Nos braços do CEO
Nos braços do CEO
Por: Vicka Arievilo
01. O encontro

Alice saiu da sala de aula apressada, os livros contra o peito e a mochila desgastada pendendo sobre um dos ombros. Era final de tarde, e o sol do Rio de Janeiro começava a se pôr atrás dos prédios da universidade. Ela estava cansada, como sempre. Entre as aulas, os estudos e o trabalho de meio período, não sobrava muito tempo para respirar, mas era assim que ela gostava. A ocupação constante era um lembrete de que ela estava mais próxima de seu sonho: se formar, e, quem sabe, um dia, ser uma grande atriz.

Os corredores estavam lotados de alunos que, assim como ela, se preparavam para sair, provavelmente para curtir o início do fim de semana.

Ao virar uma esquina, ela escutou uma risada familiar, um som que fez seu estômago se revirar. Beatrice Kang, a garota com quem dividia algumas aulas, estava parada com seu grupinho de amigos, todos de classe alta, vestindo roupas de grife e carregando os ares de superioridade que ela tanto desprezava. Beatrice a notou imediatamente.

— Olha só quem está aqui! A bolsista preferida da faculdade — Beatrice disse com um sorriso cínico, seus olhos estreitos em direção a ela.

Alice apertou o passo, tentando ignorar. Havia se tornado especialista nisso desde que entrara na universidade.

Pessoas como Beatrice adoravam lembrar a ela o quanto sua presença ali era "atípica", como se sua bolsa de estudos a tornasse menos digna de estar naquele espaço.

Mas no fundo ela sabia que a implicância da mulher partia de uma inveja velada, pois ambas faziam o mesmo curso e Alice sempre se sobressaia nas aulas práticas. Ela tinha um talento natural.

— Ei, Alice, não vá embora tão rápido! Estou aqui tentando te dar uma dica — continuou, agora acompanhada por mais risadas. — Você sabia que tem um limite de quanto uma pessoa pobre pode fingir pertencer a um lugar como esse?

Alice parou, respirando fundo. Queria ignorar, mas as palavras de Beatrice sempre pareciam cortar mais fundo do que ela admitia. Se virou lentamente, os olhos fixos na garota que sorria triunfante.

— Não tenho tempo para você, Beatrice. — disse com firmeza, mas sabia que suas palavras soavam vazias.

Beatrice riu novamente, um som cruel e enjoativo.

— Claro que não tem, né? Precisa correr para o trabalho, não é? — Ela gesticulou de maneira exagerada, como se estivesse lavando pratos. — Ah, não, espera. Não tem uma audição hoje? Quem sabe dessa vez você finalmente consegue um papel de verdade, em vez dessas peças de teatro amador?

Alice sentiu o rosto esquentar de raiva e vergonha, mas forçou seus pés a continuarem andando, sem responder. Não valia a pena. Ao menos, era o que tentava dizer a si mesma.

~x~

Algumas horas depois, Alice estava no pequeno quarto que dividia em uma república, sentada à mesa improvisada que usava como escrivaninha. Estava com o rosto apoiado nas mãos, os pensamentos rodopiando entre o cansaço e a frustração. As palavras de Beatrice ecoavam em sua mente, mesmo que ela quisesse desesperadamente que desaparecessem. Sempre era assim. Por mais que tentasse ser forte, às vezes parecia que o peso de sua realidade estava sempre lá, pronto para esmagá-la.

Olhou para o espelho no canto do quarto. Seus cabelos estavam bagunçados, e os olhos, geralmente tão expressivos, estavam cansados.

"Atriz", ela pensou com ironia. Como alguém como ela poderia realmente se tornar uma atriz de sucesso? Sem contatos, sem dinheiro, e ainda tendo que lutar contra o preconceito de pessoas como Beatrice todos os dias?

Ela suspirou profundamente, perdida em pensamentos sobre o futuro que parecia tão distante e, às vezes, inalcançável. Seu coração doía ao pensar em sua mãe, que sempre acreditou tanto em seus sonhos, e no sacrifício que fez para que Alice pudesse estudar ali. "Um dia vou fazer valer a pena", repetia para si mesma como um mantra.

Foi então que a porta se abriu com um estrondo, e Bianca e Gabriela, suas melhores amigas, invadiram o quarto com risadas e energia.

— Alice, você precisa levantar dessa cadeira agora! — exclamou Bianca, sempre a mais animada das três. — Vamos à festa de Halloween da faculdade, e você também vai.

— Não, eu não vou — respondeu, tentando sorrir, mas sem sucesso.

Gabriela se aproximou e puxou uma cadeira, sentando-se ao seu lado.

