Eu não fazia ideia de como eu havia chegado nesse lugar e como eu havia conhecido aquele homem e ido parar em um hotel com ele. Eu precisava sair daqui o mais rápido possível. O vibrar insistente do meu celular me fez parar. Centenas de mensagens e chamadas perdidas.
Percebi que todo mundo queria fazer parte da minha vergonha. Ignorei, coloquei o telefone na bolsa e entrei no táxi.
Depois de um momento de hesitação, parada em frente à porta de casa, eu ainda tentava puxar na memória o rosto do homem com quem passei a noite, mas minhas memórias não passavam de um borrão. E eu ainda tinha que entrar em casa e encarar meus pais.
Quando abri a porta, minha mãe veio correndo em minha direção.
— Onde você estava Daphne? – A voz dela parecia tão alta que precisei tampar os ouvidos – estávamos preocupados com você.
Eu queria uma aspirina que pudesse acabar com a dor de cabeça que eu sentia, então decidir não prolongar aquela conversa.
— Estou bem, mãe – menti, tentando desfazer a carranca em meu rosto, enquanto me afastava dela em direção ao meu quarto.
— A sua irmã chorou a noite toda – meus pés travaram com a melancolia exposta na voz da minha mãe - ela está incomodada com tudo o que aconteceu.
— A Ember está incomodada? – eu ri, quando me virei para olhar nos olhos marejados da minha mãe. Ela deveria estar feliz, agora vai se casar com o meu noivo.
— Não eleve sua voz para mim – ela rosnou – eu não tenho culpa se você é incapaz de segurar os homens ao seu lado. Oito anos, Daphne e você não conseguiram se casar com o Vincent?
— Desculpe, se eu não consigo me colocar como o papel de culpada – girei os calcanhares e comecei a me afastar – parabenize a Ember por mim depois.
Minha mãe ficou resmungando logo atrás de mim. Era claro que ela colocaria a culpa em mim e colocaria Ember como a pobre coitada. Mas eu não era obrigada a ouvir aquilo, não depois de minha irmã mais velha arruinar todos os meus sonhos.
Abri a gaveta da cabeceira e tirei de lá um comprimido. Tomei e fui ao banheiro tirar toda a sujeira do meu corpo. Enquanto me limpava, notei que havia um anel estranho no meu dedo. A pedra brilhava e o anel estava no dedo onde os casados colocavam alianças.
Meu coração disparou. O que diabos eu havia feito na noite passada e, porque eu não me lembrava de nada? Sai do banho rapidamente, arranquei o anel do meu dedo e o joguei no fundo da gaveta.
Aquilo só podia ser uma brincadeira. A ideia de eu ter me casado com um desconhecido invadiu minha mente. Além de ter me deitado com ele, eu também me casei com ele? Sacudir a cabeça para esquecer isso. Se eu fingisse que nada aconteceu, as coisas logo ficariam bem, eu pensei.
Não saí do quarto durante todo o dia, eu estava de ressaca e dormi a tarde inteira. Eu não queria olhar nos olhos dos meus pais e vê-los defendendo Ember com tanto empenho, e pior ainda, eu não queria encontrar Ember porque dessa vez eu não sabia do que eu seria capaz de fazer.
Quando acordei no dia seguinte com o despertador sacudindo meus pensamentos, bufei quando me lembrei de que precisava ir trabalhar. Como eu poderia fugir da maior decepção da minha vida se minha irmã morava na mesma casa que eu e o meu noivo traidor trabalhava ao meu lado na mesma empresa?
Me arrastrei para fora do quarto, mas quando ouvi a voz de Ember me apressei e passei pela porta tão rápido que ela não teve tempo para olhar o meu rosto abatido. Eu estava péssima, eu não queria ver minha irmã se casando com o homem que eu amava, era doloroso demais para mim, mas eu também não a deixaria me ver derrotada.
Cheguei ao trabalho e mantive minha cabeça baixa até chegar à minha mesa. Foi inevitável não perceber o olhar de todos recaindo sobre mim. Era claro que todos os meus colegas já sabiam que eu havia sido trocada na noite do meu noivado, pela minha irmã mais velha. Eu jamais perdoaria Vincent por me tornar a piada do momento.
Uma xícara de café foi colocada na minha frente e, quando ergui os olhos, Evangelina estava ali, sorrindo para mim.
— Sorria, amiga – ela piscou – tenho certeza de que você vai superar essa também.
Soltei o ar pelos pulmões, quando um nó se formou em minha garganta. Evangelina sempre tinha um jeito muito peculiar de me tirar do abismo direto para a luz. Eu sabia que encontraria Vincent a qualquer momento, mas eu não estava pronta para isso. Abri meu e-mail para começar a trabalhar e esquecer tudo isso, quando Evangelina soltou uma bomba.
