Capítulo 2

Riccardo Fiore observava a filha como uma mistura de apreensão e orgulho. Olivia, com sua postura decidida e seu olhar forte, parecia mais uma mulher feita do que a jovem que ele lembrava, de olhos grandes e curiosos. O tempo parecia tê-la moldado de uma maneira que ele nem imaginava.

A distância de seis anos na Rússia a fizera mais madura, mas ao mesmo tempo, uma nostalgia o tomava, lembrando-lhe da menina que, embora sempre envolta na presença de sua autoridade, sempre parecia muito solitária.

-Olivia ...- Riccardo disse, com um sorriso breve, enquanto se aproximava dela e a abraçava com um carinho que, por um momento, parecia desconcertante para ela. Ele a segurou por um tempo, como se quisesse ter certeza de que ela estava ali, diante dele. - Não me avisou que viria.

Não sabia que voltaria tão cedo.

Olivia sentiu o abraço do pai e, por um momento, deixou que a vulnerabilidade dela tomasse conta. Ela sempre teve um relacionamento complicado com Riccardo.

O fato de ele ser um general muito respeitado e poderoso fazia com que ela se sentisse pequena, por mais que amasse profundamente aquele homem. Durante sua infância e adolescência, ele sempre esteve distante, imerso nas obrigações militares, e , embora tivesse feito o melhor que podia para protege-la, Olivia soubera que ele a tratava mais como uma responsabilidade do que como alguém com quem ele poderia se abrir.

-Eu precisava voltar, pai.- Ela se afastou levemente, sorrindo para ele. - Tenho sentido falta de estar aqui, perto de você.

Riccardo franziu a testa, como se algo estivesse se passando em sua mente.

Ele olhou para ela com um olhar atento, quase como se a analisasse, avaliando o tom de suas palavras, a expressão em seu rosto. Era claro que ele sabia que algo mais estava acontecendo com a filha, mas não perguntou diretamente. Ele não queria pressioná-la.

-Eu entendo. -Ele assentiu, mas seu olhar parecia distante por um momento, antes de ele se recuperar.- Vamos sentar, Olivia. Posso te contar tudo o que tem acontecido aqui. Eu sei que você tem muitas perguntas.

Eles se sentaram em uma mesa no escritório, uma sala austera com paredes decoradas com mapas militares, fotos antigas e alguns troféus de batalhas passadas. A base em si era um local que transpirava poder, mas também isolamento. Olivia sentiu a tensão da militaridade no ar, mas ao mesmo tempo, havia algo famíliar, algo que ela quase havia esquecido durante os anos que passou na Rússia.

Ela olhou para o pai, agora mais relaxado, mas ainda com aquele ar de autoridade natural que a fazia sentir como se estivesse na presença de um homem em um pedestal. Olivia sabia que, por mais que tentasse, nunca seria completamente igual a ele. O general era uma figura colossal, e ela, embora sua folha, sentia que sempre vivera á sombra dele.

-Eu sei que você deve ter muitas dúvidas, Olivia...- Riccardo começou, quebrando o silêncio.- Principalmente sobre o que aconteceu na minha vida. Mas eu preferia que você me contasse sobre a sua.

Olivia sorriu levemente, mas um desconforto a invadiu ao perceber que a conversa estava tomando um rumo mais pessoal. Ela não queria falar sobre o que havia acontecido na Rússia, não queria trazer a tona o sofrimento de ter sido traída por Ethan, de se sentir sozinha e perdida em um país onde ninguém parecia realmente conhecê-la. Mas sabia que seu pai sentia a necessidade de saber como ela estava, e isso a fez dar um suspiro profundo.

-Bom, a Rússia foi... complicada... Claro que teve suas partes boas, é um lugar incrível...-Ela fez uma pausa, tentando organizar suas palavras.-Conheci pessoas incríveis, como Anastasia. Ela foi minha melhor amiga lá. Mas, no fim, acabei me separando de Ethan. Ele me traiu, e foi o fim. Eu não... Eu não sabia o que mais eu poderia fazer, então eu decidi voltar. As vezes, é mais fácil começar de novo do que continuar em algo que não vale a pena.

Riccardo a observava com atenção, mas não interrompeu. Ele entendia que a dor era algo que ela tinha que processar sozinha, embora sua preocupação com ela fosse evidente.

