Capítulo 2

Minutos depois estava a caminho da cidade da minha mãe. Ela partiu quando eu tinha apenas seis anos, então as lembranças que tinha dela eram poucas. Era muito nova para entender o que estava acontecendo, só lembro que eles brigavam muito. Hoje, com vinte e dois anos, consigo entender que o maior culpado de ela ter nos deixado foi meu pai.

Jonathas Almeida era uma pessoa extremamente difícil de conviver, era autoritário de mais, achava que poderia m****r em todos. Vivia mal-humorado, não sorria e só pensava nos negócios dele.

Que mulher aguentaria um homem assim? Entendia que ela não possuía outra escolha, por esse motivo tinha muita vontade de encontrá-la.

Passei a viagem toda imaginando em como seria nosso reencontro, se ela me reconheceria e se ainda sentia algum sentimento por sua filha. Suspirei, notando que vários olhares dentro do ônibus eram direcionados a mim.

Ri fraco, acho que eu também ficaria horrorizada em ver uma noiva fugitiva.

...

Algumas horas depois o ônibus chegou em Foz do Iguaçu, meu coração parecia que sairia pela boca. Não sabia se ela permanecia com o mesmo nome, uma vez ouvi dizer que para não ser encontrada pelo meu pai trocou de identidade. E assim ficaria difícil procurar por ela.

O ônibus estacionou na rodoviária e desci carregando apenas minha bolsinha de mão. Estava sentindo muita fome e a essa hora da noite não fazia ideia de para onde ir. Precisava procurar um hotel para dormir e roupas para me livrar do vestido. Não sabia por onde começar.

Segui por aquelas ruas movimentadas com as pessoas me olhando estranho. Foi então que vi um café, fui rapidamente para lá, sentei-me em uma mesa e logo uma senhora me entregou o cardápio.

— Vou querer um misto quente duplo e um suco de goiaba — falei para a senhora que apenas anotava, logo após se retirou dizendo que logo traria meu pedido.

Enquanto esperava, lembrei que eu havia desligado o celular dentro do ônibus, então o liguei e notei várias mensagens do meu pai e da minha melhor amiga Vanessa, mas as ignorei, ninguém poderia saber onde me encontrar. Desliguei o GPS porque meu pai sempre me fazia deixar ligado.

— Espero que esteja do seu agrado — disse a senhora colocando meu pedido na mesa.

— Obrigada — agradeci guardando meu celular na bolsinha. E com a fome que eu estava, comi rapidamente e estava delicioso.

Ao terminar fui até o caixa pagar e entreguei o cartão.

— Por favor coloque a senha — disse a balconista. Então digitei a senha como pediu.

— Desculpa, mas esse cartão está bloqueado — informou, devolvendo-o para mim.

— Tenho outro — peguei o de débito que meu pai me deu e entreguei para a moça.

— Esse também está bloqueado, você tem outro?

— Tenho mais um — senti minhas mãos tremer pelo nervoso, se dois estavam bloqueado, provavelmente meu pai havia bloqueado todos.

— Bloqueado, faça o pagamento em dinheiro — olhou-me desconfiada.

— Esse é o problema, viajei sem dinheiro nenhum, só trouxe os cartões — respondi sem graça e muito assustada, não queria ser presa por isso.

— Dona Marta, temos um probleminha... — gritou a moça do caixa, sorte que eu era a única cliente aquela hora da noite.

— O que foi Thereza? — a senhora que me serviu apareceu logo em seguida.

— Ela não tem dinheiro e seus cartões estão todos bloqueados.

— Entre minha jovem, vamos conversar — puxou-me pelo braço, me deixando muito nervosa.

Caminhamos para o interior do estabelecimento e se sentou-se em uma cadeira da cozinha.

— O que faz a essa hora sozinha e vestida de noiva? Como saiu sem dinheiro nenhum? — questionou me olhando sério.

Então, contei tudo a ela, que estava fugindo de um casamento arranjado pelo meu pai e que estava ali para procurar minha mãe. Falei que meu pai havia bloqueado todos os meus cartões em uma tentativa de tentar me fazer voltar para casa. No entanto, fui bem clara que para lá eu não voltaria.

A senhora me olhou com pena, coçou a cabeça pensativa e isso me deixou muito preocupada.

— Olha, infelizmente não posso te ajudar. O café não anda muito bem e sou uma mulher que toma muitos remédios, tenho diabete e pressão alta. Infelizmente não há muito o que fazer, você precisa me pagar.

— Não tenho dinheiro nenhum, mas talvez essa correntinha de ouro que ganhei do meu pai tenha muito valor, você pode vender — falei tirando minha correntinha com pingente de estrela que eu amava do pescoço e entreguei a ela.

