— Beth, aqui estão eles. — o grandão nos anuncia.
Beth, é, de fato, uma mulher madura. As camadas de maquiagem em seu rosto conseguem esconder bem a idade que ela carrega nos ombros, mas dá pra ver que é uma mulher vivida. Em todos os sentidos, diga-se de passagem.
— Ora, ora. À que devo a honra, rapazes? — ela gira a cadeira em que está sentada. — Sentem-se, por favor!
Eu estava pronto para abrir minha boca e sem rodeios revelar o motivo de minha vinda até esse ambiente inadequado, no entanto Damen decidiu ser mais rápido que eu:
— Senhora Beth...
— Senhora, não. Jamais. — ela solta uma escandalosa risada. — Me chame só de Beth.
— Beth. — Damen se corrige com um sorriso de canto de boca. — Estamos aqui porque temos uma proposta para lhe ofertar.
— Uma proposta? Que tipo de proposta, garotão? Vou logo avisando que minhas garotas não saem daqui, então se for isso, nem tente. Temos excelentes quartos nos fundos do bordel.
Ela olha para mim rapidamente, o olhar estreito e um sorriso embutido nos lábios. Ela está tentando me paquerar?
— Meu irmão, Derek, decidiu que quer um filho. — ela morde os lábios, ainda com os olhos fixos em mim. — Deixe-me ir direto ao ponto. Não gosto de enrolações. Sei que tem muitas garotas, gostaríamos de propor a uma de suas meninas que seja... Bom... que seja a barriga de aluguel de meu irmão.
Beth piscou os olhos algumas vezes e gargalhou, novamente, estrondosamente.
— Veio procurar isso em um bordel? — a madura mulher diz entre risos. — Você quer um filho e para isso precisa de uma das minhas meninas para ser sua barriga de aluguel?
Ergo o cenho.
— Desculpe-me, mas não posso te ajudar, bonitão.
— Não? — Damen arqueia o cenho.
— Não, coisinha linda. — ela se inclina na cadeira e com a mão aperta a bochecha de Damen que é pego desprevenido e provavelmente odeia seu ato. Beth ergue-se da cadeira e sai detrás da mesa, parando bem a minha frente. — Essas meninas são minhas. Aqui elas possuem tudo que precisam. Não negocio coisas assim. Então... A resposta é não.
Não?
A resposta dela é não?
Ninguém nunca me diz não!
Levanto-me da cadeira num sobressalto que a surpreende.
— Possuem tudo que precisam? — Beth está com os olhos presos em mim e com um maldito sorriso debochado nos lábios. — Como o quê, por exemplo?
— Olha só, ele fala. Achei que fosse apenas um rostinho estúpidamente bonito. — Beth zomba de mim. — Eu trato essas meninas como se fossem minhas próprias filhas, querido. Eu cuido delas, lhes dou comida, vestimentas, um abrigo!
— É um ato muito generoso de sua parte, visto que você também as vende para desconhecidos todas as noites. — rebato-lhe de maneira sagaz.
A mulher revira os olhos. Parece levemente chateada com minha afronta, enquanto eu estou apenas me divertindo com isso.
Ela disse não à pessoa errada.
— Estão perdendo tempo aqui. — ela diz com pouco caso, agora caminhando ma direção oposta à mim. — Se seu irmãozinho quer um filho, o lugar ideal para conseguir isso não é aqui.
Beth abre a porta do seu pequeno escritório e sai, caminhando displicentemente, fingindo nossa inexistência.
— Certo, certo. Beth, acho que não nos entendeu. — Damen passa por mim e praticamente corre atrás da mulher de cabelos dourados e corpo cheios de curvas já não tão desejáveis. — Nós podemos pagar por isso. Pagar um valor muito alto.
Beth gargalha.
— Eu acho que você não entendeu, fofinho: a minha resposta é não. Mesmo que eu aceitasse seu dinheiro, nenhuma de minhas meninas se submeteriam a isso. Um filho só estragaria seu corpo. O corpo, para elas, é seu maior instrumento de trabalho.
— Beth... — Damen tenta, mas eu seguro em seus ombros, o impedindo de ir adiante.
Já chega.
Não vou mais insistir. Não darei um só centavo a esta infeliz. Ela não merece meu dinheiro.
— Damen, está certo. Vamos embora.
