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Capítulo Quatorze: O Seu Toque.

Acordo antes do despertador tocar, Thomas havia saído para ir para o aeroporto, algumas horas antes, mas, antes de sair, ordenou que eu voltasse a dormir pois o dia seria longo, para a minha sorte, peguei no sono novamente em poucos minutos. 

             Olho para o despertador ao meu lado e ele marca, exatamente, 7:45 da manhã, resolvo levantar da cama e ir para o banheiro no meu quarto, já que, dormi com Thomas na noite anterior. 

            Ligo o chuveiro e tomo o banho com calma, depois de escolher a roupa que usaria, vesti a mesma e peguei a bolsa com as coisas para levar para a boca, antes de sair, deixei um bilhete para Kauan e Bryan, que ainda dormiam.

                Almocei ali mesmo, já que Bryan e Kauan haviam saído para resolver assuntos pendentes do morro.

                Quando finalmente decidi ir para casa, o sol já havia sumido e contrariando os pedidos de Kauan, optei por ir para casa a pé mesmo.

                Algumas pessoas me pararam para perguntar dos meus pais, durante o caminho, logo depois de falar com todas ela, continuei andando e a alguns metros de casa, escutei passos atrás de mim, por impulso, coloquei a mão na cintura e notei que, ter deixado a arma em casa não tinha sido uma ideia muito inteligente. 

             Acelero meus passos e continuo ouvindo a pessoa andar bem próximo de mim, respiro fundo e sinto a pessoa puxar meu braço me fazendo ser jogada para trás e bater contra a parede, olho para o homem parado a minha frente com a expressão de fúria estampada no rosto, enquanto sua mão aperta cada vez mais.

— Você está doido? –  Pergunto encarando os olhos de Diogo.

— Que porra é essa aqui Sophia! –  Diogo fala alterando o com de voz e jogando uma revista em mim.

           Olho para a revista caída no chão e vejo a foto que estampa a capa dela, respiro fundo, olhando para a foto, eu e Thiago dançando no salão de festas durante a reunião, a legenda da foto com toda a certeza, é o motivo da fúria de Diogo.

                            "Thiago Miranda foi visto dançando com uma mulher deslumbrante durante um dos jantares mais importantes para a alta sociedade."

— Diogo, me solta! –  Falo tentando manter a calma, ele aperta ainda mais meu braço. 

— Explica isso Sophia, foi só ele voltar que você correu para os braços dele, não é?! –  Diogo fala e eu o encaro. 

— Não seja ridículo, não tem nada demais na foto e você não tem porque fazer essa cena! –  Falo e tiro a mão dele do meu braço e me viro para andar. Sem dar ao menos dois passos à frente, senti meu cabelo sendo puxada e eu novamente encontrar a parede, dessa vez, com mais força.

— Era isso que você queria, voltar pra ele assim que o seu amiguinho passou por aquela porta, sua vadia! –  Diogo fala pressionando a faca que ele segurava na minha barriga.

— SOLTA ELA AGORA OU VOCÊ VAI ENCONTRAR O CAPETA MAIS CEDO! – F* grita engatilhando a arma em sua mão e apontando a mesma para Diogo.

— F*! – Falo me soltando das mãos de Diogo e correndo até ele, abraçando o mesmo

— Nossa conversa não acabou! – Diogo fala e F* o encara pronto para atirar.

— Se você aparecer aqui de novo eu mesma aperto o gatilho! –  Falo encarando Diogo que apenas me encara de volta e sai andando.

— Vai me explicar o porquê do melhor amigo dos seus irmãos apontar uma faca pra você? – F* pergunta e eu respiro fundo.

— Digamos que eu tenha um péssimo gosto pra homens! –  Falo e ele sorri, aliviando a tensão que estava no ar.

— Vamos, vou te levar pra casa e conversar com os seus irmãos sobre esse cara! – F* fala e eu respiro fundo e começamos a andar.

                Mesmo que eu pedisse para Fabricio não falar com meus irmãos, ele iria falar, então, não me dei ao trabalho de tentar intervir. Depois da conversa deles, entrei na cozinha e encontrei meus irmãos comendo.

— Tem baile hoje, vai ir? –  Bryan pergunta e eu nego com a cabeça.

— Pode ir e por favor, arraste o Thomas e o Kauan com você, esse velhos precisam sair de casa. –  Falo e ele gargalha. 

— Quem sabe eles arrumam namoradas! –  Bryan fala e eu congelo no meio da sala.

— Mudei de ideia, vou trancar os três no porão! –  Falo e ele me encara. 

— Não temos um porão, sua doida! –  Bryan fala e eu seguro o riso.

