Olivia estava no avião, olhando pela janela enquanto o voo se aproximava da Itália. O coração batia forte, uma mistura de excitação e ansiedade. Havia algo sobre aquele momento que a fazia sentir como se estivesse retornando a um lugar que sempre foi seu, mas ao mesmo tempo, um lugar que ela havia perdido há tanto tempo. As lembranças da infância, os aromas das ruas de Roma, as tardes quentes na Toscana, tudo aquilo a invadia com uma intensidade que a fazia quase querer fechar os olhos para não ser dominada pela emoção.
"Eu nunca soube o quanto sentia falta disso até agora", ela pensava, apertando os dedos contra o vidro da janela. "A Itália tem uma forma de envolver a gente, como se tudo ao redor sussurrasse sua história, e você se perde entre os ecos do passado e os sonhos do futuro." Olivia fechou os olhos por um momento, imaginando as ruas que tanto conhecia, as pedras antigas sob seus pés, o som das pessoas conversando nos cafés e a maneira como o sol se punha lentamente atrás das montanhas, tingindo o céu de laranja e dourado. Como ela sentia falta disso tudo, das coisas simples e, ao mesmo tempo, profundas. Sentia falta das manhãs frescas e do cheiro do café misturado com o pão recém-assado nas padarias. Sentia falta de sua mãe, das longas conversas no terraço de casa, onde o mundo parecia se reduzir a pequenos gestos de carinho. "Eu vivi tanto tempo longe de tudo isso... e, de repente, me dou conta de que não há nada como a Itália para me lembrar de quem eu sou. É aqui que eu me sinto... em casa. Mesmo com todas as mudanças, com as coisas que aconteceram, este lugar ainda é onde o meu coração se encontra em paz." A saudade que ela sentia não era apenas de lugares, mas de uma versão mais jovem de si mesma, quando a vida ainda parecia simples, sem as complicações que as escolhas e os erros de Moscou trouxeram. Ela sentia falta da Olivia que caminhava despreocupada pelas ruas de Florença, que se encantava com cada detalhe, com cada pedaço de história que a cercava. Sentia falta da sensação de pertencimento, do calor da família, da segurança de saber que estava exatamente onde deveria estar. "Eu sei que nada será como antes, mas, de alguma forma, eu espero que, ao voltar, eu possa me encontrar novamente", pensava enquanto o avião se aproximava da costa italiana. "Talvez eu não tenha mais as mesmas certezas que tinha antes, mas preciso acreditar que, ao menos, vou encontrar uma parte de mim que ficou aqui. Em algum lugar entre essas ruas, essas colinas, essas pessoas, eu ainda posso ser eu mesma." O voo finalmente tocou o solo italiano, e Olivia sentiu o peso da saudade se transformar em algo mais leve, mais acolhedor. Ela sabia que sua jornada estava apenas começando, mas aquele retorno à Itália significava mais do que um simples regresso físico. Era um caminho de reencontro consigo mesma, uma chance de redescobrir suas raízes, suas paixões e, talvez, até mesmo de curar as feridas que Moscou havia deixado. A traição de Ethan foi o golpe final que destruiu o que restava de esperança no relacionamento de Olivia. Quando ela descobriu, o mundo dela desabou. Era uma noite comum em Moscou, e Olivia estava tentando encontrar algum tipo de normalidade após tantos conflitos internos. Ela havia começado a se sentir mais distante de Ethan, como se ele estivesse se afastando emocionalmente, mas nada a preparou para a revelação de que ele a havia traído. Foi por meio de uma mensagem que ela acidentalmente encontrou no celular dele, enquanto tentava resolver uma questão simples de trabalho. O conteúdo da conversa era claro e devastador. Ethan havia se envolvido com uma colega de trabalho, alguém com quem ele viajava frequentemente para projetos. A traição foi feita com uma frieza que Olivia não conseguiu ignorar, e ao ler aquelas palavras, seu coração se partiu de uma maneira irreparável. As discussões que seguiram foram intensas. Olivia não conseguia compreender como Ethan, alguém com quem ela havia compartilhado tantos momentos, poderia ter agido assim. Ele tentou justificar, argumentando que a distância emocional deles havia sido um fator, que ele sentia falta de algo que ela não podia oferecer naquele momento. Mas para Olivia, isso nunca foi uma desculpa. A dor de perceber que ela havia sido enganada e usada como um refúgio quando ele precisava de algo mais foi um golpe pesado demais para lidar. O que mais a machucava, no entanto, não era só a traição em si, mas a sensação de ter sido ignorada nas suas próprias necessidades emocionais. Ela sempre soubera que o relacionamento estava distante de ser perfeito, mas