Beth me encara nos olhos como se estivesse me fuzilando. Depois, apenas sorri satisfeita por se dar por vencida.
Maldita! Maldita!
— Venha, vamos.
Eu digo e reviro os olhos. Depois apenas caminho em direção a porta.
Meu irmão reluta por alguns segundos, mas eu o encaro de maneira séria. Ele finalmente cede e me segue em direção à saída do local.
Estou irritado. Esfumando ódio, para ser bem sincero. Eu poderia até...
— Espere! Por favor! Espere!
Ouço alguém gritar ofegante. Esse alguém não é Beth, definitivamente. Escuto essa pessoa correr velozmemte em minha direção. Viro-me na intenção de descobrir quem é a pessoa que está tão desesperada assim.
Giro o corpo e automáticamente meus olhos varrem todo o bordel em busca de alguém, e tudo que vejo é a imagem de uma mulher se formar perante meus olhos.
Aqueles olhos verdes podem ser vistos à milhares centímetros de distância. É a garota que avistei quando entrei aqui.
A loira de olhos verdes corre em minha direção, cansada. Ela se ajoelha diante de mim, como se, por um acaso, eu fosse uma espécie de deus. Fico sem reação. Olho para Damen e ele está tão espantado quanto eu.
Há um aglomerado de garotas mais atrás. Lindas e jovens garotas. Não demora até Beth se aproximar de nós juntamente ao seu fiel escudeiro, o homem grandão e mal encarado.
— Pelo amor de Deus, deixe-me ir com você! Eu... Eu escutei tudo. Escutei e aceito sua proposta. Aceito ter um filho seu, apenas... Apenas me tire deste lugar!
— Amanda! — Beth ralha. — Volte já para o quarto! Agora mesmo!
— Não! Não vou voltar! — a menina está chorando e ainda de joelhos perante mim. Ainda não consigo raciocionar. É quase como se meu cérebro tivesse dado pane no sistema. — Este lugar, você... Tudo isso aqui é um inferno! — A garota que agora tem nome; Amanda, procura pelas minhas mãos e as aperta quando encontra. Suas mãos estão gélidas e trêmulas. Ela semicerra os olhos em mim. — Ouvi tudo que disse a Beth. Eu aceito todas as suas condições, a minha única imposição é quite minha dívida com ela e me tire daqui! Este é meu preço! Faça isso por mim, senhor?!
A loira está implorando. Seu olhos estão imergindo em lágrimas. Encaro Damen. Seu rosto não está muito fácil de se ler.
Vamos, Derek, aja! Faça alguma coisa, porra!
Olho para Damen, depois para Beth, sigo até o grandão, depois as garotas e finalizo meu tour em Amanda.
Sem demora, induzo a pobre garota a se levantar, puxando-lhe pelas mãos. Quando estous prestes a decretar minha sentença, a voz de Beth ecoa pelo ambiente:
— Você não vai embora, Amanda! — Beth grita. — Marcos, leve essa mal criada para o quarto! Ela vai aprender o quanto é feio ouvir conversa de gente grande!
Como se fosse um robô, o carrancudo segue rapidamente as ordens da velha infeliz e, em passos firmes, anda na nossa direção. Sem o menor esforço, toma Amanda em seus braços.
A garota esperneia e reluta contra o imbecil, mas é em vão. O homem é o dobro do seu tamanho e peso. É uma luta injusta.
— Não! Por favor, senhor, tire-me daqui! Eu aceito sua proposta, me tire daqui!
Sinto meu estômago revirar, minha cabeça está fervendo e eu nunca me senti tão destemido como agora.
— Quanto ela deve? — digo, a poucos centímetros de Beth.
Damen tenta me conter, segurando firme em meus ombros.
— Não interessa, não estou disposta a negociar. — diz ela, prontamente.
Abro um sorriso cheio de irônia.
— Certo. Tentei de uma maneira maleável, mas não deu certo. — sorrio. — Meu irmão aqui, — aponto para Damen. — ele é advogado. Um dos melhores que você terá o prazer de conhecer. Eu estou propondo a você uma quitagem de contas, e você não tem muita escolha. Esta mulher não é sua propriedade. Eu vou pagar tudo que ela deve e, em troca, ela fica livre para fazer o que bem entender. Sendo assim, eu aconselho que você peça gentilmente para que aquele senhor coloque a garota no chão, vai educadamente me dizer quanto a jovem deve e, por fim, vai me deixar sair com ela. É o melhor a ser feito. Não é, Damen?
