Olivia observou Salvatore se afastar com passos firmes e postura impecável. Ele não olhou para trás, não hesitou, apenas seguiu seu caminho como se nada além de sua rotina importasse. Ela sentiu uma mistura de frustração e curiosidade. Desde que chegou à base, percebeu que ele era diferente dos outros soldados. Não era apenas rígido ou disciplinado – Salvatore era um homem que se recusava a permitir qualquer tipo de proximidade. Mas Olivia não era o tipo que desistia fácil. Respirou fundo e acelerou o passo, saindo do pátio de treinamento e seguindo na mesma direção que ele. Não tinha certeza do que esperava com aquilo. Talvez apenas uma conversa, uma troca de palavras que não fosse tão distante e fria. Salvatore estava a poucos metros à frente quando ela chamou seu nome. — Salvatore. Foi a segunda vez que o chamou assim, sem formalidades. A palavra saiu naturalmente, mas carregada de intenção. Ele parou no mesmo instante. Por um momento, Olivia pensou que ele não fosse s
O despertador tocou suave, mas Olivia já estava com os olhos abertos antes mesmo do primeiro som ecoar. A luz da manhã invadia o quarto pelas frestas da cortina, e um leve vento balançava as folhas da árvore do lado de fora da janela. Ela se sentou na cama, prendeu o cabelo com uma presilha simples e bocejou baixinho. Ainda sonolenta, mas com uma estranha sensação de propósito naquela manhã. Levantou-se e seguiu até a cozinha em passos lentos, de meias. O chão frio contrastava com o calor gostoso do sol batendo pelas janelas. — Acho que vou fazer algo pro papà comer... — murmurou para si mesma, abrindo a geladeira. — Ele deve estar atolado de trabalho na base, como sempre. Separou os ingredientes com cuidado: pão italiano, queijo, presunto, tomate e folhas frescas de manjericão. Enquanto montava os sanduíches, pensou em como o pai sempre esquecia de comer quando estava imerso nos relatórios ou inspecionando os pelotões. Com os sanduíches prontos, empacotou tudo com cuidado,
Salvatore permaneceu parado por longos segundos, os olhos fixos na sacola como se esperasse que ela desaparecesse. Seu peito ainda subia e descia com o esforço do treino, mas agora, era como se o esforço maior estivesse dentro dele. O que ela queria com aquilo? Aquilo era um gesto simples, sim. Comida. Um agrado qualquer. Mas vindo dela, tinha um peso diferente. Tinha intenção. Tinha presença. E isso... isso o incomodava. Com a mandíbula travada, ele caminhou até o banco de concreto ao lado da parede do pátio e se sentou. Tirou as ataduras das mãos com movimentos lentos, tentando ignorar o que sentia. Quando abriu a sacola, sentiu o aroma do café, do pão fresco, do tiramisù ainda frio — e o estômago roncou antes que ele pudesse se conter. Resistência era seu forte. Mas nem sempre se tratava de não ceder à fome. Ele comeu em silêncio, o olhar distante. Não era só a comida que aquecia. Era a lembrança dela o preparando, dela decidindo levá-lo também em mente, quando poderia ter fei
Olivia caminhava de um lado para o outro em seu quarto, os braços cruzados e o maxilar travado de tanto pensar. Desde que saiu da base naquela manhã, depois de deixar a sacola nas mãos de Salvatore e ouvir aquele “obrigado” tão seco, ela não conseguia parar de se perguntar se tinha feito a coisa certa. Ele tinha agradecido, sim. Mas não como alguém que recebia um agrado. Foi quase como se as palavras tivessem saído com dor. Como se engolir aquele simples gesto tivesse custado algo precioso para ele. E isso só deixava tudo mais intrigante. Olivia suspirou, jogando-se de costas na cama. Seu quarto estava em silêncio, e ela odiava aquilo. O silêncio fazia com que os pensamentos tomassem conta — especialmente os que envolviam um certo soldado de rosto sério, olhar tenso e autocontrole em excesso. Ela pensava no momento exato em que ele segurou a sacola. A forma como demorou a reagir. Como se aquele gesto tão simples fosse, de algum modo, perigoso. "Ele tem medo de quê? Da comida o
