Olivia havia decidido surpreender o pai, Riccardo Fiore, com sua volta repentina à Itália. Depois de anos longe, vivendo na Rússia e se acostumando à solidão, ela sabia que seu relacionamento com o pai havia ficado frio, distante. Ela queria quebrar essa barreira e mostrar a ele que, apesar de sua vida independente, ela ainda se importava e queria fazer parte da sua vida. Essa seria a primeira surpresa, um gesto simples, mas significativo. Ela só não imaginava que um outro tipo de surpresa estava prestes a acontecer.
Ao chegar à entrada da base militar, Olivia ficou momentaneamente paralisada pela imponência do local. A base exalava um ar de disciplina e poder, algo completamente diferente da Rússia, mas ainda assim familiar. Ela sabia que seu pai, como general, era uma figura respeitada ali, e isso a fazia sentir-se ainda mais distante, como se estivesse entrando no território de alguém muito diferente de si mesma. Quando Olivia se aproximou da entrada, foi abordada por um soldado. Ele parecia jovem, com uma postura impecável e um olhar sério que a fez se sentir ainda mais fora de lugar. Salvatore estava de pé, sua postura rígida e seu olhar atento. Ele parecia tão concentrado e alerta que, por um instante, Olivia se sentiu desconfortável. Ele não a olhou com curiosidade ou surpresa. Em vez disso, a tratou como mais uma visitante, alguém comum que não merecia mais do que uma resposta impessoal. — Senhorita, qual é o motivo da sua visita? —Sua voz era firme, controlada, sem qualquer sinal de emoção ou interesse. Olivia, tomada pela presença do soldado, olhou para ele por um instante mais longo do que o necessário. Ele era, sem dúvida, impressionante. Tinha os cabelos escuros, cortados de forma precisa, e olhos penetrantes que pareciam avaliar tudo ao seu redor. A mandíbula forte e os traços definidos do seu rosto exalavam uma autoridade que combinava perfeitamente com o ambiente militar. Ela sentiu um pequeno suspiro escapar de seus lábios sem querer. Ele a observou em silêncio por um momento, provavelmente esperando uma resposta. — Eu sou Olivia Fiore, filha do General Riccardo Fiore. —Ela disse, tentando passar a autoridade de seu nome. —Estou aqui para fazer uma surpresa para meu pai. Ele não sabe que voltei da Rússia. Salvatore a observou com um olhar penetrante , mas sem reconhecimento algum. Não houve sequer uma pequena alteração em sua expressão, apenas o silêncio que preenchia o espaço entre eles. Ele não parecia desconcertado, nem surpreso. —Senhorita, sem autorização formal, não posso permitir sua entrada. O General Fiore está ocupado no momento. — A resposta dele foi tão direta que Olivia sentiu um calafrio. Ele não se abalava, não cedia. Ele estava apenas cumprindo as regras, sem espaço para negociação. A irritação começou a crescer dentro de Olivia, mas ela não se deixou dominar. Ela não estava acostumada a ser ignorada dessa maneira, especialmente não por um soldado. Ela sabia que não deveria entrar em um confronto, mas sua paciência estava se esgotando rapidamente. Tentou ser mais firme, embora seu tom tivesse se suavizado ligeiramente. —Eu entendo as regras, mas o meu pai me autorizou a entrar. Ele não vai gostar disso. —Ela se esforçou a não demonstrar frustração, mas algo nela a impulsionava a desafiar a postura rígida do Soldado. Salvatore permaneceu em silêncio, analisando-a com seus olhos atentos, mas sem mostrar sinal algum de que se importava com sua situação. Ele simplesmente a observava como se estivesse aguardando uma resposta. —Como disse, sem a autorização formal, não posso deixar ninguém entrar. — Ele repetiu, inabalável. A frustração de Olivia cresceu ainda mais, mas o que a pegou de surpresa foi a sua reação interna. Algo dentro dela se agitou, uma combinação de irritação e... uma admiração súbita e inesperada pela firmeza do soldado. Ela não entendia bem o que estava sentindo, mas ele, com toda a sua compostura e confiança, parecia indiferente a qualquer tentativa de desafiar suas regras. Foi então que Olivia, sem outra opção, pegou seu celular e discou o número de seu pai. A ligação foi atendida rapidamente, e a voz do general Riccardo soou do outro lado, desconcertada. —Olivia? Aconteceu alguma coisa? Você raramente liga. —Ele parecia surpreso, e Olivia não pôde deixar de notar o tom de preocupação. Ela olhou novamente para Salvatore, que, mesmo com a revelação,não demonstrou nem um pouco de arrependimento por ter sido tão inflexível. A maneira como ele a tratava, sem se importar com sua identidade, despertava um misto de frustração e...algo mais. Um desafio? Uma provocação? Não sabia, mas havia algo no modo como ele agia que a atraía, algo que ela não conseguia identificar ainda. —Pai, estou aqui na base. Esse soldado não me deixa entrar. Ele não sabe quem eu sou. —Ela falou, tentando manter a calma, mas sua voz soou um pouco mais irritada do que pretendia. — Você se importaria