Antes de começar a contar a minha história, tenho que contar parte do porquê de ela ter chego onde estou agora.
Meu pai – Bernardo Novack – Comandante do morro do Alemão a anos, já vinha recebendo ameaças contra a mim e meus irmãos, mas até pouco tempo antes do acidente, eram apenas ameaças, depois do acidente, soavam como avisos, gritos silenciosos de que seus filhos, principalmente eu, nunca estaríamos seguros.
As ameaças vinham mais direcionadas a mim pois eu tinha um elo com alguém, que a maioria das pessoas mais poderosas do Rio de Janeiro, queriam destruir, o nome desse elo é, Thiago Miranda.
Thiago Miranda – Comandante do morro da Maré –. Surgiu na minha vida através do irmão dele, Tyson Miranda, que estudava comigo e por sua vez, namorava com a minha melhor amiga, Rafaela Novais. Éramos, eu, Tyson e Rafaela contra o mundo, inseparáveis, mesmo que Tyson fosse de um morro rival ao que morávamos e que nossos pais comandam, nossa amizade nunca foi algo que sofreu com isso, Tyson já tinha ido a minha casa muitas vezes, meus irmãos gostavam dele como se fosse da família, a rivalidade era entre os morros, não entre nós.
Em uma tarde, depois de ter ficado de castigo por participar de um racha ilegal escondida do meu pai, e estar de castigo, Tyson e eu, pulamos o muro da escola onde estudávamos, e fomos para a praia que ficava a alguns quilômetros dali, passamos a tarde sentados na areia falando sobre a vida e sobre tudo que Tyson estava vivendo naquela época – No auge dos seus dezenove anos – No fim naquela tarde, uma gangue de rua que não gostava dos meus irmãos e nem de mim, me viu com Tyson, eram onze pessoas contra duas, a confusão começou e eu nem vi quando Tyson teve tempo de avisar o irmão, quando escutei o barulho da arma sendo disparada, todos paralisaram, e foi ali que eu vi Thiago Miranda pela primeira vez.
Lá estava ele, com uma camiseta preta e um short jeans, cabelos raspados e seus olhos furiosos, a arma apontada para as pessoas que estava, nos cercando e que, já tínhamos batido.
– Flashback –
— Saiam! – Thiago falou apenas uma palavra, e todos que estavam ali, saíram de perto de nós.— Tyson, eu estou encrencada? – Pergunto ao Tyson assim que ele se aproxima de mim e Thiago andava em nossa direção.— Relaxa! – Tyson fala e vai até o irmão— Que droga você veio fazer nessa praia? Com essa garota Tyson? – Thiago falou olhando para mim por alguns segundos.— Não tivemos todas as aulas Thiago! A culpa não é dela! – Tyson fala e Thiago guarda a arma.— Vamos para casa! – Thiago falou e eu olhei para Tyson.— Vem Sophia, te levo em casa depois! – Tyson falou e eu apenas segui os dois. Assim que chegamos na casa dos dois, Tyson conversou com Thiago e foi para o banho, me deixando plantada na sala, revirei os olhos e joguei a cabeça para trás por conta da frustração.— Isso deve estar doendo! – Thiago fala e me faz dar um pulo por conta do susto.
— O que? – Pergunto sem entender e vejo ele rir sem graça e apontar para a minha mão, que estava sangrando.— AH! Droga! Desculpa! – Falo e ele se senta ao meu lado, encarando meus olhos.— Me dá sua mão! Eu cuido disso! – Thiago pegou minha mão e cuidadosamente fez um curativo, estranhei sua atitude, mas fiquei quieta, observando ele, eu nunca tinha visto alguém ter um olhar como o dele, tão secreto e indecifrável, mas cativante também.Quando Thiago terminou de fazer o curativo, Tyson desceu as escadas e nos encarou, desviamos nossos olhares que estavam cravados um no outro.
— Vamos Sophia? – Tyson perguntou e eu levantei do sofá.
— Vamos! Kauan ficou sabendo que eu estava na praia, então estou bem encrencada! – Falo e Tyson ri.Eu já estava pronta para ir embora quando voltei meu olhar para Thiago, que ainda me encarava, andei até ele respirando o mais fundo que podia.
