Olivia acordou no dia seguinte sentindo o peso de uma noite mal dormida. Seu corpo estava cansado, sua mente exausta. As palavras de Salvatore ecoavam em sua cabeça como um mantra cruel e imutável: "Eu nunca amarei ninguém. Nunca me apaixonarei." Ela rolou na cama, tentando afastar o aperto no peito, mas era inútil. Cada palavra dita por ele na noite anterior perfurava seu coração como lâminas afiadas. Ela sabia que ele não era um homem fácil, que carregava seus próprios fantasmas e cicatrizes. Mas ouvir aquilo da boca dele, com uma frieza quase cruel, foi mais doloroso do que imaginava. Mas por que aquilo a afetava tanto? Olivia não deveria sentir nada disso por ele. Conhecia Salvatore há poucos dias, ele era um completo desconhecido. Ainda assim, algo nele a puxava para mais perto, a fazia questionar seus próprios sentimentos e a lógica que sempre seguiu. Respirou fundo, sentindo a brisa da manhã entrar pela janela entreaberta. O sol já iluminava o quarto, mas para Olivia, tudo p
Olivia caminhava pelo pátio da base militar quando avistou Salvatore. Ele estava encostado em uma pilastra, os braços cruzados, observando os soldados em treinamento. Seu olhar era frio e distante, como sempre, mas havia algo na forma como sua mandíbula estava travada que denunciava um resquício de tensão. Respirando fundo, ela se aproximou determinada. — Salvatore, precisamos conversar. Ele virou o rosto lentamente para ela, expressão impassível, mas os olhos escuros brilharam com um relance de irritação. — Não temos nada para conversar, senhorita. — Você sempre diz isso, mas— — Porque é a verdade. Agora volte para dentro. A rispidez no tom dele fez algo dentro dela se contrair, mas Olivia manteve-se firme, cruzando os braços. — Por que você age assim? O que está tentando esconder? Ele riu de leve, sem humor, e desviou o olhar para o campo de treinamento. — Nada. Apenas não quero problemas. — Problemas? — Olivia estreitou os olhos, estudando cada detalhe da expressão dele.
Salvatore entrou na sala do general Riccardo, batendo continência. — Senhor, pediu para me ver? O general o encarou com olhar analítico e assentiu. — Sim, Salvatore. Preciso discutir a nova leva de recrutas. Alguns dos superiores estão preocupados com o desempenho dos mais jovens. Salvatore manteve a postura rígida. — Sim, senhor. Tenho observado o progresso deles e há alguns que precisam de treinamento intensivo. Especialmente em táticas de combate corpo a corpo. O general cruzou os braços, refletindo. — E quanto à disciplina deles? — Ainda precisa ser reforçada, mas estamos trabalhando nisso. O senhor pode confiar que até o final do mês teremos um esquadrão mais preparado. Riccardo assentiu, satisfeito. — Ótimo. Continue assim. Preciso de soldados fortes e leais. Salvatore fez uma breve continência. — Sim, senhor. O general o observou por um instante antes de dispensá-lo. Salvatore saiu da sala, ciente de que seu foco deveria estar no trabalho, não em distrações desnece
Olivia observou Salvatore se afastar com passos firmes e postura impecável. Ele não olhou para trás, não hesitou, apenas seguiu seu caminho como se nada além de sua rotina importasse. Ela sentiu uma mistura de frustração e curiosidade. Desde que chegou à base, percebeu que ele era diferente dos outros soldados. Não era apenas rígido ou disciplinado – Salvatore era um homem que se recusava a permitir qualquer tipo de proximidade. Mas Olivia não era o tipo que desistia fácil. Respirou fundo e acelerou o passo, saindo do pátio de treinamento e seguindo na mesma direção que ele. Não tinha certeza do que esperava com aquilo. Talvez apenas uma conversa, uma troca de palavras que não fosse tão distante e fria. Salvatore estava a poucos metros à frente quando ela chamou seu nome. — Salvatore. Foi a segunda vez que o chamou assim, sem formalidades. A palavra saiu naturalmente, mas carregada de intenção. Ele parou no mesmo instante. Por um momento, Olivia pensou que ele não fosse s
