Eu estava me olhando no espelho. Vestia um vestido lindo, que Ana me emprestou, eu ainda não havia voltado em casa e só pretendia voltar quando fosse para pegar o que era meu de volta.
– Tem certeza que quer ir sozinha? – questionou, preocupada. – Tenho, eu preciso disso. – suspirei. – Eu volto logo. – Tudo bem, mas se precisar de mim, me avise. – falou com o olhar pesaroso. Eu estava vivendo o pior momento da minha vida, mas não deixaria que isso me transformasse em uma pobre coitada. Pedi um táxi e fui até a empresa de Ronaldo, eu sabia que ele estaria lá.Caminhei pelos corredores da empresa com passos firmes, mas minha mente estava em ebulição. A cada passo, meu peito ardia com a possibilidade do que poderia acontecer a seguir. Eu precisava encarar João, precisava ouvir da boca dele o que já começava a parecer óbvio. Meu coração batia forte, mas não era medo. Era raiva. Uma raiva sufocante que me impelia para frente.
Empurrei as portas do escritório de João sem sequer anunciar minha chegada. O olhar surpreso dele me atingiu como um golpe, mas foi a mulher ao lado dele que realmente chamou minha atenção. Gabriela. Sua expressão oscilou entre o choque e um sorriso forçado.
Subi lentamente pelo seu corpo, os saltos, eram os mesmos que eu encontrei naquela noite com Ronaldo. Seria uma grande coincidência? Não. Porque quando ouvi sua voz, finalmente a ficha caiu. Por isso eu sabia que conhecia aquela voz de algum lugar. Gabriela. Ela é a amente de João.— Margarida! Que surpresa! — disse, sua voz melosa demais para ser verdadeira.
Meus olhos deslizaram pelo ambiente. Sua cadeira estava colocada ao lado da cadeira dele. Patrão e funcionária não sentam tão juntos assim, sem falar no botão de sua camisa social, está aberto até quase mostrar os seios. Não perdi tempo olhando para ela.
Virei-me para João, que já havia se levantado e ajeitava a gravata, tentando manter a compostura.
— Quando chegou? — Ele perguntou, a voz carregada de frustração disfarçada.
A risada amarga escapou antes que eu pudesse contê-la.
— Na mesma noite em que você levou Gabriella para a nossa cama. — Cruzei os braços. — Quero que pare de agir como se fosse um homem decente, João. Porque eu já sei de tudo.
Ele trocou um olhar com Gabriela, que mantinha a expressão de quem estava se divertindo com a situação. Isso só aumentou minha fúria. Dei um passo à frente, reduzindo a distância entre nós.
— Diga, Gabriela — falei, sorrindo friamente. — Há quanto tempo você e o meu marido me fazem de idiota?
Ela piscou algumas vezes e, então, soltou um risinho debochado. Por um breve momento, ela tentou manter sua máscara de falsa cordialidade, mas ao ver que eu não recuava, sua expressão mudou. Tornou-se mais dura, mais venenosa.
— Você finalmente percebeu, não é? — Gabriela cruzou os braços. — Eu já estava me perguntando quanto tempo levaria para você juntar as peças.
O sangue fervia em minhas veias, mas me mantive firme. Não lhe daria o prazer de ver minha dor. No entanto, a ira estampada em meu olhar era impossível de esconder.
— Eu poderia quebrar a sua cara agora mesmo — murmurei, com um sorriso sem humor.
— Ora, Margarida, pare de se fazer de vítima. — Ela revirou os olhos. — João nunca te amou. Eu sou a única que ele quer. E você deveria fazer um favor a todos e sair do caminho.
Minha risada ecoou pelo escritório, fria e carregada de desdém.
— Você realmente acha que vou facilitar a vida de vocês? — Minha voz saiu cortante. — Você acha que pode aparecer na minha frente e me dizer essas coisas como se eu fosse me encolher e aceitar?
Gabriela aproximou-se, sua expressão distorcida pelo desprezo.
— Aceitar ou não, pouco me importa. O João já fez a parte dele. Ele transferiu os bens. Ele garantiu que você não saísse disso com nada. E se ainda restava alguma dúvida, deixe-me esclarecer algo que talvez parta seu frágil coração: o seu aborto, Margarida... não foi um acidente. Ele nunca te quis de verdade.
Meu corpo ficou imóvel. As palavras de Gabriela pairaram no ar, cortando meu fôlego como uma lâmina afiada.
— O... quê? — Minha voz era um sussurro fraco.
Ela sorriu, triunfante.
— João nunca quis aquele bebê. Ele fez questão de garantir que você também não o tivesse. Você realmente acha que foi só um incidente infeliz? João te odeia, Margarida. Sempre odiou. E ele quer que você desapareça da vida dele. Aceite logo isso e pare de incomodá-lo.
O mundo girou ao meu redor. O ar parecia denso, pesado. Um grito silencioso rasgava minha alma. Aquela dor que eu carregava por tanto tempo, aquela perda que me assombrava, agora tinha uma causa, um culpado.
E esse culpado estava parado bem na minha frente.