— Vamos trabalhar com um novo CEO e ele chega nessa tarde – arregalei os olhos para ela – a Penélope está eufórica com a possibilidade de ser a nova assistente-administrativa dele. Ela acha que vai conseguir devido aos seios fartos dela.
— E eu não duvido que ela consiga.
Com o canto do olho, vi Penélope se arrastando em minha direção. Ela era linda e podia fazer tudo o que quisesse, qualquer vaga e qualquer emprego e eu tinha que disputar com ela aquela vaga, sabendo que ela a tiraria de mim, não me restando mais nada.
— Sinto muito pelo que aconteceu entre você e o Vincent - ela disse e eu quis enfiar minha cabeça em um buraco – pense pelo lado positivo, o novo CEO pode despachá-lo para bem longe de você.
— Não a perturbe com esse assunto, Penélope – Evangelina se colocou entre nós duas – deveria estar se preparando para a chegada do novo CEO. Não é você que quer a vaga de assistente?
Evangelina mal havia fechado os lábios, quando passos se aproximaram e, quando eu me virei, levei um susto. Primeiro porque Vincent estava na minha frente com aquele olhar arrependido e depois porque ao lado dele estava o homem mais bonito que eu já havia visto em toda a minha vida. Ele era tão lindo que eu até me esqueci da traição de Vincent. Era como se ao lado dele meu noivo traidor nem existisse.
— Sou o Haiden, o novo CEO – toda a atenção estava agora voltada a ele – e temos uma reunião na minha sala. Quero todos na minha presença em dez minutos.
A beleza de Haiden quase me fez esquecer a merda de vida que eu tinha, quer dizer, ele parecia ter saído de uma revista, de tão lindo que ele era, até Vincent se colocar na minha frente, impedindo minha passagem e dizer em um sussurro: — Precisamos conversar – ele segurou meu braço e eu me afastei tão depressa que um grito escapuliu dos meus lábios. — Como ousa tocar em mim? Todo mundo parou e olhou para mim. Eu senti meu rosto esquentar quando a atenção do CEO ficou voltada para meu comportamento. Hainden me olhava tão profundamente que eu até achei que ele desnudaria minha alma. — Peço desculpas – gaguejei e abaixei a cabeça, torcendo para não ser tarde demais. Mas Vincent não parecia disposto a desistir. E ele não desistiria, eu sabia disso. Convivi com aquele traidor por oito longos anos. Fechei os olhos com força e desejei que todos esquecessem o que havia acontecido e se dirigissem à sala do novo CEO, mas não foi o que aconteceu. — Por que você está incomodando a fun
Minhas mãos começaram a suar. Franzi a testa e a confusão se instalou em minha mente. Ele queria que eu encontrasse a esposa dele? Ela estava perdida ou estava se escondendo? Que tipo de homem Haiden era para que a esposa não quisesse ficar ao lado dele? Eu tinha muitas perguntas, mas nenhuma capaz de atravessar meus lábios e ganhar vida. — Senhor, eu… – gaguejei, fracassando na minha tentativa – o meu trabalho não é investigar casos, aliás, eu nem sei como fazer isso. Haiden se virou para me olhar e sua expressão era tão sombria que precisei abaixar a cabeça, deixando minha franja cair sobre o meu rosto. — Contratei um detetive particular para esse serviço – ele declarou e eu fiquei ainda mais confusa – mas preciso de uma mente feminina para entender um pouco a maneira como as mulheres pensam. Como um homem bonito como ele não sabe como as mulheres pensam? Haiden deveria ser especialista nesse assunto, já que era bonito e sedutor. Aquilo não fazia o menor sentido para mim.