— Obrigada por ter me ajudado! – Falo e ele concorda com a cabeça.— Boa sorte com seus pais! – Thiago fala e eu saio da casa.– Fim do Flashback –
Dois meses depois, Thiago foi para a minha casa pedir para namorar comigo, oficialmente, meu pai deixou, e os morros se tornaram aliados, nosso namoro foi incrível, mesmo eu tendo dezessete e ele vinte, Thiago me fez ver o mundo como algo mágico, incrível, cheio de pessoas e oportunidades a serem vividas, em um ano, Thiago me fez amar a ele, como eu jamais amarei outra pessoa.
Um ano e meio depois de assumir nosso namoro, descobri que meus enjoos não eram apenas por conta da minha alimentação, e sim, por conta da gravidez, quando contei para Thiago, ele teve a melhor reação possível, programou uma festa onde anunciamos a gravidez a todos.
Na volta da festa, insisti em ir sozinha para casa pois teria que ir para a faculdade no dia seguinte, prometi para Thiago que tomaria cuidado e que nada aconteceria, mas algo aconteceu, no caminho, um carro preto começou a me seguir, acelerei o quanto pude, mas mesmo assim, conseguiram me alcançar, meu carro capotou cerca de cinco vezes, fui arremessada para fora do carro, e nos pequenos instantes que eu estava consciente, pude ver um homem andando até mim, em seguida, apontando a arma, mantive meus olhos abertos por alguns instantes para olhar para o meu assassino, que usava mascara, seus olhos eram cruéis, mas ele excitou, fechei os olhos e senti o impacto do tiro.
Acordei três dias depois, o tiro pegou no meu ombro, mas, minha maior perda, foi saber que eu havia perdido o bebê, Rafaela me contou e chorou junto comigo, depois de tudo, não consegui olhar para Thiago, mesmo ele indo toda noite para o hospital, eu pedia para dizerem que eu estava dormindo, sei que ele sabia que não era verdade, mas aceitou cada uma das minhas desculpas, que foram muitas.
Um mês depois, Thomas, meu irmão mais velho, me forçou a ir no aniversário de Thiago, eu me arrumei e fui, contra a minha vontade, pois mesmo nunca dizendo isso para ele, todos os dias, durante aquele mês, eu me senti culpada por perdermos nosso filho ou filha naquele acidente.
Quando cheguei na festa, Thiago estava na varanda da casa, olhando para todos, atentamente, subi as escadas carregando a pequena caixa com seu presente, assim que nossos olhos se cruzaram, senti a tristeza que dominava ele.
– Flashback –
— Pode parar! É seu aniversário, você merece curtir hoje! – Falo e ele respira fundo.
— É meu presente? – Thiago pergunta e eu sorrio.— Sei que você não gosta de ganhar presentes, mas esse é ao menos aceitável! Abre! – Falo e ele sorri, negando com a cabeça. Thiago abre o pequeno embrulho e encara o relógio de ouro branco dentro da caixa, ele volta a olhar para mim, como se seu mundo estivesse sendo carregado por cada batida do meu coração, a culpa volta, eu tento disfarçar sorrindo.— Eu gostei! Gosto de tudo que vem de você! – Thiago fala e eu sorrio, respiro fundo a me aproximo, segurando sua mão.— Agora me conta o que está acontecendo! Quando cheguei achei que era por minha causa mais agora eu sei que não é só isso, Tyson mal está conseguindo olhar para mim! – Falo e Thiago desvia o olhar e respira, em seguida, deixa uma lagrima escapar.— Eu recebi uma proposta de um chefe de uma máfia, ele quer que eu vá para Miami ainda esse fim de semana, trabalhar para ele! Tyson vai daqui a algumas semanas! – Thiago fala e eu congelo.— Máfia? Não é perigoso? – Pergunto segurando todas as coisas que eu queria falar para ele na garganta.— Garanto que vai ser menos perigoso do que ficar e ver meus inimigos tirarem tudo de mim! – Thiago fala e eu aperto sua mão.— Se estiver fazendo isso por mim, não precisa! – Falo e ele me encara.— Não é por você Sophia, é por mim! – Thiago fala e eu deixo uma lagrima escapar.— Acabamos aqui! – Falo e ele faz uma careta, como se estivesse com dor.— Acabamos aqui! – Thiago fala e eu largo sua mão e desço as escadas da casa do mesmo. – Fim do Flashback –Acredito que Thiago só tenha prestado atenção no presente que dei a ele quando a festa acabou, não era um simples relógio, em sua pulseira, estavam gravadas duas frases do nosso livro favorito – que lemos juntos – mas eu nunca obtive resposta sobre o que estava gravado no relógio. As frases que foram gravadas eram:
never forget me, i'll be thinking about you¹ .Eu estava certa, acabamos ali, naquela noite, depois dela, com a saída de Thiago do Brasil, as ameaças que vieram soavam como uma possível realidade, uma realidade na qual eu estava sempre correndo risco de vida, uma realidade na qual meu pai não dormia a noite para cuidar dos meus pesadelos por conta do acidente, uma realidade na qual meus irmãos, tinham que lidar com as minhas crises de ansiedade e pânico, uma realidade na qual, minha mãe tentava me dizer todos os dias que perder o bebe tinha sido algo terrível mas eu que eu tinha que superar, a realidade na qual eu estava e a verdade sobre ela é que, eu estava perdida.
