Capítulo 6

– Me arrepender? Ora, Margarida, não seja idiota, você não tem quase nada mais. Eu transferi tudo, minha empresa cresceu muito mais do que a companhia dos seus pais. Não seja burra, vou dar-lhe um cheque, para que você suma rápido da minha vida e pare de me importunar, assim o divórcio andará mais rápido, entrarei em contato com o advogado. – afirmou, como se eu não passasse de uma mulher qualquer a quem ele estava dando uma esmola.

Ri, zombando de sua falta de caráter.

– Eu não preciso do seu dinheiro. Mas concordo, vamos nos divorciar logo. Guarde minhas palavras, João. Vai se arrepender de tudo que me fez.

Sem esperar mais nada ali, me retirei daquele lugar. Saí de cabeça erguida, mas meu coração estava chorando e meus sentimentos estavam destruídos. A culpa começava a me corroer, como eu fui tão burra e não percebi os sinais? Eles sempre estiveram lá.

Voltei para a casa de Anna e passei um tempo sozinha, no quarto de hóspedes, pensando em quais passos eu deveria dar.

– Eu sei que é difícil, Margarida. Sei que tudo parece um pesadelo, mas você vai conseguir superar. Ele é quem perdeu, não você. – Ana disse com uma voz suave, tentando me dar algum tipo de consolo.

– Ah, não parece ser o caso, Ana. Porque, no fundo, fui eu quem fui burra o suficiente para deixá-lo me enganar, me manipular e me roubar por todos esses anos. – Soltei um suspiro pesado, quase desesperado. – Como pude ser tão cega? Como pude ignorar todos os sinais, todas as pequenas mentiras que ele me contava? Como pude me deixar arrastar por essa vida de mentira, sem enxergar o que estava bem diante dos meus olhos? Ana, como? – Minha voz falhou no final, como se as palavras estivessem se afogando dentro de mim.

Ana hesitou por um momento, a expressão dela murchando de algo entre compaixão e frustração.

 – Margarida, não é hora para se martirizar, não mais. Bem... talvez só sobre ter se casado com aquele idiota. Mas isso agora não faz mais sentido. – Ela tentou sorrir. – Olha, pensa comigo. Você não pode mudar o passado, não agora. Mas... você precisa pensar no que ainda pode fazer, no que você vai fazer daqui pra frente. Pense em algo, qualquer coisa, para dar um novo rumo a isso tudo. Para virar o jogo, minha amiga.

Eu fiquei em silêncio, a mente em turbilhão. O que eu poderia fazer? O que eu tinha deixado para trás? O que restava para alguém como eu depois de ter se perdido por tanto tempo?

Andei de um lado a outro do quarto, analisando a situação, até que...Como se houvesse ligado uma luz acima da minha cabeça, minha mente clareou.

Corri até minha bolsa e peguei o cartão que Ronaldo me deu. Lá dizia que ele trabalhava para RV Group. É o maior concorrente da empresa de João, e eu sabia que o dono da empresa também era o maior inimigo dele.

Imediatamente, eu liguei para o número.

– Alô? Oi, é a...

– Margarida. – a voz grossa completou minha fala.

A voz era firme e rouca, causando diversos arrepios pelo meu corpo.

– Sim, eu... Eu gostaria de saber se você tem contato com o dono da empresa onde trabalha, eu... eu tenho algumas informações sobre a empresa concorrente de vocês.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por um tom decidido.

– Você tem tempo para um café agora? – perguntou.

– Oh, claro. – respondi incerta, mas confiante.

– Me envie sua localização, vou buscar você.

– Oh, não é necessário, eu...

– Envie-me, estou indo até você.

Não tive coragem de negar, enviei minha localização e aguardei por ele do lado de fora. O vento frio da noite fazia meus braços arrepiarem, mas eu me sentia mais viva do que nunca. Um carro preto parou e a porta abriu, revelando Ronaldo lá dentro, vestido de terno impecável. Havia algo nele que reluzia, uma aura de poder e mistério que me fez prender a respiração por um instante.

Tentei mandar esses pensamentos para longe da minha mente e entrei no carro. O motorista, um senhor de expressão amigável, nos levou até uma cafeteria próxima. Nos sentamos em uma das mesas do lado de fora, sob a iluminação amarelada dos postes, e Ronaldo pediu dois cafés sem sequer precisar olhar o cardápio.

Me sentia um pouco intimidada por ele.

Ele era... lindo. Para dizer o mínimo. Sua presença era marcante, seus olhos eram hipnotizantes, como se pudessem enxergar através de mim. Pigarreei e desviei o olhar por alguns segundos, tentando manter a compostura. Mas não importava o quanto eu tentasse ignorar, estar ao lado de um homem como ele é uma experiência única.

– Então, Margarida. Me diga, por que você quer se encontrar com o dono do grupo RV? – questionou.

Minha voz vacilou naquele instante, mas reuni toda a minha força e despejei minhas palavras com a coragem que me restava:

– Tenho uma proposta para ele. Um contrato de casamento. Eu sei tudo sobre João Sanchez e posso ajudá-lo a tomar o controle do grupo JS.

O café chegou naquele momento. Meu corpo quase tremia enquanto eu segurava o copo, sentindo a temperatura quente, mas quando finalmente ergui os olhos, fui tomada de surpresa. Ronaldo me observava com um olhar tão fixo e tão carregado de uma emoção que eu mal pude identificar. Ele estava em choque.

Mas, depois de alguns segundos que pareciam uma eternidade, a expressão em seu rosto mudou. O choque se transformou em algo mais profundo, mais cortante. Aos poucos, um sorriso vitorioso foi tomando conta de seus lábios, e, com um brilho audaz nos olhos, ele disse, em tom tranquilo, quase desafiador:

– Pois bem, aqui estou eu.

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