— Barriga de aluguel? Barriga de aluguel, Derek?
A voz de Sabrina, minha irmã caçula, soa, cheia de irreverência e histeria.
Enfezado, sento-me no sofá e folheio o jornal como se nada estivesse acontecendo.
— Enlouqueceu de vez? Derek! Meu Deus, você enlouqueceu? Pensei que os encontros semanais com Dr. Diógenes estivessem finalmente te ajudando! Mas pelo visto...
Não estou depositando minha atenção em Sabrina, mas sei que ela revirou os olhos, aborrecida.
— Eu deveria saber que você ainda estava maluco. Tem sido assim desde que... desde que ela...
Movo meus olhos do jornal para Sabrina. Imediatamente ela se cala.
Estava restritamente proibido mencioná-la. Eu havia proibido qualquer um que fosse de cogitar mencionar seu nome. Eu não podia... não queria ouvir.
Para ser franco, eu não tinha forças para ouvir.
Eu não admita que tocassem em seu nome.
Porque tocar em seu nome revivia em mim memórias que eu tentava incansavelmente esquecer.
— Hã... ér... desculpe. Eu juro que...
— Não se meta na minha vida, Sabrina. Eu sou grande o suficiente para decidir aquilo que me for melhor, está bem?
Levanto-me do sofá e a encaro com fogo nos olhos.
Minha irmã precisa ser colocada em seu devido lugar.
Eu sou dono da minha própria vida. Ninguém além de mim sabe o que é melhor para ela.
— Estou tentando abrir seus olhos, Derek! Você é jovem, meu irmão. Tem uma vida toda pela frente. Não pode simplesmente... se esconder! Você é um homem inteligente, bonito, tem tudo para arranjar alguém e voltar a ter uma vida...
— Não seja uma imbecil insensível, Sabrina! — eu rosno, transtornado. Porque tocar nesse assunto sempre me deixa assim.
Dizer que eu devo seguir em frente me parece um insulto, visto que tudo de toda a minha vida, todos os meus planos, minhas metas, tudo só existia porque ela me dava força. Ela me apoiava. Ela estava ali, comigo, percorrendo os caminhos que escolhíamos juntos para trilhar.
Como eu podia seguir em frente e deixá-la para trás?
Como eu podia ouvir uma tolice dessas e permanecer calado?
— Sabe que eu a amo! Ela me deixou e não foi por livre e espontânea vontade! Foi um... um infeliz... acidente! — meus olhos enchem-se de lágrimas. — Eu não posso deixá-la! Porque ela ainda está aqui, Sabrina! Eu não a tirei de mim só porque ela se foi, está me ouvindo? Então, por favor, não peça para seguir em frente, se isso significa que seguirei sem ela!
Cuspo todas aquelas palavras friamente no rosto de minha irmã. No final do meu desabafo, ela está me olhando com os olhos marejados, encolhida, os braços envoltos em si.
— Meu Deus, Derek... – ela disse num fio de voz. — Eu... tenho tanta pena de você.
— Pena? — crispo a testa.
— Está realmente doente. Isso é uma doença. Não é amor, é obsessão! Não pode ficar o resto da vida amando alguém que não vai mais voltar. Desculpe te dizer a verdade. Eu sei que ela dói, mas ela precisa ser dita. Esse ai... — ela aponta para mim e o modo como me olha esbanja o que se assemelha a nojo. — não é o meu irmão. É a pior versão dele. E realmente sinto falta da sua melhor versão.
Depois de retribuir meu desabafo no mesmo nível, ela sai caminhando em passos lentos, deixando-me para trás sozinho com minha pior versão e a dor que só nesta versão de mim existe.
. . .
Estava sentado na cadeira aveludada de meu pequeno escritório quando escutei dois toques na porta. Ergui a cabeça e olhar quando avistei meu irmão apenas com a cabeça dentro do ambiente.
— Será que... posso entrar?
Analiso seu rosto por alguns segundos. Só esperava que não fosse Damen a procura de ajuda em mais um de seus casos compIicados. Não estava com cabeça. Não ia ser um bom ajudante naquele momento.
Há alguns meses eu não tenho sido um bom ajudante para quase nada.
Meu corpo e minha mente exalavam cansaço. De quê, exatamente, eu não sabia. Mas eu não tinha mais ânimo para quase nada.
A verdade é que, segundo doutor Diógenes, meu psicólogo, eu estava nadando num mar revolto de depressão. E, no fundo, bem no fundo, eu sabia que essa era a verdade nua e crua. E, por mais que tentasse de todas as formas e maneiras, eu não conseguia retornar à superfície. Eu continuava ali, parado, em meio ao mar tempestuoso, esperando por uma onda grande que de uma só vez me cobrisse por inteiro. Essa era a verdade.
— Sim, claro. — disse com pouco caso. Damen assente.
Meu irmão acena levemente com a cabeça, passa pela porta e a fecha em seguida. Depois caminha rapidamente em minha direção, sentando-se na cadeira à frente da minha.