Depois de meses de terapia para me recuperar do acidente, e mais alguns para me sentir bem outra vez, tomei a decisão que decidiria meu destino pelos próximos quatro anos, arrumei as malas e vir para São Paulo, onde eu, Sophia Harvelle Novack, não era ninguém além de uma estudante de psicologia que havia se mudado recentemente.
Claro que nesses quatro anos que se passaram, eu consegui me recuperar e parar de me culpar por algo que eu não provoquei, também consegui confiar em algumas – poucas – pessoas, consegui rir e me divertir, e até visitar a minha família e amigos sem medo de ser morta no caminho.
Estaria mentindo se dissesse que nunca pensei em Thiago depois da minha vinda, pelo contrário, no início da minha estadia em São Paulo, eu jurei ter visto ele no caminho de volta para casa, mas, era só a minha cabeça transformando a saudade em matéria.
Hoje, depois de formada, decidi que chegou a hora de voltar para casa, mesmo que casa seja uma palavra que não define ao certo um lugar, acredito que, minha casa é onde as pessoas que eu amo estão.
Dicionário de Palavras:
Frase:
never forget me, i'll be thinking about you¹ .Tradução:nunca esqueça de mim. Estarei sempre pensando em você.
Termino de arrumar meu cabelo e respondo mais umas das vinte mensagens que minha mãe me mandou, minha ida para o Rio de Janeiro está preocupando mais a ela, do que a mim mesma. Depois de garantir que eu ficaria bem para ela e conferir as malas, novamente, visto meu macacão preto de tecido leve, pois segundo Kauan – Meu irmão – está fazendo mais calor que o normal por lá. Antes de sair do apartamento onde passei os últimos quatro anos da minha vida, respiro fundo e dou uma boa olhada no mesmo, que agora seria da filha de uma ex funcionaria do meu pai, Carol Bertholo, filha de Mariza Bertholo – vulgo Mari – alugou ele de mim e garantiu que manterá ele em perfeito estado. Respiro fundo e dou um jeito de carregar minhas malas
Acordo mais cedo do que o normal, olho pela janela e o sol ainda está terminando de nascer, tomo coragem para levantar da cama e vou para o banho, sem muita demora, saio do banho, coloquei uma calça preta e uma blusa quedeixa minha barriga a mostra, depois de comer um pouco da salada de frutas que minha mãe fez ontem, resolvi sair para correr, deixei um bilhete na geladeira, falando que não demoraria para voltar. Tranquei o portão e comecei a correr pelo morro, e só então o sentimento de estar em casa me invadiu novamente, algumas pessoas me cumprimentaram outras apenas viravam a cara ou sorriam com desdém. Meu pai não é amado por todos, assim como o resto da família, mas uma das coisas que me fazem sentir em casa novamente, é justamente o fato das pessoas que vivem no morro, nunca perderem a esperança de ter algo melhor, vi algumas pessoas indo trabalhar, crianças indo para a escola, meninas nas calçadas
Me reviro na cama, mas logo levanto, desço as escadas e percebo que estou sozinha em casa, dou pulinhos de alegria, quem tem família grande sabe como é raro esses momentos de tranquilidade, abro a geladeira e vejo um pudim, sorrio e mordo o lábio, minha mãe sabe como engordar a família, tiro um pedaço para comer e guardo o resto. Depois de comer , ligo o som no volume máximo, e começo a pular e dançar pela casa , caminho até a lavanderia e pegou a vassoura, o rodo e o balde , vou até à despensa e procuro os produtos de limpeza, depois de achar aumento mais um pouco o som e subo as escadas correndo, vou até o quarto dos meus pais, que é o último do corredor e começo a limpar, depois de limpo passo para o quarto do Thomas, que realmente faz sentido ele querer ser piloto de avião, por que o desastre aéreo só pode ter sido no quarto dele, arrumo tudo e passo pano, em seguida abro a porta do quarto do Kauan