Ela se afastou com a mesma leveza com que havia se aproximado, como se o mundo girasse no ritmo que ela decidia. Salvatore não se mexeu. Não respondeu. Apenas observou — e isso já era perigoso o bastante. A bala de café repousava ali, solitária, como uma provocação silenciosa. Ela está brincando com fogo. Ele inspirou profundamente, controlando o impulso de ir atrás dela e dizer... o quê? Que ela parasse? Que aquilo era imprudente? Que ele não podia lidar com mais distrações? Que ela o deixava desarmado de um jeito que nenhuma arma conseguiria? Seria ridículo. Mais ridículo ainda foi o fato de ele estender a mão e pegar a bala. O papel fazia um leve estalo entre os dedos enfaixados. Um gesto simples, inofensivo — mas que o irritava profundamente porque, no fundo, ele sabia o que significava: ela estava testando limites. E ele... estava deixando. Ele se sentou no banco. Passou a mão pelo rosto suado, tentando afastar o calor que subia não só do treino. Bolt apareceu do ou
O som dos tiros ecoava no campo de treinamento, seco e ritmado, como uma batida que marcava o tempo da sua fúria. Salvatore andava entre os soldados com o cenho fechado, os olhos como lâminas afiadas. Seu tom de voz era cortante, preciso, e ninguém ousava responder, sequer respirar alto. — Você acha que em campo vai ter tempo pra mirar de novo, soldado? — sua voz retumbou, seca, enquanto se aproximava de um jovem que tremia ao empunhar a arma. — Se hesitar, você morre. E quem estiver com você, também. O rapaz engoliu seco e endireitou os ombros, tentando conter o tremor. Salvatore não parou. Passou por ele como se nem existisse, o olhar fixo nos alvos de papel rasgados pelos tiros. Ele parou diante de um grupo que praticava defesa corpo a corpo. Observou por alguns segundos em silêncio. E então interveio. — Vocês chamam isso de ataque? — Ele lançou o casaco no chão e entrou no círculo. — Venham. Os três. Os soldados hesitaram, mas sabiam o que acontecia quando desafiados. O
O sol já se punha quando Salvatore terminou seu turno. O uniforme ainda colado ao corpo pelo suor do dia, os músculos tensos e a mente em guerra. Ele caminhava em silêncio, os ombros firmes, como se o peso do mundo estivesse bem equilibrado ali — mas por dentro, o caos persistia. A base começava a esvaziar. O som dos passos apressados, vozes distantes, a rotina de sempre. Mas ele não ouvia nada disso. Sua cabeça ainda estava cheia. Do treino. Da conversa com o general. Dela. Ele passou pelos portões principais, indo em direção ao estacionamento onde deixava a moto. Bolt o esperava no apartamento, e tudo o que ele queria era silêncio. Um banho gelado. Um pouco de paz. Mas o destino, como sempre, não respeitava suas vontades. — Cuidado! — uma voz feminina surgiu à sua direita. Ele se virou rápido demais — e então aconteceu. Um esbarrão. Rápido, mas firme. Salvatore estancou. Olivia. Ela deu um passo para trás, os olhos arregalados por um instante antes de encará-lo de
Olivia dirigia pelas ruas da cidade, o som do motor do carro preenchendo o silêncio enquanto ela tentava processar tudo o que tinha acontecido. A conversa com Salvatore ainda ecoava em sua mente, as palavras dele como uma faca afiada cortando qualquer resto de segurança que ela sentia. A maneira como ele a afastou, como se fosse algo simples, como se fosse apenas mais uma distração. Ela não conseguia se livrar daquele sentimento de que havia algo mais — algo não dito, algo entre eles que ele estava tentando ignorar. Ela apertou o volante com mais força, o carro deslizando pela via ainda movimentada. O céu já estava escuro, as luzes da cidade refletindo nos vidros do carro, criando uma dança de cores suaves. Quando ela se aproximou de um semáforo vermelho, sua mente vagou ainda mais. O que estava acontecendo com ela? Por que a presença de Salvatore estava deixando tudo tão difícil? De repente, um som estridente de pneus cantando a tirou de seus pensamentos. Ela levantou os olhos e,