Amanda
A irmã de Derek, Sabrina, me arrasta até seu quarto. Fico sentada em sua cama enquanto ela joga peças e mais peças de roupa ao meu lado. Me parece que, quanto mais roupas ela tira do closet, mais ela parece ter.
— A maioria delas são novas. Quase não as usei. Você tem o corpo bem semelhante ao meu, vão ficar ótimas em você.
— Não precisa se incomodar. — sussurro, constrangida. Ela ri. Aparentemente de mim.
— Não é incômodo algum. Estão aí, jogadas, em desuso. Esta é a oportunidade perfeita.
Sabrina finalmente para de procurar por roupas e me encara.
— Sapatos. — ela diz olhando para os meus pés. — São pequenos. Quanto calça?
— trinta e cinco.
Ela parece maravilhada. Abre um sorriso de orelha à orelha.
Ela me puxa pela mão e me arrasta até uma outra parte de seu closet. Ela abre um porta de vidro e deixa visível aos meus olhos centenas de sapatos de todos os tipos e cores. Fico até meio desconcertada. Ela ri e ergue os olhos.
— Tenho um par reserva para cada sapato.
— Você...
— Nunca se sabe quando vai perder um par, não é? Por isso tenho reservas.
Meus olhos permanecem arregalados. Sabrina abre um sorriso largo.
— Sei o que está pensando, talvez seja mesmo um exagero, mas gosto disso.
— Não estava pensando nisso. Estava pensando que, talvez, esse seja o sonho de toda e qualquer mulher.
— Você acha? — seus olhos brilham. — Deus, eu sou apaixonada por sapatos. Se pudesse compraria todos os sapatos de todas as lojas da cidade.
Sabrina diz e eu tenho de admitir que ela é engraçada e gentil. Acho... Não, tenho certeza de que nos daremos bem.
— Um mais lindo que o outro. — digo meio abobalhada.
— Certo, pode escolher os sapatos que quiser.
Coço a nuca.
— Eu não... é que...
— Está com vergonha?
Assinto, não há muito o que dizer. Além disse, a menina me parece compreensível demais.
— Por favor, não se acanhe. Fique a vontade. Prometi ao Derek que ajudaria você, é o que estou fazendo.
Sabrina abre um sorriso encorajador. Me sinto bem com sua presença. Ela é adoravelmente acolhedora. E paciente, vale ressaltar.
Escolho alguns sapatos com sua ajuda e tenho a oportunidade de conhecê-la um pouco mais através das conversas paralelas que trocamos no momento.
— Então vai casar?
Sabrina assente, parece contente.
— Em alguns meses. — parece ansiosa. — Aspen é o homem da minha vida, sabe? Estou feliz que seremos marido e mulher em breve.
— Desejo que seja feliz.
Sabrina sorri e seus olhos se estreitam.
— Mas... e você?
Ela senta-se no poof, no chão, de frente para mim.
— Eu...?
— É. — ela morde os lábios. — Em relação a tudo isso, quero dizer.
— Se refere ao bebê?
Ela assente.
— Seu irmão quer muito essa criança. Fico feliz em poder ajudá-lo de alguma maneira. Gosto de me sentir útil para algo bom.
Sabrina cerra os olhos em mim, parece duvidosa.
— Não sou a favor disso. Quero dizer, havia outros metódos mais convencionais. Sinto que isso... foi uma atitude um pouco egoísta de Derek. Ele só pensou em si mesmo.
— Acho que ele só estava desesperado.
— Não é justificável. — ela ri, sem humor. — Não é justo também.
— Justo...
— Não é justo com você. Vai carregar uma criança em seu ventre, sabe o quanto isso é grande e significativo?
— Está com medo de que eu possa me apegar a criança?
Sabrina fica calada.
— Tenho medo de que se torne mãe. Não quero que se machuque, porque posso ver que é uma boa pessoa. Pelo menos nisso o Derek acertou. — Sabrina me sorri. — escolheu a pessoa ideal para carregar seu filho na barriga.
— Acha?
— Tenho certeza.
— Obrigada, Sabrina.
— De nada. — ela molha os lábios rapidamente e sorri de lado, parece emocionada. — Vamos descer? O jantar já deve ter sido servido. E, convenhamos, precisa se alimentar bem. Por você e pelo bebê.
Assinto e saio seguida de Sabrina.
