Acordei novamente, minha cabeça doía e o homem que me salvou... como era mesmo seu nome? Ainda estava ali, sentado na poltrona ao lado da cama, os olhos presos em mim. Senti um arrepio passar por todo o meu corpo ao vê-lo me olhando tão intensamente.
Sentei-me na beira da cama do hospital. Ele retirou um cartão do bolso e estendeu na minha direção. Baixei o olhar e fiquei observando o papel em minhas mãos. O nome dele estava ali, acompanhado do número de telefone e do nome da empresa onde trabalhava: Empresa. RV Group. Uau.— Se precisar de qualquer coisa, me procure e eu cuidarei de você. — Ele disse. Seu olhar parecia sincero, mas eu não podia confiar em ninguém agora.
– Tudo bem, eu agradeço pela ajuda. – respondi de forma calma. A voz veio de perto, grave e carregada de preocupação. Levantei os olhos e vi Ronaldo me encarando. Seus olhos escuros analisavam meu rosto, como se tentassem decifrar o que havia acontecido. – Margarida? – me chamou. Me perguntei como ele saberia meu nome, mas não respondi. Apenas fechei os olhos e suspirei. Eu não estava bem para conversar naquele momento. Acho que ele entendeu o recado, pois afirmou: – Preciso sair agora, mas volto em breve. Fique bem. Ele era uma presença imponente, muito marcante. Não havia palavras para descrevê-lo, mas eu estava em um momento muito vulnerável e não tinha cabeça para pensar em outra coisa que não fosse consertar minha vida.Coloquei o papel lentamente e o guardei em cima da pequena mesa ao lado da cama. Eu sabia que jamais o procuraria, mas de alguma forma, era reconfortante saber que alguém se importava, mesmo que superficialmente.
Lentamente, as horas se passaram, a angústia ainda estava me apertando, me consumindo. Eu procurava respostas para o que parecia não ter nenhuma, não no momento. As enfermeiras entraram várias vezes para conferir se estava tudo certo. Perguntei se poderia ir embora logo, sei que era seguro ficar a aguardar, mas eu precisava começar a planejar meus próximos passos. Acabei cochilando outra vez. E novamente, quando abri os olhos, encarei aquele mar de azul intenso e fixos em mim. Eram lindos.— Margarida? –me chamou com a voz calma.
– Sim. Como sabe meu nome? – questionei. – Eu fui o responsável por coloca-la nessa cama de hospital, busquei informações sobre você, para saber como proceder. – explicou. Seu olhar tinha um toque de cautela antes dele continuar: - O que aconteceu para você estar sozinha na beira da estrada naquela hora?A voz veio de perto, grave e carregada de preocupação. Quando levantei os olhos, vi Ronaldo me encarando. Seus olhos escuros analisavam meu rosto, como se tentassem decifrar o que havia acontecido..
Eu queria falar. Parte de mim queria contar tudo, despejar a verdade ali, mas ao invés disso, forcei um sorriso amargo. Um sorriso que não alcançava meus olhos.
— Nada. — Minha voz saiu baixa, mas firme.
Ronaldo franziu a testa, claramente não convencido, mas não insistiu. Após um longo instante, ele suspirou e assentiu.
— Se precisar... você sabe onde me encontrar. – apontou para o cartão na mesa ao lado. – Passei para acertar os valores e todo o suporte que você precisar e decidi ver como você estava.
– Obrigada – falei outra vez, parecendo incapaz de verbalizar outra coisa. Ronaldo pareceu querer dizer mais algo, mas também decidiu se calar. Assentiu devagar e saiu, deixando-me sozinha, observando-o se afastar. Assim que ele desapareceu pela porta, peguei o celular e disquei um número familiar.— Anna, preciso de você. – falei assim que ela atendeu.
Minha melhor amiga atendeu de imediato, e ao som de sua voz calorosa, senti um nó apertar minha garganta.
— Estarei na sua casa hoje. Vou precisar da presença do meu advogado também. — afirmei séria.
Não precisei explicar. Anna sempre soube ler nas entrelinhas.
Eu deveria continuar no hospital em observação, mas não havia tempo para isso. Minha mente estava em caos, e meu corpo, apesar da exaustão, parecia movido por uma força maior: a necessidade de tomar o controle da minha vida. Arrumei minhas coisas rapidamente, olhei para o cartão de Ronaldo e, num impulso, guardei-o no bolso. Nunca se sabe o dia de amanhã.
