Olivia caminhava de um lado para o outro em seu quarto, os braços cruzados e o maxilar travado de tanto pensar. Desde que saiu da base naquela manhã, depois de deixar a sacola nas mãos de Salvatore e ouvir aquele “obrigado” tão seco, ela não conseguia parar de se perguntar se tinha feito a coisa certa. Ele tinha agradecido, sim. Mas não como alguém que recebia um agrado. Foi quase como se as palavras tivessem saído com dor. Como se engolir aquele simples gesto tivesse custado algo precioso para ele. E isso só deixava tudo mais intrigante. Olivia suspirou, jogando-se de costas na cama. Seu quarto estava em silêncio, e ela odiava aquilo. O silêncio fazia com que os pensamentos tomassem conta — especialmente os que envolviam um certo soldado de rosto sério, olhar tenso e autocontrole em excesso. Ela pensava no momento exato em que ele segurou a sacola. A forma como demorou a reagir. Como se aquele gesto tão simples fosse, de algum modo, perigoso. "Ele tem medo de quê? Da comida o
Ela se afastou com a mesma leveza com que havia se aproximado, como se o mundo girasse no ritmo que ela decidia. Salvatore não se mexeu. Não respondeu. Apenas observou — e isso já era perigoso o bastante. A bala de café repousava ali, solitária, como uma provocação silenciosa. Ela está brincando com fogo. Ele inspirou profundamente, controlando o impulso de ir atrás dela e dizer... o quê? Que ela parasse? Que aquilo era imprudente? Que ele não podia lidar com mais distrações? Que ela o deixava desarmado de um jeito que nenhuma arma conseguiria? Seria ridículo. Mais ridículo ainda foi o fato de ele estender a mão e pegar a bala. O papel fazia um leve estalo entre os dedos enfaixados. Um gesto simples, inofensivo — mas que o irritava profundamente porque, no fundo, ele sabia o que significava: ela estava testando limites. E ele... estava deixando. Ele se sentou no banco. Passou a mão pelo rosto suado, tentando afastar o calor que subia não só do treino. Bolt apareceu do ou
O som dos tiros ecoava no campo de treinamento, seco e ritmado, como uma batida que marcava o tempo da sua fúria. Salvatore andava entre os soldados com o cenho fechado, os olhos como lâminas afiadas. Seu tom de voz era cortante, preciso, e ninguém ousava responder, sequer respirar alto. — Você acha que em campo vai ter tempo pra mirar de novo, soldado? — sua voz retumbou, seca, enquanto se aproximava de um jovem que tremia ao empunhar a arma. — Se hesitar, você morre. E quem estiver com você, também. O rapaz engoliu seco e endireitou os ombros, tentando conter o tremor. Salvatore não parou. Passou por ele como se nem existisse, o olhar fixo nos alvos de papel rasgados pelos tiros. Ele parou diante de um grupo que praticava defesa corpo a corpo. Observou por alguns segundos em silêncio. E então interveio. — Vocês chamam isso de ataque? — Ele lançou o casaco no chão e entrou no círculo. — Venham. Os três. Os soldados hesitaram, mas sabiam o que acontecia quando desafiados. O
O sol já se punha quando Salvatore terminou seu turno. O uniforme ainda colado ao corpo pelo suor do dia, os músculos tensos e a mente em guerra. Ele caminhava em silêncio, os ombros firmes, como se o peso do mundo estivesse bem equilibrado ali — mas por dentro, o caos persistia. A base começava a esvaziar. O som dos passos apressados, vozes distantes, a rotina de sempre. Mas ele não ouvia nada disso. Sua cabeça ainda estava cheia. Do treino. Da conversa com o general. Dela. Ele passou pelos portões principais, indo em direção ao estacionamento onde deixava a moto. Bolt o esperava no apartamento, e tudo o que ele queria era silêncio. Um banho gelado. Um pouco de paz. Mas o destino, como sempre, não respeitava suas vontades. — Cuidado! — uma voz feminina surgiu à sua direita. Ele se virou rápido demais — e então aconteceu. Um esbarrão. Rápido, mas firme. Salvatore estancou. Olivia. Ela deu um passo para trás, os olhos arregalados por um instante antes de encará-lo de