De um jeito inédito, Sabrina entrelaça nossas mãos e agora eu quem fico emocionada. Porque sinto que nos conhecemos há anos. A conexão que surgiu entre nós parece ter vindo de outras vidas.
Tenho certeza que estes nove meses não serão faceis, mas não serão impossíveis, tendo em vista que agora eu tenho uma amiga ao meu lado.
Porque é isso que sinto em relação a Sabrina. Ela já é uma amiga.
Derek
— Amanda, esta cópia do contrato ficará com você. Qualquer dúvida, não hesite em vir até mim. — Damen diz gentilmente a Amanda, que assente, acenando com a cabeça.
Meus olhos correm até Amanda. Sinto uma certa tensão invadir seu ser e, no momento em que ela toma o contrato em suas mãos, a tensão se mostra ainda mais visível.
— Então... vamos falar sobre os pontos mais relevantes, certo? — meu irmão inicia. — Suponho que já esteja ciente, Amanda, mas é meu dever alertá-la de que a criança não terá laço algum com você, entendido?
Amanda confirma com a cabeça.
— Depois que você fizer os exames necessários e recebermos a confirmação de sua gestação, você deverá satisfações a Derek em tudo que, de um jeito ou de outro, possa envolver a criança. Desta forma, Derek deverá zelar pela sua vida, da mesma forma que vai zelar pela da criança. — Amanda morde os lábios, assentindo em seguida. — Devo lembrá-la que sempre que precisar se ausentar, terá de pedir o consentimento de Derek. Não é por nada, é só por ele exigir, sempre, estar perto da criança. Ele quer acompanhar todos os momentos da gestação.
Damen rola os olhos e respira fundo, retomando a sua postura.
— Antes que haja alguma pergunta sobre o tema que segue, devo avisá-los: este contrato não poderá ser anulado. Ou pode... — Damen estala a boca. — Tendo em vista todos os benefícios que você terá, Amanda, caso deseje recorrer a anulação do contrato, deverá arcar com as responsabilidades e devolver tudo que lhe foi dado, com juros. Mas não estou dizendo isso para assustá-la, não me leve a mal...
Damen coça a nuca e eu suspiro alto, ele me olha, percebe que estou repreendendo sua atitude, ele pigarreia e eu rolo os olhos.
— Alguma dúvida até aqui? — ele retoma a sua imparcialidade.
Numa sincronia inédota, Amanda e eu nos entreolhamos, negando com a cabeça.
— Você realizará, em breve, alguns exames de rotina. Precisamos ver se está apta a inseminação artifícial e como está sua saúde... Se você é portadora de alguma doença que possa afetar o bebê. Mas não será nada tão invasivo. Tudo bem?
— Certo. — Ela assente, atenta.
— Faremos os exames amanhã, pode ser? — eu digo, incapaz de conter minha ansiedade.
— Por mim, tudo bem. — a garota sopra.
É minha vez de assentir.
— Só para reforçar: É importante que você não crie laços afetivos com a criança. Como já disse, ela não será sua.
Não consigo decifrar a expressão facial de Amanda. É difícil de interpretar, mas sei que ela não está morrendo de felicidade.
— Isso não é problema. — ela certifica.
— Por ora, isso é só. Caso haja alguma dúvida, me procure e eu prometo tentar esclarecer. — Meu irmão desvia os olhos para Amanda e força um sorriso.
— Quero que se sintar em casa, Amanda. — eu digo, voltando-me para a jovem mulher mais à frente.
— Obrigada, seu De...
— Derek. — corto-a. — Me chame de Derek.
Abro um singelo sorriso.
— Sei que são muitas coisas para você processar, mas meu caso também é extremo. Essa criança é muito importante para mim.
— Eu entendo. Obrigada... Derek. — ela sorri.
Depois, ergue-se da cadeira, cumprimenta Damen e deixa o escritório.
Damen me olha de um jeito esquisito. Depois, repete os passos de Amanda. No fim das contas, fico sozinho no escritório. Pensativo e ansioso.
Não consigo dormir durante a noite. Estou inquieto, o sono simplesmente desaparece e eu fico ali, indignado, e muito acordado.
Perco a conta de quantas vezes me remexi na cama, troquei de posição e simplesmente nada adiantou.
Respiro fundo e levanto-me da cama. A insônia me venceu, não há mais como negar.
Coloco meu roupão e decido que preciso de água. Preciso apenas respirar e assimilar tudo que tem que me acontecido nessas últimas vinte e quatro horas.
