Capítulo 2

A N T E S

"— Não vale espiar, Derek, por favor! — Monnie pedia e eu só conseguia rir enquanto ela se esforçava para ficar na ponta dos pés para tapar meus olhos.

— Não vou. — asseguro.

— Estamos quase lá! Mantenha seus olhos fechados, Derek Sant! Estamos... quase... agora...

De repente ela se afastou e minha única reação foi abrir os olhos. O que vi, em seguida, me aqueceu o coração.

Minha família e meus amigos ali, diante de mim, todos reunidos, para comemorar meu aniversário.

Todos começaram a cantarolar um alto parabéns para você, mas eu só conseguia olhar para minha esposa porque eu sabia que tudo aquilo tinha sido idéia sua. E eu só conseguia amá-la mais por me fazer tão feliz.

— Parabéns, Derek Sant! — ela murmurou, se aproximando de mim.

— Deixe que eu adivinhe... — fiz um gesto abrangente para todos. — Isso tudo foi idéia de quem?

Todos começaram a rir e como já era de se esperar, apontaram prontamente em direção a Monnie, que gargalhou alto.

— Eu sei que não curte esse tipo de coisa, amor. Mas... mas eu realmente queria fazer isso. O quanto está aborrecido comigo?

Enruguei a testa e fiz a melhor expressão de aborrecimento que consegui. Pude ver a tensão no corpo e no rosto de Monnie.

Me aproximei dela lentamente, ainda fingindo estar chateado.

Quando me aproximei o suficiente de seu rosto perfeito, abri um sorriso largo.

— Eu só consigo te amar mais, Monnie Elizabeth. Obrigado por tudo isso.

E, então, tomei seus lábios em um beijo demorado. Todos gritavam, assobiavam, mas eu não estava nem ai. A única coisa que me importava, naquele momento, era aquela mulher.

E aqueles lábios..."

H O J E

— Feliz aniversário, Dekinho! — a voz de Sabrina soou, despertando-me de minhas recordações.

Desviei meu olhar para ela e forcei um sorriso. Sabrina tinha nas mãos um pequeno cupcake com uma mini vela em cima. Se aproximou de mim, animada, sinalizando que eu apagasse a bendita vela.

Mesmo sem um pingo de vontade, atendi seu pedido. E, numa única soprada, a vela apagou.

— Obrigada, Sabrina. — disse, incapaz de esconder que não estava nem um pouco animado.

Minha irmã franziu a testa e fez uma careta, em seguida.

— É seu aniversário, Derek! Será que pode ao menos tentar colocar um sorriso nesse seu rostinho bonito?

— Só porque é meu aniversário não significa que eu tenho de parecer feliz. — dou de ombros.

Ela revira os olhos.

— Pode revirar os olhos quantas vezes achar necessário. Não vou fingir que estou feliz porque isso te agrada, Sabrina. — alfineto-lhe.

— Jesus! Quanto anos está completando? Oitenta?!!

— Por favor, Sabrina. Eu realmente quero ficar sozinho. — peço baixinho, voltando meus olhos para o amontoado de papéis em cima da mesa.

Puf! Como se eu realmente fosse ler qualquer um dos papéis que estão diante de mim.

A única coisa que eu vou fazer é algo que já faço constantemente: olhar para o nada e refletir sobre o quanto minha vida é uma verdadeira merda.

— É seu aniversário, Derek! Não pode desejar ficar sozinho hoje...

— Posso desejar ficar sozinho qualquer dia da minha vida, inclusive hoje. Não se intrometa.

— Nossa! Essa doeu. — ela ri nervosa. — Mas, tudo bem, tudo que você tem dito desde que ela se foi são palavras que machucam. E mesmo assim, eu ainda continuo amando você.

Fico calado.

— Mas, quer saber...? — ergo meus olhos para Sabrina. — eu realmente sinto falta do velho Derek. Aquele que tinha um sorriso lindo e largo. Que dizia palavras amáveis. Que ajudava os outros e não ficava o tempo todo encarcerado no próprio mundo. Eu realmente sinto falta dele. Queria saber se ele ainda poderia retornar.

Não foi uma pergunta. Mas no fundo, eu sabia que Sabrina esperava uma resposta. E, embora não fosse o que ela queria ouvir, eu precisava dizer.

Precisava ser sincero.

— Não. Aquele Derek não vai voltar. Porque o velho Derek morreu naquele acidente, Sabrina. Você sabe disso. É só olhar para mim e então vai ver que não sou o velho Derek.

— Estou olhando para ele nesse minuto, não pode me dizer que ele morreu.

— Você não está olhando para o mesmo Derek de dois anos atrás, Sabrina. — insisto, já irritado o bastante. — Você sabe.

