Já fazia alguns dias desde o confronto entre Alice e Beatrice no ensaio da peça e o impacto do ocorrido ainda reverberava dentro dela, como uma sombra pairando sobre seus pensamentos, pois mesmo que tivesse a enfrentado, nada poderia tirar a razão da outra sobre seu relacionamento com Ravi. A própria mãe dele deixou bem claro como as pessoas que o circundavam eram todas cheias de si e orgulhosas. Se mãe dele agiu daquele jeito, ela sequer gostava de imaginar como seria se conhecesse o restante da família e amigos. Para tentar se manter fora de todo esse drama, ela tinha passado os dias que se seguiram se dedicando aos ensaios e aos estudos, mas naquela manhã de sábado, enquanto tomava um café na pequena cozinha da residência universitária, ela recebeu uma mensagem de Ravi: "Bom dia, Alice. Estava pensando... Gostaria de me acompanhar hoje? Tenho um projeto especial em um dos hospitais e acho que você gostaria de conhecer." Ela leu a mensagem duas vezes. "Um projeto especial?" Não
Depois do passeio ao hospital pediátrico, Alice não conseguia tirar da cabeça a imagem de Ravi interagindo com as crianças. Ele parecia tão à vontade naquele ambiente, tão autêntico, que ela começou a questionar ainda mais as barreiras que construíra entre os dois. No entanto, as palavras da mãe dele ainda ecoavam em sua mente, e isso a fazia hesitar.Na volta para casa, ele parou o carro em frente à residência universitária e olhou para ela com um sorriso sereno.— Foi um bom dia, não foi? — perguntou, com um leve tom de esperança na voz.— Foi sim. Eu não sabia que você tinha esse lado — Alice respondeu, devolvendo o sorriso, mas havia uma leve sombra de preocupação em seus olhos.Ravi percebeu e franziu a testa levemente.— Você está bem?Ela hesitou antes de responder.— Estou, só... pensando em tudo. Foi muita coisa para assimilar, sabe?Ravi assentiu em silêncio, como se entendesse o que ela queria dizer sem que ela precisasse entrar em detalhes.— Se quiser, posso te levar para
Após aquela conversa difícil, Alice passou o restante da semana tentando processar o que havia acontecido, sua mente ansiosa tentando lhe convencer de que ela havia errado ao ter se abrido com Ravi. Felizmente, as palavras dele ecoavam em sua mente, especialmente a promessa de estar ao lado dela, enfrentando qualquer desafio juntos. Isso a fez se sentir mais enconrajada a ir adiante e ser menos neurótica quanto às suas inseguranças. Ela e Ravi passaram a semana trocando mensagens e através dela o médico conseguiu convencê-la de que eles deveriam pelo menos voltar fazerem encontros, mas sem pressão. Agora era sexta-feira à noite, e Alice estava deitada em sua cama, revisando suas falas para a peça, quando seu celular vibrou. Era uma mensagem dele: "Oi. Sei que foi uma semana difícil para você. Que tal uma surpresa para relaxar? Me encontre na saída da residência às 21h. Confia em mim." Ela sorriu, imaginando o que ele havia planejado. "Uma surpresa? Ok." respondeu, sentindo uma
As semanas seguintes foram como um sonho para Alice e Ravi. Cada encontro reforçava a conexão entre eles, e as mensagens trocadas ao longo dos dias agora traziam um sentimento de proximidade que a estudante jamais imaginaria. Ela se sentia segura ao lado dele, como se o relacionamento fosse uma extensão natural do que ambos já eram individualmente. O medo das diferenças entre seus mundos ainda existia, mas estava diminuindo, cedendo espaço para um amor que parecia cada vez mais inevitável.Era uma manhã de sábado quando o médico q convidou para dar uma volta na praia. Eles estavam caminhando pela orla, aproveitando o clima agradável, e o silêncio confortável entre eles foi interrompido pela voz suave dele.— Eu estive pensando — começou, segurando a mão dela com firmeza. — Já faz um tempo que estamos saindo, e acho que seria uma boa ideia... oficializar nosso relacionamento.Alice parou, encarando-o surpresa. O coração dela deu um salto ao ouvir aquilo. Oficializar. A palavra ecoou e
