– Me arrepender? Ora, Margarida, não seja idiota, você não tem quase nada mais. Eu transferi tudo, minha empresa cresceu muito mais do que a companhia dos seus pais. Não seja burra, vou dar-lhe um cheque, para que você suma rápido da minha vida e pare de me importunar, assim o divórcio andará mais rápido, entrarei em contato com o advogado. – afirmou, como se eu não passasse de uma mulher qualquer a quem ele estava dando uma esmola.
Ri, zombando de sua falta de caráter.
– Eu não preciso do seu dinheiro. Mas concordo, vamos nos divorciar logo. Guarde minhas palavras, João. Vai se arrepender de tudo que me fez.
Sem esperar mais nada ali, me retirei daquele lugar. Saí de cabeça erguida, mas meu coração estava chorando e meus sentimentos estavam destruídos. A culpa começava a me corroer, como eu fui tão burra e não percebi os sinais? Eles sempre estiveram lá.
Voltei para a casa de Anna e passei um tempo sozinha, no quarto de hóspedes, pensando em quais passos eu deveria dar.
– Eu sei que é difícil, Margarida. Sei que tudo parece um pesadelo, mas você vai conseguir superar. Ele é quem perdeu, não você. – Ana disse com uma voz suave, tentando me dar algum tipo de consolo.– Ah, não parece ser o caso, Ana. Porque, no fundo, fui eu quem fui burra o suficiente para deixá-lo me enganar, me manipular e me roubar por todos esses anos. – Soltei um suspiro pesado, quase desesperado. – Como pude ser tão cega? Como pude ignorar todos os sinais, todas as pequenas mentiras que ele me contava? Como pude me deixar arrastar por essa vida de mentira, sem enxergar o que estava bem diante dos meus olhos? Ana, como? – Minha voz falhou no final, como se as palavras estivessem se afogando dentro de mim.
Ana hesitou por um momento, a expressão dela murchando de algo entre compaixão e frustração.
– Margarida, não é hora para se martirizar, não mais. Bem... talvez só sobre ter se casado com aquele idiota. Mas isso agora não faz mais sentido. – Ela tentou sorrir. – Olha, pensa comigo. Você não pode mudar o passado, não agora. Mas... você precisa pensar no que ainda pode fazer, no que você vai fazer daqui pra frente. Pense em algo, qualquer coisa, para dar um novo rumo a isso tudo. Para virar o jogo, minha amiga.Eu fiquei em silêncio, a mente em turbilhão. O que eu poderia fazer? O que eu tinha deixado para trás? O que restava para alguém como eu depois de ter se perdido por tanto tempo?
Andei de um lado a outro do quarto, analisando a situação, até que...Como se houvesse ligado uma luz acima da minha cabeça, minha mente clareou.Corri até minha bolsa e peguei o cartão que Ronaldo me deu. Lá dizia que ele trabalhava para RV Group. É o maior concorrente da empresa de João, e eu sabia que o dono da empresa também era o maior inimigo dele.
Imediatamente, eu liguei para o número.
– Alô? Oi, é a...
– Margarida. – a voz grossa completou minha fala.
A voz era firme e rouca, causando diversos arrepios pelo meu corpo.
– Sim, eu... Eu gostaria de saber se você tem contato com o dono da empresa onde trabalha, eu... eu tenho algumas informações sobre a empresa concorrente de vocês.
Houve um breve silêncio do outro lado da linha, seguido por um tom decidido.
– Você tem tempo para um café agora? – perguntou.
– Oh, claro. – respondi incerta, mas confiante.
– Me envie sua localização, vou buscar você.
– Oh, não é necessário, eu...
– Envie-me, estou indo até você.
Não tive coragem de negar, enviei minha localização e aguardei por ele do lado de fora. O vento frio da noite fazia meus braços arrepiarem, mas eu me sentia mais viva do que nunca. Um carro preto parou e a porta abriu, revelando Ronaldo lá dentro, vestido de terno impecável. Havia algo nele que reluzia, uma aura de poder e mistério que me fez prender a respiração por um instante.
Tentei mandar esses pensamentos para longe da minha mente e entrei no carro. O motorista, um senhor de expressão amigável, nos levou até uma cafeteria próxima. Nos sentamos em uma das mesas do lado de fora, sob a iluminação amarelada dos postes, e Ronaldo pediu dois cafés sem sequer precisar olhar o cardápio.
Me sentia um pouco intimidada por ele.
Ele era... lindo. Para dizer o mínimo. Sua presença era marcante, seus olhos eram hipnotizantes, como se pudessem enxergar através de mim. Pigarreei e desviei o olhar por alguns segundos, tentando manter a compostura. Mas não importava o quanto eu tentasse ignorar, estar ao lado de um homem como ele é uma experiência única.