Não demora para que eu note a presença de Amanda na cozinha. Ela está de costas, sentada em um uma das cadeiras altas.
Arranho a garganta, fazendo sua atenção se direcionar à mim.
— Desculpe, não tinha visto que você estava... — ela começa, meio envergonhada.
Forço um sorriso e nego com a cabeça.
— Está tudo bem. — afirmo. — Eu apenas vou tomar um copo de água.
Ela assente, tímidamente.
Caminho até a geladeira e pego a jarra com água.
Percebo, através de minha visão periférica, os olhos de Amanda cravados em mim.
— Você quer...?
Ela se endireita na cadeira, na medida que eu me viro para encará-la.
— Ah, não. Estou bem, obrigada.
Sorrio e confirmo com a cabeça.
— Certo. — digo, por fim. — Ahm... Você está sem sono ou...?
— Eu só... Me desculpe por estar perâmbulando pela sua casa, seu Derek, é só que... Bem, o quarto em que estou é perfeito, mas... — ela ri sem jeito. — Mas eu não estou acostumada com esse luxo, se é que me entende. Eu... Eu dormia numa beliche, então... Tudo é muito novo para mim.
Abro a boca para dizer algo, mas me faltam as palavras.
— É... — minuciosamente, puxo um dos bancos que está à frente de Amanda. — Primeiro, eu insisto que me chame apenas de Derek. Por favor, apenas Derek, certo? — Ela assente, sorrindo. — Segundo... Eu sinto muito por tudo que já viveu. Não nos conhecemos muito bem, mas, quero que saiba que esta será sua casa pelos próximos meses. Sei que não está acostumada com todos estes privilégios, mas é questão de tempo até se adaptar, tudo bem? Só precisa se esforçar em esquecer as coisas ruins que viveu.
Amanda me olha atentamente, seu olhar exala um brilho diferente. Sinto que ela vai chorar a qualquer momento e tudo que espero é que isso não aconteça.
Nunca fui bom em lidar com pessoas chorando.
— Obrigada, seu... — eu semicerro meu olhos nela, fazendo-a sorrir fraco. — Quero dizer, apenas Derek.
Sorrio, assentindo.
— Ótimo. — eu digo, finjo um tom meio duro. Ela acha graça. — Acho que deveria tentar dormir. Amanhã terá um dia bem cansativo, é bom que esteja descansada.
Ela ergue-se do banco e ajeita o roupão no corpo.
— Mais uma vez... Obrigada. De verdade, Derek.
— Se tem alguém grato, este alguém sou eu.
Ela sorrir sem mostrar seus dentes. É um sorriso belo, tenho que admitir.
— Boa noite. — ela diz, antes de sair andando sem jeito.
— Boa noite. — murmuro baixinho.
Quando volto para o quarto, de alguma maneira, consigo dormir todo o restante da noite sem interrupções alguma.
Deve ter sido um milagre, penso. Ou simplesmente outra coisa.
Ou alguém.
DerekEstava na sala, sentado no sofá maior, esperando Amanda para podermos, finalmente, ir até a clínica realizar os exames necessários.Estava batucando meu dedo contra o braço do sofá, quando avistei Sabrina descendo as escadas.Minha irmã estava saltitante, parecia feliz. E feliz até demais.— A roupa ficou ótima em você, Mandy! — ela berrava, cheia de orgulho. — Eu te disse que ia ficar ótima!Quando rolei os olhos, dei conta de que Sabrina estava falando com Amanda. A menina estava com um vestido mediano, bege, muito bonito. É claro que Amanda estava toda encolhida, visto que Sabrina estava deixando-a totalmente sem graça.— Bom dia, Dekinho. — Sabrina disse, provocando-me.Eu forcei um sorriso.— O que há com você? Nunca parece feliz pela manhã. — rolo os olhos.— Mandy está pronta... — ela diz, ignor
AmandaDepois que o resultado dos exames saíram, tivemos a certeza de que eu estava adepta a inseminação artificial. Derek não esperou por mais nenhum segundo. Fizemos o procedimento e ficamos na expectativa.A doutora Campbell nos orientou de que deveríamos esperar por um prazo de, no máximo, quinze dias. Ela nos assegurou que este era o prazo ideal para que pudéssemos saber se havia dado certo, ou seja, se eu realmente havia ficado grávida.— Eu nem acredito que o Derek resolveu ir até a empresa. Ele não colocava os pés lá há mais de um ano.Sabrina encheu a mão de pipoca e fez questão de levar todas para a boca. Ela era engraçada.— Por que ele saiu da empresa?