Olivia dirigia pelas ruas da cidade, o som do motor do carro preenchendo o silêncio enquanto ela tentava processar tudo o que tinha acontecido. A conversa com Salvatore ainda ecoava em sua mente, as palavras dele como uma faca afiada cortando qualquer resto de segurança que ela sentia. A maneira como ele a afastou, como se fosse algo simples, como se fosse apenas mais uma distração. Ela não conseguia se livrar daquele sentimento de que havia algo mais — algo não dito, algo entre eles que ele estava tentando ignorar. Ela apertou o volante com mais força, o carro deslizando pela via ainda movimentada. O céu já estava escuro, as luzes da cidade refletindo nos vidros do carro, criando uma dança de cores suaves. Quando ela se aproximou de um semáforo vermelho, sua mente vagou ainda mais. O que estava acontecendo com ela? Por que a presença de Salvatore estava deixando tudo tão difícil? De repente, um som estridente de pneus cantando a tirou de seus pensamentos. Ela levantou os olhos e,
No dia seguinte, a tensão no ar era palpável. Olivia acordou com a sensação de que tudo ainda estava fora de seu controle, como se o medo da noite anterior ainda a estivesse acompanhando. Ela olhou para o relógio e percebeu que o dia havia começado cedo demais. O som de um carro chegando na entrada de sua casa confirmou o que ela já sabia: o general estava cumprindo sua palavra. Ela não tinha mais escolha senão aceitar as medidas que ele tomaria, por mais desconfortáveis que fossem. Olhou pela janela e viu dois homens uniformizados saindo de um veículo preto, caminhando rapidamente até a porta de sua casa. Eles não estavam ali para fazer uma visita amigável. Não eram seguranças comuns. O general havia falado a verdade na noite anterior: não haveria mais discussões sobre sua segurança. Era o que ele sempre fizera, mas agora parecia mais uma necessidade do que uma precaução. Olivia suspirou, levantando-se da cama e indo em direção à sala. Seus passos eram pesados, quase como se o
Olivia caminhou pelos corredores da base militar com passos decididos, o coração ainda pesado pela tensão dos últimos dias. A conversa com o pai ainda ecoava em sua mente, mas ela sabia que precisava de algo mais. Ou melhor, de alguém. Ela precisava ver Salvatore. Não sabia bem o que esperava ao encontrá-lo. Talvez um pouco de provocação, talvez a oportunidade de tirar o peso da saudade que começava a apertar no peito. Ela não tinha mais paciência para os próprios sentimentos, mas não podia negar que algo dentro dela ansiava por sua presença, pela dureza de sua postura, pelo olhar que nunca demonstrava fraqueza. Quando entrou no pátio da base, viu-o imediatamente. Ele estava em pé, de braços cruzados, observando os soldados em treinamento com a expressão rígida de sempre. A postura dele era impecável, e não havia sequer um indício de que ele soubesse o quanto ele significava para ela naquele momento. Olivia se aproximou dele com passos firmes, mas seu coração batia mais rápido d
Olivia entrou em casa com passos lentos, fechando a porta atrás de si com um leve estalo. O silêncio do lugar a envolveu, e por um momento tudo pareceu mais frio, mais vazio. Encostou as costas na madeira da porta e suspirou, fechando os olhos. A imagem dele ainda estava ali, tão vívida — os olhos castanhos escuros analisando tudo, o uniforme impecável, a postura rígida, como se nem por um segundo ele se permitisse relaxar. Ela precisava vê-lo, e ver que ele estava bem trouxe um alívio que ela não queria admitir. Mas havia algo mais… aquela necessidade tola de provocá-lo, de chamar seu nome apenas para observar a leve tensão que surgia na mandíbula dele, como se estivesse sempre tentando manter o controle. Foi até a cozinha, abriu a geladeira sem fome alguma, apenas tentando se ocupar. Acabou pegando uma garrafa de água e se apoiou na bancada de mármore. O coração ainda batia um pouco mais rápido do que deveria. Ele a trouxe até em casa. "Não é seguro andar sozinha." Essas