Salvatore saiu do gabinete do general sem dizer mais uma palavra. Seus passos ecoavam pelo corredor com a mesma precisão que sua mente trabalhava — fria, focada, implacável. Aquilo não era apenas uma missão, não mais. Era algo pessoal, embora ele ainda se recusasse a admitir. Seguiu direto para o alojamento onde ficavam armazenadas as fichas dos soldados e registros internos. Precisava de nomes. Rostos. Pistas. Fechou a porta atrás de si e acendeu a luminária sobre a mesa. O ar ali era empoeirado e o silêncio quase absoluto, exceto pelo som dos papéis sendo folheados. Começou a vasculhar arquivos antigos, cruzando nomes com registros de turnos, autorizações de acesso, câmeras de segurança, tudo que pudesse ligar alguém da base a Mikhail. Horas se passaram. A luz do dia já se dissolvia em sombras, e seus olhos estavam ardendo. Até que um nome apareceu com mais frequência do que deveria. Um sargento: Viktor Marchetti. A ficha estava limpa demais. Boa conduta, sem faltas, mas… aces
Olivia estava no avião, olhando pela janela enquanto o voo se aproximava da Itália. O coração batia forte, uma mistura de excitação e ansiedade. Havia algo sobre aquele momento que a fazia sentir como se estivesse retornando a um lugar que sempre foi seu, mas ao mesmo tempo, um lugar que ela havia perdido há tanto tempo. As lembranças da infância, os aromas das ruas de Roma, as tardes quentes na Toscana, tudo aquilo a invadia com uma intensidade que a fazia quase querer fechar os olhos para não ser dominada pela emoção. "Eu nunca soube o quanto sentia falta disso até agora", ela pensava, apertando os dedos contra o vidro da janela. "A Itália tem uma forma de envolver a gente, como se tudo ao redor sussurrasse sua história, e você se perde entre os ecos do passado e os sonhos do futuro." Olivia fechou os olhos por um momento, imaginando as ruas que tanto conhecia, as pedras antigas sob seus pés, o som das pessoas conversando nos cafés e a maneira como o sol se punha lentamente atrás
Olivia havia decidido surpreender o pai, Riccardo Fiore, com sua volta repentina à Itália. Depois de anos longe, vivendo na Rússia e se acostumando à solidão, ela sabia que seu relacionamento com o pai havia ficado frio, distante. Ela queria quebrar essa barreira e mostrar a ele que, apesar de sua vida independente, ela ainda se importava e queria fazer parte da sua vida. Essa seria a primeira surpresa, um gesto simples, mas significativo. Ela só não imaginava que um outro tipo de surpresa estava prestes a acontecer. Ao chegar à entrada da base militar, Olivia ficou momentaneamente paralisada pela imponência do local. A base exalava um ar de disciplina e poder, algo completamente diferente da Rússia, mas ainda assim familiar. Ela sabia que seu pai, como general, era uma figura respeitada ali, e isso a fazia sentir-se ainda mais distante, como se estivesse entrando no território de alguém muito diferente de si mesma. Quando Olivia se aproximou da entrada, foi abordada por um soldado.
Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava. A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária. -Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria. Não sabia que voltaria tão cedo. Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo. O fato de ele ser um
Riccardo Fiore havia se retirado para a sala de comando, mas o clima que pairava no ar parecia denso, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Olivia ficou sozinha na sala com Salvatore, sentindo uma mistura de confusão e fascínio por aquele homem que, apesar de sua juventude, emanava uma segurança que ela raramente encontrava. Ela deu um passo em direção à janela, observando a movimentação do lado de fora da base. O sol da tarde se refletia nas grandes construções militares e nas caminhonetes blindadas estacionadas ao redor, criando um contraste entre a serenidade do momento e a rigidez do ambiente militar. De alguma forma, ela se sentia deslocada, mas ao mesmo tempo conectada àquela paisagem, como se a base fosse uma extensão de sua própria identidade. Olivia não sabia se deveria quebrar o silêncio entre ela e Salvatore. O comportamento dele a intrigava de uma forma desconcertante. Ele não a olhava com desinteresse, mas sua postura rígida e sua atenção inabalável pare
Salvatore estava em seu posto, a postura rígida e os olhos atentos, como sempre. Nada escapava de sua vigilância. A base estava tranquila naquela manhã, e a sua única missão era garantir que tudo funcionasse como deveria. Ele não tinha tempo para distrações. Como soldado, ele foi treinado para focar, para não se deixar levar por sentimentos ou fraquezas. A guerra não perdoa, e ele sabia disso melhor do que ninguém. O treinamento, as batalhas, a disciplina; tudo o moldara. A partir do momento em que vestiu o uniforme, sua vida havia se resumido a uma única missão: cumprir sua função sem vacilos. O conceito de misericórdia nunca fizera parte do seu vocabulário. Quando ouviu os passos se aproximando, o instinto o alertou antes mesmo de os ver. Nada passava despercebido em seu campo de visão. Ele estava posicionado na entrada da base, o portão imponente à sua frente, seu olhar firme como sempre. Mas algo, naquela manhã, pareceu mexer com o ar. A jovem que se aproximava caminhava com a p
Olivia entrou em casa com a cabeça fervilhando de pensamentos. Ela mal havia dado dois passos na entrada quando parou, o olhar perdido, como se estivesse tentando entender o que acabara de acontecer. A porta se fechou atrás dela, mas o som do fechamento parecia distante, abafado. Tudo o que ela podia ouvir era o ritmo acelerado do seu próprio coração, o eco das palavras que não saíram da sua boca, o silêncio pesado de um encontro que parecia ter deixado marcas que ela não conseguia apagar. Salvatore. O nome dele, o rosto dele, o modo como ele a olhou… tudo parecia girar em sua mente de forma incontrolável. Ela tirou os sapatos com um movimento automático, ainda sem desviar os olhos da parede à sua frente. Seus pensamentos estavam longe, muito longe, em um lugar onde ele estava constantemente presente. "Por que ele me deixou tão... confusa?" Olivia se sentou no sofá, mas a sensação de que a base, o portão, aquele homem sério e impassível, ainda estavam ali, a observando, não desapa
Olivia acordou no dia seguinte sentindo o peso de uma noite mal dormida. Seu corpo estava cansado, sua mente exausta. As palavras de Salvatore ecoavam em sua cabeça como um mantra cruel e imutável: "Eu nunca amarei ninguém. Nunca me apaixonarei." Ela rolou na cama, tentando afastar o aperto no peito, mas era inútil. Cada palavra dita por ele na noite anterior perfurava seu coração como lâminas afiadas. Ela sabia que ele não era um homem fácil, que carregava seus próprios fantasmas e cicatrizes. Mas ouvir aquilo da boca dele, com uma frieza quase cruel, foi mais doloroso do que imaginava. Mas por que aquilo a afetava tanto? Olivia não deveria sentir nada disso por ele. Conhecia Salvatore há poucos dias, ele era um completo desconhecido. Ainda assim, algo nele a puxava para mais perto, a fazia questionar seus próprios sentimentos e a lógica que sempre seguiu. Respirou fundo, sentindo a brisa da manhã entrar pela janela entreaberta. O sol já iluminava o quarto, mas para Olivia, tudo p