Damen semicerra os olhos em Beth, assentindo em seguida. Depois, me encara como se quisesse me elogiar pela tática tomada.
Beth está exalando ódio.
— Ou...? — ela sussurra de maneira quase inaudível.
— Ou vou foder com você e esse seu bordel de quinta categoria. Então, o que prefere, senhora? — faço questão de falar o senhora em alto e bom tom apenas para provocá-la.
Sou o leão faminto e feroz. Beth acaba se tornar uma presa amedrontada.
— Marcos, coloque-a no chão.
Volto meus olhos para o carrancudo. Ele está me fuzilando com o olhar.
Minha vontade é de rir.
Vamos lá, grandão, onde está toda a sua força agora? Penso.
O gigante coloca Amanda no chão que não pensa duas vezes em correr na minha direção.
— Ótimo. Agora só precisa me dizer quanto a garota deve, querida.
Beth trinca os dentes.
— Temos de ir ao escritório. — sua voz sai como num sussurro.
— Damen, você pode resolver isso? — Damen assente e segue Beth.
— Eu nem sei como te agradecer, senhor. Muito obrigada! Muito, muito, muito obrigada de verdade!
Amanda diz com os olhos cheios de lágrimas e pegando-me de surpresa, ela me puxa em um abraço apertado de gratidão. Sorrio, retribuindo meio sem jeito.
— Não agradeça. Uma mão lava a outra, não é mesmo? — ela assente, ainda chorosa, mas com um sorriso fraco nos lábios. — Vamos embora.
— Pode me dar um segundo, senhor? Quero me despedir... pegar minha mochila...
Ela olha para trás. O mesmo grupo de garotas permanece ali, assistindo tudo. Vejo a cara de choro de algumas.
— Leve o tempo que achar necessário para se despedir, mas não precisa pegar sua mochila. A partir do momento que sair daqui, sua vida não será mais a mesma.
— Obrigada, senhor. Nunca vou cansar de agradecer. Obrigada.
Ela está pronta pars outro abraço, mas dessa vez eu identifico rápido o suficiente para evitar que aconteça. Aponto em direção as garotas.
— Vá se despedir, Amanda.
Ela balança a cabeça em afirmação e corre em direção as colegas. Assisto a cena de Amanda se despedindo com um sorriso vitorioso nos lábios. Desvio meus olhos das garotas e os repouso em Marcos.
Ele me encara insatisfeito, posso ver que ela está consumido pela vontade de me causar algum mal irreparável.
Para seu azar, apena lanço-lhe um sorriso extremamente satisfeito.
Há muito eu já não me sentia assim... tão vivo.
Amanda permaneceu quieta durante todo o percurso até a mansão.Enquanto Damen dirigia, vez ou outra eu a espiava pelo retrovisor.Ela estava encolhida no banco de trás, olhava para os lados, como se cada canto da cidade lhe fosse novidade.Era uma cena bonita de se admirar, para ser extremamente sincero.Amanda era como um pássaro, antes preso numa gaiola. Agora ela estava livre.— Amanda, não é? — a voz de meu irmão soa.Ela assente, quieta, sem nos agraciar com sua voz suave.— Vamos conversar sobre o contrato e sobre todos os benefícios que você receberá, certo? Fazemos questão de que você esteja ciente de tudo.— Certo. — ela murmura baixinho. — Muito obrigada! De verdade, eu nem
AmandaA irmã de Derek, Sabrina, me arrasta até seu quarto. Fico sentada em sua cama enquanto ela joga peças e mais peças de roupa ao meu lado. Me parece que, quanto mais roupas ela tira do closet, mais ela parece ter.— A maioria delas são novas. Quase não as usei. Você tem o corpo bem semelhante ao meu, vão ficar ótimas em você.— Não precisa se incomodar. — sussurro, constrangida. Ela ri. Aparentemente de mim.— Não é incômodo algum. Estão aí, jogadas, em desuso. Esta é a oportunidade perfeita.Sabrina finalmente para de procurar por roupas e me encara.— Sapatos. — ela diz olhando para os meus pés. — São pequenos. Quanto calça?— trinta e cinco.Ela parece maravilhada. Abre um sorriso de orelha à orelha. DerekEstava na sala, sentado no sofá maior, esperando Amanda para podermos, finalmente, ir até a clínica realizar os exames necessários.Estava batucando meu dedo contra o braço do sofá, quando avistei Sabrina descendo as escadas.Minha irmã estava saltitante, parecia feliz. E feliz até demais.