Algumas semanas se passaram desde o pedido de namoro e com isso a noite da tão esperada apresentação chegou, e Alice estava cercada pelo frenesi dos preparativos finais. As luzes do auditório brilhavam intensamente, iluminando o cenário em que ela e seus colegas de classe haviam trabalhado por meses. A peça era o ponto alto do semestre para o curso, e, como protagonista, Alice carregava a responsabilidade e a emoção de encantar o público naquela noite. Nos bastidores, ela conferia seu figurino e as marcações de cena, lutando para acalmar os nervos. Ravi havia prometido assistir à peça, o que a deixava ainda mais animada, pois sabia que aquela seria a primeira vez que ele a veria atuando de verdade. Além disso, aquele era o primeiro evento oficial desde que os dois começaram a namorar, e ela não escondia o sorriso ao ver o anel em seu dedo, lembrança da noite perfeita que passaram juntos. Entretanto, o olhar de Alice não passou despercebido por Beatrice, que, do outro lado do cam
As luzes do auditório já haviam sido apagadas, e o teatro estava em silêncio, exceto por algumas vozes que ecoavam pelos corredores enquanto alunos, professores e convidados se despediam. Alice e Ravi caminharam lado a lado pelo campus, trocando olhares cúmplices e sorrisos carregados de afeto. Eles pararam na entrada da faculdade, onde um jardim bem cuidado era iluminado pela suave luz dos postes. Ele segurou a mão dela com um carinho que a fez sorrir, mas ela percebeu que ele estava um pouco mais quieto do que o habitual. — Você está bem? — ela perguntou, apertando suavemente a mão dele. Ravi assentiu, mas havia algo em seu olhar que revelava uma inquietação. Ele hesitou por um momento, como se estivesse pesando as palavras. — Estou... mas, Alice, eu preciso ser sincero. — Ele desviou o olhar, parecendo incerto. — Eu sei que essa noite é sua e que você merece todo o reconhecimento por essa apresentação maravilhosa, mas... não pude deixar de notar como você e aquele seu a
Alice saiu da sala de aula apressada, os livros contra o peito e a mochila desgastada pendendo sobre um dos ombros. Era final de tarde, e o sol do Rio de Janeiro começava a se pôr atrás dos prédios da universidade. Ela estava cansada, como sempre. Entre as aulas, os estudos e o trabalho de meio período, não sobrava muito tempo para respirar, mas era assim que ela gostava. A ocupação constante era um lembrete de que ela estava mais próxima de seu sonho: se formar, e, quem sabe, um dia, ser uma grande atriz. Os corredores estavam lotados de alunos que, assim como ela, se preparavam para sair, provavelmente para curtir o início do fim de semana. Ao virar uma esquina, ela escutou uma risada familiar, um som que fez seu estômago se revirar. Beatrice Kang, a garota com quem dividia algumas aulas, estava parada com seu grupinho de amigos, todos de classe alta, vestindo roupas de grife e carregando os ares de superioridade que ela tanto desprezava. Beatrice a notou imediatamente. — Olha só
O som distante de vozes ecoava pelos corredores da república enquanto Alice permanecia concentrada no material de estudo espalhado sobre sua escrivaninha. O fim de semana pós-festa parecia tranquilo, e ela finalmente tinha um tempo para colocar as leituras em dia, algo que sempre acabava atrasando com sua rotina intensa. Embora sua mente ainda estivesse presa àquele momento rápido, mas significativo, na festa de Halloween, Alice tentava focar em algo mais palpável: seus estudos. Ela rabiscava anotações nas margens dos livros quando ouviu batidas suaves na porta do quarto. Não precisou perguntar quem era, pois a voz aguda e animada de Bianca logo soou do outro lado. — Alice, abre aí! Temos notícias para você! Alice sorriu de leve, guardando a caneta antes de se levantar e abrir a porta. Bianca e Gabriela estavam ali, as duas sorrindo de orelha a orelha, com os olhos brilhando de excitação. Ela arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — O que foi agora? — perguntou, já imagi
