Capítulo 1

— Kau, o que está fazendo nesse quarto? Que barulhos são esses? O que você tá aprontando menina? — Gritou Maro, a governanta, esmurrando a porta do lado de fora do meu quarto.

Rapidamente guardei todas as minhas coisas, desliguei o notebook e troquei de roupa. Maro, não podia me ver assim, ninguém podia. Isso era um segredo só meu.

— KAU, TA QUASE NA HORA DO SEU CASAMENTO — Berrou brava.

— Já vou abrir, só um minuto — falei terminando de me vestir e fui abrir a porta logo em seguida.

Maro bufou, não sabia por que estava tão brava. Este casamento era contra a minha vontade e ela sabia muito bem disso.

 — Menina, seu pai me mata se você atrasar. O que estava fazendo trancada neste quarto? — disse entrando rapidamente e colocou o vestido de noiva na cama.

— Estava assistindo um filme pelo notebook — respondi ignorando aquele vestido ridículo.

— Um filme a essa hora? está querendo provocar seu pai? Você já tomou banho? — Caminhou até o guarda roupa para pegar o véu e a caixa de sapatos.

— Tomei sim — me joguei sobre a cama.

— O que pensa estar fazendo? Levanta daí já e vem se trocar. O cabeleireiro e a maquiadora já estão chegando — disse, segurou em meu braço e puxou-me com força.

— Já falei que não quero nada disso, não vou deixar ninguém relar a mão em mim — gritei irritada. — Não sou obrigada a me casar, e mesmo sabendo que não tenho escolha, vou fazer isso nas minhas condições, como eu quiser. — Me soltei de seu agarre. — Eu faço o meu cabelo e a maquiagem — avisei.

— Olha, olha, o que vai fazer. Não vai me prejudicar — disse preocupada.

— Claro que não, Maro, te amo como uma mãe. Afinal, nem minha mãe aguentou meu pai, foi embora sem olhar para trás. Você é tudo o que eu tenho — falei abraçando-a, que retribuiu com muito carinho.

— Você tem razão, mas ninguém precisa saber disso. Vem que te ajudo a se vestir — afastou-se e foi pegar o vestido, enquanto eu me despia contrariada.

O vestido rastava pelo o chão e parecia um bolo fofo de tão armado que era. Modelo tomara que cai, escolhido pelo meu pai e que me incomodava de mais.

— Não vou me casar com esse vestido — avisei tentando tirar.

— Kau, para com isso. Não temos outro vestido, esse é o único — disse desesperada.

— Maro, pega a maleta de costura que era da minha mãe — pedi, sentindo seu olhar incrédulo sobre mim.

— O que vai fazer? — Perguntou preocupada.

— Confia em mim! Vou me casar do jeito que eu quero — falei ao colocar o vestido no chão.

Maro ainda estava contrariada quando abandonou o quarto e buscou pela maleta que eu havia pedido. Sentei-me no chão com ela me observando. Medi o comprimento da frente do vestido e o de trás. Peguei o lápis de costura e fiz uma marcação na frente e bem ali cortei o tule devagar para não rasgar e nem sair torto.

A parte de trás cortei bem menos, deixando comprido na altura da batata da minha perna e a frente na altura do joelho. Graças a Deus o corte ficou certinho, sempre fui muito boa com costura, às vezes criava minhas próprias roupas. Ainda faria faculdade de estilista.

Peguei o vestido do chão e pedi para que ela me ajudasse a vesti-lo. Quando terminou de fechar os botões nas costas, ficou me olhando sem dizer nada.

— O que foi?

— Ficou lindo e diferente, nem parece que foi você quem cortou. Parece até outro vestido — admirou-me.

Olhando-me no espelho, fiquei surpresa com o que vi. Era assim que eu me imaginava me casando, mas com quem eu realmente amasse. No entanto, o vestido estava como eu queria. Não ligava para o que meu pai pensaria quando me visse.

Entretanto, ainda me olhando percebi que faltava alguma coisa. Fui até minha gaveta e peguei minha meia preta de renda até o joelho e a coloquei, calcei meu All Star preto, tipo bota de salto alto, e me senti à vontade. Coloquei um cinto preto e largo de cetim na altura da cintura dando um laço atrás. Era assim que eu queria me casar um dia, caso eu mudasse de ideia.

— Kau, seu pai não vai gostar nada disso. É bem sua cara, mas não para se casar — olhou-me preocupada.

— Ele não quer que eu me case? Então, vai ser do meu jeito — falei sentando-me em frente a penteadeira.

Soltei meu cabelo negro que estava preso em um rabo frouxo, o ajeitei com a mão, deixando todo ondulado e deixei a franja longa de lado.