– Então, Margarida. Me diga, por que você quer se encontrar com o dono do grupo RV? – questionou. Minha voz vacilou naquele instante, mas reuni toda a minha força e despejei minhas palavras com a coragem que me restava:– Tenho uma proposta para ele. Um contrato de casamento. Eu sei tudo sobre João Sanchez e posso ajudá-lo a tomar o controle do grupo JS.
O café chegou naquele momento. Meu corpo quase tremia enquanto eu segurava o copo, sentindo a temperatura quente, mas quando finalmente ergui os olhos, fui tomada de surpresa. Ronaldo me observava com um olhar tão fixo e tão carregado de uma emoção que eu mal pude identificar. Ele estava em choque.
Mas, depois de alguns segundos que pareciam uma eternidade, a expressão em seu rosto mudou. O choque se transformou em algo mais profundo, mais cortante. Aos poucos, um sorriso vitorioso foi tomando conta de seus lábios, e, com um brilho audaz nos olhos, ele disse, em tom tranquilo, quase desafiador:
– Pois bem, aqui estou eu.
Quase me engasguei com o café quente. Meu coração disparou, e meus dedos apertaram instintivamente a xícara, como se aquilo pudesse me ancorar à realidade. Ele me encarava com uma expressão séria, mas havia um brilho divertido em seus olhos.— Co-como assim? — gaguejei, sentindo minha mente tentar desesperadamente se agarrar à lógica.— Você disse que gostaria de falar com o CEO do grupo RV. Pois bem, aqui estou eu. Muito prazer, Margarida. Eu sou Ronaldo Valvani, dono do grupo RV. — Ele falou devagar, como se saboreasse cada palavra antes de dar um gole no café, completamente no controle da situação.Minha boca abriu e fechou algumas vezes, mas nenhuma palavra saiu.— Eu... Eu achei que... Você que disse que trabalhava lá. — Minha voz saiu vacilante, ainda tentando processar tudo.— E trabalho. Sou o dono. — confirmou, e um sorriso brincou em seus lábios.O ar parecia rarefeito. Como eu não tinha descoberto isso antes? Como alguém como ele podia ser o CEO e, ao mesmo tempo, se passar
O nervosismo me dominava. Eu estava prestes a entrar novamente naquela sala e dar de cara com João Santiago, meu ex-marido canalha. Meu estômago se revirava, e minhas mãos estavam frias, mas eu não podia hesitar. Olhei mais uma vez para o espelho, conferindo cada detalhe da minha aparência. Não queria que João me visse e achasse que eu estava sofrendo, mesmo que, no fundo, ainda houvesse uma ferida aberta pelo rumo que minha vida tomou.— Tem certeza de que é uma boa ideia se unir a esse Ronaldo Valvani? — Anna perguntou, cruzando os braços.— Ele é a única pessoa capaz de me ajudar — expliquei, firme. — E eu já te disse quem ele é. Quem sabe um dia eu apresente vocês dois — acrescentei, tentando sorrir.— Primeiro, quero que você vá lá e esfregue esse divórcio na cara daquele idiota — disse, com raiva evidente na voz. — Depois disso, sairemos para comemorar, querida.— Anna...— Nada disso. Vá e me conte tudo depois — suspirei e acenei, pegando minha bolsa.Eu estava cheia de expecta
Ronaldo — Tem certeza? — Erick me questionou, o olhar carregado de incerteza. — Você já a viu? — indaguei, sem tirar os olhos da estrada. — Não, mas... — Vai entender quando a vir — afirmei, sem espaço para dúvidas. — E Emma parece gostar dela, além de que... ela precisa de uma mãe. — E essa mãe seria sua esposa repentina? — perguntou, me encarando. Apenas dei de ombros. A verdade, no entanto, era que minha decisão não tinha nada a ver apenas com isso. Eu não estava assinando aquele contrato de casamento com Margarida apenas por sua beleza. Havia algo muito maior em jogo. Algo que beneficiaria a nós dois. Poucas pessoas conhecem o verdadeiro Ronaldo Valvani, CEO do Grupo RV. Já ouvi inúmeras histórias sobre mim, boatos criados por aqueles que não sabem nada sobre a minha vida. Algumas dessas histórias, confesso, nem eu mesmo sabia que havia "vivido". Gosto do anonimato. Não sinto necessidade de me expor. Quando criança, fui um garoto gordinho e alvo constante de
Margarida — Tem certeza que vai ficar bem? — Anna perguntou, com um olhar preocupado. — Sim. Eu confio nele. E era verdade. Era uma confiança que surgia de algum lugar inexplicável, quase instintiva. Como se, em algum momento, meu coração já soubesse que Ronaldo era alguém confiável. Alguém que não me deixaria cair. — Tudo bem… Mas se precisar de algo, me ligue. Vou aproveitar um pouco mais com o amigo bonitão dele. — brincou, piscando um olho. Soltei uma risada e a abracei apertado. — Obrigada por tudo, Anna. — Ei, nada disso, depois você chora. Agora vá aproveitar esse seu maridão! — ela suspirou dramaticamente, abanando-se como se estivesse com calor. — Que sorte a sua, hein? — Anna! — gargalhei, corando um pouco. Senti uma mão forte e quente pousar no meu ombro. Meu coração saltou antes mesmo de olhar para cima. Quando ergui o rosto, encontrei os olhos intensos de Ronaldo sobre mim. Ele não disse nada, mas o peso daquele olhar me fez prender a respiração