A praia estava relativamente vazia naquele fim de tarde. O som das ondas quebrando suavemente na areia era um contraste relaxante com o ritmo agitado da cidade. Alice e Ravi caminhavam lado a lado, em silêncio por um tempo, apreciando o cenário e o simples fato de estarem ali.— Você vem aqui com frequência? — Alice perguntou finalmente, quebrando o silêncio, pois não sabia exatamente o que deveriam conversar.Ravi sorriu de lado, mantendo os olhos no horizonte.— Sempre que posso. Adoro a tranquilidade. Me ajuda a pensar.— Pensar no quê?Ele deu de ombros.— Em tudo. Na vida, no trabalho... nos desafios que vêm com as escolhas que fazemos.Alice o observou de canto de olho, notando o jeito como ele falava com uma sinceridade que a deixava desconfortável, mas de uma maneira boa. Como se estivesse abrindo uma pequena janela para que ela pudesse ver um lado mais vulnerável dele.— E você? — Ravi perguntou, interrompendo os pensamentos dela. — O que te ajuda a pensar?Alice soltou uma r
A manhã estava quente, com o sol do Rio de Janeiro iluminando cada canto do campus. Alice saiu de sua última aula do dia, ainda com a mente distante, pensando no passeio com Ravi. Desde aquele encontro na orla, as palavras dele ecoavam em sua cabeça. A sensação de estar sendo vista por alguém que vinha de um mundo tão diferente era intrigante e, ao mesmo tempo, assustadora. Ela sabia que estava começando a sentir algo por ele, mas ainda havia tantas barreiras. No entanto, os sentimentos conflitantes de Alice precisariam ser postos de lado. Como bolsista integral, ela não podia se dar ao luxo de perder tempo sonhando com algo que talvez fosse impossível. Ela estava na universidade para estudar, se formar e seguir seus sonhos, nada mais. Mesmo assim, as lembranças da conversa na praia com Ravi teimavam em voltar, insistindo para que ela considerasse o que ele havia dito. As amigas de Alice, Bianca e Gabriela, logo a encontraram no pátio. Elas estavam animadas, conversando sobre o
Alice passou os dias seguintes tentando se concentrar em seus estudos. A rotina da faculdade, as leituras extensas, os exercícios práticos e os trabalhos em grupo foram sua tábua de salvação. Ela mergulhou no mundo acadêmico como se estivesse fugindo de algo maior, algo que a incomodava mais do que estava disposta a admitir. Durante o dia, rodeada pelos colegas de classe e imersa nas tarefas, conseguia afastar os pensamentos sobre Ravi. Mas, à noite, no silêncio do quarto, o rosto dele surgia em sua mente, acompanhado por uma avalanche de dúvidas.Ravi tinha sido gentil, atencioso, e ela não conseguia esquecer a forma como ele olhava para ela, como se enxergasse mais do que apenas a garota pobre tentando se formar. Mas, ao mesmo tempo, Beatrice tinha plantado uma semente de insegurança em seu coração. Seria ela capaz de lidar com as expectativas que o mundo de Ravi colocaria sobre ela? E, pior ainda, poderia realmente confiar que ele seria imune às pressões de sua mãe, da sociedade e
Nos dias que se seguiram, a rotina de Alice tomou um rumo completamente novo, pois sua vida estava mais agitada do que nunca.Com o fim do semestre se aproximando, Alice e sua turma receberam como missão preparar uma peça de teatro e ela, escolhida como protagonista, sentia o peso da responsabilidade sobre os ombros.Interpretar o papel principal era um sonho se realizando, mas também um desafio assustador. Ainda assim, o teatro sempre foi seu refúgio, o lugar onde suas inseguranças davam lugar a uma versão mais confiante de si mesma. Os ensaios aconteciam todas as tardes, logo após as aulas. O diretor da peça, um professor exigente, mas apaixonado pela arte, costumava pedir mais entrega de todos. Ele queria que cada cena fosse sentida, que cada palavra falada tivesse um propósito, e Alice entendia o que ele pedia. Encarava cada ensaio como uma oportunidade de se aperfeiçoar e, ao mesmo tempo, de se distanciar da realidade. Sua turma estava animada com o progresso, e ela estava se