acreditava que, ao menos, havia confiança. Quando essa confiança se desfez, Olivia se viu perdida. Embora fosse uma mulher forte, que não leva desaforo para casa, a traição a deixou muito abalada. O pior de tudo era a sensação de que algo dentro de si havia quebrado para sempre. Ela não sabia mais em quem confiar. Com a dor da traição e o peso de uma relação que já estava desgastada, Olivia tomou a difícil decisão de terminar com Ethan. Ela sabia que a separação seria dolorosa, mas o que ela sentia dentro de si a impulsionava a buscar uma nova direção. Não podia mais viver à sombra do erro de alguém. Precisava de um recomeço, longe daquela dor, longe de Moscou, longe de tudo o que lhe lembrava o passado. Foi então que a ideia de voltar para a Itália começou a ganhar forma em sua mente. A Itália, com sua beleza reconfortante e suas memórias de infância, parecia ser o único lugar onde ela poderia encontrar um pouco de paz. Mesmo que não soubesse exatamente o que esperava ao voltar, Olivia sabia que ali, ao menos, ela teria a chance de se reconectar consigo mesma. A viagem de volta para casa não foi fácil. Cada quilômetro percorrido a distanciava ainda mais de Ethan e da Rússia, mas a ferida que ele havia deixado em seu coração ainda pulsava. Ela sabia que o tempo seria o único aliado capaz de curar essas cicatrizes. Chegar à Itália não significou um fim imediato da dor, mas foi o início de um longo processo de autodescoberta. Olivia começou a se dedicar ao que mais amava: os pequenos prazeres da vida, a sua família, e a redescoberta das suas próprias paixões. Cada passo que dava a afastava mais de sua história com Ethan, e lentamente, ela foi aprendendo a reconstruir sua confiança e a se reconectar com seu verdadeiro eu. Embora a traição de Ethan tenha deixado marcas profundas, foi o ponto de virada que Olivia precisava para se reinventar e buscar, finalmente, a felicidade que merecia.Olivia havia decidido surpreender o pai, Riccardo Fiore, com sua volta repentina à Itália. Depois de anos longe, vivendo na Rússia e se acostumando à solidão, ela sabia que seu relacionamento com o pai havia ficado frio, distante. Ela queria quebrar essa barreira e mostrar a ele que, apesar de sua vida independente, ela ainda se importava e queria fazer parte da sua vida. Essa seria a primeira surpresa, um gesto simples, mas significativo. Ela só não imaginava que um outro tipo de surpresa estava prestes a acontecer. Ao chegar à entrada da base militar, Olivia ficou momentaneamente paralisada pela imponência do local. A base exalava um ar de disciplina e poder, algo completamente diferente da Rússia, mas ainda assim familiar. Ela sabia que seu pai, como general, era uma figura respeitada ali, e isso a fazia sentir-se ainda mais distante, como se estivesse entrando no território de alguém muito diferente de si mesma. Quando Olivia se aproximou da entrada, foi abordada por um soldado.
Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava. A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária. -Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria. Não sabia que voltaria tão cedo. Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo. O fato de ele ser um
Riccardo Fiore havia se retirado para a sala de comando, mas o clima que pairava no ar parecia denso, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Olivia ficou sozinha na sala com Salvatore, sentindo uma mistura de confusão e fascínio por aquele homem que, apesar de sua juventude, emanava uma segurança que ela raramente encontrava. Ela deu um passo em direção à janela, observando a movimentação do lado de fora da base. O sol da tarde se refletia nas grandes construções militares e nas caminhonetes blindadas estacionadas ao redor, criando um contraste entre a serenidade do momento e a rigidez do ambiente militar. De alguma forma, ela se sentia deslocada, mas ao mesmo tempo conectada àquela paisagem, como se a base fosse uma extensão de sua própria identidade. Olivia não sabia se deveria quebrar o silêncio entre ela e Salvatore. O comportamento dele a intrigava de uma forma desconcertante. Ele não a olhava com desinteresse, mas sua postura rígida e sua atenção inabalável pare