Chegamos ao local do racha e já estava tudo uma verdadeira bagunça, o som dos carros no máximo e a multidão de pessoas dançando e bebendo me fez respirar fundo, andamos até uma parte mais isolada, onde estavam Enzo e Theles.— Oi meninos! – Falo me aproximando deles.— Veio competir? – Theles pergunta.— Quem dera, meu pai me mata se me ver em um carro! – Falo e ambos riem.— Ele te mataria se te visse em uma moto? – Enzo fala rodando uma chave em seus dedos.— Mataria! Pode acreditar! – Meu pai fala surgindo atrás de mim.— Patrão, estava falando agora mesmo para a Sophia que ela não pode competir! – Enzo fala e meu pai revira os olhos, Theles ri e eu faço o mesmo.— Sei bem! Quantos temos para hoje? – Meu pai pergunta se referindo aos competidores do racha.— Tirando o nosso pessoal, temos quarenta carros! – Theles responde com um sorriso vitorioso no rosto.— E a polícia? – Meu pai pergunta.— Demos o pagamento hoje cedo! – Enzo responde e meu pai re
Acordo com o cheiro de café no ar, abro meus olhos tentando não sentir a dor de cabeça que ficava cada vez mais forte, olho ao redor, fico mentalmente envergonhada, mas, logo Diogo surge na porta do quarto sorrindo.— Bom dia, venha tomar café! – Diogo fala e eu levanto.— Bom dia! – Falo e sigo ele até a cozinha. *** — Você não serve para fazer isso! Me dá! – Falo pegando a frigideira das mãos de Diogo que ria por ter derrubado três panquecas no chão.— Nunca pensei que nos daríamos bem! – Diogo fala e eu sorrio.— Você era
Acordo com o barulho do despertador ecoando em meus ouvidos, abro os olhos e giro para o outro lado da cama, desligo o despertador do celular e levanto da cama, ando até o banheiro e lavo o rosto, tomo um banho rápido sem molhar o cabelo e coloco um short de moletom cinza e uma camiseta da mesma cor que deixa minha barriga aparecendo, desço as escadas e vejo o Kauan sem camisa virando o bacon na frigideira, abraço ele por trás e beijo sua bochecha.— Bom dia! – Falo e ele sorri.— Bom dia pirralha. – Kauan fala e eu reviro os olhos.— Que cena mais linda, acho que vou chorar! – Bryan fala parado na porta da cozinha, sem camisa também.— Bom dia ciumento! – Falo beijando a bochecha dele e o mesmo sorri.— o pai E a mãe já saíram? – Bryan pergunta.— Thomas também! – Kauan responde e eu sorrio.— A CASA É NOSSA!!!! – Bryan grita e Kauan gargalha.— Parece puta, de tão escandaloso. – Rafaela fala entrando na
Na manhã seguinte, acordei sozinha na cama e com batidas na porta do meu quarto.— Sophia, posso entrar? – Kauan pergunta.— Espera um pouco. – Falo e corro colocar uma roupa. Depois de colocar um pijama, abri a porta.— Vim conversar com você sobre uma coisa, que eu vi hoje de manhã. – Kauan fala.— Diga! – Falo e Kauan respira fundo.— Você e Diogo passaram a noite juntos? Vi ele saindo daqui! – Kauan fala e eu fecho os olhos.— Kauan, você sabe a resposta, mas, antes da bronca, eu sou adulta! – Falo e ele suaviza a expressão. — Sophia, você sabe que a gente não vai te impedir, mas se isso for pelo mesmo caminho que foi com o TH, você vai conseguir lidar? – Kauan pergunta e eu sinto vontade de socar ele por tocar no nome do TH.— Kauan, eu sei que eu sempre vou ser a irmãzinha indefesa de você tem que proteger, mas, eu não sou mais a menina boba que
Na manhã seguinte, meus tios e tias voltaram para os hotéis onde estavam hospedados, passei parte da tarde arrumando minha mala de volta para irmos para casa. *** As semanas passaram tranquilamente, revezei com meus irmãos os plantões da boca e conversei com Bryan sobre a Alina, e pude entender um pouco do que ele está sentindo em relação a morte dela. Meu irmão e a Alina se conheceram quando ela veio morar no morro com o Fabricio e desde a primeira vez que Bryan viu Alina, ele se encantou, ao contrário do normal, Brya