— A roupa ficou ótima em você, Mandy! — ela berrava, cheia de orgulho. — Eu te disse que ia ficar ótima!Quando rolei os olhos, dei conta de que Sabrina estava falando com Amanda. A menina estava com um vestido mediano, bege, muito bonito. É claro que Amanda estava toda encolhida, visto que Sabrina estava deixando-a totalmente sem graça.— Bom dia, Dekinho. — Sabrina disse, provocando-me.Eu forcei um sorriso.— O que há com você? Nunca parece feliz pela manhã. — rolo os olhos.— Mandy está pronta... — ela diz, ignorCapítulo 7
AmandaDepois que o resultado dos exames saíram, tivemos a certeza de que eu estava adepta a inseminação artificial. Derek não esperou por mais nenhum segundo. Fizemos o procedimento e ficamos na expectativa.A doutora Campbell nos orientou de que deveríamos esperar por um prazo de, no máximo, quinze dias. Ela nos assegurou que este era o prazo ideal para que pudéssemos saber se havia dado certo, ou seja, se eu realmente havia ficado grávida.— Eu nem acredito que o Derek resolveu ir até a empresa. Ele não colocava os pés lá há mais de um ano.Sabrina encheu a mão de pipoca e fez questão de levar todas para a boca. Ela era engraçada.— Por que ele saiu da empresa?
DerekSuspirei fundo, tentando me acalmar e assimilar o que estava acontecendo. E o que tinha acabado de ouvir de meu irmão.Olhei para o lado e Amanda estava encolhida, parecia tão surpresa quanto eu.— Está tudo bem por aqui? — Damen insiste.Coço minha nuca e assinto.— Está, é que...Amanda não me deixa finalizar e passa por mim velozmente.Damen franze o cenho e rola seus olhos para mim.— O que você fez?— Eu? — ergo o cenho. — O que te faz pensar que eu fiz algo?<
Amanda— Bom dia!Derek surgiu com um sorriso radiante nos lábios. Passou por Sabrina e depositou um beijo rápido em seus cabelos escorridos. Depois, acomodou-se numa cadeira em frente a minha.— Como se sente, Amanda? — ele perguntou costumeiramente como sempre estava fazendo nas últimas semanas.Sabrina bufou, fazendo Derek olhá-la de lado.— Por que faz a mesma pergunta, todos os dias? Arg, Derek!Gargalho fraco.— Me sinto ótima, obrigada. — sorrio sem mostrar os dentes. — Com um grande apetite, mas está tudo bem.— Isso é bom, não é? Se você tem fome é porque o bebê também tem, certo?Ele me olha, depois olha para Sabrina.— Está perguntando para mim? Olha só, eu nunca
AmandaHá poucos minutos o sol havia se posto e, pela primeira vez desde que havia chegado aqui, estava sozinha naquela mansão enorme e exuberante.O que era relativamente engraçado e contraditório, visto que minha infância e adolescência se resumiam à grandes dificuldades. Desde não ter um teto para morar a ter de sobreviver, mesmo contra a vontade de minha família, num bordel imundo, submetida a seguir ordens de uma infeliz ordinária.Respirei fundo, insatisfeita com o rumo que meus pensamentos haviam tomado. O que ficou no passado, deveria permanecer lá. Não deveria voltar à tona, certo?— Como está sendo? — A voz de Meg, a governanta da mansão soou, despertando-me, felizmente, de me
Amanda— Derek, você já chegou...Damen automáticamente endireita a postura e senta-se de maneira aparentemente confortável.Derek continuou, de maneira estranha, me olhando pelo rabo dos olhos.— Eu acabei de chegar. Ouvi alguns murmúrios, presumi que vocês estivessem aqui. — ele sorriu sem mostrar os dentes. — Mas e então, vocês vão sair para jantar amanhã?Olhei para os pés. Eu estava completamente constrangida com toda aquela situação. Era desconfortável.— Na verdade, eu estava comentando com Amanda... Desde que ela chegou aqui, não teve nenhum momento de lazer. Ela só fica aqui e... bom, achei que seria interessante sairmos para jantar.Damen ab