Peguei um táxi e, meia hora depois, estava na porta da casa de Anna. Assim que ela abriu, seus olhos se arregalaram ao me ver. Sem dizer uma palavra, ela me puxou para um abraço apertado.
— Margarida, o que aconteceu? — sua voz saiu carregada de preocupação.
Foi dentro do abraço dela que finalmente me permiti desabar. As lágrimas que contive até aquele momento caíram sem controle, encharcando seu ombro. Meu corpo tremia, e tudo que eu havia engolido durante aquelas horas sufocantes veio à tona.
— Eu fui uma idiota, Anna… — murmurei, a voz embargada. — Eu devia ter enxergado antes, mas eu… eu não quis ver.
Ela se afastou o suficiente para me olhar nos olhos, seu semblante era uma mistura de fúria e compaixão.
— O que ele fez agora? — sua voz tremia de raiva.
Respirei fundo, tentando recuperar o controle, e comecei a contar. Contei tudo. Como João nunca me amou de verdade. Como tudo foi uma farsa, um jogo de manipulação para conseguir o que queria. Falei das mentiras, da frieza e do quanto eu me senti vazia ao perceber que estive casada com um estranho esse tempo todo.
— Aquele miserável… — Anna cerrou os punhos. — Eu o odeio, Margarida. Você sabe disso. Ele não tinha o direito de magoar você desse jeito.
Assenti lentamente, sentindo um cansaço profundo pesar sobre mim.
— Não, ele não tinha. — murmurei. — Anna, ligue para o advogado e peça para ele vir. Quero resolver isso de uma vez por todas. Eu vou me divorciar.
Os olhos dela brilharam com aprovação. Anna sempre foi minha rocha, e agora, mais do que nunca, eu precisava dela ao meu lado.
A reunião aconteceu naquela mesma noite. O advogado chegou pontualmente, seu olhar sério demonstrava que já imaginava o que estava por vir. Ele começou a delinear os termos do divórcio com cuidado, escolhendo as palavras com precisão. Eu ouvia tudo, mas ainda assim, uma parte de mim se recusava a acreditar que aquele era o fim do meu casamento.
Quando tudo parecia encaminhado, o advogado pigarreou, seu tom cauteloso, como se estivesse prestes a revelar algo que não gostaria de dizer.
— Margarida… tem algo que você precisa saber. Seu marido transferiu a maior parte dos bens que estavam no nome de vocês.
A sala pareceu girar ao meu redor.
— O quê? — minha voz saiu baixa, carregada de incredulidade.
— Sim. De acordo com esses registros, ele movimentou os bens há algumas semanas. — explicou, deslizando alguns documentos sobre a mesa.
Peguei as folhas com as mãos trêmulas, meu olhar correndo pelas informações. Era verdade. João havia planejado isso. Ele já sabia que eu descobriria a verdade e que pediria o divórcio. Então, na calada da noite, sem que eu percebesse, garantiu que sairia dessa como o grande vencedor.
O choque foi substituído por um calor crescente. Não era tristeza. Não era dor.
Era raiva.
— Ele acha que pode me destruir. — minha voz saiu baixa, mas firme. Meus olhos ardiam, mas dessa vez, não era pelo choro. Era pela determinação que crescia dentro de mim.
Anna cruzou os braços, encarando-me com um brilho desafiador nos olhos.
— E o que vamos fazer sobre isso?
Endireitei minha postura, apertando os papéis nas mãos.
— Vamos lutar. Se ele acha que pode me enganar e sair ileso, ele está muito enganado.
A guerra havia começado.
