Quando cheguei em casa, fui recebida por um silêncio reconfortante, uma tranquilidade que eu não sentia há muito tempo, nem mesmo na minha antiga casa. Era uma paz diferente, algo que me envolvia como um abraço invisível, trazendo um sentimento de pertencimento inesperado. Subi as escadas sem pressa, ainda digerindo os acontecimentos do dia. Assim que entrei no quarto, guardei as compras e segui direto para o banheiro. A água quente escorrendo pelo meu corpo parecia levar embora o peso daquele encontro desagradável com João e Gabriella. Mas, o que mais me surpreendia era minha própria reação. Eu não sentia raiva, tristeza ou qualquer resquício de amor. Apenas vergonha – vergonha por ter aceitado as migalhas que João me oferecia no passado. Após o banho, escolhi um dos vestidos novos que havia comprado. Era leve, bonito e realçava minhas curvas de um jeito sutil. Fiquei observando meu reflexo no espelho, ajeitando os detalhes do tecido, quando um assobio baixo ecoou pelo quarto.
Desde o dia em que Ronaldo me apresentou à biblioteca, minhas manhãs nunca mais foram as mesmas. Antes, eu não tinha um propósito tão claro ao despertar, mas agora, assim que meus olhos se abrem, sinto uma necessidade quase instintiva de ir até lá. Há algo naquele lugar que me acolhe, que me envolve de uma maneira inexplicável. Estar entre os livros, sentir o cheiro das páginas envelhecidas e percorrer com os dedos as lombadas cuidadosamente organizadas nas prateleiras me dá uma sensação de pertencimento. Ao sair do quarto, parei por um instante diante da janela do corredor. O ar parecia fresco e convidativo, então decidi que seria uma ótima ideia passar a manhã ao ar livre. Peguei um livro na biblioteca e fui até o jardim, encontrando um cantinho agradável sob a sombra de uma árvore frondosa. Emma já havia saído para a escola, mas não antes de me desejar bom dia e me fazer prometer que esperaria por ela na biblioteca quando chegasse. Eu estava tão absorta nas páginas que quas
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha ao ouvir a voz firme de Ronaldo atrás de mim. O sentimento inesperado de calma e... paz... invadiu meu peito, uma âncora em meio ao turbilhão. Mas João não compartilhava dessa tranquilidade. Seu rosto crispado se fechou ainda mais enquanto ele soltava meu braço, como se o toque tivesse o queimado. Ronaldo avançou com a confiança de quem está sempre no controle, sua mão grande e firme pousando em meu ombro em um gesto de posse. — Está tudo bem por aqui? — Sua voz era um desafio disfarçado de cortesia. João abriu a boca, a irritação evidente em cada sílaba cuspida: — Eu só estava perguntando o que ela está fazendo... Ronaldo o interrompeu com a frieza cortante de uma lâmina: — Não perguntei para você. Estou falando com a minha mulher. — Seus olhos me encontraram, intensos e cheios de um poder inegável. — Você está bem? A resposta escapou antes que eu pudesse hesitar: — Sim, eu estou bem. Vamos voltar à mesa. João ainda me olh
Ronaldo — Me daria a honra dessa dança? — estendi a mão para Margarida. Ela hesitou por um instante. Seus olhos carregavam um brilho inquieto, reflexo da recente interação com João. Eu percebia tudo. Ele não desviava o olhar dela nem por um segundo, enquanto sua acompanhante, claramente incomodada, tentava a todo custo chamar sua atenção. — Claro — ela sorriu, mas seu sorriso carregava algo a mais. O salão estava repleto de casais rodopiando sob a luz suave dos lustres. A melodia que preenchia o ambiente era tranquila, quase hipnótica. Segurei suas mãos delicadas, sua pele quente enviando uma descarga elétrica pelo meu corpo. Era como se o universo nos puxasse um para o outro, numa conexão silenciosa. Deslizei minha mão para sua cintura, puxando-a com delicadeza. Começamos a nos mover em sintonia, cada passo milimetricamente alinhado com a batida da música. — Tente não ficar ansiosa — murmurei, meu rosto próximo ao dela. — Eu estou... — ela suspirou, franzindo levemente
