosnando. Mas ele continuou sorrindo, eu peguei em seu pescoço e o levantei até ficar de frente para mim.
—Eu não serei o único. — ele falou com deboche.
— O único a que? – questionei, esperando que sia ignorância o fixesse falar mais do que deveria.
— A vir atrás dela. – tentei não deixar transparecer o que fazia.
— Dela quem? – Perguntei apertando ainda mais o seu pescoço.
— Sua companheira. Em breve ela estará morta! – ele gritou, me deixando confuso com aquilo. Eu não tenho companheira. – Você é um idiota... todos vão estar atrás dela,é apenas questão de tempo.
Não consegui mais me controlar, meu lobo tomou conta, e minha raiva e sede de sangue fizeram com que eu perdesse a paciência. Com apenas uma mão quebrei seu pescoço. Rosnava, mas parecia ser para mim mesmo, minha cabeça estava baixa, meus ombros caídos com essa notícia eu não posso ter uma companheira, é quase impossível... E ainda se tivesse, como ele sabia disso antes de mim?... Meus pensamentos me tomam, deixei o corpo cair em minha frente, e um vento frio tomou me tomou. Não dirigi a palavra a ninguém depois do que fiz, andei lentamente até minha casa, com a postura exemplar, não deixando transparecer aquele homem que há um momento estava com os ombros curvados. Entrei e fui ao banheiro tomar um banho gelado, estava fervendo em ódio. O banho foi demorado, por alguns minutos eu apenas deixara a água escorrer sobre meu corpo, com uma das mãos apoiada no azulejo branco, e meus cabelos por cima dos meus olhos, diminuindo minha visão.
Coloquei um terno preto tradicional, coisa que eu não era muito acostumado a usar, uma blusa branca, e uma gravata azul cobalto. Os cabelos foram bagunçados por falta de paciência, não tomei café. Em ações automsticas eu acabei indo parar na empresa, nem a Mary dirigi a palavra. Minha mente estava longe, e tudo que eu tivesse de pensar teria que ser agora, a noite será minha festa de aniversario, e minha atenção terá que ser toda aos alfas que iram me prestigiar com sua presença.
{...}
Já se passava das duas da tarde, ouço a porta se abrir, era Mary, nem olhei para ela, apenas esperei que ela falasse o que era tão urgente para vir interromper o cenário fúnebre do meu escritório.
— Sr. Black. – Arqueei uma das sobrancelhas em sinal que eu estava lhe ouvindo.
— O alfa supervisor do norte esta aqui. – Levantei minha cabeça lentamente, e a olhei nos olhos, ela parecia preocupada comigo, e eu pouco me importava com ela.
— O que ainda faz aqui? Mande o entrar, ou espera que eu mesmo faça isso? – Falei em tom rude, meu dia não estava sendo um dos melhores.
Então uma imagem conhecida passou por minha porta, alto, um pouco magro, cabelos em tons de cinza, a barba por fazer, olhos profundamente negros que formavam rugas, assim que me viu abriu um enorme sorriso e se aproximou de minha mesa, sentou a minha frente, e tentou me imitar, o que quase me fez gargalhar.
— Jhefry? Quanto tempo velho amigo. – Me levantei e trocamos um cumprimento. Jhefry é meu amigo de velhas datas, ele esteve comigo me treinando quando meu pai veio a falecer, o tenho como um pai para mim.
— Ian meu garoto, como você cresceu. Atrás dessa mesa mais parecia o seu pai, tive que parar ver se reconhecia. – Rimos juntos.
— Então o que faz aqui? – Perguntei em uma falsa calma.
— Não posso dar os parabéns ao meu filho? – ele deu um meio sorriso, e logo percebi que não era bem disso que se tratava. Apontei a cadeira em minha frente e ele voltou a se sentar, me encarou serio, e alguma coisa me disse que tinha algo a ver com o ataque de hoje.
— Creio que já sabe da caçada. – Franzi cenho em sinal de dúvida, eu sou o genuíno e não estou sabendo de nada.
— Que caçada? – não sei o porquê minha voz saiu trêmula.
— A sua companheira. – sua voz soou tão natural que, por um momento, pude ver um lampejo de dor ali.
— Eu nasci para viver sozinho como todos os genuínos que me antecederam. – Respondi convencido, ou melhor, tentando me convencer daquilo. Me levantei e encarei a parede de vidro que dava uma bela vista da cidade.