Eu estava me olhando no espelho. Vestia um vestido lindo, que Ana me emprestou, eu ainda não havia voltado em casa e só pretendia voltar quando fosse para pegar o que era meu de volta. – Tem certeza que quer ir sozinha? – questionou, preocupada. – Tenho, eu preciso disso. – suspirei. – Eu volto logo. – Tudo bem, mas se precisar de mim, me avise. – falou com o olhar pesaroso. Eu estava vivendo o pior momento da minha vida, mas não deixaria que isso me transformasse em uma pobre coitada. Pedi um táxi e fui até a empresa de Ronaldo, eu sabia que ele estaria lá.Caminhei pelos corredores da empresa com passos firmes, mas minha mente estava em ebulição. A cada passo, meu peito ardia com a possibilidade do que poderia acontecer a seguir. Eu precisava encarar João, precisava ouvir da boca dele o que já começava a parecer óbvio. Meu coração batia forte, mas não era medo. Era raiva. Uma raiva sufocante que me impelia para frente.Empurrei as portas do escritório de João sem sequer anunciar
– Me arrepender? Ora, Margarida, não seja idiota, você não tem quase nada mais. Eu transferi tudo, minha empresa cresceu muito mais do que a companhia dos seus pais. Não seja burra, vou dar-lhe um cheque, para que você suma rápido da minha vida e pare de me importunar, assim o divórcio andará mais rápido, entrarei em contato com o advogado. – afirmou, como se eu não passasse de uma mulher qualquer a quem ele estava dando uma esmola.Ri, zombando de sua falta de caráter.– Eu não preciso do seu dinheiro. Mas concordo, vamos nos divorciar logo. Guarde minhas palavras, João. Vai se arrepender de tudo que me fez.Sem esperar mais nada ali, me retirei daquele lugar. Saí de cabeça erguida, mas meu coração estava chorando e meus sentimentos estavam destruídos. A culpa começava a me corroer, como eu fui tão burra e não percebi os sinais? Eles sempre estiveram lá.Voltei para a casa de Anna e passei um tempo sozinha, no quarto de hóspedes, pensando em quais passos eu deveria dar.– Eu sei que
O dia que deveria ser de celebração se tornou o pior da minha vida.– Se você estiver mal, posso ficar em casa com você. – ofereci, me sentia mal em deixa-lo doente e sozinho em casa.Eu tinha uma viagem de negócios para tratar de uma possível parceria com outra companhia, as meu marido, João, acordou indisposto e doente, então, eu estava dividida entre ficar com ele e comemorar seu aniversário, ou ir nessa viagem.– Não precisa. – respondeu, como sempre, sem humor. – Eu vou ficar bem. Já tem um tempo que João está assim, tão frio e distante, agindo de forma arredia comigo, eu não sei mais o que fazer, já tentei de tudo para recuperarmos aquela chama de amor que nos envolveu quando nos casamos, mas parece que nada do que eu faço é suficiente. – Hoje é seu aniversário, meu amor, eu gostaria... quero dizer, acho que podemos comemorar juntos. – falei esperançosa. Eu esperava que ele pelo menos me desse um abraço, um beijo, me desejasse feliz aniversário, mas as coisas estavam estranha
De repente, tudo o que aconteceu em minha vida amorosa nos últimos anos se tornou uma mentira. E diversos questionamentos passavam pela minha cabeça, quando isso começou? Será que João nunca havia me amado? Enquanto dava passos para trás, minha mente vagava para algumas lembranças que foram sufocadas em meu subconsciente. Minha mente estava longe dali, mergulhada no passado, em cada cena que agora parecia ter um novo significado.Lembro-me com clareza de tudo, eu quem sempre estava atrás de João. Convidando-o para sair, era sempre eu que me oferecia para ajudá-lo com os estudos, tudo era eu, sempre eu. Me lembro que uma vez, ele estava sozinho em uma das mesas do refeitório, estava comendo e eu decidi me aproximar, me matriculei na mesma turma de administração que ele estava. *****lembrança“ – OI, João- cumprimentei eufórica. Já faz um tempo que sou apaixonada por ele, mas João nunca me deu muita bola.– Olá – respondeu como sempre. Nem grosseiro e nem amigável, sempre um tom de e
Em breve. Muito em breve, irei conquistar a companhia JS Group. O último obstáculo entre mim e o domínio absoluto dos maiores investimentos do país está prestes a cair. Meu maior inimigo, o atual chefe da empresa, não faz ideia do que está por vir. A cada movimento, me aproximo mais da vitória.– Estou muito perto de conquistar, meu amigo. Você vai ver – murmurei, um sorriso frio se formando em meus lábios. – Em breve, aquela companhia vai cair nas minhas...O carro freou bruscamente. Meu corpo foi jogado levemente para a frente, cortando minha fala no meio. O silêncio denso foi quebrado apenas pela respiração tensa de Alfred, meu motorista, que me olhou pelo espelho retrovisor, os olhos arregalados.– Ela apareceu de repente, senhor. Era uma mulher.Uma mulher? Minha mente girou. O que alguém estaria fazendo ali, na beira da estrada, àquela hora?– Confira se ela está bem. Agora. – ordenei, minha voz mais firme do que eu esperava.Sem esperar pela ação de Alfred, abri a porta do carr