O dia que deveria ser de celebração se tornou o pior da minha vida.– Se você estiver mal, posso ficar em casa com você. – ofereci, me sentia mal em deixa-lo doente e sozinho em casa.Eu tinha uma viagem de negócios para tratar de uma possível parceria com outra companhia, as meu marido, João, acordou indisposto e doente, então, eu estava dividida entre ficar com ele e comemorar seu aniversário, ou ir nessa viagem.– Não precisa. – respondeu, como sempre, sem humor. – Eu vou ficar bem. Já tem um tempo que João está assim, tão frio e distante, agindo de forma arredia comigo, eu não sei mais o que fazer, já tentei de tudo para recuperarmos aquela chama de amor que nos envolveu quando nos casamos, mas parece que nada do que eu faço é suficiente. – Hoje é seu aniversário, meu amor, eu gostaria... quero dizer, acho que podemos comemorar juntos. – falei esperançosa. Eu esperava que ele pelo menos me desse um abraço, um beijo, me desejasse feliz aniversário, mas as coisas estavam estranha
De repente, tudo o que aconteceu em minha vida amorosa nos últimos anos se tornou uma mentira. E diversos questionamentos passavam pela minha cabeça, quando isso começou? Será que João nunca havia me amado? Enquanto dava passos para trás, minha mente vagava para algumas lembranças que foram sufocadas em meu subconsciente. Minha mente estava longe dali, mergulhada no passado, em cada cena que agora parecia ter um novo significado.Lembro-me com clareza de tudo, eu quem sempre estava atrás de João. Convidando-o para sair, era sempre eu que me oferecia para ajudá-lo com os estudos, tudo era eu, sempre eu. Me lembro que uma vez, ele estava sozinho em uma das mesas do refeitório, estava comendo e eu decidi me aproximar, me matriculei na mesma turma de administração que ele estava. *****lembrança“ – OI, João- cumprimentei eufórica. Já faz um tempo que sou apaixonada por ele, mas João nunca me deu muita bola.– Olá – respondeu como sempre. Nem grosseiro e nem amigável, sempre um tom de e
Ronaldo Em breve. Muito em breve, irei conquistar a companhia JS Group. O último obstáculo entre mim e o domínio absoluto dos maiores investimentos do país está prestes a cair. Meu maior inimigo, o atual chefe da empresa, não faz ideia do que está por vir. A cada movimento, me aproximo mais da vitória. – Estou muito perto de conquistar, meu amigo. Você vai ver – murmurei, um sorriso frio se formando em meus lábios. – Em breve, aquela companhia vai cair nas minhas... O carro freou bruscamente. Meu corpo foi jogado levemente para a frente, cortando minha fala no meio. O silêncio denso foi quebrado apenas pela respiração tensa de Alfred, meu motorista, que me olhou pelo espelho retrovisor, os olhos arregalados. – Ela apareceu de repente, senhor. Era uma mulher. Uma mulher? Minha mente girou. O que alguém estaria fazendo ali, na beira da estrada, àquela hora? – Confira se ela está bem. Agora. – ordenei, minha voz mais firme do que eu esperava. Sem esperar pela ação de Alfred, abri
Margarida Acordei novamente, minha cabeça doía e o homem que me salvou... como era mesmo seu nome? Ainda estava ali, sentado na poltrona ao lado da cama, com a garotinha nos braços, os dois com os olhos presos em mim. Senti um arrepio passar por todo o meu corpo ao vê-lo me olhando tão intensamente. Sentei-me na beira da cama do hospital. Ele retirou um cartão do bolso e estendeu na minha direção. Baixei o olhar e fiquei observando o papel em minhas mãos. O nome dele estava ali, acompanhado do número de telefone e do nome da empresa onde trabalhava: Empresa. RV Group. Uau. — O meu papai é muito bom, ele vai cuidar de você, é só ligar para ele. — a menininha falou. O homem, deu um pequeno sorriso ao ouvi-la e balançou a cabeça, achando graça. — Se precisar de qualquer coisa, me procure e eu cuidarei de você. — Ele disse, de forma séria. Seu olhar parecia sincero, mas eu não podia confiar em ninguém agora. – Tudo bem, eu agradeço pela ajuda. – respondi de forma calma. A voz