Capítulo 6 - Tory

Mais uma manhã de gritos e choro, já não aguento mais. Faz uma semana que estou assim pesadelos que não acabam mais, são sempre os mesmos varias criaturas tentando me capturar, algumas conseguem me ferir mas como nas historias sempre aparece um príncipe encantado pronto para me salvar...

Já se passava das sete da manhã perdi a hora da minha corrida mais uma vez, o despertador estava gritando como se aumentasse o som a cada segundo de atraso tentei desligar ele várias vezes mas não parava de tocar. Então, com toda força o joguei no chão, o que fez com que ele se abrisse e finalmente parasse de tagarelar em meu ouvido. Com esse já são três despertadores que quebro esse mês; odeio essas coisas.

Me levanto devagar e relutantemente dou uma leve arrumada em meu quarto. Tomo um banho quente rápido e assim que termino coloco um vestido estilo godê acima do joelho, listrado em preto e branco, uma botinha, e um chapéu fedora preto, eu adorava esses chapéus. O cabelo cai em cascata nas costas e eu decido por não mexer nele, vai que acabo desalinhando os poucos cachos desalinhados. Desço as escadas correndo e pego uma maçã saindo as pressas de casa  já estava atrasada para o trabalho, minha casa não é muito longe então quando chego ainda esta fechado.

Abro as portas de vidro da floricultura, e um aroma diverso de flores invade meus sentidos, que aroma gostoso. Eu simplesmente amo meu trabalho. Entro apressada e arrumo algumas coisas sobre o balcão de atendimento, aproveito para ligar o som em um Rip rop, nada melhor para escutar enquanto se arruma uma loja. Não demora muito para que a música agitada atraísse Druw meu melhor amigo e companheiro de dança eu e ele dançamos Rip rop juntos há um bom tempo. Ele já entra na loja fazendo moonwalker, coloquei a vassoura encostada no balcão para dançar com ele ao som das batidas agitadas. Os passos quase em sincronia até que ele acabasse caindo ao ver Doroty a dona da floricultura ela bati palma e arrisca alguns passos, mas desiste.

Encaro meu amigo se erguendo, as bochechas coradas pela tentativa falha de não escorregar com os sapatos de sola lisa, Druw é alto e loiro com olhos cor de mel chamativos, também conhecido como "o entregador da floricultura" e um dos melhores dançarinos daqui de Vancouver. Ao menos ele acha que é.

Doroty a dona da loja, nos abraça individualmente, a luz das vidraças fazem a sua pele negra perfeita brilhar um pouco. Um sorriso doce e convidativo sempre estava muito bem exibido em seus lábios cheios, e ela não economizava quando o assunto era transmitir esse carinho.

Depois de uma série de piadas e danças decidimos organizar algumas caixas que estavam espalhadas da bagunça que fizemos no dia anterior. Enquanto eu empilhava-as do lado da porta para que Druw pudesse joga-las, Doroty me interceptou.

— Tory, está dormindo bem a noite querida? – Olhei em sua direção um pouco nervosa, mas resolvi não ir direto ao assunto.

— Porque esta perguntando isso Doty? – Era assim que eu e Druw a chamávamos.

— Querida, durante toda essa semana, o carteiro está deixando as cartas na porta, você lembra que tem que chegar cedo para recebe-las? – Foi uma pergunta aparentemente inocente, mas eu tremi, havia esquecido de pegar as cartas da porta antes que ela descobrisse que eu estava ficando biruta.

— Na verdade não estou dormindo muito bem... – Suspirei derrotada e ela se aproximou de mim, eu, ela e Druw nos sentamos em uma mesinha que tínhamos no interior da loja.

— Diga me querida o que esta atrapalhando seu sono. – Sua voz sempre doce fez cócegas aos meus ouvidos.

— Venho tendo pesadelos há mais ou menos uma semana. É sempre o mesmo sonho, nunca termina, criaturas tentam me matar, e um rapaz tenta me salvar, mas é como se fosse em vão, minha vista escurece e eu acordo. – Sua testa franziu, Druw ficou com um olhar preocupado, mas logo Doty me abriu um sorriso meio forçado.

— Sabe querida, quando tiver esses sonhos sempre é bom contar para alguém, pois quando você conta eles não voltam mais. Vamos fazer o seguinte, se eles persistirem você não precisa vir trabalhar certo? – Assenti, ela deu um ultimo sorriso e se dirigiu ao seu escritório. Druw me abraçou quase de imediato.

—  Hei baixinha, não se preocupa, esses sonhos não mais voltar a te atormentar ta? – Seu sorriso foi sincero, me passando confiança de que agora turo iria ficar bem.

{...}

O dia foi cheio. Hoje o movimento foi muito bom e logo chegou o fim do expediente. Fechei as portas de vidro da floricultura e fiquei na sala de trás com o Druw fazendo os cálculos do lucro — ou melhor olhando ele fazer, não sou muito chegada a matemática. Assim terminamos eu coloquei mru chapéu e já caminhava distraída para fora da loja mas ele puxou meu braço e se pôs a minha frente.

— Eu te levo, tudo bem? — perguntou em um sorriso. Eu olhei para os lados e assenti, lançando um sorriso casto de volta.

Assim que começamos a andar dei uma última olhada para trás e vi a Doroty entrar em uma sala que éramos proibidos de chegar perto, ela pegou algumas flores e entrou. Estranho ver aquilo mas acho que ela só queria ficar um pouco sozinha, não tinha dado muita atenção aquilo, afinal de contas.

Em poucos minutos já estávamos bem próximos a minha casa, tínhamos idono caminho todo em silêncio, apreciando o frio que já começava a se erguer em Vancouver e exigia que da proxima vez eu lembrasse de me agasalhar. Ao chegar de frente a minha casa virei para me despedir de Druw, quando fui surpreendida com o seu rosto muito próximo do meu, até ele pareceu se espantar com o seu próprio movimento. Minhas bochechas coraram instantaneamente.

— Ah, desculpe... eu... – ele parecia sem jeito, pôs a mão na nuca enquanto pensava em uma resposta. Não esperei. Fiquei na ponta dos pés e beijei sua bochecha estranhamente quente.

— Obrigada por me trazer, sabe que não precisava. – Ele sorriu, e assentiu.

— Não se preocupe com isso, só queria garantir que ficasse bem. Bom, eu vou indo então. Boa noitw, Tory.– Assenti. mas notei que ele estava voltando para a loja.

— Porque vai voltar? – questionei com um olhar confuso.

— Talvez a Doty precise de mim para alguma coisa antes de ir embora. – Ele sorriu e voltou a se distanciar.

— Toma cuidado, por favor. – me vi pedindo enquanto girava a maçaneta após destravar a porta.

— Está preocupada comigo?

Seu sorriso cafajeste me fez corar, eu apenas assenti e ele acenou despreocupado, logo desapareceu em meio a escuridão da rua. Entrei em casa e tomei um banho quente, vesti um vestido leve e me deitei, fazia tempo que eu não tinha uma noite tão tranquila...

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