- Ninguém nasceu para viver sozinho filho, tenha bastante cuidado. – advertiu. Não o encarei.
— Ainda não acredito... – quase em sussurro, admiti. Porém, logo tornei a minha postura. – Mesmo assim não me importo, eu tenho alcatéias para proteger, não tirarei minha atenção por causa de uma lobinha.
Ele riu de minhas palavras, ao notar sua aproximação o encarei de soslaio. Jhefry parou ao meu lado clmo se compartilhassemos a mesma visão, mas algo me dizia que ele não estava realmente vendo a cidade.
— O destino gosta de pregar peças Ian. – Ele apenas falou isso, e se retirou.
Eu não nasci para ter uma companheira, eu nasci para ser um monstro, assim como os outros genuínos, e monstros não amam, eles matam... companheiras eram distrações, fraquezas...
Eu não me importo...
Enfim a noite tinha chegado, não que eu esteja ansioso para que a festa comece mas sim que ela termine. Meu dia foi cheio, estressante, minha mente está conturbada com tanta informação.Finalmente chegaram os alfas e suas lunas, algumas moças virgens com esperança de ser minha companheira. Mal sabem elas o futuro da minha Luna se pensam que eu a protegerei e morrerei de amor por ela estão muito enganados.O tema da minha festa foi Black&White, enquanto as mulheres estavam com seus lindos vestidos longos da cor preta, e os homens com suas blusas sociais brancas, eu saí um pouco do tema, vesti uma blusa vinho com os primeiros botões abertos, as mangas arregaçadas até os cotovelos, um colete preto aberto, uma calça jeans escura, e um sapatenis vermelho, baguncei meus cabelos castanhos que caiam sobre olhos verdes e me encarei uma última vez
Mais de uma semana se passou e os mesmo sonhos, com as mulheres diferentes, mas a voz era sempre a mesma, aquela voz doce, aquela voz que fazia meu corpo levitar. A gs imagens das mulheres se alternavam em varias partes do sonho, tinha vezes que os rostos se misturavam tanto que formavam um novo rosto totalmente diferente, mas muito lindo. Ao todo consigo me lembrar de apenas quatro rostos, e o último às vezes ficava borrado. Seus cabelos eram cor de mel, com algumas mechas loiras, um rosto arredondado e delicado. Mas o último sonho tive a oportunidade de ver seus olhos, seus lindos olhos azuis tinham esperança, e não me deixam o esquecer.Uma semana que esses sonhos começaram, uma semana que meu lobo se mantem em silêncio e apenas a angustia e a solidão tomam conta de mim, um vazio em meu peito que as vezes chega a doer, mas sempre tenho algo para me distrair, como a Mary, que ainda penso constantemente em torna-la
Mais uma manhã de gritos e choro, já não aguento mais. Faz uma semana que estou assim pesadelos que não acabam mais, são sempre os mesmos varias criaturas tentando me capturar, algumas conseguem me ferir mas como nas historias sempre aparece um príncipe encantado pronto para me salvar...Já se passava das sete da manhã perdi a hora da minha corrida mais uma vez, o despertador estava gritando como se aumentasse o som a cada segundo de atraso tentei desligar ele várias vezes mas não parava de tocar. Então, com toda força o joguei no chão, o que fez com que ele se abrisse e finalmente parasse de tagarelar em meu ouvido. Com esse já são três despertadores que quebro esse mês; odeio essas coisas.Me levanto devagar e relutantemente dou uma leve arrumada em meu quarto. Tomo um banho quente rápido e assim que termino coloco um vestido estilo godê acima do joelho, listrado em preto e branco, uma botinha, e um chapéu fedora preto, eu adorava esses ch
Escutei gritos vindo do lado das clareiras, e a voz de Rafael por nossa ligação.Enviados!Ótimo! Erá só disso que eu precisava. Larguei as folhas espalhadas sobrr a nova mesa em meu escritório e corri para lá, ao menos os lobos da área já haviam conseguido conter a situação.Ao chegar lá fiquei parado esperando alguém começar a explicação, mas ninguém começou o interrogatório. Repreendi Rafael.— Já falei que quero que comece antes que eu chegue, não estarei sempre aqui Rafael!- Ele assentiu e baixou o rosto em seguida.Ao lado deles estavam dois corpos de crianças... Meu corpo estremeceu de raiva, ódio fervilhava ao meu redor. Ergui o olhar para meus betas e fiz um movimento de cabeça para que eles fossem soltos, e assim fizeram.Os três começaram a correr rindo da minha cara como se eu fosse um idiota, mas mal sabiam o que eu iria fazer.Meus ossos começaram a se revirar,
