03. Conversa Honesta

A praia estava relativamente vazia naquele fim de tarde. O som das ondas quebrando suavemente na areia era um contraste relaxante com o ritmo agitado da cidade. Alice e Ravi caminhavam lado a lado, em silêncio por um tempo, apreciando o cenário e o simples fato de estarem ali.

— Você vem aqui com frequência? — Alice perguntou finalmente, quebrando o silêncio, pois não sabia exatamente o que deveriam conversar.

Ravi sorriu de lado, mantendo os olhos no horizonte.

— Sempre que posso. Adoro a tranquilidade. Me ajuda a pensar.

— Pensar no quê?

Ele deu de ombros.

— Em tudo. Na vida, no trabalho... nos desafios que vêm com as escolhas que fazemos.

Alice o observou de canto de olho, notando o jeito como ele falava com uma sinceridade que a deixava desconfortável, mas de uma maneira boa. Como se estivesse abrindo uma pequena janela para que ela pudesse ver um lado mais vulnerável dele.

— E você? — Ravi perguntou, interrompendo os pensamentos dela. — O que te ajuda a pensar?

Alice soltou uma risada curta, mais de nervosismo do que de humor.

— Eu não tenho muito tempo para pensar, na verdade. Minha vida é uma correria... estudo, trabalho, tenta manter a cabeça fora d’água.

Ravi assentiu, respeitando o tom dela.

— Imagino que deve ser difícil — ele comentou, com uma empatia genuína que surpreendeu Alice.

Ela balançou a cabeça, olhando para os próprios pés enquanto caminhavam pela areia.

— É o que é — disse, com um suspiro. — A vida nunca foi fácil pra mim, mas eu me acostumei. Tenho que lutar pelo que eu quero. Não tenho outra escolha.

— E o que você quer, Alice? — a pergunta de Ravi foi feita com um tom suave, mas atingiu Alice como uma pedra, fazendo-a parar de andar por um momento.

Ela ficou em silêncio, olhando para o mar. Essa pergunta, simples e direta, ecoava em sua mente com mais peso do que ela imaginava. O que ela queria, realmente? Por que, de repente, estava tão difícil responder?

— No momento... Me formar — disse finalmente, a voz um pouco mais firme. — Quero ser atriz, como já lhe disse, mas também quero... quero ser alguém. Alguém que não precisa se preocupar o tempo todo se vai conseguir pagar as contas no final do mês. Quero ter um futuro estável.

Ravi a observava atentamente enquanto ela falava, sem interrompê-la.

— Eu entendo — ele disse, com um sorriso simpático. — Acho que todos nós queremos alguma forma de segurança. Eu já tenho a segurança financeira, mas queria uma segurança diferente. Uma família. Um lugar pra chamar de lar.

Alice olhou para ele, surpresa com essa admissão.

— Sério? — perguntou, não conseguindo esconder o ceticismo em sua voz.

Ravi riu suavemente, balançando a cabeça.

— Sim, sério. O dinheiro e o status não resolvem tudo. Eu trabalho com medicina, e vejo pessoas todos os dias lutando para sobreviver. Não importa quanto dinheiro eles tenham, a luta é a mesma. O medo, a incerteza... são coisas que todos nós enfrentamos.

Alice ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele. Não imaginava qe ele pensasse dessa forma — como alguém que, apesar de suas vantagens, também tinha seus próprios desafios. Talvez ele não fosse tão diferente dela, afinal.

— Você está certo — ela admitiu, finalmente olhando para ele. — Acho que, no fundo, todos nós estamos apenas tentando encontrar um lugar neste mundo.

Ravi sorriu, satisfeito com a honestidade dela. Eles continuaram andando pela orla, o silêncio confortável entre eles, até que ele falou novamente.

— Sabe, Alice, eu não estou tentando complicar sua vida. Mas não posso ignorar o que senti naquela noite. Eu realmente gostaria de conhecer você melhor.

Alice parou, olhando para o mar mais uma vez, deixando o vento jogar seus cabelos para trás. Ela queria acreditar nele, queria ceder à ideia de que talvez houvesse algo mais entre eles, algo que valesse a pena explorar. Mas a insegurança ainda a segurava.

— Eu também senti algo, Ravi — confessou, finalmente. — Mas sou realista. Você pode dizer que as coisas são diferentes para você, que você entende, mas... não é só o dinheiro. É o que ele representa. Sua vida, sua realidade, é um mundo que eu não conheço. E, honestamente, não sei se quero entrar nele.

Ravi franziu as sobrancelhas, como se estivesse tentando decifrar o que ela estava dizendo.

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que, se nos aproximarmos, as coisas vão se complicar. E eu não sei se estou pronta para isso. Minha vida já é complicada o suficiente.

Ele ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Em seguida, deu um passo para mais perto dela.

— Eu não vou forçar nada, Alice. Mas o que eu estou oferecendo é simples. Quero te conhecer melhor. Quero ver para onde isso vai, sem expectativas, sem pressões. Apenas nós dois, tentando descobrir isso juntos.

Alice mordeu o lábio, incerta. Parte dela queria dizer sim, queria aceitar essa oferta e ver onde isso os levaria. Mas outra parte ainda estava presa às suas preocupações, ao medo de se machucar, de entrar em algo que ela não poderia controlar.

Ravi, percebendo a hesitação dela, sorriu de maneira tranquilizadora.

— Não precisa decidir agora — ele disse suavemente. — Mas pense nisso, tá bem? Eu só queria que você soubesse que estou disposto a tentar.

Alice o olhou nos olhos, e por um breve momento, sentiu-se tentada a jogar todas as suas preocupações ao vento e aceitar o que ele estava oferecendo. Mas, ao invés disso, ela apenas assentiu.

— Eu vou pensar — disse, finalmente.

Ravi sorriu, satisfeito com essa resposta. Eles caminharam um pouco mais, em um silêncio confortável, até que finalmente Alice se virou para ele.

— Acho que é melhor eu voltar — ela disse suavemente. — Minhas amigas vão querer saber o que aconteceu.

Ravi riu, entendendo o subtexto.

— Claro. Eu te levo de volta ao campus.

No caminho de volta, Alice sentia a tensão diminuindo, e eles conversaram sobre assuntos mais leves. Filmes, livros, a vida no Rio de Janeiro. Quando finalmente chegaram ao portão da faculdade, Ravi parou o carro e olhou para ela com um sorriso.

— Foi uma boa tarde — ele disse, de maneira descontraída.

— Foi sim — Alice respondeu, com um sorriso tímido. — Obrigada pelo passeio.

— Eu que agradeço pela companhia.

Ela abriu a porta do carro, mas hesitou por um segundo antes de sair. Algo dentro dela, talvez a curiosidade, talvez a conexão que ela sabia que estava lá, a fez olhar para ele mais uma vez.

— Eu realmente vou pensar sobre o que você disse, Ravi.

Ele assentiu, os olhos gentis, mas sérios.

— Sem pressa. Quando você estiver pronta. Eu entro em contato logo. — Disse, se referindo ao fato de que havia trocado os números de telefone.

Alice sorriu mais uma vez antes de fechar a porta e se afastar. Enquanto ela caminhava de volta para o alojamento, seu coração estava dividido. Ela sabia que, por mais que tentasse manter distância, Ravi havia plantado algo dentro dela. Algo que ela não sabia como controlar ou prever. E, de alguma forma, sabia que aquele passeio pela praia era apenas o começo de algo que ela não poderia evitar.

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