— Eu... bom... Sabrina conversou comigo.
Ah, claro.
Sabrina havia aberto a boca para falar mais de minha vida, só pra variar um pouco.
Até quando meus irmãos mais novos vão achar que podem agir como se fossem mais velhos e mais maduros que eu?
— É claro que a Sabrina falou com você. — resmunguei, revirando os olhos.
— Derek...
— Se veio me dizer as mesmas coisas que ela já disse, vou pedir encarecidamente para que dê meia volta e saia de meu escritório. Não estou disposto a ouvir mais ninguém a me dizer coisas que não quero escutar.
Um suspiro sai da boca de meu irmão e eu me mantenho inflexível.
Não quero e não vou discutir com Damen. Não estou com saco para discussões que só têm como resultado me dar dor de cabeça.
— Estou aqui para dizer que não concordo com a nossa irmã. Muito pelo contrário, Derek, estou aqui porque quero que saiba que... que tem todo o meu apoio.
Crispo a testa e até custo a acreditar no que acabei de ouvir.
Sim, eu sabia que Damen era mais maleável e complacente do que Sabrina, mas tinha chegado num nível em que todos me taxavam como maluco pelas decisões que eu tomava.
Era difícil acreditar que pela primeira vez em meses alguém concordava com as decisões que eu tomava.
— Então... me apoia?
— Se acha que um filho o trará a felicidade novamente, meu irmão, então, sim, tem todo meu apoio no que precisar.
Um sorriso se formou em seus lábios e eu não podia não fazer o mesmo, muito embora sorrisos meus fossem raros nos últimos dois anos que se passaram.
— Vai me ajudar? De que maneira?
— Em tudo que estiver ao meu alcance. — salientou. — O que pretende fazer?
— Preciso que me redija um contrato, de antemão. Quero que especifique todas as minhas exigências e... eu preciso encontrar alguém que se disponha a ser minha barriga de aluguel. Alguém que entenda perfeitamente que nosso relacionamento será restritamente contratual. — Damen assente, balançando a cabeça. — A única coisa que me interessa é o bebê, Damen. O bebê é tudo. Eu pago o preço que for. A única coisa que me resta é deixar alguém em meu lugar. Um herdeiro. Alguém que passe a diante tudo aquilo que eu cultivei arduamente.
— Onde acha que vai encontrar alguém que se disponha a isso? Alguém que, bom, você sabe, aceite dinheiro em troca de ser sua barriga de aluguel?
— Eu não sei. — confesso. — Mas vou encontrar. O mundo está cheio de pessoas ambiciosas, Damen. Não é possível que eu seja tão azarado a ponto de não esbarrar com uma.
— Vou procurar informações para você. Assim que as tiver, comunico.
— Ótimo. Eu ficaria extremamente grato, Damen.
— Eu já disse, Derek, se esse bebê realmente vai fazê-lo feliz de novo, então eu não vejo motivo algum para não querer isso tanto quanto você.
Olho para meu irmão sentindo o peito queimar de gratidão. Damen era um bom garoto. Um bom irmão. Eu tinha orgulho de quem ele era e isso apenas aumentava conforme eu me deparava com as atitudes do homem que ele havia se tornado. E saber que eu era sua única referência fazia com que eu me orgulhasse dele não apenas como um irmão, mas como um pai que eu tinha sido para ele desde que o nosso havia partido.
Meu irmão me sorri antes de levantar-se da cadeira e sair do escritório.
Volto meus olhos para qualquer lugar e deixo que um sorriso surja no canto de meus lábios.
— Está perto, Monnie. Logo terei de novo o nosso filho, meu amor. Eu prometo, meu amor. Eu prometo...
Sussurrei à mim mesmo e a lembrança viva que carregava de Monnie em meu coração. Uma onda de paz me invadira e eu sabia que ela era.
Algo tão bom só podia vir dela.
Só podia ser ela.
