Minhas mãos começaram a suar. Franzi a testa e a confusão se instalou em minha mente. Ele queria que eu encontrasse a esposa dele? Ela estava perdida ou estava se escondendo? Que tipo de homem Haiden era para que a esposa não quisesse ficar ao lado dele? Eu tinha muitas perguntas, mas nenhuma capaz de atravessar meus lábios e ganhar vida.
— Senhor, eu… – gaguejei, fracassando na minha tentativa – o meu trabalho não é investigar casos, aliás, eu nem sei como fazer isso.
Haiden se virou para me olhar e sua expressão era tão sombria que precisei abaixar a cabeça, deixando minha franja cair sobre o meu rosto.
— Contratei um detetive particular para esse serviço – ele declarou e eu fiquei ainda mais confusa – mas preciso de uma mente feminina para entender um pouco a maneira como as mulheres pensam.
Como um homem bonito como ele não sabe como as mulheres pensam? Haiden deveria ser especialista nesse assunto, já que era bonito e sedutor. Aquilo não fazia o menor sentido para mim.
— As mulheres não costumam fugir de mim – de repente, o olhar dele ficou perdido, revelando uma parte bem íntima de Haiden, a qual eu não estava pronta para descobrir – mas a minha esposa assinou o nosso acordo e foi embora sem deixar rastros.
A história pareceu mais confusa agora. Como se percebesse o erro que havia acabado de cometer, Haiden lançou outro olhar fixo em mim, pigarreou e, girando as costas, ordenou que eu saísse.
— Você receberá instruções em breve do que deverá fazer – eu me irritei por ele não me contar a história completa – certifique-se de manter a boca fechada, senhorita Daphne. Seja discreta.
Demorei para cumprir as ordens dele e mover os meus pés para sair. As perguntas iam e viam o tempo todo. Por que o novo CEO queria uma assistente para encontrar uma esposa perdida? O que esse fato poderia auxiliar nos negócios da empresa? Haiden parecia bastante determinado em encontrá-la, parecia seu objetivo principal e, se eu falhasse na missão de ajudá-lo, meu emprego estaria em risco.
Eu não podia perder esse emprego também. Eu já havia perdido minha dignidade e o homem que eu amava, eu não poderia ficar desempregada.
Eu mal havia atravessado a porta quando uma mão me puxou com tanta velocidade que eu não tive tempo de reagir. Quando percebi, eu estava no depósito com uma mão forte tampando minha boca. Eu conhecia aquele cheiro e foi quando a luz da sala se acendeu que vi que estava certa.
— Vincent – murmurei cerrando os dentes.
Eu queria bater nele até que as minhas mãos caíssem de cansaço e eu até insinuei que faria isso, quando ele imediatamente me interrompeu com suas palavras torpes.
— Acha que planejei fazer isso, Daphne? – O rosto dele ficou vermelho de repente – acha que planejei me apaixonar pela sua irmã?
Meus lábios se abriram e um sorriso de desespero e deboche atravessou-o tão intensamente que o som saiu mais alto do que eu previa.
— Você deve me considerar uma estúpida mesmo se acha que vou cair nesse seu jogo de vítima – levantei a mão e bati com força no rosto dele.
Eu senti um alívio tão instantâneo que poderia bater outras mil vezes em Vincent, que viveria para sempre satisfeita. Ele reclamou e colocou a mão no rosto e olhou para mim como alguém que sentia muita dor.
— Você fez a sua escolha, agora me deixe fazer a minha – apontei o dedo no rosto dele – quero que fique o mais longe possível de mim. Não fale comigo, não olhe para mim e finja que jamais me conheceu. Eu já perdi oito anos da vida com você, não quero perder nem mais um segundo daqui por diante.
Eu estava pronta para partir, porque na minha cabeça eu havia terminado de uma vez por todas com Vincent e ninguém me faria retroceder, mas ele agarrou meu braço e me impediu de partir. Certamente, ele pensou que eu choraria e imploraria para que ele voltasse e se casasse comigo. Eu conseguia ver o quanto ele estava surpreso com a minha coragem em chutá-lo para longe.
— A Ember terminou comigo – meu queixo caiu e eu fiquei paralisada sem reação – ela devolveu o anel e disse que não podia se casar comigo porque eu não era do mesmo nível que ela.
Vincent soltou um suspiro e seus olhos encheram-se de lágrimas. Realmente parecia doer nele, dizendo aquilo.
— Acho que devo parabenizar a minha irmã por dar a você o que merece – meu olhar ficou perdido – na verdade, vocês deveriam ficar juntos, já que são bem parecidos, nenhum dos dois vale nada, nem mesmo o meu tempo.
— O que você está dizendo? – o rosto dele agora era confusão.
— Estou dizendo que o que aconteceu entre você e a Ember não é problema meu – engrossei a voz, ficando cansada daquela conversa – se me trouxe aqui para chorar no meu ombro, perdeu o seu tempo.
Eu queria ir embora dali o mais rápido possível, mas Vincent não estava disposto a me deixar ir.
— Vamos marcar a data do nosso casamento, Daphne – eu franzi a testa espantada – vamos esquecer o que aconteceu e vamos nos casar.