Meu sangue ferveu quando vi Ember colocando o anel no dedo e sorrindo, como se aquilo fosse um prêmio que ela merecia receber. Avancei em sua direção como cão selvagem e arranquei o anel do dedo dela com tanta brutalidade que seu dedo esfolou, sangrando em seguida. — Mas o que diabos você está fazendo, Daphne? – ela sentia-se profundamente insultada e se fez de vítima. — Saia imediatamente do meu quarto – gritei, apontando o dedo para fora – já não basta você roubar o meu noivo, agora vai roubar meus pertences também? Ela colocou o dedo machucado nos lábios e chupou o sangue. Aquilo era tão nojento e nem mesmo no momento de tensão, Ember parava de me provar o quanto era sedutora. Ela tirou a máscara de moça ofendida e caminhou com determinação em minha direção. — Você ainda guarda o anel que o Vincent deu a você? – ela debochou – precisa superar esse homem, Daphne. — Não foi o Vincent quem me deu esse anel – os olhos de Ember se arregalaram de surpresa com a informação – e m
Penélope não era tão cruel quanto Ember, mas ela ainda conseguia me irritar. Ela era um pouco menos e mais volumosa do que Ember, com os cabelos loiros cumpridos e os seios sempre saltando para fora. Eu a vi se aproximar assim que me viu, revirei os meus olhos porque sabia que nada de interessante poderia vir dela. — Por que voltou tão depressa do almoço? Por que, afinal, ela queria saber? Quando Penélope percebeu que eu não daria atenção a ela, correu atrás de mim com os seus saltos barulhentos como pedras caindo no chão. — Vou saber o que o novo CEO pediu para você fazer – ela parou bem na minha frente – eu não costumo perder oportunidades assim, e ele precisa saber que eu ainda não desistir. Nenhuma palavra sairia da minha boca, nem mesmo se Penélope se ajoelhasse em meus pés, eu contaria a ela a minha missão. Quando estava pronta para deixá-la comendo poeira, Evangelina se aproximou e trouxe com ela todos os outros funcionários. Fantástico, era tudo o que eu precisava,
Não podia ser, eu sussurrava para mim mesma. Quais eram as chances de Ember ter se casado com um homem como Haiden sem que ninguém soubesse? Ember era vaidosa demais para esconder um segredo como esse. Se fosse ela, Haiden não estaria me pagando para auxiliá-lo a encontrá-la. — Há algum problema, senhorita Daphne? – a voz de Haiden me puxou de volta. Ele tinha aquele olhar vigilante em cima de mim novamente. Eu ri silenciosamente, o som estranho no escritório me faz perceber o quanto estava sendo ridícula. — Você conhece alguma Ember? – Ele inclinou a cabeça, me estudando pela décima vez. — Não, eu não conheço nenhuma Ember – respondi rápido, meu coração começando a disparar descontroladamente – se o senhor não se importar, eu vou voltar ao meu trabalho. Eu queria fugir dali, ir para bem longe para que Haiden não soubesse que eu tinha uma irmã com esse nome, e decidisse ir atrás dela. Girei os calcanhares, eu estava pronta para correr, quando Hainden esticou a corda. — Voc
— Ember casada com alguém? – Vincent coçou o queixo, a decepção fluindo pelos seus olhos – que ideia maluca é essa Daphne? Eu estava arriscando tudo nas minhas intenções. Bati a mão na testa e virei o corpo na direção oposta para que Vincent não visse o quanto eu estava desesperada com o erro que eu havia acabado de cometer. — A Ember está de caso com outro homem? É isso que você está querendo me dizer? — Como você é descarado, Vincent – me virei para olhar para ele, agora com a expressão furiosa – algumas horas atrás estava implorando para voltar comigo e agora está preocupado se a Ember está com outro homem? — Eu não quis dizer isso – ele gaguejou, seu rosto ganhando tons avermelhados – aliás, porque todo mundo na empresa está dizendo que você, o novo CEO, é mais do que funcionária e patrão? De novo, essa conversa maluca? De onde essas pessoas tiravam isso? Revirei os olhos, embora por dentro estivesse explodindo de raiva pelas fofocas que se espalhavam sobre mim, eu decidi não
Eu mal havia percebido a lagrima escorrendo pelo meu rosto quando a voz da minha mãe me fez lembrar da maldição que ainda era viver debaixo do mesmo teto que os meus pais. — Enxugue essa lágrima, Daphne – minha mãe me olhou com desprezo antes de dar de ombros e virar o rosto – a Ember está certa. É vergonhoso você querer arruinar a reputação dela dessa maneira. — Estou tentando arruinar a reputação dela? – um sorriso desesperado repuxou meus lábios quando passei a mão sobre os meus olhos marejados – eu deveria ter devolvido aquele tapa, aliás, eu deveria ter batido nela quando Ember se envolveu com o meu noivo. Acha mesmo que preciso estragar a reputação de alguém? — Você sempre está no caminho da Ember – minha mãe continuou me insultando, disposta a me fazer sentir culpada – você não suporta a ideia de vê-la vencendo e sendo alguém na vida, enquanto você permanece uma fracassada. Meu corpo inteiro esquentou ao ouvir aquelas palavras, como se um balde de água fervendo fosse jogado
Daphne Era a noite do meu noivado. Eu estava animada, após esperar oito anos, eu e Vincent finalmente iriamos marcar a data do nosso casamento. Francamente, eu teria me casado com ele imediatamente, assim que o conheci. Ele era o homem mais bonito que eu já coloquei meus olhos, inteligente e destemido, mas Vincent instituiu para fazermos as coisas no tempo certo. Concordei e os anos se passaram, tantos que eu já não suportava mais esperar. Estava parada em frente ao espelho e me admirava, confiante de que essa seria a noite mais importante da minha vida. Eu estava pronta para me comprometer para sempre com o homem que eu amava. Soltei meus cabelos negros e ajeitei minha franja. Dei uma última conferida no vestido marrom que eu vestia. Ele era justo e mostrava minhas pernas, mas Ember, minha irmã mais velha, disse ser a roupa ideal para um momento como aquele. — Você está tão sexy nessa roupa, Daphne – Ember disse quando me encontrou na sala. – O Vincent não vai resistir quando te