— Temos que m****r fazer um! – Falo e ele gargalha se jogando no sofá.

— Você é muito ciumenta! –  Bryan fala e eu o encaro.

— Genética meu amor, genética. –  Falo e rimos.

                Meus irmãos são tudo para mim e enquanto eu tiver eles, estarei bem. Por fim, sai de casa antes deles, não para ir para o baile, mas sim para ir à praia.

                Tiro os chinelos e sinto a areia da praia tocar meus pés, usei a desculpa de que, precisava pensar um pouco.

              Existem momentos em que, nossas tempestades internas nos encontram novamente, e só nós mesmos, podemos, verdadeiramente, as enfrentar. 

              Nesse momento, após ter estacionado meu carro na beira da praia, estou andando pela areia, a mesma praia em que vi Thiago pela primeira vez.

Essa praia, foi o lugar onde conheci o amor, mas, também nela, conheci o medo, e de algum modo, causado por, seja lá quem, amor e medo sempre andam lado a lado.

                Infelizmente, como todos os lugares, onde guardamos lembranças, sejam elas do passado que gostamos ou não, além de lembranças, ela carrega uma beleza imensa, que cativa quem a vê, sem ao menos imaginar quantas lágrimas já foram derramadas dentre cada um dos grãos de areia presentes nela.

                Aqui, onde o passado e o presente se juntam em meio aos fantasmas que retornaram a minha vida, sinto o vento bagunçando meus cabelos e trazendo com ele, a paz, que rega meus tormentos internos e aparentemente, por algum motivo, acalma eles. 

                Apenas sentei na areia, vestindo apenas o meu short jeans preto e a parte de cima do biquíni, a praia, por incrível que pareça, estava vazia, aparentemente, essa é a única praia onde as pessoas não vêm com frequência, ironicamente, é a mais bonita que já vi. 

               As ondas do mar, estavam calmas, como se algo entre todos os pesadelos já vividos ali, estivesse em paz. 

              As observei por algumas horas, depois de entrar no mar, e sentir me familiarizar com a água, nadei alguns metros, até, decidir ir para a lugar mais bonito dali uma pequena montanha, formada apenas por pedras. Comecei a subir até o local onde as lembranças ficariam mais fortes. 

                Assim que cheguei, sorri ao perceber que tudo ainda estava no mesmo lugar, ao menos a pequena montanha, que me ligava ao passado, não havia sido destruída, nem pelo passado, nem pelo tempo. 

                A visão da praia, que estar na montanha proporciona, é algo deslumbrante, sorri, ainda atormentada por tudo o que havia acontecido, nesse mesmo lugar, porém, nem todas as lembranças marcadas nessa praia, sempre foram ruins, algumas, meu coração sempre fará questão de guardar, lembranças as quais, foram vividas com uma pessoa, pessoa que não me pertence mais, mas, que voltou, recentemente, para lembrar que um dia, elas foram vividas e, foram dias de incríveis e aterrorizantes, momentos felizes, eternizados não só em meu coração, mas também, eu diria, que em minha alma.

                Sentei ao lado da pedra que marcava as iniciais T&S com um pequeno coração ao lado, ali, fechei os olhos, encontrando com o vento novamente, apenas, ele, com seu silêncio, regado pôr o barulho da minha mente, que embaralhava tantos pensamentos, que nem se quer notei, alguém chegando no local onde eu estava até a voz grave e estranhamente familiar, ecoar em meus ouvidos.

— Parece que não sou o único que ainda lembra o caminho! –  Thiago fala me fazendo virar para ele. 

— Thiago! –  Falo assustada, levantando rapidamente. 

— Eu não quis te assustar! –  Thiago fala e eu respiro fundo, evitando seus olhos. 

— Eu só, não esperava que você fosse vir até aqui! –  falo e ele dá um sorriso de lado.

— Acordei com vontade de vir, esse lugar e as lembranças que ele carrega, de tempos em tempos, precisam ser revividos. –  Thiago fala olhando fixamente para os meus olhos.

       Thiago sempre teve o incrível poder de dominar qualquer pessoa com apenas um olhar, infelizmente, comigo, essa técnica sempre funcionava, por isso evitei olhar em seus olhos, eles iriam refletir o que a minha mente gritava que eu, não deveria sentir, o que eu já estava sentindo. 

           Saudade do passado.

— Você ainda gosta desse lugar? –  Pergunto por impulso.

— Nunca deixei de gostar. –  Thiago fala.

— Bom, acho que já pensei o suficiente, melhor eu ir! –  Falo e ele nega com a cabeça.

— Você tem medo de mim, agora, Sophia? –  Thiago pergunta tocando meu braço e involuntariamente, meu corpo reage ao seu toque.