Salvatore estava em seu posto, a postura rígida e os olhos atentos, como sempre. Nada escapava de sua vigilância. A base estava tranquila naquela manhã, e a sua única missão era garantir que tudo funcionasse como deveria. Ele não tinha tempo para distrações. Como soldado, ele foi treinado para focar, para não se deixar levar por sentimentos ou fraquezas. A guerra não perdoa, e ele sabia disso melhor do que ninguém. O treinamento, as batalhas, a disciplina; tudo o moldara. A partir do momento em que vestiu o uniforme, sua vida havia se resumido a uma única missão: cumprir sua função sem vacilos. O conceito de misericórdia nunca fizera parte do seu vocabulário. Quando ouviu os passos se aproximando, o instinto o alertou antes mesmo de os ver. Nada passava despercebido em seu campo de visão. Ele estava posicionado na entrada da base, o portão imponente à sua frente, seu olhar firme como sempre. Mas algo, naquela manhã, pareceu mexer com o ar. A jovem que se aproximava caminhava com a p
Olivia entrou em casa com a cabeça fervilhando de pensamentos. Ela mal havia dado dois passos na entrada quando parou, o olhar perdido, como se estivesse tentando entender o que acabara de acontecer. A porta se fechou atrás dela, mas o som do fechamento parecia distante, abafado. Tudo o que ela podia ouvir era o ritmo acelerado do seu próprio coração, o eco das palavras que não saíram da sua boca, o silêncio pesado de um encontro que parecia ter deixado marcas que ela não conseguia apagar. Salvatore. O nome dele, o rosto dele, o modo como ele a olhou… tudo parecia girar em sua mente de forma incontrolável. Ela tirou os sapatos com um movimento automático, ainda sem desviar os olhos da parede à sua frente. Seus pensamentos estavam longe, muito longe, em um lugar onde ele estava constantemente presente. "Por que ele me deixou tão... confusa?" Olivia se sentou no sofá, mas a sensação de que a base, o portão, aquele homem sério e impassível, ainda estavam ali, a observando, não desapa
Olivia acordou no dia seguinte sentindo o peso de uma noite mal dormida. Seu corpo estava cansado, sua mente exausta. As palavras de Salvatore ecoavam em sua cabeça como um mantra cruel e imutável: "Eu nunca amarei ninguém. Nunca me apaixonarei." Ela rolou na cama, tentando afastar o aperto no peito, mas era inútil. Cada palavra dita por ele na noite anterior perfurava seu coração como lâminas afiadas. Ela sabia que ele não era um homem fácil, que carregava seus próprios fantasmas e cicatrizes. Mas ouvir aquilo da boca dele, com uma frieza quase cruel, foi mais doloroso do que imaginava. Mas por que aquilo a afetava tanto? Olivia não deveria sentir nada disso por ele. Conhecia Salvatore há poucos dias, ele era um completo desconhecido. Ainda assim, algo nele a puxava para mais perto, a fazia questionar seus próprios sentimentos e a lógica que sempre seguiu. Respirou fundo, sentindo a brisa da manhã entrar pela janela entreaberta. O sol já iluminava o quarto, mas para Olivia, tudo p
Olivia caminhava pelo pátio da base militar quando avistou Salvatore. Ele estava encostado em uma pilastra, os braços cruzados, observando os soldados em treinamento. Seu olhar era frio e distante, como sempre, mas havia algo na forma como sua mandíbula estava travada que denunciava um resquício de tensão. Respirando fundo, ela se aproximou determinada. — Salvatore, precisamos conversar. Ele virou o rosto lentamente para ela, expressão impassível, mas os olhos escuros brilharam com um relance de irritação. — Não temos nada para conversar, senhorita. — Você sempre diz isso, mas— — Porque é a verdade. Agora volte para dentro. A rispidez no tom dele fez algo dentro dela se contrair, mas Olivia manteve-se firme, cruzando os braços. — Por que você age assim? O que está tentando esconder? Ele riu de leve, sem humor, e desviou o olhar para o campo de treinamento. — Nada. Apenas não quero problemas. — Problemas? — Olivia estreitou os olhos, estudando cada detalhe da expressão dele.
Salvatore entrou na sala do general Riccardo, batendo continência. — Senhor, pediu para me ver? O general o encarou com olhar analítico e assentiu. — Sim, Salvatore. Preciso discutir a nova leva de recrutas. Alguns dos superiores estão preocupados com o desempenho dos mais jovens. Salvatore manteve a postura rígida. — Sim, senhor. Tenho observado o progresso deles e há alguns que precisam de treinamento intensivo. Especialmente em táticas de combate corpo a corpo. O general cruzou os braços, refletindo. — E quanto à disciplina deles? — Ainda precisa ser reforçada, mas estamos trabalhando nisso. O senhor pode confiar que até o final do mês teremos um esquadrão mais preparado. Riccardo assentiu, satisfeito. — Ótimo. Continue assim. Preciso de soldados fortes e leais. Salvatore fez uma breve continência. — Sim, senhor. O general o observou por um instante antes de dispensá-lo. Salvatore saiu da sala, ciente de que seu foco deveria estar no trabalho, não em distrações desnece