A primeira noite na mansão de Ronaldo me provocou um turbilhão de emoções. O lugar era imponente, sofisticado, mas ao mesmo tempo, havia algo estranhamente acolhedor nele. Eu não sabia explicar o motivo, mas sentia como se já pertencesse àquele ambiente. As paredes altas, os lustres imensos que projetavam um brilho suave sobre os móveis luxuosos, os corredores silenciosos… Tudo parecia ter um segredo a ser descoberto. Quando acordei pela manhã, fiquei horas no quarto, hesitante. A vergonha de sair e dar de cara com Ronaldo me paralisava. Meu coração batia acelerado ao lembrar da maneira como ele me olhara na noite anterior, com aquela intensidade quase indecifrável. Mas eu sabia que não poderia me esconder para sempre. Precisávamos conversar. Respirei fundo e, enfim, criei coragem para sair. O corredor estava vazio, o silêncio dominava o segundo andar da mansão, onde ficavam os quartos. Enquanto caminhava, uma ideia me ocorreu: eu poderia preparar um café da manhã como forma de ag
Margarida Ronaldo precisou sair para resolver algo presencialmente com o advogado, e eu aproveitei sua ausência para conhecer melhor as áreas externas da mansão. Emma estava me ajudando com isso. — Você gostou da nossa casa? — Emma perguntou, eufórica . — Sim, é uma casa bem bonita. — Você vai gostar de morar com a gente? Sabe, eu acho que o papai está feliz, Margarida. — falou toda sorridente. — Eu gostei de você. — Eu também gostei muito de você, Emma. — Agora eu vou ter alguém para fazer tranças no meu cabelo, vou poder brincar com minhas bonecas, o papai não deixa eu pintar a unha dele, você vai deixar eu pintar a sua, Margarida? — perguntou esperançosa. — Claro, eu posso pintar as suas e você pinta as minhas. — sorri e fiz um carinho em seu cabelo. — Estou tão feliz, agora posso participar das apresentações de dia das mães. Seus olhinhos felizes me causaram uma sensação diferente. Conheço Emma há pouco tempo, mas ela é tão gentil e sinto que já ganhou o meu cora
Por precaução, levei o cartão que Ronaldo me deu. Eu precisava comprar diversos itens pessoais, já que deixei tudo para trás. Ainda tinha uma reserva financeira em minha conta pessoal, mas nada comparado ao que possuía antes de ser roubada pelo canalha do João. Anna já me aguardava na entrada do shopping, os olhos brilhando de empolgação. Assim que me viu, abriu um sorriso largo e genuíno. Seguimos para uma das lojas mais sofisticadas do shopping. Assim que entramos, a iluminação suave realçou o brilho dos vestidos expostos, como se cada peça fosse uma joia em exibição. Tecidos luxuosos se espalhavam pelas araras, e Anna praticamente flutuava entre eles, os olhos brilhando como os de uma criança em uma loja de doces. — Ok, preciso de algo sexy, mas elegante. O que acha disso? — Ela ergueu um vestido vermelho colado ao corpo, de alças finas e um decote generoso. — Sexy, sim. Elegante… nem tanto. — Peguei outro modelo, um preto de seda com uma fenda estratégica e costas nuas. —
Quando cheguei em casa, fui recebida por um silêncio reconfortante, uma tranquilidade que eu não sentia há muito tempo, nem mesmo na minha antiga casa. Era uma paz diferente, algo que me envolvia como um abraço invisível, trazendo um sentimento de pertencimento inesperado. Subi as escadas sem pressa, ainda digerindo os acontecimentos do dia. Assim que entrei no quarto, guardei as compras e segui direto para o banheiro. A água quente escorrendo pelo meu corpo parecia levar embora o peso daquele encontro desagradável com João e Gabriella. Mas, o que mais me surpreendia era minha própria reação. Eu não sentia raiva, tristeza ou qualquer resquício de amor. Apenas vergonha – vergonha por ter aceitado as migalhas que João me oferecia no passado. Após o banho, escolhi um dos vestidos novos que havia comprado. Era leve, bonito e realçava minhas curvas de um jeito sutil. Fiquei observando meu reflexo no espelho, ajeitando os detalhes do tecido, quando um assobio baixo ecoou pelo quarto.