— Não. –  Falo tentando manter a calma 

— Você ainda mente mal. –  Thiago fala e eu respiro fundo, amaldiçoando os astros por me fazerem reconhecer seu perfume.

— Não dificulte as coisas Thiago! –  Falo e ele toca o meu rosto com a mão, acariciando minha bochecha, involuntariamente, fecho os olhos.

        A imensidão de seu toque, fez meu coração reagir e eu, involuntariamente, querer chorar.

— Eu sei que o que eu fiz foi injusto, mas você não pode fugir tentar de mim para sempre! –  Thiago fala e eu finalmente, olho em seus olhos. 

— Eu não estou tentando fugir, só não precisamos, falar sobre o óbvio, não agora! –  Falo e ele fecha os olhos, suspirando, provavelmente, tentando encontrar as palavras para falar.

— Eu faço mesmo parte só do seu passado? –  Thiago pergunta e eu sinto o medo, carregando suas palavras 

— Sim! –  Falo e obviamente, minto, torcendo para que ele não perceba.

— Então por que você sentou exatamente ao lado das nossas iniciais? No lugar onde tudo começou? Por que não consegue olhar nos meus olhos sem desviar? –  Thiago pergunta e eu tento formular as palavras.

— Thiago, você foi embora! Não respondeu minhas mensagens e, agora, está de volta, e sim! Isso me afeta, não sei como ou o porquê, mas sei, que a sua presença aqui, nesse lugar, ou, seja lá onde for, me afeta, por quê, por meses eu esperei te ver e você nunca voltou, não enquanto eu ainda acreditava no amor que você jurava ter por mim! –  Falo e sinto seus braços, me puxarem para o encontro do seu peito, e mais uma vez, em dias, o passado parecia tão convidativo, ao ponto de ser revivido novamente. 

— Eu sei que você acha que fui egoísta o tempo todo, mas, eu quero explicar tudo, acredite, não teve um segundo sequer, que eu não tenha pensado em você! –  Thiago fala e eu me afasto dele 

— Então, porquê nunca voltou? –  Pergunto e ele desvia o olhar, sei o que significa, eu toquei na ferida. 

— Eu voltei, mas, era tarde demais e perigoso demais. –  Thiago fala e escuto meu celular começar a tocar, ignoro o mesmo 

— Tarde demais? –  Pergunto e o barulho do telefone não para 

— Eu precisava proteger você Sophia! Te vi quase morta naquele hospital, não sabia direito o que fazer! – Thiago fala e eu sinto as lagrimas chegando. Não respondo.

— Por favor, não chora! – Thiago fala acariciando meu rosto.

                Thiago me faz olhar para seus olhos, que também estão tristes, sinto a dor que ele carrega, agora, sem sua barreira de proteção, vejo que ele também sofreu quando foi embora.

                Thiago se aproxima, cola nossos corpos, sinto todo meu corpo arrepiar, sua mão percorre o meu pescoço, sabendo exatamente onde e como tocar, sua boca se aproxima da minha, e então, nos beijamos. O beijo fluiu calmo, cheio de sentimentos e saudade, não éramos mais dois jovens, éramos adultos, que magoaram a si mesmos e ao outro e agora, em meio a um beijo depois de anos, estavam aos corações alguns  minutos de paz.

                Paramos o beijo e ficamos nos encarando, até meu celular começar a tocar e eu voltar a realidade.

                Bryan havia ligado para falar que Heitor, pai do Diogo, estava no hospital entre a vida e a morte.

— Preciso ir! – Falo olhando para Thiago que ainda segurava a minha mão.

— Tudo bem, mas me prometa que vamos ter a nossa conversa em breve! – Thiago fala e eu concordo com a cabeça.

— Em breve! Tchau Thiago! – Falo e ele solta minha mão, mas fica na montanha.

                  Por ironia do destino, o passado voltou a minha vida trazendo tormento a paz que havia se instalado em meu presente, e, durante um encontro cruel com meus fantasmas e tormentoso do passado, o presente, voltou a me chamar, trazendo a realidade cruel à tona, e, deixando claro que, por mais que eu quisesse, o passado não poderia ser mais vivido e, o presente, a partir de agora, traria de volta quem um dia, deixei ir embora, trazendo com ele, a incerteza de não saber qual caminho seria seguro o suficiente, para seguir.

               O passado, que anteriormente, era o vilão que um dia, já havia dominado meu coração, com alegrias imensas, retornou, quase como um mocinho. No entanto, o presente, mostrou as garras cruéis, e por sua vez, ocupou o lugar de vilão, em um pobre coração, sem rumo.

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