O despertador tocou suave, mas Olivia já estava com os olhos abertos antes mesmo do primeiro som ecoar. A luz da manhã invadia o quarto pelas frestas da cortina, e um leve vento balançava as folhas da árvore do lado de fora da janela. Ela se sentou na cama, prendeu o cabelo com uma presilha simples e bocejou baixinho. Ainda sonolenta, mas com uma estranha sensação de propósito naquela manhã. Levantou-se e seguiu até a cozinha em passos lentos, de meias. O chão frio contrastava com o calor gostoso do sol batendo pelas janelas. — Acho que vou fazer algo pro papà comer... — murmurou para si mesma, abrindo a geladeira. — Ele deve estar atolado de trabalho na base, como sempre. Separou os ingredientes com cuidado: pão italiano, queijo, presunto, tomate e folhas frescas de manjericão. Enquanto montava os sanduíches, pensou em como o pai sempre esquecia de comer quando estava imerso nos relatórios ou inspecionando os pelotões. Com os sanduíches prontos, empacotou tudo com cuidado,
Salvatore permaneceu parado por longos segundos, os olhos fixos na sacola como se esperasse que ela desaparecesse. Seu peito ainda subia e descia com o esforço do treino, mas agora, era como se o esforço maior estivesse dentro dele. O que ela queria com aquilo? Aquilo era um gesto simples, sim. Comida. Um agrado qualquer. Mas vindo dela, tinha um peso diferente. Tinha intenção. Tinha presença. E isso... isso o incomodava. Com a mandíbula travada, ele caminhou até o banco de concreto ao lado da parede do pátio e se sentou. Tirou as ataduras das mãos com movimentos lentos, tentando ignorar o que sentia. Quando abriu a sacola, sentiu o aroma do café, do pão fresco, do tiramisù ainda frio — e o estômago roncou antes que ele pudesse se conter. Resistência era seu forte. Mas nem sempre se tratava de não ceder à fome. Ele comeu em silêncio, o olhar distante. Não era só a comida que aquecia. Era a lembrança dela o preparando, dela decidindo levá-lo também em mente, quando poderia ter fei
Olivia caminhava de um lado para o outro em seu quarto, os braços cruzados e o maxilar travado de tanto pensar. Desde que saiu da base naquela manhã, depois de deixar a sacola nas mãos de Salvatore e ouvir aquele “obrigado” tão seco, ela não conseguia parar de se perguntar se tinha feito a coisa certa. Ele tinha agradecido, sim. Mas não como alguém que recebia um agrado. Foi quase como se as palavras tivessem saído com dor. Como se engolir aquele simples gesto tivesse custado algo precioso para ele. E isso só deixava tudo mais intrigante. Olivia suspirou, jogando-se de costas na cama. Seu quarto estava em silêncio, e ela odiava aquilo. O silêncio fazia com que os pensamentos tomassem conta — especialmente os que envolviam um certo soldado de rosto sério, olhar tenso e autocontrole em excesso. Ela pensava no momento exato em que ele segurou a sacola. A forma como demorou a reagir. Como se aquele gesto tão simples fosse, de algum modo, perigoso. "Ele tem medo de quê? Da comida o
Ela se afastou com a mesma leveza com que havia se aproximado, como se o mundo girasse no ritmo que ela decidia. Salvatore não se mexeu. Não respondeu. Apenas observou — e isso já era perigoso o bastante. A bala de café repousava ali, solitária, como uma provocação silenciosa. Ela está brincando com fogo. Ele inspirou profundamente, controlando o impulso de ir atrás dela e dizer... o quê? Que ela parasse? Que aquilo era imprudente? Que ele não podia lidar com mais distrações? Que ela o deixava desarmado de um jeito que nenhuma arma conseguiria? Seria ridículo. Mais ridículo ainda foi o fato de ele estender a mão e pegar a bala. O papel fazia um leve estalo entre os dedos enfaixados. Um gesto simples, inofensivo — mas que o irritava profundamente porque, no fundo, ele sabia o que significava: ela estava testando limites. E ele... estava deixando. Ele se sentou no banco. Passou a mão pelo rosto suado, tentando afastar o calor que subia não só do treino. Bolt apareceu do ou