DerekSuspirei fundo, tentando me acalmar e assimilar o que estava acontecendo. E o que tinha acabado de ouvir de meu irmão.Olhei para o lado e Amanda estava encolhida, parecia tão surpresa quanto eu.— Está tudo bem por aqui? — Damen insiste.Coço minha nuca e assinto.— Está, é que...Amanda não me deixa finalizar e passa por mim velozmente.Damen franze o cenho e rola seus olhos para mim.— O que você fez?— Eu? — ergo o cenho. — O que te faz pensar que eu fiz algo?<
Amanda— Bom dia!Derek surgiu com um sorriso radiante nos lábios. Passou por Sabrina e depositou um beijo rápido em seus cabelos escorridos. Depois, acomodou-se numa cadeira em frente a minha.— Como se sente, Amanda? — ele perguntou costumeiramente como sempre estava fazendo nas últimas semanas.Sabrina bufou, fazendo Derek olhá-la de lado.— Por que faz a mesma pergunta, todos os dias? Arg, Derek!Gargalho fraco.— Me sinto ótima, obrigada. — sorrio sem mostrar os dentes. — Com um grande apetite, mas está tudo bem.— Isso é bom, não é? Se você tem fome é porque o bebê também tem, certo?Ele me olha, depois olha para Sabrina.— Está perguntando para mim? Olha só, eu nunca
AmandaHá poucos minutos o sol havia se posto e, pela primeira vez desde que havia chegado aqui, estava sozinha naquela mansão enorme e exuberante.O que era relativamente engraçado e contraditório, visto que minha infância e adolescência se resumiam à grandes dificuldades. Desde não ter um teto para morar a ter de sobreviver, mesmo contra a vontade de minha família, num bordel imundo, submetida a seguir ordens de uma infeliz ordinária.Respirei fundo, insatisfeita com o rumo que meus pensamentos haviam tomado. O que ficou no passado, deveria permanecer lá. Não deveria voltar à tona, certo?— Como está sendo? — A voz de Meg, a governanta da mansão soou, despertando-me, felizmente, de me
Amanda— Derek, você já chegou...Damen automáticamente endireita a postura e senta-se de maneira aparentemente confortável.Derek continuou, de maneira estranha, me olhando pelo rabo dos olhos.— Eu acabei de chegar. Ouvi alguns murmúrios, presumi que vocês estivessem aqui. — ele sorriu sem mostrar os dentes. — Mas e então, vocês vão sair para jantar amanhã?Olhei para os pés. Eu estava completamente constrangida com toda aquela situação. Era desconfortável.— Na verdade, eu estava comentando com Amanda... Desde que ela chegou aqui, não teve nenhum momento de lazer. Ela só fica aqui e... bom, achei que seria interessante sairmos para jantar.Damen ab
DerekA empresa estava me consumindo por completo. Mas não de um jeito ruim. Na verdade, era bom sentir-me útil depois de meses afastado de minhas obrigações.Já havia esquecido o quanto amava ocupar minha mente em assuntos relacionados ao trabalho.Mesmo assim, era praticamente impossível finalizar o dia ativo. Eu só queria chegar em casa e jogar-me na cama e descansar.Quando entrei na sala, tudo estava silêncioso. Depositei minha maleta sob a mesa grande, à minha direita. E preocupei-me em desafroxar a bendita gravata em meu pescoço.Arg! Gravata estúpida.Sentei-me no sofá e empenhei-me em desabotoar as mangas de minha camisa. Foi quando escutei passos firmes vindos da escada, não demorei a notar que era Amanda. Ela descia com cautela, quase lent
DerekConforme as horas foram passando, adormeci ali mesmo no sofá. Só acordo devido ao forte estrondo da gargalhada de Sabrina.Aperto os olhos, ainda confuso.Minha irmã está jogada no sofá, entopindo-se de pipoca, enquanto assiste um filme que me era desconhecido.— Te acordei, Dekinho? — ela murmurou com a boca cheia de pipoca.— É, parece que sim. — digo com pouco caso. — Amanda já chegou? Damen... — coço a nuca, desnorteado.Minha irmã balança a cabeça negativamente, enquanto balança os pés no ar, feito uma criança de dez anos.— Ainda não. Acho que o nosso irmão estendeu um pouco