- Você fez o certo. - Ele disse, por fim, com um olhar grave. - As vezes precisamos cortar laços para encontrar a paz.

Olivia não respondeu de imediato. Ela sabia que seu pai entendia, mas não podia negar que sentia uma pontada de solidão.

A distância que havia colocado entre ela e Riccardo durando os anos não era só física. Era emocional também. E, naquele momento, mais do que nunca, ela sentia o peso disso.

- Você sempre foi muito forte, Olivia. Mas não precisa carregar o mundo sozinha. -Riccardo completou, com um tom mais suave. - Eu sempre estive aqui, mesmo que você não tivesse ao meu lado.

Ela o olhou, percebendo que as palavras dele estavam carregadas de algo que ela não havia correspondido antes. O amor do pai era inquestionável, mas ele tinha sua própria maneira de demonstrá-lo. E, talvez, por isso, ela se sentia tão distante dele.

Antes que a conversa pudesse se aprofundar, alguém bateu a porta interrompendo o momento de vulnerabilidade entre pai e filha.

- General, precisamos de sua presença na sala de comando. - A voz que entrou pela porta era de um soldado. Quando Olivia olhou, viu que era Salvatore, o mesmo soldado que havia impedido de entrar mais cedo.

Olivia não pôde deixar de notar o modo como ele entrou, com passos firmes e sem hesitar. Seu olhar estava fixo em Riccardo, respeitoso, mas a falta de expressão em seu rosto não havia mudado.

-Pode aguardar um momento, Salvatore? -Riccardo perguntou, sua voz mantendo autoridade que sempre o caracterizou.

- Claro, senhor. -Salvatore respondeu sem mais palavras, permanecendo de pé, perto da porta.

Olivia não pôde deixar de observar a postura dele. Mesmo ali, em frente ao general, Salvatore não se abalava. Ele mantinha uma compostura perfeita, como se estivesse em um ambiente qualquer, onde seu dever era tudo o que importava. E, por alguma razão, isso a fascinava ainda mais. A resistência dele, a forma como ele parecia estar completamente alheio à sua presença, a tornava ainda mais curiosa.

Ela sentiu um impulso de se levantar e ir até ele, mas se conteve. Era estranho, mas algo nela a impulsionava a querer entender mais sobre aquele homem, sobre a maneira como ele operava sob a superfície de suas regras rígidas.

Riccardo, aparentemente não notando o desconforto de Olivia, levantou-se da mesa, sinalizando que o momento entre eles estava chegando ao fim.

-Eu preciso ir agora, Olivia. - Ele disse com um olhar de desculpas. - Vamos conversar mais tarde, ok?

Olivia assentiu, tentando esconder a inquietação que sentia. Ela sabia que seu pai não estava sendo indiferente, mas a presença de Salvatore a fazia se sentir estranha, em conflito. Algo nela desejava entender mais sobre ele, mas não sabia por onde começar.

Quando Riccardo saiu da sala, Olivia se levantou lentamente, e seus olhos involuntariamente se encontrando com os de Salvatore. Ele estava em pé, como sempre, mas dessa vez, algo no olhar dele parecia mais...observador. Como se ele soubesse que ela estava ciente de sua presença.

- Você pode se sentar, senhorita Fiore. - Ele disse com um tom imperturbável.

Olivia olhou para ele, um leve sorriso surgindo em seus lábios. Algo naquela situação a fazia sentir um jogo, uma tensão que não conseguia controlar, mas que de alguma forma a atraía para ele.

- Não precisa de formalidades. - Ela disse, seus olhos encontrando os dele com mais intensidade do que ela pretendia. -Eu só... não espera que você fosse tão... sério.

Salvatore não respondeu imediatamente, mas seu olhar se suavizou por um momento, antes de ele voltar à sua postura rígida.

-Trabalho é trabalho, senhorita. -Ele respondeu, sua voz calma e controlada.

Olivia sentiu um misto de frustração e fascínio crescendo dentro de si. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas a tensão entre eles era palpável. Algo nela começava a reconhecer a resistência que ele oferecia, e , de maneira inesperada, isso a fazia querer saber mais. Saber o que se passava por trás daquela fachada de soldado imbatível.

Enquanto Riccardo ainda estava na sala de comando, Olivia se perdeu por um momento em seus próprios pensamentos, sem saber exatamente o que fazer com os sentimentos conflitantes que surgiam dentro dela.

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