O som agudo do monitor cardíaco enchia a sala. Ravi estava concentrado, avaliando os sinais vitais do paciente. O ambiente era iluminado por luzes brancas e frias, e o ritmo caótico do hospital ecoava em cada corredor. As mãos experientes moviam-se com precisão, ajustando as doses de medicação e verificando as respostas do paciente a cada procedimento. Era uma rotina familiar, mas a responsabilidade que pesava sobre seus ombros jamais diminuía. Todos os dias, ele estava ali, em batalhas silenciosas pela vida de outras pessoas. — Como ele está? — perguntou uma das enfermeiras ao lado, com o semblante cansado, mas profissional. Ravi ajustou os óculos no rosto e olhou para o monitor por alguns segundos. — Estável, mas vamos manter a observação por mais algumas horas. Ele teve uma resposta melhor à última dose de sedativo — respondeu, sentindo-se levemente aliviado. Era o fim de mais uma longa e exaustiva sequência de plantões no hospital. Os últimos dias tinham sido particularmen
O som suave do vento batendo nas janelas foi o primeiro sinal de que Alice não estava em sua cama habitual. Lentamente, seus olhos se abriram, revelando o quarto elegante e minimalista em que havia passado a noite. Por um breve momento, ela ficou imóvel, tentando lembrar de onde estava. Então, tudo voltou em uma onda de lembranças — o encontro, os momentos no apartamento de Ravi, e finalmente a decisão de dormir ali. Ela se espreguiçou e olhou para o relógio ao lado da cama, notando que ainda era cedo. Com um suspiro, levantou-se, ajeitando o cabelo e olhando para si mesma no espelho do quarto de hóspedes. Sentiu um leve rubor em suas bochechas quando pensou no beijo quente que havia compartilhado na noite anterior, e uma parte dela ansiava por mais. Alice vestiu seu vestido da noite anterior e, de pés descalços, foi até o banheiro, onde improvisou para escovar os dentes usando somente os dedos e a pasta. Em seguida, saiu do quarto, atraída por um leve aroma de café que vinha
A porta do apartamento se fechou com um som surdo assim que Ravi entrou de volta. A tensão no ar era palpável. Ele foi até a cozinha, olhando para o ponto vazio onde Alice estivera há apenas alguns segundos. Sua mãe, Diana, estava ao seu lado, os olhos ainda brilhando de indignação. Ela, no entanto, não tinha ideia da tempestade que estava prestes a enfrentar. Ravi estava tentando processar o que havia acabado de acontecer. O coração acelerado e a raiva crescendo em cada fibra do seu ser. Tudo dentro dele gritava que ele deveria ter feito mais, deveria ter impedido que Alice fosse embora daquele jeito, de coração partido, humilhada. Sua mãe, sempre tão controladora, finalmente havia cruzado uma linha da qual ele sabia que não poderia mais permitir que ela voltasse. Ele cerrou os punhos, tentando manter o autocontrole, mas falhando miseravelmente. — Mãe — começou ele, a voz baixa e trêmula, com uma fúria contida que ameaçava explodir a qualquer momento — o que você pensa que está fa
A semana seguiu devagar, e cada dia parecia um arrastar de horas pesadas para Alice. Após sua conversa com Bianca, ela havia decidido finalmente responder uma das mensagens de Ravi, mas ainda não sabia bem o que dizer. As palavras rodavam em sua mente, um emaranhado de sentimentos que ela mal conseguia compreender. Ela se sentia dividida entre o desejo de deixá-lo entrar novamente em sua vida e o medo de que o machucado deixado pela mãe dele se repetisse, mais profundo e mais doloroso. No entanto, havia algo mais que a preocupava. A peça de teatro da universidade estava se aproximando, e ela, como protagonista, tinha ensaios quase todos os dias. Seu desempenho era crucial, e aquela seria sua grande chance de mostrar que tinha talento para atuar. Mas, com o peso emocional que estava carregando, sua concentração se tornava cada vez mais difícil de manter. Naquela tarde, enquanto se preparava para mais um ensaio, sentada no camarim improvisado, Alice olhou para seu reflexo no espelho
O ensaio da peça continuava a ser o ponto central da rotina de Alice. Os dias passavam rapidamente, e ela tentava se concentrar ao máximo em sua performance, buscando a perfeição em cada linha, em cada movimento. No entanto, o fantasma de sua vida pessoal a seguia onde quer que fosse. A cada ensaio, os olhares de Beatrice a seguiam, repletos de malícia, como se soubesse que Alice estava no limite de suas forças. Naquela tarde, enquanto a equipe preparava os últimos detalhes para a cena principal, Alice foi surpreendida por uma mensagem em seu celular. Era Ravi. "Boa sorte no ensaio de hoje. Queria poder estar aí para te ver brilhar." Ela sorriu ao ler a mensagem, sentindo o coração apertar. Era reconfortante saber que ele ainda se importava, mas também a deixava com uma sensação de peso nos ombros, como se ela devesse a ele mais do que estava pronta para dar. "Obrigada. Eu preciso de toda a sorte possível", ela respondeu rapidamente antes de guardar o celular de volta no bolso.