de me dar permissão para entrar? Ele está insistindo em seguir as regras. Riccardo ficou em silêncio por um momento, e Olivia percebeu que ele estava processando a situação. Ela soubera que isso não estava sendo fácil para ele, mas logo a voz dele surgiu novamente. —Salvatore, libera a passagem de minha filha. — A voz de Riccardo foi tão firme, que parecia atravessar a linha. Olivia observou o soldado, que não alterou a postura nem um pouco. Ele simplesmente fez um leve movimento, como se estivesse reconhecendo a autoridade do general, mas seu rosto ainda estava impassível. —Sim, senhor, eu não sabia. — Salvatore respondeu, sua voz ainda calma e profissional, sem qualquer traço de desconcerto. Olivia, por mais que se sentisse aliviada por finalmente poder entrar, não pôde deixar de notar a forma como ele respondeu. A maneira como Salvatore manteve sua postura, imperturbável, fez com que ela se sentisse ainda mais intrigada por ele. Não havia se deixado abalar nem pelo general, nem por ela. Ele era um soldado, mas não parecia ser facilmente moldado por ninguém. —Permita a entrada da senhorita. — O tom de Riccardo foi breve e incisivo, como um comando, e a mudança na dinâmica foi imediata. Salvatore, agora ciente da identidade de Olivia, fez um pequeno gesto para permitir que ela passasse, mas sua expressão não mudou em nada. Ele a observou enquanto ela caminhava para dentro da base, e a sensação de desafio que Olivia sentia em relação a ele não desapareceu. Pelo contrário, ela sentiu uma atração crescente, misturada com uma frustração de não ser reconhecida de imediato. Olivia passou por ele, tentando disfarçar um pequeno sorriso irônico, mas algo dentro de si a fazia sentir-se ainda mais curiosa por ele. Salvatore, por sua vez, não demonstrou nada. Ele se manteve na mesma posição, a imagem de um soldado perfeito, que seguia ordens, mão não se curvava para ninguém. Quando Olivia entrou no escritório de Riccardo, o general estava de pé, olhando para ela com um leve sorriso, mas também um toque de preocupação. — Olivia? Riccardo disse, com um tom de surpresa.— O que você está fazendo aqui? Não me avisou que voltaria... Ela sorriu, relaxando um pouco ao ver a expressão de seu pai, mas a mente dela, ainda estava longe dali, perdida nos olhos imperturbáveis de Salvatore. —Eu voltei, pai. Só queria te fazer uma surpresa. —Ela disse, mas, ao mesmo tempo, o pensamento sobre o soldado a distraía. Algo nela estava se movendo, algo novo que ela ainda não compreendia, mas que estava começando a crescer. Nem com Ethan ela se sentia assim.Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava. A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária. -Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria. Não sabia que voltaria tão cedo. Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo. O fato de ele ser um
Riccardo Fiore havia se retirado para a sala de comando, mas o clima que pairava no ar parecia denso, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Olivia ficou sozinha na sala com Salvatore, sentindo uma mistura de confusão e fascínio por aquele homem que, apesar de sua juventude, emanava uma segurança que ela raramente encontrava. Ela deu um passo em direção à janela, observando a movimentação do lado de fora da base. O sol da tarde se refletia nas grandes construções militares e nas caminhonetes blindadas estacionadas ao redor, criando um contraste entre a serenidade do momento e a rigidez do ambiente militar. De alguma forma, ela se sentia deslocada, mas ao mesmo tempo conectada àquela paisagem, como se a base fosse uma extensão de sua própria identidade. Olivia não sabia se deveria quebrar o silêncio entre ela e Salvatore. O comportamento dele a intrigava de uma forma desconcertante. Ele não a olhava com desinteresse, mas sua postura rígida e sua atenção inabalável pare
Salvatore estava em seu posto, a postura rígida e os olhos atentos, como sempre. Nada escapava de sua vigilância. A base estava tranquila naquela manhã, e a sua única missão era garantir que tudo funcionasse como deveria. Ele não tinha tempo para distrações. Como soldado, ele foi treinado para focar, para não se deixar levar por sentimentos ou fraquezas. A guerra não perdoa, e ele sabia disso melhor do que ninguém. O treinamento, as batalhas, a disciplina; tudo o moldara. A partir do momento em que vestiu o uniforme, sua vida havia se resumido a uma única missão: cumprir sua função sem vacilos. O conceito de misericórdia nunca fizera parte do seu vocabulário. Quando ouviu os passos se aproximando, o instinto o alertou antes mesmo de os ver. Nada passava despercebido em seu campo de visão. Ele estava posicionado na entrada da base, o portão imponente à sua frente, seu olhar firme como sempre. Mas algo, naquela manhã, pareceu mexer com o ar. A jovem que se aproximava caminhava com a p