Minha loja estava cheia, barulhenta e muito movimentada, mas não eram clientes, e sim os jovens do grupo de dança que Druw formou, todos vieram trabalha aqui, mesmo sabendo que não tenho dinheiro para pagar a todos como deveriam ser pagos. A parte boa é que comecei a fazer mais entregas do que antes, agora com vários funcionários, os pedidos aumentaram e são entregues em várias partes da cidade.Músicas altas durante todo dia, aqui as vezes parecia uma loja de CDs, musica eletrônica, e passos rápidos, atraindo também jovens a levarem algumas flores, e vasos. Meu dia estava indo ótimo, bem humorado por todos, até escutar meu telefone tocar em meu escritório, não pedi que eles baixassem a música, apenas transferi a chamada para meu celular, peguei meu casaco, e avisei que iria dar uma volta.— Alô? – minha voz sai um pouco tremula pois tinha um certa suspeita de quem estaria do outro lado da linha.— Faça isso parar! – meu cora
Acordei mais cedo do que o normal, e dessa vez nada de despertador. Prefiro assim. O nosso grupo de dança está na cidade, e depois de uma batalha estão prontos para encarar a realidade. Passamos bastante tempo em Londres para decidirmos vir para cá, eles demoraram bastante para chegar, mas enfim, estamos todos aqui. Me vesti como sempre, um vestido godê simples preto com algumas formas geométricas, um tênis da mesma cor, hoje por estar frio coloquei uma meia calça grossa e peguei uma jaqueta jeans clara. Deixei meu cabelo o mais cacheado possível, o que não foi muito difícil, os longos cachos do meu cabelo castanho claro caiam sobre meu ombro e roçavam em minha cintura. Tomei um café da manhã rápido e simples, torrada com café fortr... nada mal para começar o dia.Andei devagar até a loja, adimirando a neblina que ainda estava formada nas ruas, um dia de frio, um dia de chuva, amo dias assim, amo ver pessoas agasalhadas, e se abraçando, amo chocolate quente
Aquela manhã tinha começado exatamente do jeito que eu odiava, frio, chuva, neblina. Embora tivesse passado uma boa parte da minha vida em Londres, drtestava esse tipo de clima. Levantei devagar da cama, sem vontade de fazer nada de útil, mais um motivo para que esses dias sejam tão odiados. Não demorou mais do que cinco minutos drpois de me afastar da cama e já recebi uma ligação do meu Tau.— Oi Daniel. – atendi sem muita animação, seguindo para o banheiro com os pés arrastando no piso de madeira.— Alfa, as coisas estão indo normais por aqui, não precisa se preocupar, mas todos estão com saudades de ti, esperamos que volte logo. – não consegui conter o sorriso que se acendeu naquele momento. Eu também tinha saudades da minha alcatéia.— Eu estou mais perto do que pensava. Em breve estarei voltan
Um vento frio inundava o quarto aquela manhã, os cobertores estavam gelados e eu acabei acordando quando a temperatura alta do meu corpo se chocou aos lençóis gelidos. A jabela tinha ficado aberta.Rosnei, e me levantei para fechar, porém quando olhei para fora dela, vi um cenário lindo. O nascer do sol em meio as árvores com aquela coloração alaranjada e rosa que só podia se ver nesse horario da manhã. O frio era evidente e algumas gotas de chuva caiam sem preocupação.Aproveitei para tomar um bom banho quente, demorei um pouco nele, dizendo a mim mesmo que merecia isso por trabalhar demais, não era ao todo mentira. Saí para correr naquele frescor e enquanto eu estava correndo na floresta senti meu lobo incomodado, estava agitado, inquieto.O que foi amigão?Sinto algo diferente Ian, sei que já senti isso antes, mas faz tanto tempo, nem me lembro o porquê... Mas algo bom vai acontecer, tenho certeza... Me lib