A N T E S"— Não vale espiar, Derek, por favor! — Monnie pedia e eu só conseguia rir enquanto ela se esforçava para ficar na ponta dos pés para tapar meus olhos.— Não vou. — asseguro.— Estamos quase lá! Mantenha seus olhos fechados, Derek Sant! Estamos... quase... agora...De repente ela se afastou e minha única reação foi abrir os olhos. O que vi, em seguida, me aqueceu o coração.Minha família e meus amigos ali, diante de mim, todos reunidos, para comemorar meu aniversário.Todos começaram a cantarolar um alto parabéns para você, mas eu só conseguia olhar para min
— Você enlouquece de vez, Derek! E você — ela apontou o dedo indicador para Damen que respirou profundamente. — Está influenciando nosso irmão nessa maluquice!— Sabrina, já que não posso fazê-lo mudar de idéia, como seu irmão, é meu dever ajudá-lo e apoiá-lo. Deveria fazer o mesmo, sabia?Sabrina soltou uma risada anasalada, carregada de escárnio.Arg! Eu odiava aquela risada debochada.— Ajudar? Você está realmente maluco, Damen! Se quer ajudar o Derek, tente colocar na cabeça dele que sua idéia estúpida de usar uma mulher qualquer para gerar um filho seu é loucura. Se ele quer um filho, faça o que um ser humano normal faria: se apaixone, se case e engravide alguém por amor ou... Ou simplesmente adote
— Beth, aqui estão eles. — o grandão nos anuncia.Beth, é, de fato, uma mulher madura. As camadas de maquiagem em seu rosto conseguem esconder bem a idade que ela carrega nos ombros, mas dá pra ver que é uma mulher vivida. Em todos os sentidos, diga-se de passagem.— Ora, ora. À que devo a honra, rapazes? — ela gira a cadeira em que está sentada. — Sentem-se, por favor!Eu estava pronto para abrir minha boca e sem rodeios revelar o motivo de minha vinda até esse ambiente inadequado, no entanto Damen decidiu ser mais rápido que eu:— Senhora Beth...— Senhora, não. Jamais. — ela solta uma escandalosa risada. — Me chame só de Beth.— Beth. — Damen se corrige com um sorriso de canto de boca. &m
Amanda permaneceu quieta durante todo o percurso até a mansão.Enquanto Damen dirigia, vez ou outra eu a espiava pelo retrovisor.Ela estava encolhida no banco de trás, olhava para os lados, como se cada canto da cidade lhe fosse novidade.Era uma cena bonita de se admirar, para ser extremamente sincero.Amanda era como um pássaro, antes preso numa gaiola. Agora ela estava livre.— Amanda, não é? — a voz de meu irmão soa.Ela assente, quieta, sem nos agraciar com sua voz suave.— Vamos conversar sobre o contrato e sobre todos os benefícios que você receberá, certo? Fazemos questão de que você esteja ciente de tudo.— Certo. — ela murmura baixinho. — Muito obrigada! De verdade, eu nem
AmandaA irmã de Derek, Sabrina, me arrasta até seu quarto. Fico sentada em sua cama enquanto ela joga peças e mais peças de roupa ao meu lado. Me parece que, quanto mais roupas ela tira do closet, mais ela parece ter.— A maioria delas são novas. Quase não as usei. Você tem o corpo bem semelhante ao meu, vão ficar ótimas em você.— Não precisa se incomodar. — sussurro, constrangida. Ela ri. Aparentemente de mim.— Não é incômodo algum. Estão aí, jogadas, em desuso. Esta é a oportunidade perfeita.Sabrina finalmente para de procurar por roupas e me encara.— Sapatos. — ela diz olhando para os meus pés. — São pequenos. Quanto calça?— trinta e cinco.Ela parece maravilhada. Abre um sorriso de orelha à orelha. DerekEstava na sala, sentado no sofá maior, esperando Amanda para podermos, finalmente, ir até a clínica realizar os exames necessários.Estava batucando meu dedo contra o braço do sofá, quando avistei Sabrina descendo as escadas.Minha irmã estava saltitante, parecia feliz. E feliz até demais.— A roupa ficou ótima em você, Mandy! — ela berrava, cheia de orgulho. — Eu te disse que ia ficar ótima!Quando rolei os olhos, dei conta de que Sabrina estava falando com Amanda. A menina estava com um vestido mediano, bege, muito bonito. É claro que Amanda estava toda encolhida, visto que Sabrina estava deixando-a totalmente sem graça.— Bom dia, Dekinho. — Sabrina disse, provocando-me.Eu forcei um sorriso.— O que há com você? Nunca parece feliz pela manhã. — rolo os olhos.— Mandy está pronta... — ela diz, ignorCapítulo 7
AmandaDepois que o resultado dos exames saíram, tivemos a certeza de que eu estava adepta a inseminação artificial. Derek não esperou por mais nenhum segundo. Fizemos o procedimento e ficamos na expectativa.A doutora Campbell nos orientou de que deveríamos esperar por um prazo de, no máximo, quinze dias. Ela nos assegurou que este era o prazo ideal para que pudéssemos saber se havia dado certo, ou seja, se eu realmente havia ficado grávida.— Eu nem acredito que o Derek resolveu ir até a empresa. Ele não colocava os pés lá há mais de um ano.Sabrina encheu a mão de pipoca e fez questão de levar todas para a boca. Ela era engraçada.— Por que ele saiu da empresa?
DerekSuspirei fundo, tentando me acalmar e assimilar o que estava acontecendo. E o que tinha acabado de ouvir de meu irmão.Olhei para o lado e Amanda estava encolhida, parecia tão surpresa quanto eu.— Está tudo bem por aqui? — Damen insiste.Coço minha nuca e assinto.— Está, é que...Amanda não me deixa finalizar e passa por mim velozmente.Damen franze o cenho e rola seus olhos para mim.— O que você fez?— Eu? — ergo o cenho. — O que te faz pensar que eu fiz algo?<