Olivia entrou em casa com a cabeça fervilhando de pensamentos. Ela mal havia dado dois passos na entrada quando parou, o olhar perdido, como se estivesse tentando entender o que acabara de acontecer. A porta se fechou atrás dela, mas o som do fechamento parecia distante, abafado. Tudo o que ela podia ouvir era o ritmo acelerado do seu próprio coração, o eco das palavras que não saíram da sua boca, o silêncio pesado de um encontro que parecia ter deixado marcas que ela não conseguia apagar. Salvatore. O nome dele, o rosto dele, o modo como ele a olhou… tudo parecia girar em sua mente de forma incontrolável. Ela tirou os sapatos com um movimento automático, ainda sem desviar os olhos da parede à sua frente. Seus pensamentos estavam longe, muito longe, em um lugar onde ele estava constantemente presente. "Por que ele me deixou tão... confusa?" Olivia se sentou no sofá, mas a sensação de que a base, o portão, aquele homem sério e impassível, ainda estavam ali, a observando, não desapa
Olivia acordou no dia seguinte sentindo o peso de uma noite mal dormida. Seu corpo estava cansado, sua mente exausta. As palavras de Salvatore ecoavam em sua cabeça como um mantra cruel e imutável: "Eu nunca amarei ninguém. Nunca me apaixonarei." Ela rolou na cama, tentando afastar o aperto no peito, mas era inútil. Cada palavra dita por ele na noite anterior perfurava seu coração como lâminas afiadas. Ela sabia que ele não era um homem fácil, que carregava seus próprios fantasmas e cicatrizes. Mas ouvir aquilo da boca dele, com uma frieza quase cruel, foi mais doloroso do que imaginava. Mas por que aquilo a afetava tanto? Olivia não deveria sentir nada disso por ele. Conhecia Salvatore há poucos dias, ele era um completo desconhecido. Ainda assim, algo nele a puxava para mais perto, a fazia questionar seus próprios sentimentos e a lógica que sempre seguiu. Respirou fundo, sentindo a brisa da manhã entrar pela janela entreaberta. O sol já iluminava o quarto, mas para Olivia, tudo p
Olivia caminhava pelo pátio da base militar quando avistou Salvatore. Ele estava encostado em uma pilastra, os braços cruzados, observando os soldados em treinamento. Seu olhar era frio e distante, como sempre, mas havia algo na forma como sua mandíbula estava travada que denunciava um resquício de tensão. Respirando fundo, ela se aproximou determinada. — Salvatore, precisamos conversar. Ele virou o rosto lentamente para ela, expressão impassível, mas os olhos escuros brilharam com um relance de irritação. — Não temos nada para conversar, senhorita. — Você sempre diz isso, mas— — Porque é a verdade. Agora volte para dentro. A rispidez no tom dele fez algo dentro dela se contrair, mas Olivia manteve-se firme, cruzando os braços. — Por que você age assim? O que está tentando esconder? Ele riu de leve, sem humor, e desviou o olhar para o campo de treinamento. — Nada. Apenas não quero problemas. — Problemas? — Olivia estreitou os olhos, estudando cada detalhe da expressão dele.
Salvatore entrou na sala do general Riccardo, batendo continência. — Senhor, pediu para me ver? O general o encarou com olhar analítico e assentiu. — Sim, Salvatore. Preciso discutir a nova leva de recrutas. Alguns dos superiores estão preocupados com o desempenho dos mais jovens. Salvatore manteve a postura rígida. — Sim, senhor. Tenho observado o progresso deles e há alguns que precisam de treinamento intensivo. Especialmente em táticas de combate corpo a corpo. O general cruzou os braços, refletindo. — E quanto à disciplina deles? — Ainda precisa ser reforçada, mas estamos trabalhando nisso. O senhor pode confiar que até o final do mês teremos um esquadrão mais preparado. Riccardo assentiu, satisfeito. — Ótimo. Continue assim. Preciso de soldados fortes e leais. Salvatore fez uma breve continência. — Sim, senhor. O general o observou por um instante antes de dispensá-lo. Salvatore saiu da sala, ciente de que seu foco deveria estar no trabalho, não em distrações desnece
Olivia observou Salvatore se afastar com passos firmes e postura impecável. Ele não olhou para trás, não hesitou, apenas seguiu seu caminho como se nada além de sua rotina importasse. Ela sentiu uma mistura de frustração e curiosidade. Desde que chegou à base, percebeu que ele era diferente dos outros soldados. Não era apenas rígido ou disciplinado – Salvatore era um homem que se recusava a permitir qualquer tipo de proximidade. Mas Olivia não era o tipo que desistia fácil. Respirou fundo e acelerou o passo, saindo do pátio de treinamento e seguindo na mesma direção que ele. Não tinha certeza do que esperava com aquilo. Talvez apenas uma conversa, uma troca de palavras que não fosse tão distante e fria. Salvatore estava a poucos metros à frente quando ela chamou seu nome. — Salvatore. Foi a segunda vez que o chamou assim, sem formalidades. A palavra saiu naturalmente, mas carregada de intenção. Ele parou no mesmo instante. Por um momento, Olivia pensou que ele não fosse s