— Não, não sei. — seus olhos estão marejados. — Mas, tudo bem. Se você diz. No entanto... ainda tenho esperança de que ele retorne.

— Desculpe frustrá-la, mas é perda de tempo. Esperar que o velho Derek retorne é perda de tempo.

— Por quê...?

— Não pode esperar que alguém que viu a mulher e o filho morrer diante de si volte a ter algum tipo de alegria, Sabrina. Eu sei que me tornei alguém desprezível. Mas tenho bons motivos para ser quem sou agora. Não me julgue. Não me julgue antes de se colocar no meu lugar.

Me calo. Sabrina deposita o pequeno bolinho sob minha bancada e se retira da sala.

Nada mais é dito por nenhum de nós.

A decisão de passar o restante do dia no escritório foi proposital. Sabia que se saísse ganharia algum destaque por ser meu aniversário, por esse motivo, decidira ficar trancado durante todo o dia no escritório. Boa parte das horas fazendo nada além de olhar para o teto e pensar sobre a vida..

Ou, sobre o que sobrou dela.

Não havia percebido que tinha caído no sono — em meio aos papéis jogados na mesa — até ser despertado por toques frenéticos na porta.

Espremi meus olhos e fiz uma careta. Olhei para o relógio em meu pulso que já marcava nove e quarenta da noite.

Levantei-me preguiçosamente da cadeira e caminhei até a porta. Damen estava parado atrás da mesma.

— Tudo bem? — ele questionou ao me ver com uma cara, provavelmente, péssima.

Afirmei, balançando a cabeça e coçando a nuca.

— Sim. Só... acabei adormecendo. É só isso.

Ele assente.

— Hã... eu espero que não se aborreça, mas... feliz aniversário, irmão!

E, sem me deixar ao menos respirar, Damen me abraçou.

Não senti raiva de seu ato inesperado. Não sentia raiva das felicitações.

Não sentia raiva por estar aniversariando.

Apenas não conseguia achar justo parecer feliz sem a ter ao meu lado. Não dava para fingir. Eu nunca fui um bom ator. Não era justo comemorar a vida, sabendo que minha mulher e meu filho estavam mortos.

Retribuí o abraço de meu irmão e aproveitei aquele ombro amigo para repousar por alguns segundos.

Damen me entendia, ainda que pensássemos coisas distintas, ele me respeitava e entendia.

— Obrigado, meu irmão. De verdade. — digo, um sorriso surge em seus lábios.

— Sei que não tem comemorado seu aniversário desde o ano passado, mas eu precisava te parabenizar. É meu irmão e eu amo você. Sabe disso.

— Eu sei. Obrigado, Damen.

Sorrio fraco.

— Eu também estou aqui... bom, eu tenho um pedido para fazer.

Enruguei a testa, confuso e curioso.

Damen molhou os lábios com a lingua e prosseguiu

— Vai parecer loucura, mas... preciso que me acompanhe em um lugar.

— Lugar...? Que lugar?

— Eu... bom... há um bordel, Derek...

— Damen, está maluco? — eu lhe corto de imediato. Mas que idéia absurda é essa? Meus dois irmãos resolveram conspirar contra mim de maneiras distintas, é isso? — Eu não vou a um bordel. Eu jamais frequentaria um local como esse que está mencionado, entendeu?

— Não. Não é isso que está pensando. — ele diz maneando as mãos com velocidade. — Ouça, é um bordel antigo. A dona é extremamente conhecida. Falei com alguns conhecidos meus que... bem, frequentam o local.

— E daí? — rebato com indiferença.

— São garotas jovens, Derek. Garotas que tiveram a infelicidade e ingenuidade de entrar nessa vida por um deslize. Elas possuem dívidas. Eu acredito que qualquer uma cederia seu ventre em troca de liberdade.

— Damen, isso é... — ergo-me da cadeira. — perfeito! Como não pensei nisso antes? É perfeito! Deus do Céu! É claro que sim! É claro que qualquer uma aceitaria a proposta! Que idéia genial, irmão...!

— Você... Você acha?

Damen parece meio desconfiado de si. Parece que meu irmão me fez uma proposta que nem mesmo ele havia colocado fé.

Mas a verdade é que sua idéia é simplesmente genial.

— É claro que sim. Preciso que me leve até lá.

— Podemos ir amanhã, ou quando quiser.

— Agora. — rosno. — Vamos agora!

— Mas você disse que não queria sair hoje, Derek.

— Mudei de idéia. — balanço os ombros com desleixo. —  Vamos a este tal bordel. Venha, — jogo a chave do carro em suas mãos. — Você dirige.

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