Eu podia sentir meus dedos tremendo, mas não de medo. De raiva. De um ódio ardente, avassalador, diferente de tudo que já senti antes. Minhas unhas cravaram-se na palma da minha mão enquanto minha respiração se tornava pesada. Eu queria gritar, queria destruir tudo à minha volta, queria acabar com eles ali mesmo. Mas, ao invés disso, um sorriso frio desenhou-se em meus lábios.
— Vocês vão se arrepender — sussurrei, encarando Gabriela primeiro, depois João. — Eu juro que vão pagar por cada gota de dor que me causaram.
João levantou a mão, impaciente e balançou a cabeça.— Ah, por favor. O que você vai fazer? Choramingar para o seu advogado? Boa sorte com isso. Margarida. Aceite e saia com um mínimo de dignidade.
Fechei os olhos por um instante, absorvendo a humilhação. Então, quando os abri novamente, minha determinação estava selada.
— Vocês pensam que já venceram. Mas vocês não me conhecem— Me aproximei de João, que permanecia em silêncio, evitando meu olhar. — E você, João... vai se arrepender amargamente de cada escolha que fez.
Minha voz estava firme, cortante como uma lâmina. Eu podia ver Gabriela se remexendo desconfortável e, pela primeira vez, uma pequena faísca de preocupação cruzar os olhos de João. Se João achava que poderia me descartar como algo descartável, se Gabriela acreditava que podia pisar em mim impunemente, estavam muito enganados.
A guerra havia começado. E eu não pretendia perder.
– Me arrepender? Ora, Margarida, não seja idiota, você não tem quase nada mais. Eu transferi tudo, minha empresa cresceu muito mais do que a companhia dos seus pais. Não seja burra, vou dar-lhe um cheque, para que você suma rápido da minha vida e pare de me importunar, assim o divórcio andará mais rápido, entrarei em contato com o advogado. – afirmou, como se eu não passasse de uma mulher qualquer a quem ele estava dando uma esmola.Ri, zombando de sua falta de caráter.– Eu não preciso do seu dinheiro. Mas concordo, vamos nos divorciar logo. Guarde minhas palavras, João. Vai se arrepender de tudo que me fez.Sem esperar mais nada ali, me retirei daquele lugar. Saí de cabeça erguida, mas meu coração estava chorando e meus sentimentos estavam destruídos. A culpa começava a me corroer, como eu fui tão burra e não percebi os sinais? Eles sempre estiveram lá.Voltei para a casa de Anna e passei um tempo sozinha, no quarto de hóspedes, pensando em quais passos eu deveria dar.– Eu sei que
Quase me engasguei com o café quente. Meu coração disparou, e meus dedos apertaram instintivamente a xícara, como se aquilo pudesse me ancorar à realidade. Ele me encarava com uma expressão séria, mas havia um brilho divertido em seus olhos.— Co-como assim? — gaguejei, sentindo minha mente tentar desesperadamente se agarrar à lógica.— Você disse que gostaria de falar com o CEO do grupo RV. Pois bem, aqui estou eu. Muito prazer, Margarida. Eu sou Ronaldo Valvani, dono do grupo RV. — Ele falou devagar, como se saboreasse cada palavra antes de dar um gole no café, completamente no controle da situação.Minha boca abriu e fechou algumas vezes, mas nenhuma palavra saiu.— Eu... Eu achei que... Você que disse que trabalhava lá. — Minha voz saiu vacilante, ainda tentando processar tudo.— E trabalho. Sou o dono. — confirmou, e um sorriso brincou em seus lábios.O ar parecia rarefeito. Como eu não tinha descoberto isso antes? Como alguém como ele podia ser o CEO e, ao mesmo tempo, se passar
O nervosismo me dominava. Eu estava prestes a entrar novamente naquela sala e dar de cara com João Santiago, meu ex-marido canalha. Meu estômago se revirava, e minhas mãos estavam frias, mas eu não podia hesitar. Olhei mais uma vez para o espelho, conferindo cada detalhe da minha aparência. Não queria que João me visse e achasse que eu estava sofrendo, mesmo que, no fundo, ainda houvesse uma ferida aberta pelo rumo que minha vida tomou.— Tem certeza de que é uma boa ideia se unir a esse Ronaldo Valvani? — Anna perguntou, cruzando os braços.— Ele é a única pessoa capaz de me ajudar — expliquei, firme. — E eu já te disse quem ele é. Quem sabe um dia eu apresente vocês dois — acrescentei, tentando sorrir.— Primeiro, quero que você vá lá e esfregue esse divórcio na cara daquele idiota — disse, com raiva evidente na voz. — Depois disso, sairemos para comemorar, querida.— Anna...— Nada disso. Vá e me conte tudo depois — suspirei e acenei, pegando minha bolsa.Eu estava cheia de expecta