Eu o empurrei para longe de mim com todas as forças que eu tinha. Então, essa era a maneira que Vincent encontrou de me pedir desculpas? Olhando para ele, eu percebi que tudo o que sentia era repulsa. Imaginar que sonhei em viver o resto da minha vida ao lado daquele homem, eu tinha vontade de me bater.
— Nem se eu estivesse louca, eu voltaria para você – coloquei minha mão na maçaneta e a girei – fique longe de mim, Vincent, esse é o meu último aviso, ou você sofrerá as consequências.
Ele protestou o tanto que podia enquanto eu saia do depósito. Caminhei o mais rápido que pude para longe dele até minhas pernas não aguentarem mais. Parei na escada de emergência e desabei nos degraus, colocando para fora toda a dor que eu vinha guardando desde o dia em que Vincent me trocou por Ember. Doía, como se alguém tivesse partido meu coração no meio.
Quando finalmente me recuperei, já era hora do almoço. Voltei para minha mesa quando fui cercada pelos meus colegas que queriam saber o que eu faria para o novo CEO.
— Que tipo de trabalho ele vai te pagar para fazer Daphne? – havia malícia na pergunta de Penélope. mas ignorei sua frustração em ser derrotada por mim.
Peguei minha bolsa e saí sem dizer a eles nenhuma palavra.
Dirigi direto para casa. Eu sempre almoçava em casa por ser perto do trabalho. Subi as escadas rapidamente, indo direto para o meu quarto quando percebi minha mãe vindo correndo atrás de mim como se quisesse me impedir de fazer algo.
— Espere, Daphne – havia urgência na voz dela.
Mas era tarde demais. Eu abri a porta do meu quarto e encontrei Ember sentada na minha cama, segurando a aliança que eu havia jogado no fundo da minha gaveta.
Meu sangue ferveu quando vi Ember colocando o anel no dedo e sorrindo, como se aquilo fosse um prêmio que ela merecia receber. Avancei em sua direção como cão selvagem e arranquei o anel do dedo dela com tanta brutalidade que seu dedo esfolou, sangrando em seguida. — Mas o que diabos você está fazendo, Daphne? – ela sentia-se profundamente insultada e se fez de vítima. — Saia imediatamente do meu quarto – gritei, apontando o dedo para fora – já não basta você roubar o meu noivo, agora vai roubar meus pertences também? Ela colocou o dedo machucado nos lábios e chupou o sangue. Aquilo era tão nojento e nem mesmo no momento de tensão, Ember parava de me provar o quanto era sedutora. Ela tirou a máscara de moça ofendida e caminhou com determinação em minha direção. — Você ainda guarda o anel que o Vincent deu a você? – ela debochou – precisa superar esse homem, Daphne. — Não foi o Vincent quem me deu esse anel – os olhos de Ember se arregalaram de surpresa com a informação – e m
Penélope não era tão cruel quanto Ember, mas ela ainda conseguia me irritar. Ela era um pouco menos e mais volumosa do que Ember, com os cabelos loiros cumpridos e os seios sempre saltando para fora. Eu a vi se aproximar assim que me viu, revirei os meus olhos porque sabia que nada de interessante poderia vir dela. — Por que voltou tão depressa do almoço? Por que, afinal, ela queria saber? Quando Penélope percebeu que eu não daria atenção a ela, correu atrás de mim com os seus saltos barulhentos como pedras caindo no chão. — Vou saber o que o novo CEO pediu para você fazer – ela parou bem na minha frente – eu não costumo perder oportunidades assim, e ele precisa saber que eu ainda não desistir. Nenhuma palavra sairia da minha boca, nem mesmo se Penélope se ajoelhasse em meus pés, eu contaria a ela a minha missão. Quando estava pronta para deixá-la comendo poeira, Evangelina se aproximou e trouxe com ela todos os outros funcionários. Fantástico, era tudo o que eu precisava,
Não podia ser, eu sussurrava para mim mesma. Quais eram as chances de Ember ter se casado com um homem como Haiden sem que ninguém soubesse? Ember era vaidosa demais para esconder um segredo como esse. Se fosse ela, Haiden não estaria me pagando para auxiliá-lo a encontrá-la. — Há algum problema, senhorita Daphne? – a voz de Haiden me puxou de volta. Ele tinha aquele olhar vigilante em cima de mim novamente. Eu ri silenciosamente, o som estranho no escritório me faz perceber o quanto estava sendo ridícula. — Você conhece alguma Ember? – Ele inclinou a cabeça, me estudando pela décima vez. — Não, eu não conheço nenhuma Ember – respondi rápido, meu coração começando a disparar descontroladamente – se o senhor não se importar, eu vou voltar ao meu trabalho. Eu queria fugir dali, ir para bem longe para que Haiden não soubesse que eu tinha uma irmã com esse nome, e decidisse ir atrás dela. Girei os calcanhares, eu estava pronta para correr, quando Hainden esticou a corda. — Voc