— Vamos, Ali. Sei que as coisas são difíceis, mas você merece um descanso. Além disso, quem sabe algo bom não aconteça?

Ela suspirou novamente. Parte dela queria desistir da noite e ficar ali, afundada em sua melancolia, mas as amigas tinham razão. Ela precisava distrair a mente. Talvez a festa não fosse uma má ideia, afinal.

— Tá bom, eu vou — cedeu, e imediatamente as duas começaram a se mexer para ajudá-la a escolher uma fantasia improvisada.

Minutos depois, Alice estava em frente ao espelho, vestida com uma capa preta e uma máscara simples. Não era a fantasia mais elaborada, mas era o suficiente. O importante era sair um pouco da bolha sufocante de seus próprios pensamentos.

~x~

A festa de Halloween já estava em pleno andamento quando as três amigas chegaram. O salão principal da universidade havia sido decorado com luzes roxas e laranjas, abóboras esculpidas espalhadas pelos cantos e fantasias de todos os tipos desfilando de um lado para o outro. Alice sentia o coração bater um pouco mais forte enquanto caminhava pelo espaço, tentando se adaptar à multidão e ao barulho.

Não era muito fã de festas, mas havia algo no clima de Halloween que tornava tudo um pouco mais mágico, como se, por algumas horas, todos pudessem ser quem quisessem. "Eu poderia ser uma atriz famosa esta noite", pensou com um sorriso discreto. Era bom imaginar, mesmo que por um momento.

Enquanto explorava a festa, Alice se afastou um pouco de suas amigas, buscando um canto mais tranquilo. Foi então que seus olhos pousaram em um homem que parecia ligeiramente deslocado no meio daquela multidão de universitários. Ele não usava fantasia, apenas uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta simples. Seus cabelos eram escuros, os traços do rosto marcantes, e havia algo em seu olhar que imediatamente chamou a atenção de Alice.

Ele a notou ao mesmo tempo e, para a surpresa dela, sorriu. Um sorriso gentil, quase tímido. O coração de Alice bateu mais rápido. Quem era ele?

O homem se aproximou, e ela sentiu um leve nervosismo crescer dentro de si.

— Oi — ele disse, a voz suave, mas profunda.

— Oi...

— Meu nome é Ravi. — Estendeu a mão desocupada, não disfarçando o sorrisinho quando a mão da moça desconhecida tocou a sua.

— Alice — ela respondeu, sentindo as palavras vacilarem em seus lábios. — Os homens que ela conhecia não costumavam chegar nela de forma tão direta, principalmente em festas.

— Você não parece ser muito fã desse tipo de evento — Ravi observou com um leve sorriso.

Ela deu de ombros, relaxando um pouco.

— Não muito, mas minhas amigas insistiram.

Eles começaram a conversar de maneira leve e descontraída. Começaram falando sobre festas e em algum já estavam compartilhando suas vidas pessoais.

Ravi explicou que já havia se formado há alguns anos, era médico e tinha 28 anos. Estava na festa a convite de alguns amigos. Alice, por sua vez, compartilhou um pouco sobre seu curso e sua paixão por atuar.

A conexão entre eles foi imediata, quase como se algo maior estivesse em movimento. Alice não conseguia parar de olhar para ele, como se algo em Ravi fosse diferente, especial.

— Nossa, você já viveu bastante pra alguém tão jovem...

— É... — Riu, tomando um gole da bebida. — Meus pais acham que ainda é cedo, mas agora meu único desejo é construir uma família. Acho que já vivi o suficiente. Só preciso achar a mulher certa.

— Entendo. — Alice riu, achando interessante o fato de ele parecer alguém tão conservador, mas ao mesmo tempo tão livre.

Ela pretendia perguntá-lo sobre como seria essa "mulher certa", mas, como de costume, as coisas boas não duravam muito para ela. Antes que pudesse, Beatrice apareceu. Seus olhos foram imediatamente para Ravi, e seu sorriso maldoso se formou quando viu Alice ao lado dele.

— Ravi! — Beatrice exclamou, passando por Alice como se ela fosse invisível. — Que bom te ver aqui! Não sabia que você vinha!

— Beatrice. — Ele a cumprimentou de volta, mas sem muita emoção.

Alice sentiu o estômago afundar. Beatrice estava ali para estragar tudo, como sempre. Ela lançou um último olhar para Ravi e se afastou, sem dizer uma palavra. Enquanto saía da festa, ainda podia sentir o olhar dele sobre ela, mas era tarde demais. O encanto havia sido quebrado.

No caminho de volta para casa, no entanto, o rosto de Ravi continuava em sua mente. Algo lhe dizia que aquele encontro não era o fim da história.

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