Ronaldo — Tem certeza? — Erick me questionou, o olhar carregado de incerteza. — Você já a viu? — indaguei, sem tirar os olhos da estrada. — Não, mas... — Vai entender quando a vir — afirmei, sem espaço para dúvidas. — E Emma parece gostar dela, além de que... ela precisa de uma mãe. — E essa mãe seria sua esposa repentina? — perguntou, me encarando. Apenas dei de ombros. A verdade, no entanto, era que minha decisão não tinha nada a ver apenas com isso. Eu não estava assinando aquele contrato de casamento com Margarida apenas por sua beleza. Havia algo muito maior em jogo. Algo que beneficiaria a nós dois. Poucas pessoas conhecem o verdadeiro Ronaldo Valvani, CEO do Grupo RV. Já ouvi inúmeras histórias sobre mim, boatos criados por aqueles que não sabem nada sobre a minha vida. Algumas dessas histórias, confesso, nem eu mesmo sabia que havia "vivido". Gosto do anonimato. Não sinto necessidade de me expor. Quando criança, fui um garoto gordinho e alvo constante de
Margarida — Tem certeza que vai ficar bem? — Anna perguntou, com um olhar preocupado. — Sim. Eu confio nele. E era verdade. Era uma confiança que surgia de algum lugar inexplicável, quase instintiva. Como se, em algum momento, meu coração já soubesse que Ronaldo era alguém confiável. Alguém que não me deixaria cair. — Tudo bem… Mas se precisar de algo, me ligue. Vou aproveitar um pouco mais com o amigo bonitão dele. — brincou, piscando um olho. Soltei uma risada e a abracei apertado. — Obrigada por tudo, Anna. — Ei, nada disso, depois você chora. Agora vá aproveitar esse seu maridão! — ela suspirou dramaticamente, abanando-se como se estivesse com calor. — Que sorte a sua, hein? — Anna! — gargalhei, corando um pouco. Senti uma mão forte e quente pousar no meu ombro. Meu coração saltou antes mesmo de olhar para cima. Quando ergui o rosto, encontrei os olhos intensos de Ronaldo sobre mim. Ele não disse nada, mas o peso daquele olhar me fez prender a respiração
A primeira noite na mansão de Ronaldo me provocou um turbilhão de emoções. O lugar era imponente, sofisticado, mas ao mesmo tempo, havia algo estranhamente acolhedor nele. Eu não sabia explicar o motivo, mas sentia como se já pertencesse àquele ambiente. As paredes altas, os lustres imensos que projetavam um brilho suave sobre os móveis luxuosos, os corredores silenciosos… Tudo parecia ter um segredo a ser descoberto. Quando acordei pela manhã, fiquei horas no quarto, hesitante. A vergonha de sair e dar de cara com Ronaldo me paralisava. Meu coração batia acelerado ao lembrar da maneira como ele me olhara na noite anterior, com aquela intensidade quase indecifrável. Mas eu sabia que não poderia me esconder para sempre. Precisávamos conversar. Respirei fundo e, enfim, criei coragem para sair. O corredor estava vazio, o silêncio dominava o segundo andar da mansão, onde ficavam os quartos. Enquanto caminhava, uma ideia me ocorreu: eu poderia preparar um café da manhã como forma de ag
Margarida Ronaldo precisou sair para resolver algo presencialmente com o advogado, e eu aproveitei sua ausência para conhecer melhor as áreas externas da mansão. Emma estava me ajudando com isso. — Você gostou da nossa casa? — Emma perguntou, eufórica . — Sim, é uma casa bem bonita. — Você vai gostar de morar com a gente? Sabe, eu acho que o papai está feliz, Margarida. — falou toda sorridente. — Eu gostei de você. — Eu também gostei muito de você, Emma. — Agora eu vou ter alguém para fazer tranças no meu cabelo, vou poder brincar com minhas bonecas, o papai não deixa eu pintar a unha dele, você vai deixar eu pintar a sua, Margarida? — perguntou esperançosa. — Claro, eu posso pintar as suas e você pinta as minhas. — sorri e fiz um carinho em seu cabelo. — Estou tão feliz, agora posso participar das apresentações de dia das mães. Seus olhinhos felizes me causaram uma sensação diferente. Conheço Emma há pouco tempo, mas ela é tão gentil e sinto que já ganhou o meu cora
Por precaução, levei o cartão que Ronaldo me deu. Eu precisava comprar diversos itens pessoais, já que deixei tudo para trás. Ainda tinha uma reserva financeira em minha conta pessoal, mas nada comparado ao que possuía antes de ser roubada pelo canalha do João. Anna já me aguardava na entrada do shopping, os olhos brilhando de empolgação. Assim que me viu, abriu um sorriso largo e genuíno. Seguimos para uma das lojas mais sofisticadas do shopping. Assim que entramos, a iluminação suave realçou o brilho dos vestidos expostos, como se cada peça fosse uma joia em exibição. Tecidos luxuosos se espalhavam pelas araras, e Anna praticamente flutuava entre eles, os olhos brilhando como os de uma criança em uma loja de doces. — Ok, preciso de algo sexy, mas elegante. O que acha disso? — Ela ergueu um vestido vermelho colado ao corpo, de alças finas e um decote generoso. — Sexy, sim. Elegante… nem tanto. — Peguei outro modelo, um preto de seda com uma fenda estratégica e costas nuas. —