Os dias após a conversa dos dois foram passando e Ravi aproveitou para planejar cada detalhe para que a noite que ele desejava que fosse memorável. Falara sério quando disse a Alice que queria oficializar a relação e aquele era o momento exato para admitir o que ambos já sentiam, e ele queria que Alice soubesse que esse passo era tão importante para ele quanto parecia ser para ela. Passara os últimos dias organizando tudo, buscando garantir que a noite fosse íntima e especial, sem distrações, longe de qualquer olhar ou interferência do mundo exterior.Ele a convidou para um jantar, mantendo o mistério sobre o local, dizendo apenas para que ela vestisse algo confortável, mas que representasse o momento. Alice aceitou o convite com curiosidade e um leve nervosismo. Sabia que ele estava tramando algo especial, mas não imaginava o que.Quando chegou ao ponto de encontro que Ravi indicara, ficou surpresa ao ver um pequeno barco ancorado na marina. Ele estava ali, esperando-a, com um sorr
Algumas semanas se passaram desde o pedido de namoro e com isso a noite da tão esperada apresentação chegou, e Alice estava cercada pelo frenesi dos preparativos finais. As luzes do auditório brilhavam intensamente, iluminando o cenário em que ela e seus colegas de classe haviam trabalhado por meses. A peça era o ponto alto do semestre para o curso, e, como protagonista, Alice carregava a responsabilidade e a emoção de encantar o público naquela noite. Nos bastidores, ela conferia seu figurino e as marcações de cena, lutando para acalmar os nervos. Ravi havia prometido assistir à peça, o que a deixava ainda mais animada, pois sabia que aquela seria a primeira vez que ele a veria atuando de verdade. Além disso, aquele era o primeiro evento oficial desde que os dois começaram a namorar, e ela não escondia o sorriso ao ver o anel em seu dedo, lembrança da noite perfeita que passaram juntos. Entretanto, o olhar de Alice não passou despercebido por Beatrice, que, do outro lado do cam
As luzes do auditório já haviam sido apagadas, e o teatro estava em silêncio, exceto por algumas vozes que ecoavam pelos corredores enquanto alunos, professores e convidados se despediam. Alice e Ravi caminharam lado a lado pelo campus, trocando olhares cúmplices e sorrisos carregados de afeto. Eles pararam na entrada da faculdade, onde um jardim bem cuidado era iluminado pela suave luz dos postes. Ele segurou a mão dela com um carinho que a fez sorrir, mas ela percebeu que ele estava um pouco mais quieto do que o habitual. — Você está bem? — ela perguntou, apertando suavemente a mão dele. Ravi assentiu, mas havia algo em seu olhar que revelava uma inquietação. Ele hesitou por um momento, como se estivesse pesando as palavras. — Estou... mas, Alice, eu preciso ser sincero. — Ele desviou o olhar, parecendo incerto. — Eu sei que essa noite é sua e que você merece todo o reconhecimento por essa apresentação maravilhosa, mas... não pude deixar de notar como você e aquele seu a
Alice saiu da sala de aula apressada, os livros contra o peito e a mochila desgastada pendendo sobre um dos ombros. Era final de tarde, e o sol do Rio de Janeiro começava a se pôr atrás dos prédios da universidade. Ela estava cansada, como sempre. Entre as aulas, os estudos e o trabalho de meio período, não sobrava muito tempo para respirar, mas era assim que ela gostava. A ocupação constante era um lembrete de que ela estava mais próxima de seu sonho: se formar, e, quem sabe, um dia, ser uma grande atriz. Os corredores estavam lotados de alunos que, assim como ela, se preparavam para sair, provavelmente para curtir o início do fim de semana. Ao virar uma esquina, ela escutou uma risada familiar, um som que fez seu estômago se revirar. Beatrice Kang, a garota com quem dividia algumas aulas, estava parada com seu grupinho de amigos, todos de classe alta, vestindo roupas de grife e carregando os ares de superioridade que ela tanto desprezava. Beatrice a notou imediatamente. — Olha só