— Pode ser, não há outra opção?

— Não há, só tenho isso para te dar.

— Ok, seu pedido está pago, pode ir e tenha uma boa noite — disse examinando a correntinha. Agradeci e sai rapidamente.

Estava assustada em uma cidade estranha, sem dinheiro, sem cartão, não fazia ideia de para onde ir. Rodei pelas ruas da cidade sem rumo. Já estava ficando tarde, as ruas foram se esvaziando, os estabelecimentos se fechando, apenas alguns bares ficaram aberto.

A noite seria fria, pois eu sentia uma brisa gelada me causando arrepios.

— Passa o celular sem olhar para trás — disse alguém colocando um cano de revólver em minhas costas.

Entrei em choque e paralisei, apenas peguei o celular na bolsinha e sem olhar para trás entreguei para ele, que no mesmo instante saiu correndo. Eu não tinha forças para andar, cai de joelhos no chão chorando e agradeci a Deus por estar viva.

Tentei me recuperar do susto e me levantei do chão, olhei ao redor para achar um lugar onde eu pudesse dormir. Além do assalto ter tirado minhas forças, estava morrendo de sono. Foi então que avistei um ponto de ônibus, com uma cabine fechada por vidros, era um lugar grande e deveria ter mais de dez bancos para sentar e a essa hora não passaria mais nem um ônibus. Acho que eu podia passar a noite nesse lugar.

Ainda com as pernas bambas por causa do susto caminhei até o ponto e entrei fechei a porta. Me senti segura ali dentro, mesmo a porta não trancando, pelo menos eu não passaria frio. Rasguei um pedaço do meu saiote e passei entre o puxador da porta e dei um nó bem forte para que ninguém entrasse.

Me deitei em um dos bancos que era grande, fechei os olhos tentando esquecer toda essa loucura que fiz e acabei cochilando.

Acordei com o barulho de uma forte chuva e alguém esmurrando a porta para entrar. Me levantei rapidamente, assustada e o encarei.

— Moça abre essa porta, preciso me esconder da chuva — dizia um andarilho.

Estava tão apavorada com ele batendo na porta que simplesmente ignorei. Me deitei no banco novamente e comecei a cantar em um tom que dava para eu ouvir e pudesse apenas focar em minha voz e assim esqueceria do homem batendo na porta, acabei dormindo novamente.

Fui despertada com uma gritaria do lado de fora, várias pessoas se amontoaram na porta tentando entrar. Graças a Deus que meu nó foi bem dado.

  Muito sem graça, me levantei, desfiz o nó e as pessoas entraram falando ao meu respeito e algumas me xingando.

 Então, sai dali rapidamente, sentindo meu estômago doer de fome e com muita vontade de ir ao banheiro.

 De dia tudo ficou mais claro para mim, pude me localizar e ver que ainda estava no centro da cidade e que logo mais à frente tinha uma praça, tinha certeza que ali haveriam banheiros públicos e nojentos, mas que escolha eu tinha? Fui para lá e entrei, me surpreendi com o que vi, apesar do banheiro estar muito pichado, estava limpo. Uma funcionária pública o limpava naquele momento. Pedi licença, usei o banheiro, lavei as mãos e o rosto, que já estava preto pela maquiagem borrada. Me senti aliviada de ver que os banheiros públicos da cidade não eram nojentas como o da minha.

Andei sem rumo novamente com a barriga roncando, dei de cara com uma padaria aberta. Olhei dentro do estabelecimento e não vi nenhum cliente e os funcionários estavam lá dentro. Nunca roubei nada na vida, mas com a fome que eu estava, era a única opção. Entrei sem fazer barulho e peguei dois pães e um pacote de biscoito, mas quando fui pegar uma garrafinha de água um funcionário gritou.

Peguei a garrafa e sai correndo. Sabia que havia alguém atrás de mim, então entrei em desespero e corri mais ainda, virei a esquina feito louca sem olhar ao redor, não prestei atenção em nada até trombar com alguém e acabar caindo no chão.

Me levantei rapidinho, sem deixar de me queixar da dor no bumbum e só então notei um rapaz se levantando. Na hora em que me viu, se aproximou pedindo desculpa, mas de repente ouvimos vozes, gritaria e ele em uma velocidade assustadora me empurrou para parede e me beijou. Lutei para não responder ao beijo, mas quando notei os guardas se aproximando, procurando por mim, entrei no seu jogo e correspondi. Que beijo foi aquele? Quem era aquele rapaz?

Sorri sentindo sua mão em minha cintura, ele tinha uma pegada muito boa.


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