Estava perfeito, coloquei um brinco grande de pena branca de pavão. A maquiagem, delineei bem meus olhos e na boca passei um batom bem vermelho, com a pele branca como leite, ele se destacou como eu gostava. Agora sim estava como gostava. Só queria ver a cara do meu pai.

— Maro, pega minha luva preta de dedo. Por favor.

— Você não acha que já está bom? Para que a luva?

— Se é para casar, vai ser como eu quero.

Maro não disse mais nada, me entregou as luvas e juntas saímos a caminho da igreja.

Sinceramente não sei se vou conseguir encarar aquele mauricinho do Oscar, ele parece uma mosca morta e sou obrigada a casar-me com ele. Isso não é justo. Pensei enquanto o motorista estacionava o carro na frente da igreja.

Minutos depois estava subindo a escadaria com o coração disparado de raiva, ódio, todos os sentimentos ruins me consumiam naquele momento.

— Kau, esse não foi o vestido que escolhi. E cadê sua sandália? — Questionou meu pai, ao pegar no meu braço para entrarmos na igreja.

— A sandália está em casa, me sinto melhor assim — respondi levantando meu pé. — Quanto ao vestido, é o que escolheu, só fiz ele ficar do meu gosto, pelo menos isso eu posso fazer, ou quer comprar um outro para eu usar? Isso poderia atrasar seu lindo casamento, por que isso só interessa a você, não é mesmo? — Falei muito irritada.

— Não vou comprar outro, você vai entrar assim. Esse casamento é importante para os negócios e um dia vai me agradecer por isso — disse baixinho me guiando até o altar como a cerimonialista nos pediu.

Não respondi o que falou, apenas entrei em silêncio com uma vontade louca de morrer, ou sumir dali. Eu não podia deixar meu pai controlar minha vida, como fazia com minha mãe, ele não era meu dono. Tinha idade o suficiente para fazer minhas escolhas. Não ligava e nunca ligaria para os negócios da família, meu sonho sempre foi ser dançarina, escritora e estilista, mas nem isso pude fazer.

— Filha... Kau — chamou meu pai me cutucando, me tirando dos meus pensamentos.

Foi então que notei Oscar bem a minha frente.

Meu pai o cumprimentou e ele pegou em minha mão. Ignorei o beijo que meu pai iria me dar e subi dois degraus para chegar até o altar de braços dados com Oscar. Isso me causava náusea.

O Padre começou a cerimônia e eu não consegui prestar atenção em uma só palavra do que dizia. Só pensava em como sair dali, de fugir disso tudo. Tantas vezes tentei fugir do meu pai, mas sempre fui encontrada. Era quase impossível fugir dele.

— Você aceita?

— Kau... — chamou Oscar me cutucando.

— O que foi?

— Você aceita se casar por livre espontânea vontade? — Perguntou o padre, fazendo meu estômago doer na hora.

Eu não podia dizer sim. Não queria essa vida para mim, não era o meu sonho. Precisava fazer alguma coisa e tinha que ser rápido.

— Você aceita? — Perguntou o padre novamente.

Oscar não tirava os olhos de mim. Todos na igreja me olhavam apreensivos, aguardavam por minha resposta. Respirei fundo e resolvi responder.

— EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU DIZER SIM — gritei para que todos me ouvissem e sem esperar qualquer reação ou resposta, sai correndo feito uma louca, jogando o buquê para o alto e rapidamente sai da igreja com meu pai gritando para seus capangas irem atrás de mim.

Quando notei um rapaz de moto estacionando, fui até ele desesperada e implorei que me levasse até a rodoviária. Vendo meu desespero apenas me entregou o capacete e pedindo que fosse mais rápido que pudesse, partimos dali. Com os capangas tentando sair do estacionamento, pois seus carros estavam cercados.

Parti levando apenas minha bolsinha de mão que estava com meus documentos, cartões de crédito e o meu celular. Não tinha planejado nada disso, mas não me casaria contra minha vontade.

O rapaz me deixou na rodoviária como pedi. Agradeci a ajuda e fui comprar minha passagem. Eu poderia ir para qualquer lugar. No entanto fazia uma semana que havia descoberto sobre minha mãe estar morando em Foz do Iguaçu.

Era uma viagem longa, pois morava em Pouso Alegre e acho que meu pai nunca iria me encontrar lá, pois ele não fazia ideia de onde ela morava. Eu só sabia que ela estava nessa cidade, mas não tinha o endereço nem nada a respeito. Seria como procurar uma agulha no palheiro, mas era melhor do que ficar com meu pai.


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