Já fazia alguns dias desde o confronto entre Alice e Beatrice no ensaio da peça e o impacto do ocorrido ainda reverberava dentro dela, como uma sombra pairando sobre seus pensamentos, pois mesmo que tivesse a enfrentado, nada poderia tirar a razão da outra sobre seu relacionamento com Ravi. A própria mãe dele deixou bem claro como as pessoas que o circundavam eram todas cheias de si e orgulhosas. Se mãe dele agiu daquele jeito, ela sequer gostava de imaginar como seria se conhecesse o restante da família e amigos. Para tentar se manter fora de todo esse drama, ela tinha passado os dias que se seguiram se dedicando aos ensaios e aos estudos, mas naquela manhã de sábado, enquanto tomava um café na pequena cozinha da residência universitária, ela recebeu uma mensagem de Ravi: "Bom dia, Alice. Estava pensando... Gostaria de me acompanhar hoje? Tenho um projeto especial em um dos hospitais e acho que você gostaria de conhecer." Ela leu a mensagem duas vezes. "Um projeto especial?" Não
Depois do passeio ao hospital pediátrico, Alice não conseguia tirar da cabeça a imagem de Ravi interagindo com as crianças. Ele parecia tão à vontade naquele ambiente, tão autêntico, que ela começou a questionar ainda mais as barreiras que construíra entre os dois. No entanto, as palavras da mãe dele ainda ecoavam em sua mente, e isso a fazia hesitar.Na volta para casa, ele parou o carro em frente à residência universitária e olhou para ela com um sorriso sereno.— Foi um bom dia, não foi? — perguntou, com um leve tom de esperança na voz.— Foi sim. Eu não sabia que você tinha esse lado — Alice respondeu, devolvendo o sorriso, mas havia uma leve sombra de preocupação em seus olhos.Ravi percebeu e franziu a testa levemente.— Você está bem?Ela hesitou antes de responder.— Estou, só... pensando em tudo. Foi muita coisa para assimilar, sabe?Ravi assentiu em silêncio, como se entendesse o que ela queria dizer sem que ela precisasse entrar em detalhes.— Se quiser, posso te levar para
Após aquela conversa difícil, Alice passou o restante da semana tentando processar o que havia acontecido, sua mente ansiosa tentando lhe convencer de que ela havia errado ao ter se abrido com Ravi. Felizmente, as palavras dele ecoavam em sua mente, especialmente a promessa de estar ao lado dela, enfrentando qualquer desafio juntos. Isso a fez se sentir mais enconrajada a ir adiante e ser menos neurótica quanto às suas inseguranças. Ela e Ravi passaram a semana trocando mensagens e através dela o médico conseguiu convencê-la de que eles deveriam pelo menos voltar fazerem encontros, mas sem pressão. Agora era sexta-feira à noite, e Alice estava deitada em sua cama, revisando suas falas para a peça, quando seu celular vibrou. Era uma mensagem dele: "Oi. Sei que foi uma semana difícil para você. Que tal uma surpresa para relaxar? Me encontre na saída da residência às 21h. Confia em mim." Ela sorriu, imaginando o que ele havia planejado. "Uma surpresa? Ok." respondeu, sentindo uma