— Ember casada com alguém? – Vincent coçou o queixo, a decepção fluindo pelos seus olhos – que ideia maluca é essa Daphne? Eu estava arriscando tudo nas minhas intenções. Bati a mão na testa e virei o corpo na direção oposta para que Vincent não visse o quanto eu estava desesperada com o erro que eu havia acabado de cometer. — A Ember está de caso com outro homem? É isso que você está querendo me dizer? — Como você é descarado, Vincent – me virei para olhar para ele, agora com a expressão furiosa – algumas horas atrás estava implorando para voltar comigo e agora está preocupado se a Ember está com outro homem? — Eu não quis dizer isso – ele gaguejou, seu rosto ganhando tons avermelhados – aliás, porque todo mundo na empresa está dizendo que você, o novo CEO, é mais do que funcionária e patrão? De novo, essa conversa maluca? De onde essas pessoas tiravam isso? Revirei os olhos, embora por dentro estivesse explodindo de raiva pelas fofocas que se espalhavam sobre mim, eu decidi não
Eu mal havia percebido a lagrima escorrendo pelo meu rosto quando a voz da minha mãe me fez lembrar da maldição que ainda era viver debaixo do mesmo teto que os meus pais. — Enxugue essa lágrima, Daphne – minha mãe me olhou com desprezo antes de dar de ombros e virar o rosto – a Ember está certa. É vergonhoso você querer arruinar a reputação dela dessa maneira. — Estou tentando arruinar a reputação dela? – um sorriso desesperado repuxou meus lábios quando passei a mão sobre os meus olhos marejados – eu deveria ter devolvido aquele tapa, aliás, eu deveria ter batido nela quando Ember se envolveu com o meu noivo. Acha mesmo que preciso estragar a reputação de alguém? — Você sempre está no caminho da Ember – minha mãe continuou me insultando, disposta a me fazer sentir culpada – você não suporta a ideia de vê-la vencendo e sendo alguém na vida, enquanto você permanece uma fracassada. Meu corpo inteiro esquentou ao ouvir aquelas palavras, como se um balde de água fervendo fosse jogado
Fiquei olhando para Hainden por tanto tempo que perdi a noção de onde eu estava e das pessoas que me cercavam. Foi o arrepio da proximidade dele que me fez perder a noção do tempo. — Normalmente, não preciso dizer às pessoas duas vezes o que fazer – eu ouvi sua voz quebrando tudo dentro de mim – vá até o meu escritório imediatamente. Hainden me lançou outro olhar de advertência antes de virar as costas e partir. O que havia acontecido aqui, afinal? Por que ele estava causando em mim esse efeito, como se meu estomago estivesse estremecendo? E como ele ficou sabendo sobre Ember? Quando girei o pescoço, vi toda aquela gente olhando para mim e rindo, sussurrando. Todos haviam visto o que Hainden fez e os boatos agora se tornariam insuportáveis ao ponto de eu não aguentar mais. Mas eu tinha um problema maior para resolver, eu precisava inventar qualquer mentira para que Haiden não se aproximasse de Ember e acreditasse que havia sido com ele que ele se casou. Eu deveria ter corrido atr
Haiden A manhã se arrastava enquanto eu ficava sentado atrás da minha mesa, aguardando Daphne retornar e me dizendo que tudo estava pronto para o encontro com a sua irmã Ember. Eu não fazia ideia de quais chances haveria dela ser minha esposa perdida, mas eu precisava me arriscar e descobrir de uma vez por todas. O tempo estava se esgotando. No fundo, para mim, não fazia a menor diferença quem seria a Ember ou com qual o tipo de mulher eu havia selado um acordo. Eu só precisava que essa mulher estivesse ao meu lado, sendo minha esposa, mesmo que seus sentimentos ou ações fossem uma completa farsa. Eu ainda tentava puxar em minhas lembranças qualquer traço do seu rosto, lembro-me somente da sua maquiagem borrada e seus cabelos despenteados enquanto ela sorria para mim e dizia seu nome, Ember. Eu me chamo Ember. Eu havia ido ao bar depois de uma discussão com o meu pai, quando ele jogou sobre mim suas verdadeiras intenções. Colocaria um desconhecido para ocupar o lugar que era meu
Eu estava do lado de fora da loja de Ember que tinha um nome nada tradicional e de difícil pronunciamento, além da fachada ser exagerada e o movimento de clientes ser bastante pouco para uma loja daquele tamanho. Ajeitei o meu paletó, dei uma conferida no meu reflexo na porta de vidro preta e finalmente entrei no lugar. Havia uma recepcionista mexendo no celular e mascando chiclete. Ela fazia uma bola enorme que estourou, grudando em sua boca, quando eu me aproximei. O barulho que vinha de seus lábios era insuportável e ela não percebeu ou não deu atenção quando me encostei no balcão. Passei os olhos pelo local, nenhum sinal de Ember. Será que Daphne não havia se confundido e me passado a informação incorreta? Eu realmente queria acreditar que esse era o motivo pelo mal-entendido. — Estou aqui para falar com a senhorita Ember – eu disse, me direcionando à jovem parada à minha frente. Ela continuou mascando seu chiclete e com os olhos vidrados no celular. — Precisa marcar horário